“O liberalismo católico é um verdadeiro flagelo”. Pio IX
O padre Roussel reuniu em seu livro121toda uma série de declarações do Papa Pio IX que condenam a tentativa católico- liberal de aliar a Igreja com a Revolução. Eis algumas delas, em que seria bom meditar:
“O que aflige nosso país e o impede de receber as bênçãos de Deus, é esta mistura de princípios. Direi e não me calarei; o que temo não são estes miseráveis da Comuna de Paris… O que temo é esta desastrada política, este liberalismo católico que é o verdadeiro flagelo… este jogo de pêndulo que destruiria a Religião. Sem dúvida, deve-se praticar a caridade, fazer o possível para atrair os extraviados; entretanto não é necessário por causa disto compartilhar com suas opiniões…”122.
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“Adverti pois venerável Irmão (o bispo de Quimper) aos membros da Associação Católica que em muitas ocasiões emque temos repreendido os partidários das opiniões liberais, não tínhamos em vista aqueles que odeiam a Igreja e aos quais teria sido inútil falar; mas nos referimos aos que conservando e mantendo escondido o vírus dos princípios liberais com que se alimentaram desde o berço, sob o pretexto de não estar infectado com uma malícia clara e que, segundo eles, não é prejudicial à Religião, o transmitem facilmente às almas e propagam assim as sementes dessas revoluções que sacodem já há bastante tempo o mundo”123.
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“Entretanto, por mais que os filhos do século sejam mais hábeis que os filhos da luz, as astúcias dos inimigos da Igreja teriam menor êxito, se um grande número dos que levam o nome de católicos não lhes estendesse a mão amiga. Mas por desgraça, há os que parecem querer andar de acordo com nossos inimigos, e se esforçam por estabelecer uma aliança entre a luz e as trevas, um acordo entre a justiça e a iniqüidade, por meio destas doutrinas chamadas de “católico-liberais”; estas, apoiando-se em princípios os mais perniciosos, afagam o poder laico quando invade as coisas espirituais e fazem os espíritos respeitar ou ao menos tolerar as leis mais iníquas, como se não estivesse escrito que ninguém pode servir a dois senhores. Esses são certamente mais perigosos e mais funestos que os inimigos declarados, porque agem sem serem notados, ou pensam agir assim, ou porque mantendo-se no justo limite das opiniões condenadas formalmente, mostram uma certa aparência de integridade e de doutrina reta, seduzindo assim aos imprudentes amadores de conciliação e enganando gente honesta, que se rebelaria contra um erro declarado. Assim dividem os espíritos, desfazem a unidade e debilitam as forças que teriam que se unir para lutar contra o inimigo…”124.
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“Nós só podemos aprovar-vos pelo fato de terem empreendido a defesa e explicação das determinações de Nosso Syllabus, principalmente as que condenam o liberalismo dito católico; o qual, contando com um grande número de partidários mesmo entre os homens honestos e dando a impressão de se afastar pouco da verdade, é mais perigoso para os outros, engana mais facilmente aos que não estão de sobreaviso, e destruindo o espírito católico insensivelmente e de modo velado, diminui as forças dos católicos e aumenta as do inimigo”125.
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Depois de tais condenações, que se atrevam os católicos liberais a rechaçar os qualificativos de traidores, desertores, de inimigos perigosos da Igreja!
Para encerrar com o catolicismo liberal considerado de um modo geral, eis o juízo de uma testemunha autorizada: Emile Keller, deputado francês em 1865, em seu livro “O Syllabus de Pio IX – Pio IX e os Princípios de 1789”. “Qual é pois esta transação que se procura há tantos anos e que hoje é citada cada vez com mais insistência? Que lugar querem dar à Igreja em um edifício do qual, em princípio, ela deveria ser excluída? Os liberais e os governantes a aceitam com boa vontade, como auxiliar. Mas se reservando sua independência, sua soberania e sua inteira liberdade de ação, fora de qualquer vínculo com a autoridade dela. Deixam em suas mãos o domínio das consciências, contanto que ela lhes entregue a política e reconheça a eficácia social das idéias modernas, conhecidas com o nome de princípios de 1789. Caindo nesta armadilha sedutora, muitos espíritos generosos não entendem que estas propostas tão moderadas possam ser recusadas. Uns se afastam da Igreja imaginando, coisa absurda, que realmente ela exija o sacrifício do progresso e da liberdade. Certos do contrário, mas não ousando negar a força das fórmulas modernas, outros fazem grandes esforços para que a Igreja decida, como eles, a reconciliação oferecida. Com boa vontade crêem haver demonstrado que, salvo alguns detalhes, os princípios da revolução de 1789 são puramente cristãos, e que seria uma grande astúcia apoderar-se deles e levá-los gradualmente e em surdina para serem reconhecidos e abençoados pela Santa Sé”126.
Foi exatamente o que ocorreu durante o Concílio Vaticano II: os liberais conseguiram que fossem abençoados pelo Papa e pelo Concílio os princípios da Revolução Francesa de 1789. Tratarei de demonstrá-lo mais adiante.
Do Liberalismo à Apostasia – Mons. Marcel Lefebvre
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121 “Liberalisme et Catholicisme”, 1926.
122 Aos peregrinos de Nevers, julho de 1871
123 Breve a um Círculo Católico de Quimper, 1973
124 Breve a um Círculo Católico de Milão, 1873.
125 Breve aos redatores de um jornal católico de Rodez, dezembro de 1876.
126 Op. Cit.Pág.13