Nesta Semana Santa, meditemos sobre a paciência de Deus por meio da paciência de Cristo para com Maria Madalena.
Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est
A Semana Santa é o ápice da vida espiritual do cristão. A Igreja nos dá, de fato, a oportunidade de meditar mais intensamente sobre o exemplo de Nosso Senhor: Santo Agostinho diz que a Cruz de Jesus é como o púlpito a partir do qual o Filho de Deus nos ensina.
A Paixão começa muito cedo: quando é anunciada, diz Santo Tomás em seu comentário e explicação do Evangelho de São Mateus. O próprio Cristo a anuncia (Mt 26, 1-2); os inimigos de Cristo também a anunciam quando tramam sua queda (Mt 26, 3–5); e o gesto de Maria Madalena também a anuncia, quando derrama perfume de grande valor (Mt 26, 6-13) pois Cristo declara que este gesto anuncia o seu próprio sepultamento: “Mittens autem hoc unguentum in corpus meum, ad sepeliendum me fecit” (Mt 26, 11). Ao espalhar esse perfume, disse ele, essa mulher realizou antecipadamente o mesmo gesto daqueles que colocarão meu corpo no sepulcro. Santo Agostinho explica que, por vezes, o Espírito Santo nos impele a realizar gestos, gestos esses que podem ser muito simples, mas cujo alcance vai além de nossa intenção…
O que precisamos refletir sobre esse episódio da unção em Betânia é a reação de Cristo para com essa mulher. Santo Tomás observa isso cuidadosamente na explicação que dá do versículo 10. Nos dois versículos anteriores, 8 e 9, os discípulos, manipulados por Judas, indignam-se: “Para que foi esse desperdício? “. E a reação de Cristo para com essa mulher é sempre a mesma: ele a perdoa. Santo Tomás chega a apontar que Cristo toma a sua defesa, torna-se seu advogado. E ressalta que podemos ver que ele faz isso sempre no Evangelho, toda vez que há uma questão de Maria Madalena, porque todas as vezes, em três ocasiões diferentes, ele age como seu advogado.
- No Evangelho de São Lucas, capítulo 7, versículo 39, quando Maria Madalena lava os pés de Jesus na casa do fariseu, ele a repreende por ser pecadora e Cristo a perdoa dizendo que ela agia por caridade.
- Novamente no Evangelho de São Lucas, no capítulo 10, versículo 40, quando sua irmã Marta a repreende por não a ajudar, Cristo a perdoa dizendo que ela se dedica à contemplação e que, se ela não age, aparentemente é porque está em oração.
- E, finalmente, no Evangelho de São Mateus, capítulo 26, versículo 10, ele a perdoa novamente dizendo que ela age movida pela devoção, e que sua obra é um ato de respeito para com o representante de Deus. E aqui Nosso Senhor a defende de maneira ainda mais forte do que nas vezes anteriores, pois ele se irrita dizendo, com efeito: “quid molesti estis huic mulieri?””. Por que molestais esta mulher?
Ela era uma pecadora e sabemos o que isso quer dizer. Porque seu pecado lhe rendera muito dinheiro. Ela era muito rica. São Mateus relata que o perfume que ela derramou sobre o corpo de Jesus estava contido num vaso precioso, de grande valor: era um “alabastrum unguenti”. Santo Tomás explica que esta palavra “alabastrum” se refere a um tipo de pedra de mármore, uma pedra transparente e translúcida que servia para fazer janelas para ricos. Também era usada para fazer vasos onde eram guardados perfumes. E o perfume usado por Maria Madalena poderia ter sido vendido, estima Judas, “por mais de 300 denários”: é o que nos diz São Marcos (cap. 14, 4). Dez vezes o preço pago a Judas pela sua traição… Dessa forma, tanto o recipiente como o conteúdo eram muito caros. Isto nos mostra a generosidade de Maria Madalena e também nos dá uma ideia de suas posses. Ela era uma pecadora de primeira classe, se você preferir. Ela não cheirava a perfume barato.
E Jesus a perdoa três vezes. Perdoa-a simplesmente pela sua boa vontade, pelo amor de Deus que renasce em seu coração.
E isso está repleto de lições.
Tenhamos confiança nesse Deus que nos perdoa… e… saibamos também encontrá-la para nosso próximo, assim que o amor de Deus começar a renascer em seu coração.
É novamente São Mateus quem observa isso, no capítulo 12, versículo 20, quando aplica a Nosso Senhor a profecia de Isaías: “Harundinem quassatam non confringet et lignum fumigans non extinguet, donec ejiciat ad victoriam judicium”. Ele não quebrará a cana rachada, nem apagará o pavio que fumega, até que faça triunfar a justiça.
A Paixão de Jesus nos mostra a paciência de Deus.
Pe. Jean-Michel Gleize, FSSPX