NÃO COLOQUE SUAS ORAÇÕES DE FÉRIAS

ferias

Com as férias, às vezes é difícil cumprir os horários, e a vida de oração pode ser prejudicada.

Fonte: Lou Pescadou n° 201  – Tradução: Dominus Est

Quando estávamos no primeiro ano do seminário, e as férias em família se aproximavam, nossos professores nos advertiam: as férias são um bom teste para mensurar o fervor. Longe da vida comunitária, sem parte dos serviços em comum, pode ser difícil manter uma vida de oração tão fervorosa como no seminário. Esta observação também pode ser feita a vocês, queridos fiéis. Com as férias, às vezes é difícil cumprir os horários, e a vida de oração pode ser prejudicada. Assim, para ajudá-lo a não colocar a oração de férias, gostaríamos de relembrar algumas verdades sobre essa “elevação de nossa alma a Deus”.

A primeira coisa a se convencer é que a oração é necessária. Em outras palavras: não pode não ser. É a respiração da alma. Respiramos para nos mantermos vivos. Rezamos para permanecermos unidos ao Autor da Vida. Entrentanto, uma objeção pode surgir na cabeça das pessoas: mas por que rezar, falar com Deus, fazer pedidos a Ele, já que Ele conhece tudo? O catecismo do Concílio de Trento responde. Ele diz que não somos animais sem razão, e que Deus não é uma abstração, um ser imaginário. É uma Pessoa, é nosso Pai. Portanto, é normal que seus filhos conversem com Ele. É claro que Deus poderia nos atender sem nenhum pedido, sem nenhuma oração. Mas se obtivéssemos tudo sem pedir, acabaríamos nos esquecendo do Deus para o qual fomos feitos. É por isso que Nosso Senhor Jesus Cristo diz: Devemos sempre orar (Lc 18, 1). E acrescenta um argumento decisivo, o da nossa fraqueza: Sem mim nada podeis fazer (Jo 15,5); vigiai e orai para não cairdes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca (Mt 26,41).

O Papa Pio XII, em um discurso aos pregadores da Quaresma, disse em 1943: Ninguém pode, sem oração, guardar a lei divina por muito tempo e evitar uma falta grave. Porque a oração, diz o teólogo Garrigou-Lagrange, é o meio normal, universal e eficaz pelo qual Deus deseja que obtenhamos todas as graças atuais de que necessitamos. Lembremos que essas graças atuais são ajudas temporárias de Deus, para fazer o bem e evitar o mal.

Portanto, devemos rezar. Mas, acima de tudo, devemos … rezar bem. Para fazer isso, é importante lembrar que rezar não significa apenas pedir. Rezamos, antes de tudo, para adorar a Deus, para reconhecer que Ele é o criador e mestre de todas as coisas. Em seguida, rezamos para agradecê-lo. Devemos saber como fazer novenas de ação de graças. Rezamos ainda para pedir perdão. Finalmente rezamos para pedir as graças de que necessitamos. Mas devemos primeiro pedir bens espirituais antes dos bens materiais. É por isso que Nosso Senhor diz: Buscai, pois, em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça, e todas estas coisas [comida e roupas] vos serão dadas por acréscimo (Mt 6,33).

Rezar bem também significa que nossa oração deve ser acompanhada por certas qualidades. Antes de mais nada, devemos mostrar humildade. São Tiago nos adverte: Deus resiste aos orgulhosos e concede Sua graça aos humildes (Tg 4, 6). O mesmo apóstolo nos faz entender que devemos orar com confiança: Mas peça-o com fé, sem hesitação; quem hesita […] nada receberá do Senhor (Tg 1, 6-7). A confiança nasce da fé na onipotência de Deus, na sua bondade e na sua misericórdia. Santa Teresinha do Menino Jesus disse que a confiança é o vaso com o qual atraímos a graça de Deus. Quanto maior for, mais recebemos de Deus.

Também é importante rezar com atenção. Com efeito, não podemos pedir a Deus que nos escute … se nós mesmo não prestarmos atenção ao que dizemos. Nosso Senhor censurou os fariseus: Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim (Mt 15,8). Claro, não somos anjos, espíritos puros; distrações são humanas. Mas, muitas vezes frequentes, porque esquecemos de nos colocar na presença de Deus antes de rezar. Antes de rezar, lembremo-nos a quem nos dirigimos. E devemos saber como colocar nossas preocupações aos pés do tabernáculo.

Ainda devemos rezar com perseverança. O catecismo do Concílio de Trento afirma: É principalmente por esse meio que a oração é eficaz. Nosso Senhor tem uma parábola para mostrar a importância da perseverança na oração: a da viúva e do juiz iníquo (Lc 18,1-8). Uma viúva pede a um juiz que trate de um caso que lhe diz respeito. Este juiz, que não teme a Deus nem aos homens, não quer intervir, no início. Mas quando a viúva insistiu, ele disse: Porque esta viúva me importuna, far-lhe-ei justiça. E Nosso Senhor acrescenta: Ouvi o que diz este juiz iniquoE Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam por ele dia e noite, e tardará em os socorrer? Devemos perseverar e, portanto, adquirir o hábito da oração diária.

Devemos também rezar com contrição, com sincero arrependimento por nossos pecados. O catecismo do Concílio de Trento fala dos pecados que dificultam nossas orações. Ele cita crimes, raiva, recusa em perdoar, dureza para com os pobres, orgulho, desrespeito aos mandamentos. Tenhamos cuidado, diz ele, para permanecermos implacáveis ​​para com aqueles que nos fizeram mal. É por isso que Nosso Senhor afirma: Quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe, para que também vosso Pai que está nos céus vos perdoe os vossos pecados (Mc 11,25).

Por fim, só podemos encorajá-los, queridos fiéis, a rezar em família. O Papa Pio XII, no discurso já citado aos pregadores da Quaresma, insiste: Despertem nas almas dos fiéis o sentimento do antigo e piedoso costume da oração familiar comum. Que seja feito de tal forma que as crianças não se sintam cansadas ou com repugnância, mas antes sintam-se atraídas a aumentá-lo. […] E como a vida pública, cheia de distrações e armadilhas, muitas vezes em vez de promover os bens mais preciosos da família – a fidelidade conjugal, a fé, a virtude e a inocência das crianças, – as coloca em perigo. A oração no lar doméstico é quase mais necessária hoje do que em tempos passados. O Papa explica que os pais que rezam em família são exemplos: a imagem da mãe de família em oração é, para o marido e para os filhos, uma visão da graça de Deus; e a memória de um pai que, em sua profissão, mesmo em uma posição eminente, administra grandes empresas enquanto permanece um homem de piedade e devoção, é frequentemente um exemplo de admiração salutar pelo jovem que luta com os perigos e lutas espirituais da meia idade.

Que essas poucas considerações nos encham de fervor, pois a oração fervorosa dos justos tem muito poder (Tg 5,16).

Pe. Vincent Grave, FSSPX