Ainda consigo ver o rosto daquele homem no momento que entrei em seu quarto de hospital após o telefonema de sua esposa. Ao me ver, disse a si mesmo, segundo suas próprias palavras: “Estou ferrado”.
Fonte: Le Phare breton n°14 – Tradução: Dominus Est
A fim de evitar preocupações excessivas, que algumas famílias têm, da ideia de administrar ao seu próximo o sacramento da Extrema Unção, gostaria de lhes mostrar os maravilhosos efeitos desse sacramento. Um dos efeitos mais tangíveis é o conforto espiritual. Quando uma pessoa está sobrecarregada por uma doença, ela fica facilmente susceptível a preocupações e agitações.
Ora, a Extrema-Unção tem por efeito apaziguar o doente, ajudá-lo a abandonar-se nas mãos de Deus. Quantos doentes testemunharam essa mudança súbita, imediata e verdadeiramente palpável que sentiram após receber este sacramento! Ainda consigo ver o rosto deste homem no momento que entrei em seu quarto de hospital após o telefonema de sua esposa. Ao me ver, disse a si mesmo, segundo suas próprias palavras: Estou ferrado. No entanto, ele concordou, voluntaria ou involuntariamente, em receber os últimos sacramentos. Ora, imediatamente depois, sentiu uma paz e uma alegria indescritíveis que o transfiguraram e que não o deixaram até sua última hora. Quantos casos semelhantes não encontramos em nosso ministério!
Além desse efeito espiritual, há, por vezes, também um efeito sobre o corpo. Estando a alma revigorada, o paciente tem uma melhora moral, o que afeta seu físico. Por vezes, vemos resultados tangíveis assim que o sacramento é recebido.
Lembro de um jovem na casa dos trinta anos, católico não praticante, sofrendo de câncer generalizado que se encontra à beira da morte. O serviço hospitalar notificou a família e sua irmã obteve permissão para ficar a noite toda ao lado de sua cama. Foi-lhe dado entre 24 e 48 horas de vida, no máximo. Assim que recebeu os últimos sacramentos, sentiu-se tão melhor que deixou o hospital oito dias mais tarde. O bom Deus concedeu-lhe uma remissão de seis meses que lhe permitiu reconhecer os benefícios da Providência.
Se é preferível receber os últimos sacramentos em certo estado de lucidez, como nos recordou Mons. Lefebvre, não devemos negligenciar sua administração aos que se encontram em coma. Aqui, novamente, dois episódios me vêm à mente.
Durante o primeiro mês de meu ministério, recebi um telefonema pedindo-me para administrar o sacramento dos enfermos a uma pessoa, em um hospital em Lyon. O capelão se recusou a ir vê-lo porque, segundo ele, já não adiantava mais, pois a paciente estava em coma. Contudo, ao adentrar no quarto da paciente, ela recuperou a consciência. Ela se confessou e recebeu os últimos sacramentos com toda a lucidez, antes de seu último suspiro, três dias depois. O bom Deus atendeu esta mulher que tanto rezou pela graça de uma boa morte, e ao mesmo tempo deu uma boa lição ao capelão do hospital.
O segundo episódio aconteceu algum tempo depois, em outro hospital. Um homem de cerca de 80 anos estava em coma após uma longa doença. Seu filho mandou me chamar por meio de um fiel do Priorado. Ao entrar no quarto, encontro este homem em coma profundo. Fiz as primeiras orações na presença dos membros de sua família e chego às unções. Externamente, ele não dá sinal de vida. Mas eis que após a unção da orelha direita, ele vira a cabeça para me apresentar a orelha esquerda; então ele abre as mãos para que eu possa ungi-las. E assim que a última unção termina, senta-se na sua cama, aperta-me as mãos e diz: Obrigado, muito obrigado! Então, ele perde a consciência novamente para devolver sua alma a Deus, dois dias depois. Desnecessário dizer que os membros da família presentes à sua cabeceira ficaram tão impressionados como eu fiquei.
Este sacramento, portanto, frequentemente tem efeitos palpáveis, tangíveis e sensíveis que o bom Deus quis dar para nos ajudar a superar a apreensão natural que podemos ter com a ideia de receber este sacramento.
Além desses efeitos, existem outros. O sacramento dos enfermos nos dispõe a entrar na eternidade, se esta for a vontade de Deus, e a ser julgados favoravelmente por Ele. Apaga pecados veniais e, por vezes, até pecados mortais quando alguém já está desapegado deles e não pode acusá-los (por estar em coma), mas que teriam sido acusados se se tivesse estado consciente.
Enfim, este sacramento contribui para a remissão, pelo menos parcial, da dívida pelos nossos pecados, ou seja, permite encurtar o tempo do purgatório, e isso de duas maneiras. Esta graça é concedida em parte pelo sacramento e em parte pela oferta, que suscita no doente, de seus sofrimentos pela remissão dos seus pecados: daí a importância de não esperar até o último momento para recebê-lo!
Dessa forma, não hesitemos em apelar ao sacerdote, logo que soubermos de alguém que sofre de uma doença que pode levar à morte. Preparemo-nos também, tanto quanto possível, para a visita do padre quando o paciente não estiver nas condições exigidas ou quando a família estiver dividida quanto à questão religiosa.
Como acolher um padre que vem administrar os sacramentos?
Quando o sacerdote carrega a hóstia sagrada consigo, evitemos falar com ele e saudá-lo. Ele é conduzido em silêncio até o doente onde, se possível, coloquemos em em uma mesinha de cabeceira: uma toalha branca de mesa; um crucifixo junto a duas velas e, se possível, flores; um copo d’água para ablução após a comunhão. Para a Extrema Unção, são previstas rodelas de algodão e fatias de limão para a purificação dos dedos do sacerdote após a unção com o Óleo do crisma. Na passagem do padre, nos ajoelhamos tanto quanto possível para adorar Nosso Senhor.
Pe. Patrick Troadec, FSSPX