André, irmão de Simão Pedro, foi um dos dois que ouviram as palavras de João Batista e o seguiram, de acordo com o Evangelho de São João. E, tendo encontrado primeiro seu irmão Simão, disse-lhe: “Encontramos o Messias”. Ele levou-o a Jesus que fixando nele o olhar, disse: “Tu és Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas, que quer dizer, Pedra.”
Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est
E Simão não diz nada. A cena é impressionante. Foi a graça que acabou de abrir os olhos do seu espírito para torná-lo capaz de ver quem lhe falava naquele momento. Foi a graça que tocou seu coração e o tornou sensível à influência dos maravilhosos encantos da Beleza de Cristo.
Temos um pouco de dificuldade em imaginar a extraordinária ascendência do divino Mestre: uma espécie de magnetismo que emanava de toda a sua pessoa e que explica tanto a autoridade que mudou o nome de Simão, quanto essa atração que subjuga Pedro (Pedra).
Primeiro, a sua autoridade… Bastou que ele olhasse para Simão. As palavras que se seguem, o novo nome que lhe dá desde o primeiro encontro, implicam um programa definido que Cristo executará… Simão, tu serás a pedra sobre a qual edificarei a minha Igreja. Desde o início Jesus sabia para onde estava indo, sabia o que estava fazendo. Ele não é vítima dos acontecimentos… exceto uma vez, quando Nossa Senhora antecipou sua sua hora em Caná. Mas ela agora é a “Mulher”.
As palavras de Jesus comovem e transformam seu interlocutor. Ao funcionário do rei que morava em Cafarnaum, oficial ligado a Herodes, que tinha ido procurá-lo para que pudesse impor as mãos sobre seu filho doente, Jesus respondeu, olhando para ele: Vai, o teu filho vive. E esse homem, que estava acostumado a receber ordens… creu, diz-nos o Evangelho de forma muito simples.
Desde o templo, onde, após três dias de buscas, seus pais O encontraram entre os doutores, até ao tribunal, onde, prisioneiro e acorrentado, impõe tamanha grandeza por meio dos seus silêncios, Pilatos lhe perguntará, não sem medo: “De onde és? Nosso Senhor impressiona. Que homem poderia, por seu próprio prestígio, fazer surgir tal questão em uma mente humana?
Deus Pai e eu somos um. Esse, que ainda ontem era carpinteiro, que pretensão tem, poderia pensar o cético! Mas ninguém percebe. Há tanta autoridade nesse homem de roupas tão simples que ele obtém o reconhecimento de sua divindade da parte daqueles que compartilharão sua vida, com quem comerão e dormirão. Esse homem era verdadeiramente o Filho de Deus, e aquele que perfurou seu lado o reconheceria in extremis.
Depois, há a atração… Jesus não apenas impõe, mas também atrai. Vemo-no constantemente cercado. Muitos são movidos pelo interesse próprio. Eles chegam em busca do curador, para si mesmos, para seus entes queridos. Mas muitos – multidões – estão ali por amor. Como aqueles nas cidades da Samaria e na Galiléia, que querem detê-Lo, mantê-Lo diante dos olhos. Como aqueles que o seguiram pelos desertos durante três dias, esquecendo a sua subsistência… para ouvi-lo! Embora a moralidade que ele prega seja a mais dura, sua mística a mais elevada que os ouvidos humanos já ouviram. As ovelhas reconhecem o seu Pastor pela sua voz e o seguem, diz ele sobre si mesmo e do seu poder sobre os corações.
Essa poderosa atração não se limita a conquistar a afeição dos seus discípulos, mas transforma toda a vida deles. Jesus pregou o dever em sua integridade. Esse ensinamento que nenhum homem ainda havia sido capaz de dar, e por boas razões, foi aceito obedientemente. E então, a perfeita realização que ele mesmo dá exerce um treinamento real. Assim, pela palavra e pelo exemplo, conduz as almas imperceptivelmente para além de si mesmas, à imitação do próprio Deus, o ideal de nossa vida.
A experiência de tal atração e de tal autoridade de Cristo está reservada apenas aos homens do evangelho? As almas que verdadeiramente buscam a Deus, de tempos em tempos, vislubram verdades que nunca tinham visto antes ou que pensavam ter compreendido, ou sobre as quais nunca se detiveram. E, de repente, essas verdades surgem diante delas como num chamado irresistível… verdades que transformam completamente uma vida, que implicam deveres e exigem obediência. É dessa forma, ou de outras semelhantes, que Cristo nos chama. Nada de miraculoso ou deslumbrante… muitas vezes é apenas no silêncio de uma oração que essa presença se manifesta. Precisamos disso para perceber que este chamado de Cristo se realiza todos os dias, hoje, como outrora, como se Ele ainda caminhasse entre nós. Na verdade, é a fé que nos falta… Já não temos olhos para ver o Mestre… Passamos a acreditar que não é para nós, que era bom no tempo dos Apóstolos.
E, no entanto, é o mesmo olhar que outrora foi dado a Simão, que nos é dado agora. É sempre esse olhar divino que nos revela o que está por trás das aparências externas, talvez um tanto quanto medíocres, de nossas vidas. Porque as aparências não importam para Deus. Para Jesus, nesse dia, este galileu simples e um tanto rude, que à primeira vista é bem semelhante aos outros, não é apenas um homem com uma riqueza de possibilidades, capaz de se doar sem reservas até se tornar a pedra sólida que fortalecerá todos os seus irmãos… Ele é o homem no qual pode, em um grau único, encarnar e espalhar sua Verdade e seu Amor.
Pe. Vincent Bétin, FSSPX