OS REIS MAGOS, MESTRES DA VIDA ESPIRITUAL

Como eles, sigamos a estrela da nossa fé. 

Se a perdermos de vista, mantenhamos sempre o mesmo caminho.

Fonte: La lettre de saint Florent n° 301 – Tradução: Dominus Est

A chegada dos Magos ao presépio (Mt 2,1-12) inspirou numerosos pregadores. Em um sermão sobre a Epifania, o jesuíta Louis Bourdaloue (1632-1704) evoca a verdadeira sabedoria “que consiste em procurar e encontrar Deus”. No início, no progresso e a aperfeiçoamento da sua fé, os Magos encorajam-nos a acolher a graça e a perseverar, deixando-nos guiar pela sabedoria divina.

Responder ao chamado da graça

O Evangelho observa: “Vimos a sua estrela e viemos”. Assim que discerniram o chamado de Deus, os Magos puseram-se a caminho. “Enquanto uma nova estrela brilhava externamente em seus olhos”, uma “luz secreta” entrava em seus corações. Movidos pela graça, estes sábios respondem ao seu Deus que espera “louvores de todas as nações”.

A disposição desses homens contrasta com a falta de entusiasmo que manifestamos quando o Espírito Santo nos sugere um bom projeto, cuja realização atrapalharia nossos planos. A prontidão dos Magos em seguir a estrela destaca os atrasos “imprudentes e insensatos que levamos todos os dias no cumprimento das ordens de Deus e em fazer o que a graça nos inspira

Perseverar apesar das dificuldades

Para responder à sua vocação, como outrora fez Abraão, os Magos tiveram que deixar “seu país, suas casas, suas famílias e, segundo a tradição comum, seus reinos e estados“, porque ninguém se aproxima do Senhor sem renúncia. Para entrar e permanecer no caminho de Deus, são necessários sacrifícios. A vida espiritual exige passos que custam à natureza. A prudência humana apresenta tais esforços “como um empreendimento além de nossas forças”, mas o homem sábio sabe que Deus não lhe pede nada impossível.

Quando a estrela se esconde, longe de voltar atrás, os magos perseveram em sua determinação. A dificuldade que surge não é de se admirar, pois Deus muitas vezes tenta a alma fiel dessa maneira. “Depois de nos atrair ao Seu serviço e de nos comprometer com ele, Ele retira por um tempo certas graças sensíveis das quais ele primeiro nos advertiu”. Nesse caso, é importante “manter sempre o mesmo caminho” independentemente das consolações de um momento. “A lembrança das luzes com as quais fomos tocados” é suficiente para permanecermos fiéis a Deus.

Os Magos recorrem aos meios que a Providência lhes proporciona. “Sabem que o Deus que procuram tem prazer em ser buscado, e que é àqueles que o procuram que se Ele se revela com maior vontade”. Consultam os sacerdotes e os doutores da lei, mas ignoram os julgamentos do mundo.

A eminente sabedoria

Com as luzes de sua fé, os Magos discernem a identidade da criança diante deles. Através do ouro, incenso e mirra, eles afirmam a soberania, divindade e humanidade de Jesus Cristo. Esses verdadeiros adoradores não são movidos pela “vil aparência exterior” do espetáculo oferecido pelo presépio. Se tivessem uma “fé fraca”, sua “razão teria se revoltado”, sua “sabedoria mundana” os teria inspirado o desprezo por um salvador que “se reduziu a tais extremos”. Mas, por serem animados por uma fé viva, estes homens sabem que Jesus “é o rei das mentes e dos corações” e a ausência dos “ornamentos da pompa humana” não os surpreende.

Os Magos foram “os primeiros frutos de nossa vocação à fé; foi através deles que Jesus Cristo quis começar a nos transmitir este precioso tesouro de fé”. Esses personagens do presépio continuam sendo nossos modelos. Como eles, sigamos a estrela da nossa fé. “Nunca a percamos de vista. Vamos a Deus e não vamos de mãos vazias”.