UM PADRE ENTRE OS VIAJANTES

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Milhões de almas estão praticamente prontas para receber a graça e a verdade.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Nesta “área de itinerantes (viajantes)” existem cerca de vinte caravanas. Um padre da Fraternidade São Pio X (FSSPX) visita o local há algum tempo, tentando compartilhar com eles alguns momentos de amizade em torno de uma xícara de café e alguns bolos, a fim de ganhar aceitação. Pouco a pouco, a desconfiança é substituída por simpatia mútua, e os corações então se abrem. A vantagem da batina é que não há necessidade de rodeios por muito tempo: as discussões sobre religião surgem muito rapidamente. O padre conhece os pontos que causarão dificuldade e os pontos a serem abordados.

Ele guarda Santo Tomás em sua cabeça, mas fala com o coração, de maneira simples, cada vez mais simples. Levará tempo para lhes levar a graça, assim como habilidade, orações e sacrifícios pessoais. Mais tarde, alguns deles acreditarão verdadeiramente que ele carrega a verdadeira doutrina do Senhor, face ao evangelismo conquistador. Nenhum argumento os conquistou, nem qualquer raciocínio teológico. Confessaram: “Vimos que nos amais e que nada esperais de nós; vimos que não vieste para vencer o pastor, que sua vinda foi gratuita, apenas para o nosso bem.”

Um dia, o pastor evangélico que vive neste acampamento, tomado de raiva contra este padre que definitivamente está começando a ter uma influência excessiva, se aproxima para iniciar um debate público. Ele havia aguçado seus argumentos para atacar e ridicularizar o catolicismo, e estes recaem sobre o padre como uma série de objeções da Summa Theologica.

Ele tem que responder, mas primeiro deve acalmá-lo, deixá-lo relaxar um pouco com humor, para responder às objeções uma a uma, simplesmente colocando-se ao alcance dos ouvintes. Acima de tudo, não mostrar impaciência, apenas amor por suas almas Isso ele repetia a si mesmo, interiormente. Mas agora a Virgem Maria, a toda pura, é atacada. A palavra de Jesus na cruz “Mulher, eis o teu filho” é interpretada pelos protestantes referindo-se exclusivamente ao apóstolo João.

O padre reagiu com firmeza: “Quem é você para ousar afirmar isso de forma tão peremptória? Por que está tão certo de sua interpretação? Se se diz cristão, deve interpretar esta palavra de Cristo de acordo com as explicações dadas pelos Padres da Igreja, logo em seu início. Acontece que a partir do século II em toda a Igreja no Oriente, na África, no Ocidente, Maria é chamada ‘a nova Eva, aquela que gera os homens para uma nova vida, a de Deus’, entre eles: São Justino, Santo Irineu de Lyon, Tertuliano, São Cirilo de Jerusalém e muitos outros. Santo Efrém da Síria no século IV, chamou Maria de ‘a Mãe da vida e da salvação, a mãe dos viventes e de todos os homens’. E Santo Agostinho no início do século V explica estas palavras de Cristo na cruz, segundo Orígenes, como sendo aplicáveis a todos os homens. Basta ler o seu comentário sobre o Evangelho de São João, está lá explicado. Antes de falar sobre assuntos como este, é necessário um mínimo de conhecimento!”

Graças aos cursos de teologia da Ecône, o efeito foi imediato em um público impressionado. Mas o tom é um pouco rude, a humilhação é pública: não caiu bem. Indignado com as palavras do padre, a raiva surge em seu rosto, ele avança sobre o padre, empurrando-o com veemência. Um cigano, por sua vez, corre até o pastor para o afastar e o acalmar. A graça de Deus faz o resto: o padre não se defendeu e manteve o rosto sorridente, dizendo de todo o coração: “Não é nada, não importa, eu te perdoo, eu poderia ter reagido da mesma maneira.” Mais tarde, quando esse padre foi transferido, ele foi se despedir dos viajantes. Este famoso pastor veio visitá-lo, apertou-lhe calorosamente as mãos e disse diante de todos: “Sua reação me tocou. Se todos os padres fossem como o senhor, haveria muito mais católicos.” Uma afirmação um pouco rápida, mas que revela a expectativa dos corações.

Um padre gentil e humilde

Um padre bom e zeloso pode legitimamente ser levado a uma ira santa perante a justificação do vício, ou a desconstrução da Fé. Na maioria das vezes, “a resposta branda aquieta a ira, mas a palavra dura excita o furor” (Prov. XV 1), “o homem perverso suscita pleitos e o mexeriqueiro semeia a discórdia” (id). Apenas a humildade e gentileza tocaram o coração deste pastor protestante. Talvez tenha havido um toque divino ali, uma realização do que tenha lido na Sagrada Escritura: “Fostes nomeado para governar os outros? Não se exalte sobre deles, mas esteja entre eles como um deles.” “O que entre vós é o maior, faça-se como menor e o que governa seja como o que serve (…) quanto a mim, estou entre vós como um que serve” “Fiz-me fraco com os fracos, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para, por todas as formas, salvar alguns

Um médico de almas

Em relação às almas, a primeira coisa a cultivar é a ternura paterna, para com quem precisa de compaixão, de gentileza, ou seja, aqueles que estão enfermos, no corpo, ou na sua psicologia, na alma. O bom sacerdote saberá dizer-lhes a verdade de maneira proporcional à sua condição. As almas ainda estão fracas não querem dizer: “Deram-me o fel da reprovação como alimento, e na minha sede deram-me o vinagre da repreensão.”

Muitas vezes elas não se atrevem a pedir apoio ao padre, mas são impotentes para progredir sozinhos. Se o padre não ver isso e deixá-los entregues à sua sorte, sua condição inevitavelmente irá se agravar. E para as fazer progredir, essas almas precisam mais do que apenas comida, como quando se está doente. As almas sofredoras, que lutam com dificuldade, já encontram grande consolo em ver o padre compassivo, que avidamente apressa-se para contribuir o máximo que puder para a recuperação deles: “Bendito seja o Senhor, que fostes tocados pelos meus sofrimentos.”

O sacerdote não ignora que é um instrumento da graça e que ela muitas vezes será concedida por Deus porque o sacerdote faz o seu melhor – mesmo que a sua ação seja muito limitada. Esta ação é sempre uma ajuda. Para ajudar as almas, custe o que custar, a aprender a caminhar sozinhas no caminho da salvação. E mesmo que dure muito tempo. Para isso, o sacerdote frequentemente tentará aliviar o fardo, a cruz e até mesmo a disciplina, se necessário: “Por que colocas vosso jugo sobre os discípulos, quando antes devias vós mesmo sustentá-los? Coloque de lado estes fardos; alimente vossas ovelhas com leite; ofereça-lhes vossos peitos, e deixe-as provar a suavidade do repouso.”

Mas, acima de tudo, fará com que amem o mistério da Cruz: “O sacerdote também olha as dores do corpo, para as provações. Ele vai visitar as famílias que estão passando por uma provação. Ele os conforta, ensina-os a carregar a cruz de maneira proveitosa. E o sacerdote deve ir a essas almas; a todos os que sofrem, a todos aqueles que estão sofrendo. E ao ver a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, as almas voltam a ter coragem e compreendem que se Jesus sofreu é porque o sofrimento tem um grande preço. Eis o que o sacerdote traz: alegria, paz, serenidade, apoio nas provações. Ele deve pensar que também deve carregar sua cruz e consolar as almas que sofrem. Ele deve apresentar-se perante seus fiéis e mostrar como a Cruz é carregada. Como nos sacrificamos nas dores, em provações, em dificuldades.”

Um padre zeloso e corajoso

Mas que isso não seja um pretexto de fracasso no combate. Pelo contrário, quanto mais humilde e gentil for o sacerdote, mais será visível que é verdadeiramente sobrenatural e mais forte será a sua linguagem. Ele deve falar com coragem: “Se tu não falares ao ímpio para ele se afastar do seu (mau) caminho, morrerá esse ímpio na sua iniquidade, mas eu pedir-te-ei contas do seu sangue” (Ez. XXXIII 8)

As almas abominam os pastores egoístas, ou aqueles que são duros e sem compaixão: “não fortalecestes as ovelhas débeis, não curastes as enfermas, não pensastes a ferida, não fizestes voltar a desgarrada, não buscastes a perdida, mas exercestes domínio sobre elas com aspereza e com prepotência. Assim as minhas ovelhas se dispersaram, por não terem pastor, tornaram-se a presa de todas as feras do campo, desgarraram-se.”

Uma das provas do padre é a paciência, por causa do lento progresso dos outros; como o agricultor que luta, mas vê poucos frutos surgindo do solo, pode então ser tentado a abandonar o campo e se refugiar tranquilamente em sua pequena horta. E tornar-se apenas uma espécie de capelão de um pequeno grupo fechado, longe da missão imposta por Cristo: “Ide! Evangelizai.” Ele pode ter a tentação oposta de ampliar seu campo ad infinitum na esperança de encontrar mais frutos, tornando-se um ativista sem rumo.

O pregador da felicidade e do sobrenatural

Sobre este aspecto fundamental, ouçamos Sua Excelência Mons. Lefebvre: “Todas essas almas precisam saber, compreender, a fim de apreciar tudo o que o Bom Deus fez por nós, todo o amor de Deus por nós. Os senhores terão que explicar a eles o que são esses sacramentos, essas fontes de vida, essas fontes de graças, essas fontes de felicidade, de alegria, essas fontes de eternidade que são os sacramentos. E, finalmente, o sacerdote é um homem que carrega a graça, que carrega a vida, que carrega a vida espiritual, a vida sobrenatural. Que alegria para o sacerdote ver-se como um instrumento de Deus! Oh, quão belo, quão consoladora a vida do padre! Se viverem vossa missa, serão felizes. Em meio às dificuldades e provações, experimentarão uma alegria indescritível, uma alegria constante, uma alegria que não perecerá. “

Milhões de almas estão praticamente prontas para receber a graça e a verdade, mas faltam os instrumentos divinos para lhes transmiti-las: os sacerdotes. E sacerdotes conscientes de suas qualidades a serem cultivadas. Este é o seu plano de salvação. É, portanto, fundamental. Eis porque Nosso Senhor nos suplica no Evangelho: “Rogai, pois, ao Senhor da messe, que mande operários para a sua messe!”

Pe. Guillaume Gaud