TRÊS EXEMPLOS DE VIRTUDE CRISTÃ NA VIDA DE SANTA ROSA DE LIMA

Resultado de imagem para santa rosa de limaFonte: Hojitas de Fe, 158, Festas do Santoral | Seminário Nossa Senhora Corredentora, FSSPX – Tradução: Dominus Est

No dia 30 de agosto, a Igreja celebra a festa de Santa Rosa de Lima, padroeira da América Latina e primeira santa do continente americano. Esta Santa é, em razão de sua vida prodigiosa, quase mais admirável do que imitável, uma alma rival de São Luís Gonzaga em santidade, inocência e penitência, e um dos exemplos que Nosso Senhor Jesus Cristo concedeu à sua Igreja no tempo da Contrarreforma, para mostrar com os fatos o poder da graça que o Protestantismo negava: “Tens, porém, algumas pessoas em Sardes que não contaminaram os seus vestidos; e irão comigo (ao céu) vestidas de branco, porque são dignas disso.” (Ap 3, 4).

Aproveitemos, pois, o repasso de sua vida para nela encontrar alguns exemplos que se pudermos imitar em nossa vida cristã, em torno das três graças que nela mais brilharam, a saber:

• a fidelidade de Santa Rosa à graça;

• a penitência admirável que praticou durante toda a sua vida;

• e o total desprezo pelo respeito humano.

1º Grandes dons e graças de Deus a Santa Rosa e fidelidade da Santa aos mesmos.

Santa Rosa de Lima nasceu em 20 de abril de 1586 em Lima, então capital do Vice-Reino do Peru, sendo filha de Gaspar de las Flores e Maria de Oliva, ambos ilustres por sua nobreza e por sua piedade, embora de condição modesta.

Recebeu nossa Santa no batismo o nome de Isabel; mas três meses depois, quando sua mãe observou seu rosto transfigurado em uma rosa, começaram a chamá-la Rosa.

Quando chegou à idade da razão, isso lhe deu escrúpulos, porque achava que estavam tentando elogiar sua beleza; mas a Virgem Santíssima, em uma visão, consolou-a dizendo que o nome de Rosa era agradável a Deus, e como sinal de afeto por ela, quis honrá-la também com o seu, chamando-a de Rosa de Santa Maria. Com este nome receberia em 1597 a confirmação de mãos de Santo Toribio de Mongrovejo, arcebispo de Lima, e com este nome posteriormente ingressaria na Terceira Ordem de São Domingos.

Na infância de Santa Rosa, três coisas se destacam:

  • A primeira, seu precoce espírito de oração, ao qual, desde criança, passou a dedicar grande parte do dia e da noite, e que mais tarde dela faria uma perfeita contemplativa e mística.
  • A segunda, seu desejo de consagrar-se totalmente a Deus através da virgindade, da qual fez voto aos cinco anos de idade.
  • E a terceira, seu incrível espírito de mortificação, já manifestado pelos males mais crudelíssimos e operações dolorosíssimas que teve de sofrer desde pequena, com tal paciência, que os médicos se viram obrigados a reconhecer nisso um milagre.

Em 1606, pôde Rosa começar sua vida quase religiosa; porque, depois de ter rejeitado os pretendentes que lhe foram apresentados, devido a sua verdadeira beleza e virtude, seus pais deram-lhe permissão para finalmente entrar na ordem terciária dos dominicanos. A partir desse momento, e até o final dos seus dias, Rosa de Santa Maria dedicou-se plenamente à contemplação, oração, mortificação e penitência.

Com o consentimento de sua mãe, um pequeno eremitério foi construído em sua casa, e nele ela viveu dividindo o tempo entre o trabalho manual e o santo exercício da contemplação.

Aplicou-se então com mais fervor do que nunca à prática das virtudes mais exigentes do cristianismo, notadamente a humildade e a caridade para com todos, adquirindo notoriedade os cuidados físicos e espirituais que dispensava em sua própria casa aos enfermos e às crianças.

2º Admirável penitência de Santa Rosa

Uma das coisas mais admiráveis de Santa Rosa é a penitência a que se entregou. Deve haver razões poderosas para que Deus nos dê como patronos Santos que têm sido tão assíduos na penitência, apesar de sua grande pureza e inocência de vida (como São Luis Gonzaga, Santa Rosália). Uma delas é certamente inculcar no povo cristão, pelo exemplo desses santos tão inocentes e penitentes, a necessidade da penitência em uma vida verdadeiramente cristã. Pois bem, a penitência de Santa Rosa é admirável, especialmente por duas razões:

  • A primeira, porque trata-se de uma alma que jamais deliberadamente cometeu um pecado venial, especialmente em matéria de pureza, e inclusive viu-se libertada, como São Luís Gonzaga, de toda tentação contra a bela virtude.
  • A segunda, porque jamais vacilou na prática de mortificações que em si mesmas são extremamente irritantes e desgastantes, o que contribui para uma intervenção prodigiosa da graça e dos dons do Espírito Santo.

Então, por exemplo:

  • Desde sua infância, absteve-se de comer frutas e, a partir dos seis anos, começou a jejuar a pão e água três dias por semana, até chegar ao voto (aos quinze) de nunca comer carne.
  • Já levando sua vida terciária dominicana, impôs-se ao jejum diário, a base de um pedaço de pão e um pouco de água; durante a quaresma, nem mesmo isso tomava, limitando-se a cinco gomos de laranja.
  • Disciplinava-se com cadeias de ferro até sangrar, e como seu confessor lhe proibira de continuar usando essa disciplina, ela converteu essa disciplina em três cadeias com as quais envolvia sua cintura tão apertadamente que lhe penetraram na carne, e mais tarde só puderam tirá-las com muita dor e abundante derramamento de sangue.
  • Desde sua mais tenra idade, fez uma coroa de estanho enfeitada com uma infinidade de pequenos cravos pontiagudos, e levou-a durante vários anos sem removê-la, e sem que ninguém percebesse.
  • Seu leito consistia em um tronco extremamente nodoso, em cujos orifícios ela introduzia madeirinhas irregulares e pedaços de telha, cujas pontas feriam-lhe o corpo, e seu travesseiro era uma grande pedra irregular.
  • Limitava seu sono a duas horas por dia, de modo que dedicava doze horas à oração, tanto durante o dia quanto à noite, e dez horas de trabalhos manuais para ajudar as necessidades de sua família ou dos enfermos.

Essa penitência poderia ser mal interpretada: • já por suas notas um tanto espetaculares, que pareceriam colocar a Santa entre o número dos desequilibrados ou perturbados; • e por levar-nos a pensar que foi precisamente essa penitência, no que tem de espetacular (e, portanto, de inimitável), o que constituiu sua santidade.

Na realidade, deve-se dizer que essas penitências extraordinárias nunca descartaram, ao contrário, sempre respaldaram, as penitências que chamamos de dever de estado, isto é, naquelas que o Senhor manifesta a nós significada e expressamente através dos mandamentos, da Regra, dos superiores, do dever de estado, das inspirações da graça. Se conhecêssemos com mais detalhes a vida de Santa Rosa, veríamos como essa classe de penitências era a que mais ocupou lugar em sua vida. Santa Rosa jamais fez qualquer coisa sem o consentimento de seus pais, ou de seus diretores espirituais, ou sem o claro pedido da graça de Deus; nem teria se atrevido a empreender qualquer penitência se tivesse visto que seria contrária à vontade do Senhor, manifestada por algum desses meios.

3º Desprezo que Santa Rosa tinha pelo mundo.

Como praticar a virtude tão constantemente, e entregar-se a mortificações tão acima das forças da natureza, quando não se conta sequer com o apoio de amigos que te compreendam, de consolações de Deus que te sustentem, de exemplos que te edificam? Nisso, o caráter heroico da alma de Santa Rosa é particularmente revelado. Pois sua constância e suas mortificações estiveram acompanhadas por provas mais duras do que a morte.

  • Ela teve que enfrentar seus pais e familiares para poder perseverar em seu propósito de virgindade, deles recebendo palavras de raiva, atitudes zombeteiras e depreciativas.
  • Interiormente, Deus a deixou libertada de maneira constante, durante quinze anos seguidos, à razão de uma hora e meia por dia, às terríveis tentações do demônio, o que a teria levado ao desespero sem a graça de Deus, e a fez experimentar de uma certa maneira os sofrimentos das almas do Purgatório.

Durante essas furiosas tempestades, ela não conseguia pensar em Deus, e os espíritos das trevas inundavam sua imaginação com espectros tão horríveis, que só o pensamento de que se aproximava, todos os dias, o momento de sofrer tais provas, já a enchia de espanto.

Estas são as cruzes com as quais ela granjeou as graças que também são lidas em sua vida, e que não nos atreveríamos a invejar se soubéssemos o preço que deve ser pago por elas. Entre essas graças figuram a companhia familiar com Santa Catarina de Siena, as frequentes aparições de Nosso Senhor e da Santíssima Virgem e, sobretudo, a graça das núpcias espirituais com Nosso Senhor Jesus Cristo, que em certa ocasião a visitou na capela dos padres dominicanos, dizendo-lhe: “Rosa do meu coração, a partir de agora sejas minha esposa”.

Conclusão

Esta santinha verdadeiramente levou seu nome, sendo para Deus uma rosa, que reservou para o Senhor, por sua vida virtuosa, toda a fragrância e beleza desta flor, e que ela guardou para si, por sua vida de renúncia, todos os espinhos com que esta flor está sempre acompanhada.

Santa Rosa falecia em 24 de agosto de 1617, depois de ter conhecido o dia de sua morte e ter cuidadosamente se preparado para ela. Foi beatificada em 1668 pelo Papa Clemente IX (quem um ano mais tarde a nomeou padroeira de Lima e Peru), declarada padroeira da América e das Filipinas em 1670, e canonizada em 1671 pelo papa Clemente X.

Estimulados pela consideração de sua vida, peçamos a esta insigne Patrona a tríplice graça:

  • Antes de tudo, de saber corresponder com fidelidade às graças de Deus e empregar todos os meios para aumentá-la, especialmente a oração e os sacramentos.
  • Depois, de praticar enquanto estiver ao nosso alcance a penitência exigida pela nossa vida cristã, nossos deveres de estado, como assinalou a Santíssima Virgem a Jacinta (“a penitência que o céu exige é o fiel cumprimento dos deveres de estado”), e como igualmente nos recordou Monsenhor Fellay para a cruzada de rosários para a qual nos preparamos para o centenário de Fátima.
  • Finalmente, de saber desprezar e pisotear o espírito do mundo e todo respeito humano que possa nos separar ou simplesmente nos distanciar de Deus.