
Diante do verdadeiro Templo que é Cristo, os sacerdotes do templo pedem um sinal, sem perceber que a Verdade já está diante deles.
Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est
Com que sinal nos mostras tu que tens autoridades para fazer essas coisas? Nosso Senhor acabara de expulsar os vendedores do Templo. O que acabara de realizar irritou profundamente o povo na sinagoga, ao mesmo tempo que os surpreendeu. Quem era aquele homem que nem sequer era sacerdote?
Para nós que viemos posteriormente, para nós que ouvimos as palavras de São Paulo, Deus, nestes últimos dias, falou-nos por meio de seu Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, não julguemos precipitadamente estas pessoas do Templo nesta pergunta que fazem ao Senhor. O choque para eles deve ter sido duro. Desafiados publicamente por um desconhecido, não seria legítima a sua pergunta? Tanto mais que o seu sacerdócio tinha apenas um objetivo: o Messias, anunciando-o e designando-o.
Na antiga Lei, bastava ser descendente de Levi, ser homem e não ter nenhum defeito físico para ser sacerdote. Nenhuma cerimônia de consagração era necessária. O sacerdócio do Antigo Testamento era um sacerdócio de instituição humana. Nascia-se levita.
O nascimento é, talvez, o único ponto em comum entre o sacerdócio da Antiga Lei e o de Nosso Senhor. De fato, é por ter nascido homem que Nosso Senhor é sacerdote. A união das duas naturezas, humana e divina, na pessoa de Cristo faz dEle o “único sacerdote, o único pontífice entre Deus e os homens.
Entre o sacerdócio da antiga Lei, certamente instituído pela Lei Mosaica e legítimo segundo sua missão, e o Sacerdócio, há uma diferença gigantesca… diferença entre o anúncio e a realidade, entre a imagem e a Verdade. Na pergunta do povo na sinagoga, encontramos essa impotência da imagem em perceber que é apenas uma imagem. Encontramos essa impotência da inteligência humana de captar a Inteligência de Deus. O que mais poderíamos ter dito em seu lugar? Nosso Senhor apontará isso a São Pedro: Bem aventurado és, Simão bar-Jonas, porque não foi a carne e o sangue que to revelou – que eu era o Cristo, o Filho do Deus vivo – mas meu Pai que está no céu”. Para reconhecer a autoridade de Jesus, devemos fazer um ato de Fé, devemos ter em nós a graça de Deus que nos dá a conhecer, devemos ter a Paternidade divina e, portanto, tornar-nos filhos de Deus.
Essa realidade nos faz admirar o gesto do Batista, também sumo sacerdote, que prega no deserto um batismo de penitência e aponta aos seus discípulos o Cordeiro de Deus, no exato momento em que, no Templo, se imola o cordeiro para o sacrifício da tarde. É preciso que Ele cresça e que eu diminua. São João Batista poderia expressar melhor o que é o ato de fé em uma alma que reconhece Deus?
Que eu diminua. É isso que faltará a esses sacerdotes da antiga Lei. Ao pedirem um sinal, não deixarão mais de pedir milagres a Nosso Senhor. Em busca de cada vez mais certezas, verão, mas não acreditarão. A resposta que Nosso Senhor lhes dá é extraordinária: Destruam este templo e em três dias eu o levantarei. É extraordinária porque compreendemos que desde o primeiro momento Nosso Senhor não ignora nem o fim de sua vida, nem aqueles que lhe matarão, nem sua própria ressurreição. Essa profecia afirma de uma vez por todas sua autoridade: Ele é o mestre da Vida, Ele é o mestre de sua Vida.
Talvez tenham sido trocadas outras palavras nessa discussão, mas São João registrou apenas estas para nosso ensinamento. Talvez também o Senhor quisesse dar a esses homens irritados e desonestos uma resposta abrupta e enigmática, como para medir a luz de seu ensinamento. De qualquer forma, temos nessa resposta o cerne da nossa fé: se Cristo não ressuscitou, a nossa fé é vã. Não teremos outro sinal senão o de Jonas.
Enquanto o Senhor falava do único Templo verdadeiro em que Deus verdadeiramente habita, o templo do seu corpo, os judeus pensavam apenas no santuário material do qual tanto se orgulhavam. Exclamaram então: “este templo foi edificado em quarenta e seis anos, e tu, reedificarás em três dias?” A estranheza do desafio lançado pelo Senhor convidava a inteligência de seu público a buscar um significado mais profundo, ou pelo menos a aguardar a hora em que a resposta ao enigma seria dada. Mas o humor dos sacerdotes do templo é malicioso. Eles já estão zombando das palavras de Cristo.
A atitude dos discípulos, que só três anos mais tarde compreenderão o que acaba de ser dito, é bem diferente. É preciso saber esperar, e quando Deus fala, é preciso acreditar em sua palavra, sem exigir imediatamente uma demonstração completa… Devemos também saber não pedir sinais. A Palavra de Deus por si só basta… Aqueles que creem sempre acabam por ver claramente.
Pe. Vincent Bétin, FSSPX