Sem Jesus como Mestre, nenhum homem pode ser salvo.
Fonte: Apostol nº 160 – Tradução: Dominus Est
Jesus não é apenas um profeta, mas é o “único profeta”. Para compreender esta expressão, ensinada pelo Concílio Vaticano I, é necessário definir o que é um profeta. Profeta: “Aquele que fala em nome de Deus” ou “Aquele por quem Deus fala”. Jesus é o Verbo de Deus. Por conseguinte, é a “Profecia” por excelência, e a fonte de todo poder para ensinar em nome de Deus.
Claro que houve profetas, pois acreditamos no Espírito Santo “que falou pelos profetas”. Mas São Paulo é claro: “Deus, tendo falado outrora muitas vezes e de muitos modos a nossos pais pelos profetas, nestes dias, que são os últimos, falou-nos por meio de seu Filho” (Heb 1,1). São Paulo subentende que Deus ensinou imperfeitamente os homens até enviar seu Filho, que ensina perfeitamente. Deus diz isso explicitamente a Moisés: “Eu lhes suscitarei do meio de seus irmãos um profeta semelhante a ti, e porei na sua boca as minhas palavras, e ele lhes dirá tudo o que eu lhes mandar” (Deut 18,18). Os judeus sabiam que esta passagem falava do Messias, como testemunhado pela samaritana, quando ela encontra Jesus. “Quando, pois, ele [o Messias] vier, nos anunciará todas as coisas. Jesus disse-lhe: Sou eu, que falo contigo” (Jo 4, 26).
Na noite da Última Ceia, Jesus, depois de lavar os pés dos discípulos, disse-lhes: “Chamais-me Mestre e Senhor e dizeis bem, porque o sou ” (Jo 13,13). Ele já lhes havia dito, como assinala Santo Agostinho: “Nem façais que vos chamem mestres, porque um só é vosso Mestre, o Cristo ” (Mt 23,10). Cristo, portanto, não é um mestre entre outros, senão o mais perfeito: ele é, por direito, o único Mestre supremo e universal que todos devem ouvir e de quem todos os outros doutores devem haurir. Não só ninguém tem o direito de ensinar depois de Jesus, mas Ele pode até mesmo julgar o que outros profetas disseram antes Dele. “Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás… Pois eu digo-vos que todo aquele que se irar contra teu irmão será submetido ao juízo do tribunal” (Mt 5, 21-22).
Por que razão Jesus Cristo deve ser o Doutor Supremo? Há uma razão que corresponde à realidade do próprio Jesus, e uma razão que corresponde à necessidade dos homens.
Nos primeiros séculos da Igreja, os bispos chamados apologistas, argumentavam contra os pagãos. Eles opunham a luz de Cristo às vaidades dos filósofos. Citando Santo Irineu: “Não poderíamos ter aprendido de outra forma o que é de Deus, se nosso Mestre, que é o Verbo, não se tivesse feito Homem. Com efeito, ninguém mais poderia nos dizer o que é do Pai, senão seu próprio Verbo”. São Justino havia sido, outrora, um desses filósofos. Doravante, Jesus Cristo foi seu único Mestre. “É, portanto, manifesto, escreve ele, que nossa religião é elevada acima de toda doutrina humana, porque foi precisamente Cristo que apareceu para nós com corpo, Logos e alma, que foi toda razão” (Apologia 2, 10).
Sem Jesus como Mestre, nenhum homem pode ser salvo. Santo Atanásio diz que, além da necessidade de libertar o homem da morte por mérito e graça, era necessário também libertá-lo da cegueira do pecado que destrói o conhecimento do verdadeiro Deus. É por isso que o Filho de Deus veio para nos ensinar. São Clemente de Alexandria proclama este mistério como um hino: “Ave Lux! A luz do céu brilhou aos nossos olhos enquanto estávamos envoltos em trevas e encerrados na sombra da morte. Esta luz é a vida eterna e todos os que dela participam têm vida.”
Jesus instituiu seus apóstolos para transmitir seu ensinamento às gerações futuras através da Igreja. Ninguém pode viver sem a palavra de Jesus. “Nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4). Os ensinamentos de Jesus recebidos como alimento diário para o nosso espírito simplesmente nos fazem viver. É o alimento da vida cristã que leva até à vida eterna.
Acima de tudo, não procuremos outros mestres senão Jesus: doutores duvidosos, usurpadores e vaidosos. Não nos consideremos suficientemente fortes para detectar todas as suas mentiras e evitar, por nós mesmos, todos os erros que habilmente disfarçam. Apeguemo-nos à verdade simples e segura do Evangelho e da qual a Igreja é guardiã.
Esta é a Verdade que nos libertará.
Pois as palavras de Jesus são espírito e vida (Jo 6,63).
Pe. Lionel Héry, FSSPX