A JUSTA MEDIDA DE D. LEFEBVRE

Teria D. Lefebvre sido menos comedido que Jean Madiran, a quem o Pe. de Blignières prestou homenagem em um artigo no periódico L’Homme nouveau de 22 de dezembro de 2023, ao comparar a missa nova com a “missa de Lutero”?

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

A coluna “Tribune libre” do periódico L’Homme nouveau – felizmente dirigido por Philippe Maxence – publicou, em sua página na internet, no dia 22 de dezembro de 2023, uma homenagem a Jean Madiran. A homenagem se aproveitou da recente publicação de uma biografia dedicada ao falecido editor do periódico Présent, escrita por Yves Chiron, um historiador bem conhecido no meio tradicional católico. E a homenagem da coluna é assinada pelo Revmo. Pe. de Blignières, fundador da Fraternidade São Vicente Ferrer.

No espírito da Antiguidade grega, que ele tanto amava”, diz-nos o padre dominicano, Jean Madiran, “evitava aquele excesso tão difícil de se evitar em tempos de crise. Por exemplo, ele apontou claramente as deficiências da missa nova, mas nunca a descreveu como ‘a Missa de Lutero’”.

D. Lefebvre chegou ao ponto de fazer uma comparação entre a missa evangélica de Lutero e o Novus Ordo Missae de Paulo VI, sem todavia qualificar esta como sendo aquela. A referida comparação foi claramente estabelecida numa conferência histórica proferida em Florença, em 15 de fevereiro de 1975. O título dado ao texto dessa conferência, publicada juntamente com outra sobre a Missa e o sacerdócio católico, pelas Edições Saint-Gabriel em Martigny, na Suíça, poderia, no entanto, sugerir que o nome recusado por Madiran tenha sido adotado por D. Lefebvre. Mas o texto da conferência não faz qualquer menção a essa afirmação. Tampouco o título, que simplesmente designa o conteúdo principal da conferência, que é a missa evangélica de Lutero comparada ao Novus Ordo de Paulo VI.

Permanece, todavia, um leve desconforto. Se ele quisesse denegrir – não poderia ser de forma mais sorrateira – o fundador da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, o Pe. de Blignières não poderia ter encontrado um exemplo tão sugestivo como esse. Longe de nós atribuir tal intenção ao ilustre padre! O fato é, no entanto, que a censura ao excesso, da qual Jean Madiran se encontra exonerado, não pode deixar de refletir um pouco, queiramos ou não, sobre o Prelado de Écone, em favor dessa expressão demasiado abreviada da “Missa de Lutero”.

Mas na verdade, onde estaria o excesso?

Desde 1970-1976, a Fraternidade São Pio X já havia justificado, de uma vez por todas, a solidez de sua atitude e sua justa medida. Essa justificativa é, em primeiro lugar, a aprovação canônica de Mons. Charrière, no momento da sua fundação, como obra da Igreja em 1970. Em segundo lugar, é a atitude das autoridades romanas, desde 1974, que justifica a recusa da Fraternidade ao abuso do poder deles. Em poucas palavras, Roma age de maneira tirânica, adotando condutas que estão colocando seriamente em risco o bem comum da Santa Igreja, em particular por meio da reforma de uma nova missa inspirada no protestantismo. Esse ponto corresponde ao que comumente se chama “crise da Igreja” e “estado de necessidade”. Em última análise, tudo depende desse estado de necessidade. Se o admitirmos, a reação da Fraternidade é perfeitamente medida, proporcional aos excessos do Concílio Vaticano II e das suas reformas, que estão deixando todos os católicos perplexos. Se, por outro lado, afirma-se que a Fraternidade reagiu desproporcionalmente, é porque o estado de necessidade e o excesso de João XXIII, Paulo VI e seus sucessores não são admitidos. A dificuldade é que esse estado de necessidade pode ser constatado – “Somos obrigados a constatar…” repetia constantemente D. Lefebvre – e não pode ser demonstrado. E para constatá-lo, é preciso ter o senso de medida de Deus, aquele que o Espírito Santo dá.

Se se admite:

1) que existe uma crise na santa Igreja de Deus;

2) e que a sua gravidade é tal que justifica a operação de sobrevivência da Tradição, em todos os níveis: em primeiro lugar, a manutenção da antiga disciplina e da antiga formação doutrinal contra o modernismo; depois as ordenações de 1976 para assegurar essa manutenção; e mais adiante as sagrações de 1988 para assegurar as ordenações, então a atitude de Mons. Lefebvre é perfeitamente medida.

Se…

1) não se admite que há uma crise;

2) ou se não se admite que essa crise que nós admitimos é grave a ponto de justificar a operação de sobrevivência da Tradição, então a atitude de D. Lefebvre é excessiva, e tão distante do espírito da antiguidade grega quanto da reserva de Jean Madiran em relação às sagrações de 30 de junho de 1988 – reserva da qual o autor de A Heresia do século XX afastou no final de sua vida, e a qual devemos tomar nota no contexto de uma autêntica homenagem.

E pensamos que a atitude de D. Lefebvre, ao adotar a medida correta exigida pela circunstância de uma crise desproporcionada, foi simplesmente magnífica.

Pe. Jean-Michel Gleize, FSSPX