Sermão proferido por D. Marcel Lefebvre, no Seminário de Ecône, em 15 de agosto de 1990.
Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est
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Meus queridos irmãos,
Peço-vos desculpa pela simplicidade desta cerimônia, pois – como sabem – nossos seminaristas estão de férias, então serão os senhores que farão o coro.
Mas se a cerimônia é simples, penso que nossos corações devem estar todos na Festa. Na Festa da Santíssima Virgem Maria, de sua Assunção, que é, certamente, uma das mais belas festas de Maria e, sobretudo, é a Festa que para os fiéis, para nós que ainda estamos in via, que ainda estamos a caminho do Céu, é uma ocasião de grande esperança e de grande auxilio.
Se procurarmos qual a lição que a Igreja nos dá em sua liturgia hoje, a encontraremos na oração. Daqui a pouco, cantaremos, na oração, o voto que a Igreja nos pede: Que sejamos sempre ad superna semper intenti (1), diz a Igreja.
O que isso significa? Que tenhamos nossos corpos, as nossas almas, os nossos corações sejam sempre dirigidos ad superna coelestia, para as coisas celestiais. A oração e a Igreja acrescentam: Ipsius gloriae mereamur esse consortes: Que um dia sejamos participantes da glória de Maria.
O que a Igreja pode desejar de melhor para nós? Que conselho mais eficaz ela pode nos dar? Ter nossos olhos, quer dizer, sobretudo, ter todo nosso coração voltado para as coisas do Céu. E se isso é algo que é difícil para nós, uma vez que somos afligidos pelas consequências do pecado original e nossa alma está, de alguma forma, cega pelas coisas materiais, pelas coisas sensíveis que formam obstáculo entre nós e o Céu, ao passo que deveriam ser, ao contrário, um meio para nos elevarmos a ele. Pois bem, se há uma coisa e se há um pensamento que nos ajuda a olhar para o Céu, é pensar na Santíssima Virgem Maria.
E é precisamente por isso que esta Festa da Assunção é, para nós, repleta de esperança, repleta de alegria, repleta de encorajamento. Porque se há alguma coisa que nos eleva ao Céu, é o pensamento de Maria triunfante, Maria gloriosa no Céu, Rainha do Céu.
Lembrai-vos que, no Evangelho, por ocasião da Ascensão, diz-se que os apóstolos permaneciam com os olhos voltados para o céu. Nosso Senhor, porém, havia desaparecido, mas eles estavam tão atraídos por essa visão, que seus olhos permaneceram fixos no céu. E como isso é compreensível!
E penso que se nós também tivéssemos testemunhado a Assunção da Santíssima Virgem, nossos olhos teriam permanecido fixos no céu, com a esperança de, um dia, seguir nossa Mãe.
E se se pode dizer que uma criatura é verdadeiramente celestial, é propriamente da Santíssima Virgem que se pode dizê-lo. E o Bom Deus deu prova disso por sua Assunção. Ela, agora, está radiante não apenas em sua alma, mas também em seu corpo.
E é fato que sempre que a Santíssima Virgem quis manifestar-se aqui na terra, aqueles que tiveram a grande graça de vê-la ficaram admirados diante do esplendor da Santíssima Virgem, diante de sua luz, diante de seu resplendor, perante seu estado celestial. E essas crianças ficaram tão cativadas por essa visão que seus sentidos não se exercitavam mais.
Conta-se que Bernadette estando neste estado de êxtase diante da Santíssima Virgem Maria, teve a chama de uma vela colocada em sua mão, mas nem sequer sentiu, tamanha atração pela beleza, grandeza, sublimidade da imagem e presença da Santíssima Virgem Maria.
Com efeito, a Virgem Maria teve privilégios extraordinários. Ela pôde muito bem dizer em seu Magnificat: Fecit mihi magna qui potens est: “O Todo-Poderoso fez em mim grandes coisas ” (fez, por mim, grandes coisas). Sim, com efeito, é difícil imaginar que uma criatura possa carregar seu Deus, possa carregar Deus, o Criador do céu e da terra, em seu ventre, como a Santíssima Virgem Maria O carregou.
Deus permaneceu Deus. Nada mudou em Deus. Nada foi mudado na Santíssima Trindade. Deus é imutável. E, no entanto, Ele queria habitar no ventre da Virgem Maria durante nove meses. Que graça para esta criatura escolhida de maneira muito especial, para ser a Mãe de Jesus Cristo, a Mãe do nosso Salvador. Maria é verdadeiramente celestial.
Além disso, esta festa da Assunção mostra que entre os fiéis e na Igreja em geral, as multidões correm para seguir a Virgem Maria. Multidões de católicos se reuniram por ocasião desta festa, em todos os lugares, seja fazendo procissões em honra da Santíssima Virgem Maria, ou fazendo peregrinações.
E a festa da Assunção não data da proclamação do dogma da Assunção da Santíssima Virgem, ou seja, 1º de novembro de 1950, quando o Papa Pio XII proclamou que a Assunção da Virgem Maria era um dogma, uma verdade que devemos crer para sermos verdadeiramente católicos. Não, a festa da Assunção data do tempo dos apóstolos. Celebramos a Virgem Maria – e a melhor prova é o que está inscrito nas nossas catedrais, nas nossas igrejas, as próprias orações falam da Assunção, da Santíssima Virgem.
As pinturas, a famosa pintura de Murillo que está no museu de Madrid (são prova disso). Por muitos anos, celebramos a Santíssima Virgem Maria na festa da Assunção e, em particular, quando em 1638, o rei Luís XIII consagrou a França à Santíssima Virgem Maria, no dia da Assunção.
A Imaculada Conceição, de Bartomolé Esteban Murillo, Museu de Madrid. Domínio público, via Wikimedia Commons
Todas estas são manifestações que mostram o apego dos fiéis, o apego da Igreja à Virgem Maria na sua Assunção e, particularmente óbvia a esta conclusão de toda esta História da Assunção de Nossa Senhora, que é a proclamação do dogma pelo Papa Pio XII onde tive a felicidade de me encontrar (naquele dia em Roma).
O nome de D. Lefebvre no mármore de uma das colunatas da Basílica de São Pedro, em Roma. Os nomes dos Bispos presentes foram inscritos no mármore em memória do evento.
D. Lefebvre com sua família diante de São Pedro, em Roma, em novembro de 1950, por ocasião da proclamação do dogma.
Então, meus caríssimos irmãos, qual deve ser a conclusão, para nós, destas considerações sobre a festa da Assunção da Santíssima Virgem Maria? Pois bem, devemos fazer tudo para não impedir que nossos corações se orientem para o Céu, para que sejam orientados para a Virgem Maria.
Devemos ser capazes de dizer a nós mesmos quando estamos em casa, em nossa vida cotidiana, em nossa atividade habitual, que podemos pensar que se a Virgem Maria estivesse presente, estaria de acordo conosco, com o que fazemos, com o que pensamos, com o que vemos, com o que amamos. Devemos viver com a Santíssima Virgem Maria e assim viveremos verdadeiramente do Céu.
É bom refletir e fazer um pequeno exame de consciência e dizer a si mesmo: o que pensaria a Virgem Maria se estivesse agora presente junto de mim, pelo que faço, pelo que digo, pelo que penso, pelo que amo.
Portanto, considere permitir que a Santíssima Virgem Maria esteja sempre convosco, onde quer que estejam. Onde quer que estejamos, que possamos viver com nossa Mãe. Que ela não seja obrigada a nos deixar, porque ela não pode ficar em nosso ambiente, porque ela não quer aceitar o que fazemos ou o que gostamos.
Esta, penso eu, é a resolução que devemos tomar se quisermos viver com a Virgem Maria. E, consequentemente, satisfazer este desejo que a Igreja manifestou em sua oração: Que tenhamos sempre os olhos voltados para o Céu.
O que a Virgem Maria nos ensinará? Ela nos ensinará a ser santos como ela foi santa, a ser puros como ela foi pura; amar a Deus como ela O amou. E, especialmente, amar seu Filho Jesus Cristo acima de tudo. E nos ensinar que não há outro Deus senão nosso Senhor Jesus Cristo, em quem habitam o Pai e o Espírito Santo.
Eis, sobretudo, a grande lição que nos foi dada pela Santíssima Virgem Maria. E esta lição é muito importante hoje, porque Nosso Senhor é colocado de lado. Nosso Senhor é colocado em pé de igualdade com todas as religiões. A Santíssima Virgem Maria não pode suportar isso. É impossível! Para ela, não há nada senão Nosso Senhor Jesus Cristo, seu divino Filho, que é o Caminho, a Verdade e a Vida, que é o caminho para o Céu. Não há outro. Ela veio para dá-Lo ao mundo. Ela foi escolhida para dá-Lo ao mundo, por esta forma, por este caminho.
Peçamos, pois, à Virgem Maria que permaneça, que nos tome pela mão, que nos conduza, que seja verdadeiramente nossa Mãe nesta vida terrena, para que um dia, como diz a oração, possamos também partilhar a sua glória no céu.
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amem
Notas
(1) Oração da Missa da Assunção. Literalmente: “cuidado com as coisas do alto”