A PIRÂMIDE E O PIÃO

O Sínodo sobre a Sinodalidade, que está sendo realizado em Roma neste mês de outubro, afirma estar “transformando as estruturas” da Igreja para criar uma “Igreja sinodal”. O objetivo é rejeitar um “modo piramidal de exercício da autoridade”, em favor de um “modo sinodal”. O Papa Francisco afirma que nessa Igreja sinodal, “como em uma pirâmide invertida, o topo está abaixo da base”.

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Não é preciso ser um grande clérigo para perceber que a reforma prevista é um desafio às leis elementares da realidade: querem se libertar da gravidade. Eles querem que o governo da Igreja seja leve, porque a constituição divina da Igreja agora está se tornando pesada.

Na verdade, essa pirâmide invertida não é uma reforma, mas uma revolução, uma inversão completa. Na linguagem corrente, isso é chamado de “andar de cabeça para baixo”. Continuar lendo

POR UM JEJUM PUJANTE

A Quaresma é um tempo de jejum: menos alimento para o corpo e mais alimento para a alma. Como diz o Prefácio deste tempo litúrgico: “Vitias compresses, mentem elevas – Meu Deus, vós que, pelo jejum corporal, reprimis os vícios, elevai a alma, concedei força e recompensa”. Menos comida, mais orações, leituras espirituais, meditações…

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Todavia, esse desejo só será eficaz se for acompanhado de uma firme resolução, realizada de forma dinâmica: jejum das telas, a abstinência dos meios de comunicação. Em outras palavras, menos tempo perdido na internet, na frente do computador, da televisão ou do rádio.

Pois, de que serve querer rezar mais, se nunca deixamos de alimentar uma insaciável curiosidade, se ficamos à espreita a tudo o que circula por aí, com o ridículo desejo de “agarrar a espuma” dos dias atuais?

A Quaresma é inútil quando não nos abstemos de embeber nossas mentes com toda essa confusão midiática, imediatamente expulsa pelas notícias do dia seguinte.

Paul Verlaine descreveu perfeitamente a miséria espiritual que hoje se esconde sob uma superabundância de informações: Continuar lendo

E O CARDEAL INVENTOU UMA BÊNÇÃO PASTORAL, BREVE E ESPONTÂNEA…

Assim que o Cardeal Victor Manuel Fernández, novo Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, chegou ao seu escritório, ele se perguntou como conseguiria fazer acreditar que os casais não casados ​​e os pares do mesmo sexo poderiam, agora, ser abençoados, sem colocar em questão a doutrina e a moralidade católicas sobre o casamento.

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Tal era o seu dilema: como abençoar os pares homossexuais sem dar a impressão de estar abençoando a homossexualidade (em si)? Então ele inventou uma nova bênção que não é nem litúrgica nem ritual, mas pastoral e “espontânea”. E essa foi a Declaração Fiducia supplicans de 18 de dezembro de 2023, assinada por ele e referendada pelo Papa Francisco.

Em resumo, ele criou uma bênção informal para casais irregulares, algo sem precedentes, pretensamente justificado por uma doutrina distorcida e uma moralidade deformada.

Essa bênção pretende ser espontânea, portanto, não se expressa em uma fórmula ritual, considerada rígida demais. No entanto, o Cardeal Fernández teve o cuidado de apresentar um modelo ad hoc, em um esclarecimento datado de 29 de dezembro.

Nada como uma espontaneidade supervisionada! E ele chega ao ponto de indicar a duração desta bênção: não mais que 10 a 15 segundos, com o relógio na mão! Nada como a espontaneidade cronometrada! Continuar lendo

UMA IGREJA EM CRESCENTE PERDA DE INFLUÊNCIA

Por ocasião do 35º aniversário das sagrações de Ecône, o jornal francês La Croix, de 30 de junho de 2023, publicou um artigo intitulado A Fraternidade São Pio X, uma influência limitada.

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Nesse artigo lemos o seguinte: “A FSSPX renova-se, sobretudo, em si mesma através de uma reprodução geracional”; “está condenada ao imobilismo para garantir a sua sobrevivência”; “é uma instituição completamente autônoma que tem, em si mesma, todos os meios para conseguir subsistir“. Às vezes, é feita uma tímida concessão: “continua sendo uma pequena minoria operante”, mas a impressão geral que domina é a de uma Fraternidade autárquica.

O que chama a atenção neste artigo é a falta de perspectiva histórica e filosófica. Propõe ao leitor apenas uma análise sociológica, descritiva, sem jamais esboçar qualquer raciocínio explicativo. Limita-se ao como, sem questionar o porquê.

É como se se receasse que essa perspectiva se tornasse uma acusação mais profunda e, sobretudo, mais embaraçosa. Porque apresentar a Fraternidade São Pio X como auto reprodutora, imobilista e completamente autônoma, não é apenas transformá-la em uma seita, mas também cercá-la com um “cordão sanitário” para se proteger de qualquer reflexão perigosamente contagiosa. Continuar lendo

O BÁCULO OU O ESTETOSCÓPIO?

Durante a consagração de uma igreja, o Bispo dirige-se à intersecção do transepto onde as cinzas foram espalhadas no chão, em duas faixas que se cruzam. Com a ponta do báculo, ele traça o alfabeto grego em uma faixa e o alfabeto latino na outra (*). É o que mostra a fotografia na capa desta edição do Nouvelles de Chrétienté, tirada em 3 de maio, durante a consagração e dedicação da Igreja da Imaculada em St. Marys, Kansas, por D. Bernard Fellay.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Esta cerimônia significa que o templo consagrado pertence à Igreja Católica, cuja liturgia é celebrada principalmente em latim e grego, no Ocidente e no Oriente. Essas faixas transversais formam a letra grega Χ (khi), a primeira letra do nome de Cristo, Χριστός.

Do alfabeto grego une-se a primeira e a última letras, Α e Ω, alfa e ômega, indicando que Cristo é o princípio e o fim de todas as coisas. Trata-se de um sinal de propriedade: Cristo é, de fato, o rei de toda a terra, mas, como cabeça do Corpo Místico, Ele toma posse deste território particular que, de agora em diante, Lhe é exclusivamente consagrado.

No plano espiritual, o fato das letras serem traçadas com o báculo episcopal, em uma cruz de cinzas, mostra que a doutrina nos vem daqueles que quem tem autoridade eclesiástica, e que só é compreendida por almas humildes, e que tudo se resume em Jesus Cristo crucificado. Continuar lendo

O CARDEAL METEOROLOGISTA

O cardeal Raniero Cantalamessa tem sido o pregador da Casa Pontifícia desde 1980. Como tal, todos os anos, ele prega a Quaresma aos membros da Cúria Romana. O exórdio do primeiro sermão, proferido em 3 de março, mostra claramente que ele prega em sua paróquia.

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Atentem-se: “A história da Igreja no final do século XIX e início do século XX deixou-nos uma lição amarga que não deveríamos esquecer, para não repetir o erro que está em sua origem. Refiro-me ao atraso, ou melhor, à recusa em reconhecer as mudanças ocorridas na sociedade e da crise do modernismo que daí resultou.”

E prossegue: “Que danos resultaram para uns e para outros, quer dizer, tanto para a Igreja como para os chamados [sic] “modernistas”. A falta de diálogo, por um lado, empurrou alguns dos modernistas mais notórios para posições cada vez mais extremas e, em última instância, claramente heréticas.

“Por outro lado, privou a Igreja de enormes energias, provocando em seu interior lagrimas e sofrimentos sem fim, levando-a a se fechar cada vez mais em si mesma e a ficar para trás em relação ao seu tempo.” Continuar lendo

POR UM JEJUM PUJANTE

A Quaresma é um tempo de jejum: menos alimento para o corpo e mais alimento para a alma. Como diz o Prefácio deste tempo litúrgico: “Vitias compresses, mentem elevas – Meu Deus, vós que, pelo jejum corporal, reprimis os vícios, elevai a alma, concedei força e recompensa”. Menos comida, mais orações, leituras espirituais, meditações…

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Todavia, esse desejo só será eficaz se for acompanhado de uma firme resolução, realizada de forma dinâmica: jejum das telas, a abstinência dos meios de comunicação. Em outras palavras, menos tempo perdido na internet, na frente do computador, da televisão ou do rádio.

Pois, de que serve querer rezar mais, se nunca deixamos de alimentar uma insaciável curiosidade, se ficamos à espreita a tudo o que circula por aí, com o ridículo desejo de “agarrar a espuma” dos dias atuais?

A Quaresma é inútil quando não nos abstemos de embeber nossas mentes com toda essa confusão midiática, imediatamente expulsa pelas notícias do dia seguinte.

Paul Verlaine descreveu perfeitamente a miséria espiritual que hoje se esconde sob uma superabundância de informações: Continuar lendo

O RITO NÁUTICO

Era um domingo muito quente de julho na Calábria, ao sul da Itália. Por isso, D. Mattia Bernasconi decidiu celebrar uma “Missa” dentro d’água, de frente para a praia. Ele disse sem rodeios: “Eram 10:30h e o sol estava escaldante, então decidimos ir para o único lugar confortável: a água.”

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

A Igreja admite que o Santo Sacrifício da Missa possa ser celebrado fora de um local de culto consagrado, por circunstâncias excepcionais, para o bem das almas. Pensa-se então naqueles heróicos capelães militares rezando a Missa sobre a base de um canhão para os Poilus que, logo após, entrariam em batalha, com o sacrifício de suas vidas.

Aqui, é por motivos de “conforto” que este padre de 36 anos decidiu celebrar a “missa” de sunga em um colchão inflável, um altar-boia. Essa evidente perda do sentido do sagrado manifesta, de forma resplandecente, o espírito de uma reforma litúrgica que, normalmente, é mais discreta, menos chocante.

No entanto, esta liturgia reformada é levada por si mesma a sacrificar o sentido do sagrado: em nome do conforto, ela se adapta ao clima meteorológico e ideológico. O altar-boia flutua, como doutrina e a moral, sobre as ondas que se sucedem, sem uma âncora firme na Tradição. E a nova liturgia é regulada pela temperatura ambiente. Continuar lendo

POR UM JEJUM PUJANTE

A Quaresma é um tempo de jejum: menos alimento para o corpo e mais alimento para a alma. Como diz o Prefácio deste tempo litúrgico: “Vitias compresses, mentem elevas – Meu Deus, vós que, pelo jejum corporal, reprimis os vícios, elevai a alma, concedei força e recompensa”. Menos comida, mais orações, leituras espirituais, meditações…

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Todavia, esse desejo só será eficaz se for acompanhado de uma firme resolução, realizada de forma dinâmica: jejum das telas, a abstinência dos meios de comunicação. Em outras palavras, menos tempo perdido na internet, na frente do computador, da televisão ou do rádio.

Pois, de que serve querer rezar mais, se nunca deixamos de alimentar uma insaciável curiosidade, se ficamos à espreita a tudo o que circula por aí, com o ridículo desejo de “agarrar a espuma” dos dias atuais?

A Quaresma é inútil quando não nos abstemos de embeber nossas mentes com toda essa confusão midiática, imediatamente expulsa pelas notícias do dia seguinte.

Paul Verlaine descreveu perfeitamente a miséria espiritual que hoje se esconde sob uma superabundância de informações: Continuar lendo

OS “GUARDIÕES DA TRADIÇÃO” E A “ALEGRIA DO AMOR”

Em 2016, o Papa Francisco publicou a Exortação pós-sinodal Amoris lætitia na qual concedeu – caso a caso – o acesso à comunhão eucarística aos divorciados “recasados”, que não têm direito a ela segundo a imutável moral  da Igreja Católica.

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Em 2021, ele [Papa Francisco] publicou o Motu proprio Traditionis custodes, cujas condições draconianas visam restringir, ao máximo, o direito dos fiéis à Missa de sempre, na esperança de que um dia esse direito seja extinto por completo.

De um lado, existe um pseudo-direito à comunhão garantido pela “misericórdia pastoral”; de outro, um verdadeiro direito à Missa de sempre, reduzida e praticamente negada em nome da “unidade da Igreja“, comprometida pela falta de submissão ao magistério conciliar cuja Nova Missa afirma pertencer.

De um lado, uma extrema solicitude para com as “periferias da Igreja”; de outro, uma severidade absoluta em relação aos que estão ligados ao Santo Sacrifício da Missa, e que, seguindo os cardeais Ottaviani e Bacci – em seu Breve exame crítico do Novus Ordo Missæ (1969) – afirmam que a Missa de Paulo VI “representa, tanto em seu todo como nos detalhes, um impressionante afastamento da teologia católica da santa missa, conforme formulada na Sessão XXII do Concílio de Trento. Os “Canones” do rito, definitivamente fixados naquele tempo, proporcionavam uma intransponível barreira contra qualquer heresia dirigida contra a integridade do Mistério”. Continuar lendo

ONDE COMEÇA A CIDADE CATÓLICA?

Cidade

“Noblesse oblige”, dizemos. Mas a quê? A uma coerência entre o que dizemos e o que fazemos.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

A Cidade Católica é uma sociedade cujas instituições não vão contra os preceitos de Deus, uma cidade cuja lei não é contra a fé. Famílias e escolas, oficinas e escritórios, hospitais e tribunais constituem essa cristandade temporal que nos prepara para obter a bem-aventurança eterna. É a cidade terrestre que nos prepara para a cidade celestial. Mas o padre Calmel nos avisa:

Só podemos falar proveitosamente do Cristianismo para aqueles que estão dispostos a admitir que as atuais instituições, pelo menos alguma delas, representam uma antessala mais ou menos climatizada do Inferno, porque são instituições contrárias à lei natural. Legitimam, autorizam, encobrem com sua autoridade atos e atitudes que são uma ofensa ao Criador e Redentor da natureza humana. Considerando que uma cidade que merece o nome de cristã, uma cristandade, deve estar em conformidade com a lei natural, digna de Deus e digna do homem, inspirada pelos ensinamentos da Igreja, e permitindo que o homem conquiste o céu.

(Escola Cristã Renovada, cap. XXVII, “A cristandade deve continuar”, Téqui, pág.166)

É por isso que a Cidade Católica começa dentro nós: com a consciência lúcida desta “antessala mais ou menos climatizada do Inferno”, acompanhada de resoluções práticas para “ganhar o Paraíso”. A luta pelas instituições cristãs começa em cada um de nós, com humildade, mas com eficácia.

É sobre isso que cantamos:

Queremos Deus na família,
Na alma dos nossos queridos filhos …

Queremos Deus! Sua santa imagem deve presidir aos julgamentos;
Queremo-lo no matrimônio
Como à beira de nossa morte …

Queremos Deus! nossa pátria
Deve ser colocado em primeiro lugar…

A questão é saber se este é apenas um hino, uma canção piedosa cujas palavras desaparecem ou são um roteiro cujos passos são seguidos fielmente, dia após dia.

“Noblesse oblige”, dizemos. Mas a quê? A uma coerência entre o que dizemos e o que fazemos. É esta coerência que transforma as nossas provações diárias em provas de amor a Deus e às almas.

Pe. Alain Lorans, FSSPX

Famille d’abord, Carta do Movimento da Família Católica n° 45 – junho de 2021

COM QUE SONHA O PAPA?

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Em sua exortação pós-sinodal Querida Amazônia, publicada em 12 de fevereiro de 2020, o Papa Francisco expõe seus sonhos. Ele tem quatro: um “sonho social”, um “sonho cultural“, um “sonho ecológico” e até um “sonho eclesial“. Pensávamos que o papa não estava no trono de Pedro para sonhar, mas para “confirmar seus irmãos na fé” (cf. Lc 22, 32); estávamos errados? Acreditávamos que “os devaneios do caminhante solitário” eram reservados para Jean-Jacques Rousseau, que os discípulos de Cristo não deveriam cochilar ou adormecer, mas vigiar e orar (Mt 26, 41); estávamos errados?

Francisco sonha, mas com o que ele sonha? Ele nos diz: “Sonho com comunidades cristãs capazes de se doar e se encarnar na Amazônia, a ponto de dar à Igreja novos rostos com características amazônicas.” Uma igreja diversificada e multicolorida, não monocromática e monótona.

Este é um sonho premonitório? Pelo contrário, é uma reminiscência. O jesuíta Jorge Mario Bergoglio lembra do testamento do jesuíta progressista Carlo Maria Martini. De fato, o último livro do cardeal-arcebispo de Milão se intitula O sonho de Jerusalém (DDB, 2009), que trata de conversas que ele teve com o Pe. Georg Sporschill s.j.. Ele as apresenta da seguinte forma: “Durante essas entrevistas, nos permitimos sonhar em voz alta. Sabemos que durante a noite as ideias nascem mais facilmente do que na luz do dia.” O livro milita “por uma Igreja audaciosa” (p.11) e “por uma Igreja aberta“(p.157).

Francisco, um discípulo fiel, esforça-se por realizar o sonho do cardeal Martini que declarou em seu livro: “O Vaticano II enfrentou corajosamente os problemas de nosso tempo. Ele iniciou o diálogo com o mundo moderno tal como ele é, sem se fechar friamente em si mesmo. E, acima de tudo, o Concílio detectou onde existiam numerosas forças positivas no mundo que avançam com o mesmo objetivo de nossa Igreja, ou seja, o de ajudar os homens, além de buscar e adorar o Deus único.” (P.162)

De fato, o irenismo conciliar é um onirismo. Diante da realidade da vertiginosa queda das vocações e da prática religiosa, esse sonho beatífico é uma mentira. Hoje, como ontem, São Paulo diz aos Romanos: “Hora est jam nos de somno surgere, agora é a hora de acordar.” (Rm 13,11)

Pe. Alain Lorans