Nenhuma celebração manifesta tão claramente a imensa lacuna que separa os promotores da religião conciliar – pois trata-se de uma religião – da autêntica mensagem católica.
Fonte: Lou Pescadou n ° 217 – Tradução: Dominus Est
Estamos todos demasiado familiarizados com o Papai Noel e as festas reduzidas a banquetes. Com razão, o Natal dos pagãos não traz nada mais do que sofrimento ao coração cristão. Mas não tenho certeza se isso é o mais doloroso. Nenhuma celebração, ao que parece, manifesta tão claramente a imensa lacuna que separa os promotores da religião conciliar – pois trata-se de uma religião – da autêntica mensagem católica. Para compreender isso, basta reler a mensagem que João Paulo II dirigiu ao mundo em seu primeiro Natal como Papa, em 25 de dezembro de 1979.
“O Natal é a festa do homem. É o nascimento do homem […] Esta mensagem é dirigida a cada homem, precisamente enquanto homem, à sua humanidade. É, de fato, a humanidade que se encontra elevada no nascimento terreno de Deus.” Com estas palavras, João Paulo II realiza uma verdadeira reviravolta, assim resumida: “Se hoje celebramos o nascimento de Jesus de forma tão solene, fazemo-lo para dar testemunho do fato de que cada homem é único, absolutamente único.”
A dinâmica da Encarnação já não está mais voltada à Pátria celeste que o Verbo Encarnado torna novamente acessível, mas para a plena realização da humanidade aqui na Terra. A salvação já não está em Jesus, mas no respeito universal pela dignidade transcendente atribuída à pessoa humana. Neste Natal, não celebramos mais um Deus que se fez homem, mas um homem que se ergue como deus.
Estas linhas do falecido Papa – que alguns afirmam ser santo – são apenas o eco do Concílio Vaticano II: “Tudo o que, tirado dos tesouros da doutrina da Igreja, é proposto por este sagrado Concílio, pretende ajudar todos os homens do nosso tempo, quer acreditem em Deus, quer não O conheçam explicitamente, a que, conhecendo mais claramente a sua vocação integral, tornem o mundo mais conforme à sublime dignidade do homem, aspirem a uma fraternidade universal mais profundamente fundada e, impelidos pelo amor, correspondam com um esforço generoso e comum às urgentes exigências da nossa era.” (GS 91, 1). Esta “fundação” foi evocada ao longo do tempo e pode resumir-se da seguinte forma: “A Igreja, em virtude do Evangelho que lhe foi confiado, proclama os direitos do homem e reconhece e tem em grande apreço o dinamismo do nosso tempo, que por toda a parte promove tais direitos.” (GS 41, 3).
De homens de Deus, esses maus pastores se transformaram em homens do Homem. Este é o crime deles. Como, então, podemos nos surpreender que, “não mais suportando a sã doutrina” (2 Tim 4, 3), perseguem tudo o que a promove? É assim que o Motu Proprio Traditionis custodes, e depois o decreto da Congregação para o Culto Divino, publicado em 18 de dezembro, visa proscrever completamente a liturgia tradicional da Igreja. A partir de agora, não é mais apenas a Missa tradicional que está proibida, mas ainda mais rigorosamente a celebração tradicional de todos os sacramentos, a começar pela ordenação sacerdotal. A razão dessas proibições é afirmada em numerosas ocasiões e de múltiplas maneiras: a liturgia tradicional é incapaz de expressar a fé da Igreja nascida do Vaticano II. Isso diz tudo.
Para vós, com o coração cheio de amor e gratidão, venham aos pés da manjedoura para celebrar o amor infinito de um Deus que se fez homem para nos salvar. Presos no efemero da materialidade, vivendo nos tão limitados horizontes da temporalidade, ouvimos a maravilhosa mensagem, assim resumida por São João: “Mas a todos os que o receberam, deu poder de se tornarem filhos de Deus”. (Jo 1,12). Sim, “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29) se encarnou no tempo humano para nos permitir viver, e daqui de baixo, na eternidade de Deus: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e nós viremos a ele, e faremos nele morada” (Jo 14, 23). O Natal é o início de uma amizade divina, é o desabrochar do mundo sobrenatural em um mundo até então pecaminoso. Nós celebramos um Redentor, ansiosos para nos levar aos abraços da eternidade.
Pe. Patrick de La Rocque, FSSPX