Respostas a duas objeções comuns: Por que repetir a Ave Maria 50 vezes? E é realmente possível recitar e meditar o Terço ao mesmo tempo?
Fonte: Lou Pescadou n° 247 – Tradução: Dominus Est
Um dia, uma jovem chegou a Le Pointet para um Retiro de Santo Inácio. Ela não era uma de nossas fiéis. Era, como se diz, uma conciliar. No entanto, ela seguiu os exercícios espirituais corretamente. Ela disse que ficou “encantada” com esses cinco dias. Mas o que a levou ao Retiro? Talvez… o terço: ela explicou aos pregadores que o recita todos os dias há dez anos! Ao iniciarmos o mês do Terço, estejamos cada vez mais conscientes do poder dessa oração e decidamos ser fiéis a ela. Para isso, precisamos responder a duas objeções clássicas ao Terço: por que repetir a Ave Maria 50 vezes? E podemos realmente recitar e meditar o Terço ao mesmo tempo?
Quanto à primeira objeção, é preciso dizer que a qualidade da oração é melhor do que a quantidade. São Luís-Maria Grignion de Montfort, na sua obra O Admirável Segredo do Terço, escreve: “Uma única Ave-Maria bem rezada tem maior mérito do que cento e cinquenta mal rezadas. (…) Muitos rezam o terço, mas por que tão poucos corrigem os seus pecados e avançam na virtude, senão porque não rezam estas orações adequadamente.” Mas este método de oração, que pode até nos fazer repetir a Ave Maria 153 vezes, vem da Santíssima Virgem Maria, que inspirou a São Domingos. E há uma boa razão para essas repetições.
Se pensarmos bem, perceberemos que a vida é feita de repetições. Todos os dias fazemos as mesmas ações, as mesmas saudações com as mesmas fórmulas. Há ainda a mesma repetição de batimentos cardíacos nos seres humanos, sem a qual não haveria vida… Portanto, é precisamente a repetição das Ave-Marias que dá vida e atmosfera à oração. Esta repetição criará um hábito, uma facilidade, um ritmo também, que nos permitirá nos elevar em direção a Deus. Assim, naturalmente, depois de estarmos atentos às palavras durante um certo tempo, estaremos atentos aos mistérios, depois a Deus. Santo Tomás de Aquino fala destes três graus da oração: atenção às palavras, depois aos mistérios, finalmente a Deus. É como um violino de três cordas: você começa usando apenas uma corda. Mas o ideal é tocar as três ao mesmo tempo. Chegamos lá com o tempo. É isso que a repetição das Ave-Marias traz: um meio de unir-se mais intimamente a Deus por pelo menos 20 minutos.
Do que acabamos de dizer segue-se a resposta à segunda objeção: sim, podemos recitar e meditar ao mesmo tempo. Graças à repetição, recitamos com facilidade, sem tensão, e assim ficamos muito mais livres internamente para meditar. Sobre o que meditar? A oração da Missa de Nossa Senhora do Terço nos diz: a vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, Filho único de Deus. E acrescenta: imitar estes mistérios e obter o que eles prometem. São Luís-Maria Grignion de Montfort escreve ainda: “Os mistérios do Terço são obras de Jesus Cristo e da Santíssima Virgem; estão repletos de maravilhas, de perfeição e de instruções profundas e sublimes, que o Espírito Santo revela às almas humildes e simples que os honram.”
Portanto, não tenhamos medo de repetir essas Ave-Marias. Sejamos fiéis na recitação e meditação do nosso terço. E procuremos, como aconselha o Padre de Montfort, recitá-lo em comum, em família e até mesmo em dois coros. “De todas as maneiras de recitar o Terço, fazê-lo publicamente em dois coros é o caminho mais glorioso para Deus, o mais salutar para a alma, o mais terrível para o demônio. Deus ama as assembleias. Nosso Senhor aconselhou expressamente essa prática aos seus apóstolos e discípulos, e prometeu-lhes que sempre que dois ou três se reunissem em seu nome, ele seria encontrado no meio deles. Que alegria ter Jesus Cristo em sua companhia! Para possuí-lo basta reunir-se para rezar o terço.” Note que Nosso Senhor fala de dois ou três reunidos em (seu) nome (Mt 18,20). É, portanto, a menor sociedade possível, mas deve ser unida em nome de Jesus Cristo. Nesta condição, ele promete estar presente no meio dela, e a sua presença tornará a oração irresistível diante de Deus. É por isso que, nos primeiros tempos da Igreja, os cristãos reuniam-se com tanta frequencia para rezar apesar das ameaças.
O Padre de Montfort enumera várias vantagens de rezar em dois coros. Primeiro, a mente fica mais atenta. Em segundo lugar, quando rezamos em comum, apenas uma voz se eleva. Assim, se alguém em particular não reza tão bem, outro membro da assembleia que reza melhor compensa a sua deficiência. O santo chega mesmo a dizer: uma pessoa que reza seu terço sozinha tem o mérito de apenas um terço; se o reza com trinta pessoas, tem o mérito de trinta terços! Por fim, o Padre de Montfort salienta que a Igreja, guiada pelo Espírito Santofez uso de orações públicas em todos os momentos de calamidade. E cita o exemplo de Gregório XIII que declara, na sua Bula, que devemos acreditar piamente que as orações públicas e as procissões dos confrades do Santo Terço contribuíram muito para obter de Deus a grande vitória de Lepanto sobre os turcos, no primeiro domingo de outubro de 1571.
Rezemos o terço juntos, em família. O Papa Pio XII tem algumas reflexões muito boas sobre o assunto. Ele disse aos pregadores da Quaresma em 1943: “Despertai nas almas dos fiéis o sentimento do antigo e piedoso costume da oração familiar em comum. (…) E tal como a vida pública, cheia de distrações e armadilhas, muitas vezes em vez de promover os bens mais preciosos da família – a fidelidade conjugal, a fé, a virtude e a inocência dos filhos – os coloca em perigo, a oração no lar doméstico é hoje quase mais necessário do que em tempos passados.” São Pio X escreveu em seu testamento: “Se quereis que a paz reine em vossas famílias e em seu país, rezem o terço todos os dias com seus entes queridos”.
Um conselho: ao rezar em família, devemos levar em conta a capacidade das crianças. O Papa Pio XII, no mesmo discurso de 1943, disse: “Que a oração seja feita de tal maneira que as crianças não se sintam cansadas ou repugnadas com ela, mas antes se sintam atraídas a intensificá-la.” Podemos, portanto, com crianças pequenas, começar por dizer uma ou duas dezenas em comum e depois aumentar com o tempo.
Por fim, é preciso dizer uma palavra sobre as distrações que podem nos dominar durante o terço. O Padre de Montfort faz distinção entre distrações voluntárias e involuntárias. As primeiras constituem uma grande irreverência, “que tornaria infrutíferos os nossos terços e nos encheria de pecados. Como ousamos pedir a Deus que nos ouça se não ouvimos a nós mesmos?” As distrações involuntárias são quase inevitáveis, diz o santo. Mas devemos usar todos os meios para reduzi-las e fixar a nossa imaginação. Devemos lembrar-nos de nos colocar na presença de Deus, de acreditar que Deus e a sua santa Mãe olham para nós. Podemos imaginar Nosso Senhor e Sua Mãe Santíssima no mistério que honramos. O santo ainda aconselha ter intenções de oração, e porque não a cada dezena. E diz que se tivermos muitas distrações, mas nos esforçarmos, nosso terço será ainda mais fecundo. “O vosso terço é ainda melhor por ser mais meritório; é ainda mais meritório por ser mais difícil.”
Duas palavras da Santíssima Virgem nos convencerão a rezar nosso terço, sozinhos ou com nossa família. Em Fátima, no dia 13 de outubro de 1917, ela disse: “Eu sou Nossa Senhora do Terço. Recitem o terço todos os dias.” Cinco séculos antes, ela havia dito ao Beato Alain de La Roche: “Quem perseverar na recitação do meu Terço receberá todas as graças que pedir.”
Pe. Vincent Grave, FSSPX