Fonte: Radio Spada – Tradução: Dominus Est
O livro Golpe na Igreja está abrindo os olhos de muitos, e isso é um grande bem. Dois artigos recentes extraídos do livro suscitaram grande atenção, em particular o de ontem do dia 10/09: Compreendendo João Paulo II para compreender Francisco. A apostasia de Assis de 86 bem explicada, sem circunstâncias atenuantes e trazida de volta ao presente) revelou um caldeirão fervente verdadeiramente interessante. Vamos analisá-lo.
Assis 86 e a sua patente apostasia são hoje indefensáveis para qualquer pessoa que tenha um mínimo de conhecimento da doutrina católica (basta ler o Syllabus, Pascendi ou Mortalium Animos) ou para quem não procura se agarrar a qualquer coisa que se fantasia. Aqui, então, – em meio a dificuldades cada vez maiores – a estratégia do lagarto sem cauda é aplicada.
Seja porque, até de boa fé, pretende-se uma solução fácil, seja por razões de afeto pessoal, seja para demonstrar uma desastrada sagacidade, seja por outros assuntos de foro interno que temos o cuidado de não julgar, há quem lance o slogan: “É tudo é verdade, mas Assis 86 foi um caso isolado!”.
A ideia baseia-se numa lacuna inviável por duas razões:
- É totalmente falso que a prática do ecumenismo indiferentista se reduza ao episódio de 1986. Os encontros que, desafiando o ensinamento da Igreja, vão nessa direção, são inúmeros nas últimas décadas: visitas a sinagogas, mesquitas, templos protestantes, ou mesmo os pagãos, têm sido uma constante, não sem o tempero de alguma ocasional “bênção” de bruxaria. O formato de Assis foi repetido nas mesmas condições, em vários lugares e de maneira contundente por Bento XVI, em 2011, com o título arrepiante e de sabor relativista: “Peregrinos da verdade, peregrinos da paz”. O ecumenismo, tal como o conhecemos, não é (apenas) fruto da inspiração joãopaulina, mas é claramente proposto nos “documentos conciliares”, tendo a Unitatis Redintegratio como exemplo para tal.
- Ainda há mais. O ecumenismo ao estilo de Assis 86 não só não pode ser isolado de outros episódios relacionados e das doutrinas errôneas do Vaticano II: não pode sequer ser separado dos outros erros neomodernistas com os quais constitui um bloco ideológico articulado. Não há indiferentismo sem liberalismo religioso (ver Dignitatis Humanae), nem se pode entender ambos sem o resultado litúrgico de uma pseudo-reforma que (ecumenicamente) viu 6 protestantes trabalhando como “observadores” muito ativos na comissão preparatória. Da mesma forma, não se pode separar essa horizontalização geral da doutrina, das relações Igreja-mundo e da “nova missa”, do típico achatamento da colegialidade e da sinodalidade. Resumindo: o jogo não é jogado.
Voltemos ao nosso lagarto: sabe-se que um de seus mecanismos de defesa é a autotomia caudal, ou seja, a separação da cauda quando ameaçada por um predador. Ele se separa para “salvar” o resto do corpo.
Aqui, alguns tentam esse caminho: uma vez evitada a consideração dos erros conciliares nas suas relações e como um todo (quadro geral), uma vez tentado o caminho de separar Assis 86 do resto da catástrofe ecumênico-indiferentista (caso particular), resta apenas truncá-lo com o clichê: “É um caso isolado”. Uma técnica desastrosa, que pode ajudar uma vez e que não torna o lagarto imortal, apenas mutilado.
Não termine como o réptil, não vale a pena.