O ideal fraudulento da igualdade
Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est
Os Jogos Paralímpicos tiveram o mesmo tratamento midiático que os Jogos Olímpicos. As pessoas se alegraram com a possibilidade oferecida a tantas pessoas deficientes de competir nas disciplinas atléticas.
Todavia, a separação destas competições em duas séries demonstra bem que não é possível comparar o desempenho de uns e outros, e fazê-los concorrer juntos. Há, efetivamente, uma desigualdade. Logo, a alegria dos competidores e dos vencedores demonstra bem que é a ausência desta igualdade que os torna felizes.
Sem dúvida, é excelente organizar a sociedade de modo a aliviar tanto quanto possível a dificuldade dos deficientes. Todavia, a alegria não vêm de uma igualdade impossível de ser estabelecida. Ela advém, pelo contrário, de uma vitalidade que se manifesta de modo deslumbrante apesar de todos os obstáculos.
A igualdade, ao invés disso, é um slogan revolucionário. Sem dúvida, há igualdade de dignidade entre todos os seres humanos em virtude da natureza humana: essa igualdade justifica, por exemplo, a imparcialidade da justiça, mas, também, a rejeição absoluta do aborto como uma negação de dignidade e de igualdade entre a pessoa humana ainda não nascida e a pessoa que veio à luz.
Todavia, a igualdade revolucionária consiste, sobretudo, na exacerbação das invejas e dos ressentimentos, para fazer deles um fermento de destruição da ordem estabelecida.
Ela reivindica uma igualdade matemática de tratamento que beira à negação das realidades. A “igualdade de oportunidades”, o grande slogan da Educação nacional, só conduz ao desmoronamento do nível geral dos estudos.
Ela contribui, outrossim, para a subversão da sociedade: é por isso que um prelado pôde observar judiciosamente que estabelecer o “casamento para todos”, no lugar de restabelecer uma igualdade perdida, consistia em “impor a todos o casamento de alguns”. Mudar a estrutura de base da sociedade para satisfazer um lobby.
Georges Orwell fez justiça desse sofisma da igualdade de modo contundente: na Revolta dos bichos (1945), ele encena uma revolução igualitarista dos animais insubmissos que culmina em uma ditadura feroz, onde os líderes da revolução atingem, enfim, seu sonho, a saber: viver com os burgueses como burgueses. Sob o grande princípio de que “todos os animais são iguais”, uma pata acrescentava discretamente “… mas alguns o são mais que outros!”.
O mundo é criado por Deus não em uma igualdade absoluta, mas de acordo com uma hierarquia de perfeições. Cada ser, independente de seu grau de perfeição, encontra sua felicidade no exercício de sua vida própria, integrada à harmonia do todo. Elevado pela graça, a vida humana, por mais modesta que seja conforme o mundo, pode resultar em uma beatitude indizível, aquela dos filhos de Deus no céu, onde “uma estrela difere da outra em brilho” (I Cor 15, 41). É por isso que São Paulo pode afirmar a todos, grandes e pequenos: “Somos cooperadores de vossa alegria” (II Cor 1, 23).
Pe. Nicolas Cadiet, FSSPX