Caríssimos fiéis,
“Jesus autem tacebat”, “Mas Jesus se calava” (Mt 26,63). Nosso Senhor não respondeu às acusações caluniosas de pessoas mal-intencionadas.
“Jesus autem tacebat”. Esta foi a resposta de Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira (1844-1878), bispo capuchinho da diocese de Olinda (atual diocese de Recife), por ocasião de sua prisão no Arsenal da Marinha no Rio de Janeiro. Logo após sua entronização em sua cidade episcopal (24 de maio de 1872), ele foi confrontado com a hostilidade dos maçons. Sem se retrair das exigências de seu dever, ele empreendeu a conversão, primeiramente, e depois a condenação dos clérigos e leigos católicos pertencentes à seita. A pertinácia de alguns o obrigou a agir. Ele impôs um interdito (suspensão da administração dos sacramentos) em vários lugares de culto.
No final do século XIX, a maçonaria estava conduzindo uma virulenta campanha de perseguição contra a Igreja em todo o mundo. O Brasil não era exceção. A reação de Dom Vital foi insuportável para o governo imperial, sob influência maçônica. Preso em 2 de janeiro de 1874, Dom Vital foi levado à prisão no Rio em 13 de janeiro. Em 2 de fevereiro, ele recebeu seu mandado de acusação, deu-lhe uma resposta dentro de 8 dias. Nós sabemos a resposta: “Jesus autem tacebat”. No final de um julgamento tão iníquo quanto retumbante, Dom Vital foi condenado a quatro anos de prisão com trabalhos forçados. O Imperador Pedro II comutou a sentença para a prisão simples. E finalmente, após pressão de Roma, o “Atanásio brasileiro” foi amnistiado em setembro de 1875. Há um tempo para falar e um tempo para permanecer em silêncio!
O silêncio não é um privilégio dos mártires. O pecador arrependido também deve permanecer em silêncio. Por exemplo, Santa Maria Madalena foi a primeira a honrar antecipadamente a morte ignominiosa de Jesus, embalsamando seu corpo. Enquanto muitos a culpam por espalhar tão profusamente um perfume de tão grande valor, ou a criticam por ter a audácia de se aproximar do Senhor como pecadora, ela completa a boa obra que começou com generosa intrepidez, independentemente do que os homens dissessem. Indiferente ao que eles pudessem dizer ou pensar, bastava que ela soubesse que era aprovada por seu divino Mestre, que lhe predisse nesta mesma hora que sua ação seria publicada em todo o universo, e que ela lhe faria honra eterna.
Calúnia e zombaria são as armas habituais do diabo contra as almas virtuosas. Que elas não impeçam nossa perseverança.
Mártires! Nós somos diante de um mundo que persegue a religião. Pecadores arrependidos! Nós somos diante de Deus. Deixem-nos saber como guardar silêncio. Através dele, manteremos a paz de nossa alma e esta serenidade garantirá um fiel cumprimento de nosso dever de estado. Guardaremos este silêncio especialmente durante o tempo da Paixão, um tempo de luto e recolhimento em toda a Igreja. O silêncio da língua, mas também dos olhos e ouvidos. Desta forma estaremos plenamente ocupados com nosso assunto, o único que importa: o assunto de nossa salvação, prefigurado pelos mistérios da morte e ressurreição de Cristo.
Padre Jean-François Mouroux, Prior