OS PAPAS DENUNCIAM A CONSPIRAÇÃO DA SEITA

Resultado de imagem para marcel lefebvreA trama da seita liberal contra a Igreja consistia em atacá-la utilizando sua própria hierarquia, pervertendo-a até ao seu mais alto posto, como lhes mostrei no capítulo precedente.

Mas os Papas, com a clarividência de seu cargo e as luzes que Deus lhes deu, viram e denunciaram claramente este programa.

Leão XIII (1878-1903) pressentiu este “subversio capitis”, esta subversão do chefe e a descreveu com todos os detalhes, em toda a sua crueza, escrevendo o pequeno exorcismo contra Satanás e os espíritos malignos. Eis o techo em questão, que figura na versão original mas foi suprimido nas versões posteriores por não sei qual sucessor de Leão XIII, provavelmente por considerá-lo impossível, impensável, impronunciável… Pelo contrário, após cem anos de sua composição, este trecho nos parece cheio de uma verdade candente:

“Eis que astutos inimigos encheram de amargura a Igreja, Esposa do Cordeiro Imaculado, deram-lhe absinto para beber e puseram suas mãos ímpias sobre tudo o que há nEla de mais precioso. Onde a Sede do bem-aventurado Pedro e a Cátedra da Verdade haviam sido estabelecidas como luz para as  nações, eles erigiram o trono da abominação da sua impiedade, para que uma vez golpeado o pastor possam dispersar o rebanho”.

Como isto é possível? me perguntarão. Asseguro-lhes que não sei, mas isto ocorre cada vez mais, dia após dia. Isto nos causa uma grande angústia, nos sugere uma pergunta dolorosa: quais são então estes Papas que toleram a autodemolição que contribuem para ela? Em seu tempo, São Paulo já dizia: “já se está realizando o mistério da iniqüidade” (2 Ts 2, 7). O que diria ele hoje?

Por sua parte São Pio X (1903-1914) confessará a angústia de que era possuído ante os progressos alcançados pela seita no interior mesmo da Igreja. Em sua primeira Encíclica “E Supremi Apostolatus” de 4 de outubro de 1903, expressa seu temor de que o tempo da apostasia que entrava na Igreja, fosse o tempo do Anti- Cristo, falsificação de Cristo, usurpador de Cristo. Eis abaixo  o texto:

“… Nos atemorizava principalmente o estado aflitivo em que se encontra a humanidade atualmente. Porque, quem não vê que a sociedade humana está sendo atacada de uma doença muito mais grave e mais profunda do que a que afetava as gerações passadas, que se agravando a cada dia e roendo até os ossos, vai arrastando-a para a perdição? Que doença é esta já o sabeis, Veneráveis Irmãos, é para com Deus a deserção e a apostasia; nada sem dúvida que esteja mais perto da perdição, segundo estas palavras do Profeta: ‘Porque perecerão os que se afastarem de Ti’ (Sl 72,27)”.

E o Santo Pontífice prossegue, adiante:

“Porque verdadeiramente contra seu criador ‘rugiram as  nações e os povos meditaram com insensatez’ (Sl 2, 1); de tal modo que já é voz comum a dos inimigos de Deus: ‘Aparta-te de nós’ (Jó 21, 14). Daí resulta que está, na maioria dos homens, quase extinto o respeito ao eterno Deus sem levar em conta sua vontade suprema nas manifestações de vida pública  e privada. Mais ainda, com todo o esforço e engenho procuram que seja abolida por completo até a memória e a noção de Deus.

Quem considerar todas estas coisas, pode com razão temer que esta perversidade de espírito seja uma antecipação e o começo dos males que estavam reservados para o fim dos tempos, ou que já se encontra neste mundo ‘o filho da perdição’ (2 Ts 2,

3) de que fala o Apóstolo.

São tão grandes a audácia e a desmedida raiva com que em toda parte se ataca a Religião; combatem-se os dogmas da Fé e se fazem incontidos esforços para impedir e até aniquilar todo meio de comunicação do homem com Deus. Por sua vez, e segundo o mesmo Apóstolo isso constitui a nota característica do ‘Anti-Cristo’, o homem com inaudito atrevimento usurpou  o lugar de Deus, elevando-se a si mesmo sobre tudo o que leva o nome de Deus, chegando ao ponto que mesmo não sendo possível apagar inteiramente de sua alma todo sinal de Deus, faz-se omisso à sua majestade. O homem fez deste mundo um templo dedicado a si mesmo para nele ser adorado pelos restantes. ‘Senta-se no trono de Deus como se fosse ele próprio um Deus’ (2 Ts 2, 4)”.

E São Pio X conclui recordando que no final Deus triunfará de  seus inimigos, mas que esta certeza de fé não nos dispensa de acelerar a obra divina no que depende de nós, ou seja, de acelerar o triunfo de Cristo Rei.

E também em sua Encíclica “Pascendi” de 8 de setembro de 1907, sobre os erros modernistas, São Pio X denuncia com clareza a infiltração na Igreja já começada pela seita modernista, que  foi, como lhes disse160, aliada da heresia liberal para demolir a Igreja Católica. Vejamos as passagens mais importantes deste documento:

“… O que sobretudo exige de Nós que sem demora quebremos o silêncio, é que atualmente não há necessidade de procurar os fautores de erros entre os inimigos declarados: eles se escondem, o que é motivo de grande ansiedade e angústia, no centro e dentro do próprio coração da Igreja. Na verdade, inimigos tanto mais prejudiciais quanto menos declarados. Veneráveis Irmãos, falamos de um grande número de católicos seculares, e do que é ainda mais deplorável até sacerdotes, que sob o pretexto de amor à Igreja, com absoluta falta de conhecimentos sérios de Filosofia e Teologia e impregnados, ao contrário, até a medula dos ossos de erros venenosos contidos nos escritos dos adversários do catolicismo; sem qualquer sentimento de modéstia, eles se jactam de restauradores da Igreja e assaltam com audácia tudo sem respeitar sua própria pessoa, que rebaixam com sacrílega temeridade à categoria de simples homem.

Tais homens poderão estranhar verem-se colocados por Nós entre os inimigos da Igreja; mas não haverá fundamento para tal em nenhum daqueles que, prescindindo de intenções reservadas ao juízo de Deus, conheçam sua autoridade e sua maneira de falar e agir. São seguramente inimigos da Igreja, e não errará quem disser que Ela nunca os teve piores. Porque como já se notou, eles tramam a ruína da Igreja, não do lado de fora mas de dentro dela: em nossos dias o perigo está quase nas entranhas da Igreja e até mesmo em suas veias; o dano produzido por tais inimigos é tanto mais inevitável  quanto mais fundo eles conhecem a Igreja. Some-se o fato de que aplicaram o veneno não nos ramos nem nos rebentos, mas na própria raiz, ou seja na Fé, e em suas fibras mais profundas. Depois de ferida esta raiz de vida imortal, começam a fazer circular o vírus por toda a árvore e em tais proporções que não há parte alguma da Fé católica em que não ponham sua mão, nenhuma que não se esforcem em corromper” (Pascendi, nº2- 3).

São Pio X, em continuação, revela a tática dos modernistas:

“… E enquanto prosseguem por mil caminhos seu nefasto desígnio, sua tática é mais traiçoeira e pérfida. Amalgamando em suas pessoas o racionalista e o católico, o fazem com habilidade tão refinada que facilmente confundem os espíritos fracos. Sendo entretanto consumados impostores, não há conseqüências que os façam retroceder, ou melhor, que não sustentem com obstinação e audácia. Juntam a isto, com o propósito de enganar, uma vida cheia de atividade, assiduidade e interesse por todo gênero de estudo, costumes freqüentemente inatacáveis graças a sua severidade (…). Veneráveis  Irmãos,  não  ignorais  a  esterilidade de nossos esforços; estes homens inclinaram a cabeça por um pequeno momento para reerguê-la em seguida com maior orgulho (Idem, nº 3).

E como a tática traiçoeira dos modernistas (assim são chamados vulgarmente, e com muita razão) consiste em nunca expor suas doutrinas de um modo metódico e em conjunto, mas dando-as em fragmentos e espalhadas aqui e ali, contribui para serem julgados flutuantes e indecisos em suas idéias, quando na realidade são perfeitamente fixas e consistentes; antes de tudo é preciso apresentar estas doutrinas sob  um ponto de vista único, e fazer ver o enlace lógico que as une entre si (Pascendi, nº4)”.

Permanecer na Igreja para fazê-la evoluir, tal é o desígnio dos modernistas:

“Vão adiante no caminho começado e mesmo repreendidos e condenados, continuam encobrindo sua incrível audácia com a máscara de uma aparente humildade. Dobram fingidamente a cerviz, mas prosseguem atrevidamente no que empreenderam. Assim procedem conscientemente pois crêem que a autoridade deve ser empurrada e não derrubada, e também lhes é necessário permanecer no recinto da Igreja para trocar insensivelmente a consciência comum: confessam assim sem perceber, que a consciência comum não os favorece, e por conseguinte não lhes assiste o direito de se apresentar como seus intérpretes” (Pascendi, º 37).

“Pascendi” deteve por algum tempo a audácia dos modernistas, mas pouco depois recrudesceu a ocupação metódica e progressiva da Igreja e da hierarquia pela seita modernista e liberal. Rapidamente a “intelligentsia” teológica liberal chegaria às primeiras páginas das revistas especializadas, aos congressos, às grandes editoras e aos centros de pastoral litúrgica, pervertendo dos pés à cabeça a hierarquia católica, desprezando as últimas condenações do Papa Pio XII na “Humani Generis”. A Igreja e o papado estariam logo maduros para um golpe de mestre liberal (como o de 1789 na França), por ocasião de um Concílio Ecumênico predito e esperado pela seita, como veremos no próximo capítulo.

Do Liberalismo à Apostasia – Mons. Marcel Lefebvre

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160 Com as bandeiras do “progresso” e da “evolução” os liberais começaram o ataque para ocupação da Igreja. Cf. Cap. XVIII.