Venerunt mihi omnia bona pariter cum illa — “Todos os bens me vieram juntamente com ela” (Sap. 7, 11).
Sumário. Para que os nossos obséquios agradem à Mãe de Deus e nos façam dignos de seu patrocínio, duas coisas são necessárias: primeiro, devemos tributá-los com coração puro ou, ao menos, com o desejo de nos emendarmos; segundo, devemos ser constantes. Ah, quanto dos que estão agora no inferno teriam sido santos se tivessem perseverado nos seus obséquios à Santa Virgem! Lancemos um olhar sobre nós mesmos. Com que coração oferecemos à Maria as nossas homenagens? Qual é a nossa perseverança em oferecê-las?
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É tão liberal e grata a Rainha do céu, que, no dizer de Santo André Cretense, recompensa com riquíssimos prêmios os pequenos obséquios de seus servos. Para isto, contudo, são necessárias duas coisas: A primeira, que ofereçamos os nossos obséquios com a alma pura de pecados, ou ao menos com o desejo de sairmos dos vícios e da tibieza. Pois, se alguém quisesse continuar a pecar, com a esperança de que Maria o havia de salvar por causa daquela sombra de devoção, pela sua culpa própria se tornaria indigno e insuscetível da proteção de nossa Senhora. — A segunda condição é que se persevere na devoção à Virgem; porque, como diz São Bernardo: “Só a perseverança merece a coroa.” É muito notável a resposta que São João Berchmans deu na hora da morte a seus companheiros, quando estes lhe perguntaram o que deviam fazer para merecerem a proteção de Maria: Quidquid minimum, dummodo sit constans. — Por pouco que seja, contanto que seja constante.
Os obséquios mais agradáveis à Virgem são os seguintes: Consagrar-se-lhe de manhã e à noite, rezando três Ave-Marias. Recorrer freqüentemente à sua intercessão, mormente nos perigos de ofender a Deus e nunca recusar uma coisa que for pedida por amor dela. Alistar-se em alguma congregação da Virgem. Excitar os outros, por palavras e exemplos, a praticarem a devoção para com Nossa Senhora. Trazer sempre o santo escapulário e rezar, impreterivelmente, cada dia o Terço ao pé de uma imagem de Maria. Jejuar no sábado e nas vésperas das festas principais. Celebrar ou fazer celebrar ou pelo menos ouvir uma missa em honra da Virgem; e honrar seus santos parentes e outros santos que mais se distinguiram em sua devoção. Finalmente celebrar com fervor as novenas de preparação para as suas festas; propondo-se a emenda de algum vício, ou a imitação de alguma virtude especialmente apropriada ao estado da alma e aproximando-se dos santos sacramentos.
Mas não te exorto tanto a praticar todos estes obséquios, como a praticares os que possas escolher ou já tenhas escolhido, com perseverança, temendo que, se te descuidares deles no futuro, percas a proteção da divina Mãe. Oh! Quantos daqueles que agora estão no inferno, teriam sido santos do paraíso, se tivessem perseverado nos obséquios a Maria, uma vez escolhidos e principiados!
Para conservação de teu fervor na devoção à grande Mãe de Deus, é utilíssimo escolheres cada ano, entre as outras, alguma festividade da Virgem, à qual tenhas maior devoção e ternura, e fazeres nesta uma preparação particular, para de novo te dedicares de modo mais especial ao seu serviço, elegendo-a por tua Senhora, Advogada e Mãe. Nesse dia, depois da comunhão, pedir-lhe-ás perdão das negligências em servi-la no ano passado e prometer-lhe-ás maior fidelidade para o ano seguinte. Rogar-lhe-ás, enfim, que te aceite por servo e te obtenha uma santa morte.
Santíssima Virgem e Mãe de Deus, Maria, eu, ainda que indigníssimo de ser vosso servo, confiado contudo na vossa admirável bondade e urgido pelo desejo de vos servir, vos escolho hoje, em presença do meu Anjo da Guarda e de toda a corte celeste, para minha particular Soberana, Advogada e Mãe. Tomo a firme resolução de vos amar e servir sempre no futuro e de fazer o que possa para que de todos sejais amada e servida.
Suplico-vos, ó Mãe de Deus e minha Mãe piedosíssima e amabilíssima, suplico-vos pelo sangue de vosso divino Filho, derramado por mim, vos digneis admitir-me entre o número de vossos devotos, para vosso filho e servo perpétuo. Assisti-me em todos os meus pensamentos, palavras e ações e em todos os instantes de minha vida; de modo que todos os meus passos, todas as minhas respirações sejam ordenados para a maior glória de Deus. Fazei pela vossa intercessão poderosíssima que nunca mais ofenda o meu amado Jesus, mas sim, o glorifique e ame durante toda a minha vida. Dai-me também grande amor para convosco, minha Mãe queridíssima, a fim de vos amar e gozar de vossa presença no paraíso, por todos os séculos. (*I 272.)
Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III – Santo Afonso