A VIA MARIANA DA “PEQUENA TERESA” NO FIM DE SUA VIDA

Convosco sofri e desejo agora, cantar em vosso colo, Maria, porque vos amo, e repetir para sempre que sou vossa filha! “.

Santa Teresinha de Lisieux- Porque vos amo, ó Maria.

Fonte: Bulletin de la Confrérie Marie Reine des Cœurs n° 214 – Tradução: Dominus Est

Entre as amizades espirituais e sobrenaturais da “Pequena Teresa”, um ser “ocupa um lugar especial”. É “a Santa das Santas, a Virgem Maria” (1). O fim da sua vida foi inteiramente mariano: “contentemo-nos em ver a enferma viver com a sua Mãe”, nos últimos meses da sua vida.

Em maio de 1897, “ela escreveu tudo o que desejava dizer sobre Maria em seu importante poema Por que vos amo, ó Maria”. Foi o seu testamento mariano. Ela até mesmo esboçou “um plano de sermão que ela gostaria de ter proferido se tivesse sido padre”. Provavelmente, o conteúdo deste sermão se assemelharia à sua poesia mariana: “Enfim, disse em meu Cântico tudo o que gostaria de pregar sobre Ela” (2).

A Virgem ajuda Teresa a meditar: “Olhando para a Santíssima Virgem esta noite, compreendi (…) que Ela sofreu não apenas da alma, mas também do corpo. (…) Sim, Ela sabe o que é sofrer… Mas, seria talvez errado querer que a Santíssima Virgem tenha sofrido? Eu, que A amo tanto!”. Ela aproveitou, dessa forma, de seu sofrimento para se unir à sua Mãe. Ela explica isso em sua poesia: “Meditando vossa vida no santo Evangelho, atrevo-me a vos olhar e aproximar-me de vós, acreditando que sou vossa filha, o que não é difícil para mim, pois vos vejo mortal e sofredora como eu”. À Madre Agnès, que já lamentava vê-la morta, respondeu sem hesitar: “A Santíssima Virgem, de fato, segurou o seu Jesus morto em seu colo, desfigurado e ensanguentado! Foi algo diferente do que você verá! “. Que realismo!

Teresa pratica o perpétuo recurso a Maria, como outrora dito: “Amo tanto a Santíssima Virgem (…). Se me surge alguma inquietação, algum embaraço, rapidamente recorro a Ela e, sempre como a mais terna das mães, Ela cuida dos meus interesses.” Teresa o faz com a espontaneidade de uma criança durante a doença para “deixar de ficar sonolenta e absorta”, ou para “resolver as coisas”, ou para “suportar o sofrimento”. Ela observava que a Santíssima Virgem “cumpria bem as suas tarefas”. No entanto, quando a Virgem parecia calar-se, ela praticava o abandono: “Quando rogamos à Santíssima Virgem e Ela não nos ouve, é sinal de que Ela não quer. Então, devemos deixá-la fazer o que quer e não a atormentar.”

Tal como nós, Teresa teve seus “altos e baixos”. Em julho de 1897, ela teve “altos” como esse: “Não, a Santíssima Virgem nunca se esconderá de mim”. Mas em agosto ela teve “baixos” como mostra o seguinte: “Gostaria de ter certeza de que Ela, a Santíssima Virgem, me ama”. Assim como nós, ela teve dificuldade em rezar o rosário: “Quando se pensa que durante toda minha vida tive tanta dificuldade em recitar meu rosário”. Muito antes, ela já havia admitido: “Recitar o rosário custa-me mais do que vestir um instrumento de penitência… Sinto que o rezo tão mal! Não importa o quanto eu tente meditar nos mistérios do Rosário, não consigo concentrar minha mente”.

Mas, em tudo, ela sempre encontra um equilíbrio. Na doença, Teresa estava “lúcida e abandonada”, “pronta para qualquer coisa”. Sua mente estava repleta de dúvidas sobre a morte e, em 29 de setembro ela se perguntou: “Como vou morrer? Nunca saberei como morrer.” Contudo, “ela não descarta a possibilidade de uma “bela morte”, como suas irmãs esperavam. Ela até mesmo pediu isso à Santíssima Virgem.”

Em maio de 1897, falando com a Virgem e preparando-se para a morte, ela escreveu: “Em breve, no belo Céu, irei vos ver, Vós que viestes sorrir para mim na manhã de minha vida. Venha e sorria para mim novamente… Mãe… Esta é a noite! Já não temo o esplendor de vossa glória suprema. Convosco sofri e agora quero cantar em vosso colo, Maria, porque vos amo, e dizer para sempre que sou vossa filha! “.

Teresa passou seus últimos meses na enfermaria. Ela os viveu intimamente com a Virgem Maria: “Teresa nunca tirava os olhos dela: duas imagens e sua estátua fazem-na presente”. No final de uma vida inteiramente mariana, a “Pequena Teresa” morreu em setembro de 1897, “com os olhos ligeiramente fixos acima da sua estátua, depois de A ter suplicado durante toda a sua agonia”.

Pe. Guy Castelain

Notas

(1) Fonte de todas as citações deste artigo: Guy Gaucher, A paixão de Teresa de Lisieux, Cerf-DDB, 1972, pp. 182–194.

(2) Fraternidade de alma? Montfort transformava seus sermões em cânticos. Teresa também transforma seu “sermão” em cântico