O NOVO LADRÃO CHINÊS

Pe. Philippe Bourrat, FSSPX 

É agora, por meio de uma ditadura sanitária, que as maiores restrições e perdas de liberdade emergem.

Conheçamos, primeiramente, a tática do “ladrão chinês”. Quando quer roubar um objeto, ele o move alguns centímetros todos os dias do seu lugar. Seu dono se acostuma a ver o objeto sair gradativamente de seu campo visual, a ponto de não se lembrar mais de seu lugar de origem. O ladrão, então, só tem que roubar o objeto cobiçado e seu dono nem perceberá o seu desaparecimento.

Qualquer que seja a evolução das técnicas de roubos contemporâneos, há uma área onde o processo descrito está sendo claramente revisitado. Desde 2020, fomos roubados de muitas liberdades, em graus variados e sob restrições variáveis e cíclicas que fazem com que muitos esqueçam as liberdades de que gozavam anteriormente. Proibição de visitar os idosos, de ultrapassar um perímetro ridículo de distância, redução da liberdade de culto, impossibilidade de comprar e vender certos produtos considerados não essenciais perto de casa e até de ir à escola. Assim, cortar o cabelo, comprar roupas, oferecer flores eram considerados, nos primeiros confinamentos, atividades perigosas e propícias à contaminação do vírus, enquanto comprar e fumar cigarro, jogar a Française des Jeux [1] obviamente não envolviam nenhum perigo… para os cofres do Estado.

É agora, através de uma ditadura sanitária, que as maiores restrições e perdas de liberdade surgirão. Para agradar às empresas farmacêuticas e de informática que ditam sua lei do lucro e do controle populacional, sob a autoridade de órgãos científicos cujos conflitos de interesse são da esfera pública, trata-se de fazer com que aqueles que se recusam a se vacinar se sintam culpados e fiquem à margem do Estado, que prevê o controle de tudo e de todos. E como a adesão ao processo de vacinação encontrou forte oposição na França, procedemos em etapas. O novo “ladrão chinês” opera de forma diferente de seu ancestral: ele rouba as liberdades, mas as restitui, as rouba de novo e assim por diante. De início, acreditamos ter recuperado nossos bens, mas no alívio das poucas liberdades que foram recuperadas, esquecemos que tínhamos muito mais do que nos foi devolvido. O ladrão os guarda zelosamente e põe em prática um mecanismo que funciona muito bem

  • Etapa 1: confinamento, fechamento de negócios declarados não essenciais, de áreas de lazer, perda de todos os tipos de liberdades, caos econômico para certas profissões, caos escolar e universitário, explosão do mal-estar de um grande número, violência, desperdício geral para muitos, mas lucros insolentes para a oligarquia que diligentemente dita as “regras do jogo”.
  • Etapa 2: promessa de afrouxar o aperto e as restrições, mediante uma vacinação em massa.
  • Etapa 3: retorno a uma vida mais livre, mas mantendo muitas restrições para despertar um sentimento de alívio e ao mesmo tempo manter uma tensão de espera temerosa.
  • Etapa 4: novo confinamento, fechamentos, perda de liberdade.
  • Etapa 5: promessa de um real afrouxamento das restrições e dos confinamentos, mediante maior boa vontade por parte das populações refratárias.
  • Etapa 6: etc.

A cada passo, muito da resistência é atenuada, o cansaço se instala e o desejo de não sofrer novamente a restrição transforma-se em consentimento. Queremos viver em paz, como antes. E acabamos por ressentir-nos daqueles que não entram no jogo. Acusamo-los de atrasar o processo de liberalização e volta ao normal, sem perceber que se trata de uma expropriação definitiva. Das liberdades que nada têm a ver com um perigo para a saúde: testemunhar o controle da população sob o pretexto de proteção à saúde. Estamos então prontos para aceitar tudo: repetir vacinas, exames, o “passaporte (sic) sanitário”, perda do anonimato para todas as suas atividades públicas: restaurantes, cinemas, viagens, lazer… tudo será objeto de controle, identificação, marcação, a pretexto de um perigo para a saúde que acaba por ser inferior a muitas das causas constantes de morte da população (câncer, doenças cardiovasculares devido ao fumo, drogas, etc.). A desproporção entre o perigo incorrido e a resposta fornecida pelos governos é flagrante, mas a propaganda é tal que resulta em um fenômeno de espanto mental que paralisa todo pensamento de bom senso.

Soma-se a isso o descrédito da mídia e a censura a qualquer voz que busque alertar a população para as questões da real situação. A “fábrica do consentimento”, como disse Noam Chomsky [2], está trabalhando a todo vapor. O resultado paradoxal está aí: seremos felizes se não formos mais livres. Pela primeira vez, não é o “ladrão chinês”, mas o governo chinês que testou e implementou essa prática de controle permanente de seus cidadãos. Sabemos o que nos espera deste grande país.

Será que vamos nos acostumar a perder todas aquelas liberdades fundamentais que, até então, as ficções de Aldous Huxley (Admirável Mundo Novo) e George Orwell (1984) nos faziam temer sem realmente acreditar nelas?

Ao mesmo tempo, a restrição do direito à educação dos filhos em casa e o controle permanente das escolas, até então um tanto livres de suas pedagogias, fazem parte desse arsenal de regressões sociais cujas dinâmicas totalitárias nem sempre são suficientemente medidas. Quando a vida se reduz à saúde, quando a religião, o pensamento e a educação dos filhos dependem só da “boa vontade” do Estado, estando o processo de propaganda midiática a seu serviço, não estamos longe de ver o desaparecimento dos nossos bens que possuímos para sempre. A liberdade de educação, considerada sagrada na Constituição da Quinta República (na França), será uma memória dos tempos “anteriores à crise da saúde”. Os ladrões da liberdade estiveram aqui.

O ladrão chinês de 2021 foi rápido. Mas um dia ele terá que devolver o que nos roubou. A menos que desistamos de reivindicar o que nos é devido, porque preferiríamos, em última análise, o conforto da escravidão, o alívio de não ter mais que defender essa parte da humanidade que era o nosso tesouro, um tesouro emprestado por Deus para nos conduzir a Ele…

[1] Loteria francesa.

[2] Noam CHOMSKY, Edward HERMAN, A Fabricação do Consentimento – Da propagação midiática em uma democracia. Edição AGONE, Nova edição 2009.