Caros fiéis,
Há 350 anos, em 13 de junho de 1675, uma das grandes aparições de Cristo ocorreu a uma freira da Visitação de Paray-Le-Monial. Essas aparições haviam começado em 27 de dezembro de 1673. Em 13 de junho, Cristo revelou o seu coração divino à sua serva e queixou se a ela: “Este é o coração que amou tanto os homens, que não poupou nada a ponto de ser exaurido e consumido para mostrar-lhes o seu amor”.
A irmã Margarida-Maria Alacoque foi escolhida para transmitir o desejo do Sagrado Coração de ser honrado com esse título e de reinar sobre as almas e as sociedades por meio de seu coração adorável e misericordioso. A devoção ao Sagrado Coração já existia na Igreja, mas a partir de então se espalhou por todo o mundo, incentivada pelos papas. Em agosto de 1856, Pio IX instituiu a festa do Sagrado Coração para toda Igreja.
Para entender melhor essa devoção, vamos relembrar os diferentes significados da palavra coração, e que nos leva a distinguir em Jesus: o coração de carne, que é o órgão em si; o coração simbólico, o órgão emblemático do amor; o coração metafórico, expressão para designar o amor, que é o amor sem nenhuma ligação com o órgão material.
Alguns inimigos dessa devoção, principalmente os jansenistas, argumentaram que somente o coração metafórico é adorado nesse culto. Esse é um erro bastante grosseiro, que o Papa Pio VI corrigiu em sua bula Auctorem Fidei de 1794, enfatizando que os fiéis têm razão em adorar o Sagrado Coração “como o coração de Jesus, ou seja, o coração da pessoa do Verbo, ao qual está inseparavelmente unido”. Quanto ao coração material de Nosso Senhor, nós o adoramos acima de tudo porque está unido à sua divindade. Ele não é adorado somente por si mesmo. É, portanto, o coração simbólico, o órgão emblemático do amor, que é o objeto dessa devoção. Em outras palavras, o culto vai até o coração de carne, mas não para por aí. Vai até lá como símbolo de seu amor, como sinal expressivo do que ele foi, do que fez e sofreu por nós (cf. artigo do Padre Alexis Rampon, Fideliter, nº 282).
No Sagrado Coração, adoramos principalmente e espontaneamente o amor humano de Nosso Senhor, aquele amor criado, próprio da natureza humana de Jesus Cristo; o amor que ele tem por nós como homem. Mas,por causa da união hipostática, há também, no coração de Nosso Senhor, todo o amor da Santíssima Trindade pelos homens, o amor incriado. Assim, o culto ao Sagrado Coração também contém a adoração do amor incriado e, portanto, do próprio Deus. Em outras palavras, a devoção ao Sagrado Coração conduz infalivelmente a Deus.
Essa devoção nos mostra o amor de Nosso Senhor como um amor não reconhecido e ultrajado. Primeiramente, ela pede uma resposta de amor que leva à consagração e à doação completa de si mesmo ao Sagrado Coração. É somente no estágio posterior que essa resposta se torna mais precisa e é formalizada em um ato de reparação.
Por meio da boca de Santa Margarida Maria, o Sagrado Coração apontou as graças com as quais ele encheria seus devotos: “Esse divino Mestre me prometeu que todos aqueles que são devotados e consagrados a ele nunca perecerão e que, como ele é a fonte de todas as bênçãos, ele as derramará abundantemente em todos os lugares onde a imagem de seu divino coração for colocada e honrada. Ele reunirá famílias divididas. Ele derramará a doce unção de sua ardente caridade sobre todas as comunidades que o honram e as restaurará à graça quando tiverem caído dela”.
“Meu divino Salvador me fez entender que aqueles que trabalham para a salvação das almas terão a arte de tocar os corações mais endurecidos se eles próprios estiverem imbuídos de uma terna devoção a seu divino coração. As próprias pessoas seculares encontrarão nessa devoção amorosa toda a ajuda de que precisam para seu estado: paz em sua família, alegria em seu trabalho, bênção do céu em seus empreendimentos, alívio em sua miséria, seu refúgio durante toda a vida e especialmente na hora da morte. Como é doce morrer, tendo tido constante devoção ao sagrado coração daquele que deve nos julgar!”
Portanto, sigamos o convite de São Bernardo: “Vamos, meus irmãos, vamos nesse coração amável para nunca sair dele”.
Deus os abençoe.
Padre Jean-François Mouroux, Prior