SALVAR O PLANETA OU SALVAR AS ALMAS

A liturgia tradicional das ordenações expressa categoricamente o significado do sacerdócio.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

O final de junho trouxe a alegria das ordenações de novos padres (veja aqui, aqui e aqui). No Rito Romano, o cerimonial prevê que a Missa iniciada pelo Bispo seja interrompida para prosseguir com os ritos de ordenação, após os quais os novos padres concelebram com o Bispo que acaba de lhes conferir a Ordem. Então, rezam juntos o que é, de fato, a verdadeira primeira Missa deles.

É notável que a primeira oração que os novos sacerdotes recitam com o Bispo, a primeira oração que eles recitam em virtude de seu ofício como sacerdotes, é a do ofertório:

Recebei, ó Pai Santo, Deus Onipotente e Eterno, esta Hóstia imaculada que eu, vosso indigno servo, vos ofereço, meu Deus vivo e verdadeiro, em reparação aos meus inúmeros pecados, ofensas e negligências, e em favor de todos os aqui presentes e por todos os fiéis cristões, vivos e defuntos, a fim de que seja útil para a salvação minha e deles na vida eterna(1).

Desde o início de sua vida sacerdotal, o novo sacerdote inicia seu ministério com seu ato principal: oferecer um sacrifício propiciatório, ou seja, um sacrifício que satisfaça ou compense os pecados que ofendem a majestade divina. Ao nos privarmos de algo legítimo em honra a Deus, compensamos de alguma forma o que arrogamos indevidamente a nós mesmos por meio do pecado.

Nossos próprios sacrifícios não podem ser suficientes para reparar a ofensa feita a Deus, mas o sacrifício do Filho de Deus feito homem, o sacrifício pelo qual ele deliberadamente renunciou à sua vida, é capaz de oferecer ao Pai, “toda a honra e glória(2)”. Por este sacrifício, o Verbo encarnado mostra que ama a majestade de Deus e as almas a serem redimidas mais do que a sua própria vida humana: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos” (Jo 15, 13). Em resposta a este amor sacrificial, Deus concede a sua graça de forma superabundante.

Ao confiar aos Apóstolos seu Corpo e Sangue, com o preceito de “fazei isto em memória de Mim”, o Salvador lhes confia seu sacrifício a ser oferecido todos os dias, para que a aplicação de seus frutos possa ajudar a salvar almas.

Assim, desde os primeiros minutos do seu sacerdócio, o sacerdote está imerso no coração do seu ministério; todo o resto, a pregação, o ensino, o contato com as almas, a preocupação com a unidade de uma paróquia, tudo isso consiste em espalhar os frutos deste sacrifício e levar as almas a participarem dele, a fim de conduzi-las todas à unidade da Santíssima Trindade.

Propiciação, sacrifício, satisfação, salvação das almas, este vocabulário não corresponde à noção pós-conciliar do padre, que parece ser muito mais um animador comunitário responsável por ouvir e implementar as conclusões sinodais do povo de Deus para salvar o planeta e acolher os migrantes.

Este detalhe do rito da Missa e da ordenação já demonstra por si só que, por trás da batalha entre o rito tradicional e o Novus Ordo, há muito mais do que questões de sensibilidade e estética. Ou, para aqueles que pensam apenas em termos sociológicos, isto é, indiferentes ao verdadeiro e ao falso, ao bem e ao mal, trata-se de muito mais do que questões de identidade.

Pe. Nicolas Cadiet, FSSPX

Notas

(1) Missal Romano de 1962, Ofertório.

(2) Conclusão do Cânon Romano.