Durante a consagração de uma igreja, o Bispo dirige-se à intersecção do transepto onde as cinzas foram espalhadas no chão, em duas faixas que se cruzam. Com a ponta do báculo, ele traça o alfabeto grego em uma faixa e o alfabeto latino na outra (*). É o que mostra a fotografia na capa desta edição do Nouvelles de Chrétienté, tirada em 3 de maio, durante a consagração e dedicação da Igreja da Imaculada em St. Marys, Kansas, por D. Bernard Fellay.
Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est
Esta cerimônia significa que o templo consagrado pertence à Igreja Católica, cuja liturgia é celebrada principalmente em latim e grego, no Ocidente e no Oriente. Essas faixas transversais formam a letra grega Χ (khi), a primeira letra do nome de Cristo, Χριστός.
Do alfabeto grego une-se a primeira e a última letras, Α e Ω, alfa e ômega, indicando que Cristo é o princípio e o fim de todas as coisas. Trata-se de um sinal de propriedade: Cristo é, de fato, o rei de toda a terra, mas, como cabeça do Corpo Místico, Ele toma posse deste território particular que, de agora em diante, Lhe é exclusivamente consagrado.
No plano espiritual, o fato das letras serem traçadas com o báculo episcopal, em uma cruz de cinzas, mostra que a doutrina nos vem daqueles que quem tem autoridade eclesiástica, e que só é compreendida por almas humildes, e que tudo se resume em Jesus Cristo crucificado.
Tal é a liturgia tradicional: lex orandi, que expressa a doutrina tradicional: lex credendi. Infelizmente essa doutrina foi afetada hoje pelos homens da Igreja que estão “à escuta” do mundo moderno. Já não se trata de receber e transmitir fielmente a verdade revelada por Deus, mas escutar as expectativas da humanidade e até mesmo escutar “o grito da terra”.
O aggiornamento desejado pelo Concílio é uma “atualização” que, de modo inconsciente, se transforma em uma adaptação sempre recorrente. O Vaticano II não quis ser um Concílio doutrinário, mas pastoral: a doutrina desaparece e uma pastoral sem doutrina se estabelece.
Como afirma o Pe. Davide Pagliarani, Superior Geral da Fraternidade São Pio X, durante a entrevista publicada nesta edição: “Enaltece-se uma Igreja sem doutrina, sem dogma, sem fé, na qual, portanto, não se precisa mais de uma autoridade que ensine nada!
De fato, hoje, já não é a ponta de um báculo que grava as verdades da doutrina e da moral católicas nas mentes e nos corações, mas um estetoscópio que ausculta as palpitações do mundo moderno. Escuta-se e dialoga-se sem qualquer diagnóstico ou um juízo, nem prescrever uma ordem ou um comando.
Guardiões hesitantes da verdade revelada, os novos missionários se calam com medo de serem acusados de “proselitismo”. Eles são afásicos em relação às verdades da salvação, mas loquazes sobre ecologia e imigração.
E se, ao invés de abrir a Igreja ao mundo moderno, reencontrássemos o profundo sentido da consagração de uma Igreja que nos recorda o que é a própria Igreja: janua Cæli, a porta do Céu!
Pe. Alain Lorans, FSSPX
(*) Esse momento pode ser visto a partir do 1:32:50h do vídeo da dedicação/consagração da Immaculata (veja o vídeo aqui)