O RETORNO DE TEILHARD DE CHARDIN?

 

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Em uma carta enviada em 07 de outubro de 1929 ao Pe. Christopher Godfrey, o Pe. Teilhard de Chardin, jesuíta, escreveu: “às vezes me parece que, na Igreja atual, há três pedras perecíveis perigosamente colocadas nas fundações: a primeira é um governo que exclui a democracia; o segundo é um sacerdócio que exclui e minimiza a mulher; a terceira é uma revelação que exclui, no futuro, a Profecia “(1). 

Francisco, a realização de Teilhard?

Para alguns, esta passagem mostra quanto o Padre Teilhard de Chardin estava à frente de seu tempo. Por esse motivo, ele foi mal interpretado em sua vida por todos os que estavam no comando da Igreja. Para eles, o célebre jesuíta era um profeta, com a atual evolução da Igreja provando que ele estava bem a frente de todos os outros. É realmente surpreendente ver quanto o Papa Francisco parece ser o instrumento definitivo para erradicar essas “três pedras perecíveis perigosamente colocadas nas fundações” da Igreja. Existem muitas outras palavras e escritos do Papa Francisco que mostram o quanto ele está impregnado com o modo de pensar teilhardiano (não apenas sua encíclica Laudato Si, onde cita expressamente o Pe. Teilhard de Chardin).

A implementação de uma estrutura sinodal é claramente obra do papa Francisco. A colegialidade havia aberto o governo da Igreja universal aos bispos. A sinodalidade a abre a todo o povo de Deus e leva a uma nova Igreja, democrática.

O sínodo na Amazônia parece ser o caminho para erradicar “a segunda pedra colocadas nas fundações da Igreja. A vontade do Papa parece ser banir, a partir de agora, um sacerdócio que “exclui e minimiza a mulher”.

Em um sermão datado de seu primeiro ano de pontificado (16 de dezembro de 2013), o Papa Francisco falou da seguinte maneira: “Quando no povo de Deus falta profecia, está faltando alguma coisa: falta a vida do Senhor. Quando não há profecia a força recai sobre a legalidade, toma lugar o legalismo. Quando no Povo de Deus não há profecia o vazio causado é ocupado pelo clericalismo. Que nossa oração seja assim: Senhor, que não nos esqueçamos de sua promessa! Nós todos batizados, somos profetas. Que tenhamos forças para avançar! Que não nos fechemos nas legalidades que cerram as portas. Senhor, liberta o teu povo do espírito do clericalismo e ajude o teu povo com o espírito da profecia.”

De fato, o pontificado do Papa Francisco é apenas o resultado das idéias do Concílio Vaticano II e está em continuidade com seus antecessores pós-conciliares. Isso é admiravelmente demonstrado pelo Padre Pagliarani, Superior Geral da FSSPX, na excelente entrevista que deu em 12 de setembro.

Após cinquenta anos de reformas pós-conciliares, o papa reinante está preparando o advento do Cristo cósmico“, tão querido pelo Pe. Teilhard.

Teilhard, um pensamento não católico

Mas, como escreveu o filósofo Marcel de Corte, “o teilhardismo não está à margem do catolicismo nem à beira do cristianismo, muito menos uma heresia cristã. É outra religião que usa Nosso Senhor Jesus Cristo como rolamento da “ascensão cósmica”. […] Afirmo que o Revmo. Pe. Teilhard de Chardin, padre da Companhia de Jesus, nunca foi cristão, nem de pensamento nem de alma. Ele nunca acreditou, no verdadeiro sentido da palavra acreditar, no Cristo das Escrituras. Como escreve com pertinência e moderação o Pe. Guerard des Lauriers O.P., professor da Pontifícia Universidade Lateranense: “uma doutrina que implica como conseqüência necessária a identificação de Cristo com a alma do cosmos material em evolução, essa doutrina é anticristã… Porque a fé cristã professa que o Verbo de Deus assumiu pessoalmente uma Humanidade proveniente não do cosmos, mas de uma criatura humana pessoalmente predestinada por Deus em vista dessa missão… Então deve-se declarar claramente: o Cristo de Teilhard é a figura contemporânea do anticristo.” (2)

Para um de seus amigos, o Pe. Auguste Valensin, o padre Teilhard escreveu: “Sonho com um novo São Francisco ou um novo Santo Inácio, que viria nos apresentar o novo tipo de vida cristã (mais envolvida com o mundo e mais desapegada, simultaneamente) que precisamos”

Infelizmente, é bem possível que o Concílio Vaticano II tenha gerado esse novo “São” Francisco, sonhado pelo padre Teilhard.

Pe. Thierry Legrand, padre da FSSPX.

NOTAS

Cartas inéditas, Le Rocher, 1988, p.80

2 Revista Itineraires,  nº 91, março de 1965, A Religião teilhardiana, de Marcel de Corte, págs. 144 e 149