Extrato do discurso de Pio XII aos esposos, em 6 de dezembro de 1939.
Fonte: Radio Spada – Tradução: Dominus Est
Uma alma imaculada! Quem entre vós, pelo menos em seus melhores momentos, não desejou tê-la? Quem não ama o que é puro e imaculado? Quem não admira a brancura dos lírios refletida em um lago cristalino, ou os picos nevados que refletem o azul do firmamento? Quem não inveja a alma cândida de uma Inês, de um Luiz Gonzaga, de uma Teresa do Menino Jesus?
Homem e a mulher eram imaculados quando saíram das mãos criadoras de Deus. Então, manchados pelo pecado, tiveram que iniciar, com o sacrifício expiatório de vítimas imaculadas, o trabalho de purificação que somente o “sangue precioso de Cristo, como de um cordeiro imaculado e puro” tornou efetivamente redentor.” (1 Pd, 1, 10). E Jesus Cristo, para continuar a sua obra, quis que a Igreja, sua noiva mística, fosse “sem mácula ou ruga…, mas santa e imaculada” (Ef 5, 27). Ora, é precisamente este, jovens casais, o modelo que o grande Apóstolo São Paulo vos propõe: “Homens, admoesta ele, amai vossas mulheres como também Cristo amou a Igreja” (Ef 6, 25), porque o que torna grande o sacramento do matrimônio é a sua relação com a união de Cristo e da Igreja (Ef 5, 32).
Talvez penseis que a ideia de uma pureza, imaculada se aplica exclusivamente à virgindade, um ideal sublime para o qual Deus não chama todos os cristãos, mas apenas as almas escolhidas.
Vós conhecestes estas almas, mas, embora admirando-as, não acreditastes que fosse a vossa vocação. Sem tender às alturas da renúncia total das alegrias terrenas, vós, seguindo o caminho ordinário dos mandamentos, tivestes o legítimo desejo de ver-vos rodeados por uma gloriosa coroa de filhos, fruto da vossa união.
No entanto, o estado matrimonial querido por Deus para o bem comum dos homens, pode e deve ter também a sua pureza imaculada.
Quem cumpre as obrigações de seu estado, fielmente e sem fraqueza, é imaculado diante de Deus. Deus não chama todos os seus filhos ao estado de perfeição, mas convida cada um deles à perfeição do seu estado: Sedes perfeitos, disse Jesus, como o vosso Pai celestial é perfeito (Mt 5, 48). Conheceis os deveres da castidade conjugal. Eles exigem uma verdadeira coragem, por vezes heroica, e confiança filial na Providência. Mas a graça do Sacramento vos foi dada precisamente para cumprir com esses deveres. Portanto, não vos deixeis enganar por pretextos que, infelizmente, estão em voga e por exemplos que, desgraçadamente, são demasiado frequentes.
Em vez disso, ouçais o conselho do anjo Rafael ao jovem Tobias, que hesitava em tomar a virtuosa Sara por esposa: “Ouve-me, e eu te mostrarei quais são aqueles sobre quem o demônio tem poder. São os que se casam com tais disposições que lançam a Deus fora de si e do seu espírito,” (Tob. 6, 16-17). E Tobias, iluminado por esta exortação angélica, disse à sua jovem esposa: “porque nós somos filhos de santos, e não podemos juntar-nos à maneira dos Gentios que não conhecem a Deus“ (Tob. 8, 5). Nunca esqueçais que o amor cristão tem um propósito muito maior do que uma satisfação passageira.
LEITO CONJUGAL IMACULADO
Por fim, escutais a voz da vossa consciência, que vos repete interiormente a ordem dada por Deus ao primeiro casal humano: “Crescei e multiplicai-vos” (Gn 1, 22). Então, de acordo com a expressão de São Paulo, que “seja por todos honrado o matrimônio e o leito conjugal sem mácula” (Hb. 13, 4).
Peçais à Santíssima Virgem esta graça especial […]. Ainda mais porque Maria foi imaculada desde a sua concepção, a fim de se tornar dignamente Mãe do Salvador. Por isso a Igreja reza assim na sua liturgia, na qual ressoa o eco dos seus dogmas: “Ó Deus, que pela imaculada conceição da Virgem preparastes para o vosso Filho uma morada digna dele...” (Orat. in festivo Immac. Conc. BVM). Esta Virgem Imaculada, que se tornou Mãe através de um elevado e único privilégio divino, pode assim compreender tanto os vossos desejos de pureza interior como a vossa aspiração às alegrias da família. Quanto mais santa e isenta de pecado for a vossa união, tanto mais vos abençoarão Deus e a sua puríssima Mãe, até ao dia em que a suprema Bondade reunirá para sempre, no céu, aqueles que terão se amado neste mundo de modo cristão.