O que ela é do ponto de vista filosófico
Um prelado assim se exprime:
“O Espírito Santo falou justo quando chamou à dança “uma vertigem, uma loucura”. Para apreciar bem essas pessoas que têm a paixão de rodopiarem e de fazerem momices compassadas, há só que as olhar tampando os ouvidos. Lord Byron compara os valsantes a “dois besouros enfiados no mesmo alfinete, em torno do qual giram, giram, giram”. Nunca, a não ser por motivos pouco definíveis, poderá a razão explicar-se que vantagem acha uma mulher sensata em fazer o exercício de uma enceradora de assoalhos, nos braços de um valsante que não é seu marido nem seu irmão.”
O que ela é do ponto de vista moral
Continua ele:
“Sabereis, jovens, como proceder quando vós mesmas tiverdes filhas grandes a vigiar. Enquanto isso, deixai-me lembrar-vos a palavra de Job: “Os filhos dos homens gostam de saltar para se alegrarem ao som dos tamborins. E, enquanto se entregam aos transportes da sua alegria, descem ao inferno.” O texto original não diz precisamente “descer”, mas “escorregam e caem de repente”. De fato, embora não se cometa necessariamente um pecado mortal por dançar, o diabo que marca o compasso bem sabe aonde quer conduzir os dançarinos. Esses assoalhos encerados sobre os quais desliza facilmente são a imagem fiel do terreno perigoso em que a pessoa se acha.”
Num baixo relevo da igreja de Tinay, representa-se a degolação de São João Batista. Vê-se nele, de um lado, Salomé que dança, e do outro Satanás que toca violino. Nossos avós tinham razão. Quantas pobres moças, pelo atrativo do baile, viraram Salomés!…
O que ela é aos olhos dos que vêem claro
Mesmo entre “as pessoas do mundo”, algumas se acham que ficam impressionadas com os perigos da dança e não hesitam em desvendá-los. Uma mulher do mundo dizia: “Uma dança me bastou para compreender o perigo dos bailes.”
… Um célebre cortesão de Luis XIV:
“Sempre achei os bailes perigosos; e o que me levou a crê-lo não foi só a minha razão, foi também a minha própria experiência. Os temperamentos, mais frios nela se esquentam; e toda essa juventude que já tem tanta dificuldade em resistir às tentações interiores, não pode afrontar impunemente essas tentações exteriores. Sustento, pois, que não se deve ir ao baile quando se é cristão.”
(Bussy-Rabutim).
Dois heróis: Abd-el-Kader, na França, e Chamyl, na Rússia, baixaram os olhos a primeira vez que os levaram ao baile.
O que ela é aos olhos da fé
Aqui, a doutrina dos santos é mais forte ainda, pois eles vêem em todo cristão um membro de Jesus crucificado.
São Francisco de Sales:
“Falo-vos dos bailes, como os médicos falam dos cogumelos; os melhores não valem nada. E, digo-vos, eu, que os melhores bailes não são nada bons.” Se se alegava uma conveniência ou uma necessidade, ele dizia: “Ide: mas no dançar, pensai que, naquele momento mesmo, muitos sofrem no inferno por terem dançado. Pensai que um dia, talvez, gemerei como eles, enquanto outros dançarão como o fazeis hoje. Pensai que Nosso Senhor, Nossa Senhora, os Anjos, os Santos vos viram no baile! Ah! como lhes causaste dó, por verem o vosso coração divertido em tamanha parvoíce e atento a essa frioleira! Pensai que, enquanto lá estais, o tempo passa, a morte se aproxima; vede, ela vem, zomba de vós, chama-vos à sua dança, na qual os gemidos dos vosso pecados servirão de violinos e em que fareis uma simples passagem da vida para a morte.”
Santo Ambrósio:
“A dança é a companheira inseparável das delícias que enervam e da volúpia que enodoa.”
E uma autor moderno:
“Em todo cristão a Fé vê um membro de Jesus Cristo, alimentado com a Sua Carne, enobrecido com o Seu Sangue. Com que olhos pode ela olhar esse cristão, essa cristã requebrar-se e rodopiar em plenas pompas do diabo?
A Fé vê em todo cristão um pecador arrependido, um penitente; muito mais, um coração que está de luto por Jesus inocente, crucificado pelos seus pecados. Que pode pensar a Fé em vendo essas cristãs divertir-se como umas loucas e prestar-se, ao mesmo tempo, ao divertimento de toda sorte de pervertidos?
Em resumo: o paraíso não foi feito para os loucos. A santidade nada tem a ver com o carnaval.”
Perigo da dança
Se quiserdes precisões, entremos nas minúcias e vejamos os perigos que precedem, que acompanham e que seguem a dança.
1) Antes da dança: Vaidade, despesas excessivas, preocupações de “toilettes”, esquecimento da alma. vontade de aparecer e de eclipsar as outras, desejo de ser notada, dissipação, etc…
2) Durante a dança: Vaidade ainda, inveja, ciúme, olhares e contatos perturbadores, palavras levianas, pensamentos sensuais, costumes indecentes, afagos de dançarinos pouco virtuosos, excitação nervosa fatal ao domínio de si, etc.
“Essa atmosfera aquecida e saturada de perfumes, essa música apaixonada que enleva e dá não sei que vertigem langorosa, esses vestidos que despem mais do que vestem, e em que o pudor é mais ferido do que protegido por essas vãs coberturas que não velam nada, essas conversações mundanas e não raro mui levianas, não são nada de molde a alimentar o espírito cristão. Verdadeiramente, não é possível que a modéstia resista longo tempo a semelhantes assaltos. O desejo de aparecer e de agradar, a garridice, secretos ciúmes, mil preocupações mundanas, arrefecem o fervor, diminuem a vida interior ou a sufocam. A saúde da alma corre aí mortais perigos.” (Ansault)
3) Depois da dança: Recordações lancinantes, lassidão da alma, desgostos, aborrecimento, vaidade satisfeita ou ciúme exasperado, devaneios maus, desejos malsãos talvez…
Eis aó o conjunto ds faltas que um só ato pode gerar.
Tirai conclusão.
Talvez objeteis que não cometeis nenhum pecado indo dançar! – É bem verdade! Satanás cega-vos tão bem, que vos assemelhais a um homem que, imerso na água, dissesse: Não está chovendo! Se as danças sempre foram proibidas por causa dos perigos que nelas pode correr a virtude e da dissipação que elas geram fatalmente, que se deve pensar dessas danças modernas, tangos, foxes, etc., visivelmente inventadas por Satanás para a perda das almas?
E ver-se-á pretensas cristãs suplicarem ao seu confessor permissão para irem a esses divertimentos funestos! Que fé a delas! Para vos convercer de que a paixão aí tem sempre a sua grande parte, tentai separar dançarinos e dançarinas, fazer dançar homens com homens e mulheres com mulheres… a dança acabará imediatamente.
Um grande pregador do século derradeiro, que entretanto não conhecia as danças descabeladas que se ostentam nos nossos dias, escrevia estas fortes linhas:
“A dança entre dois sexos é imoral, facilmente impudica. Todas essas danças que prendem, que enlaçam, que colam o dançarino com a dançarina são indecentes, incendiárias. O tempo, os lugares, as “toilettes”, a pintura, a mentira, a impudência, os olhares, as nudezes selvagens, a música, tudo o que se adita às reuniões dançantes, aos bailes particulares e públicos, a esses turbilhões do inferno, tornam a dança devastadora e infernal!”
E não vos pareça isto exagerado!
Há nisso um mal horrível, um flagelo devorador!
Só em Paris contam-se mais de 1.400 salões de danças…
Ó cristã, sem dúvida a dança pode, algumas vezes, ser permitida; uma dança honesta, em si não é um pecado, mas… não se vai para o Céu dançando!
Donzela cristã – Pe. J. Baeteman