SOBRE A CADEIRA DE MOISÉS SENTARAM-SE OS ESCRIBAS E OS FARISEUS – PARTE 2/3

jesus discute com fariseus | Fé Católica de Sempre

Fonte: Sì Sì No No – 30 de novembro de 2020 | Tradução: Dominus Est

As sete maldições de Jesus contra o farisaísmo (versículos 13-29)

Com o versículo 13 começa a série de maldições ou “Ai de vós”, dirigidas diretamente contra os fariseus, que Jesus repete por sete vezes, até o versículo 29.

Primeiro “Ai de vós”: Não entrais e não deixais que outros entrem no céu

Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que fechais o Reino dos Céus aos homens, pois nem vós entrais nem deixais que entrem os que estão para entrar” (v. 13).

O Aquinate observa: “Só se fecha o que está aberto. Ora, os ensinamentos de Cristo eram abertos e claríssimos, mas os fariseus os fecharam, tornando-os sombrios e difíceis. Por exemplo, quando o Redentor realizava milagres que provavam sua messianidade, eles diziam que Ele os realizava por meio de Belzebu, o príncipe dos demônios. Além disso, pela sua vida ruim, fecharam o acesso ao Céu, porque através do mau exemplo induziam o povo, simples fiéis, ao pecado” (Santo Tomás de Aquino, Comentário ao Evangelho segundo Mateus, n.º 1858).

São João Crisóstomo observa: “Os fariseus e os escribas não apenas se esquivam de seus deveres, mas, pior ainda, corrompem também os outros. Tais homens são chamados de pestilentos porque seu propósito é a perdição dos homens e são diametralmente opostos aos verdadeiros e bons mestres, que ensinam para salvar os outros. Eles são inúteis e incapazes de salvar os homens, pois não são apenas negligentes nisso, mas também traidores, pois corrompem e pervertem seus discípulos com o exemplo de sua vida perversa” (Comentário ao Evangelho de São Mateus, Discurso LXXIII, n.º 1).

Os fariseus com suas calúnias, suas blasfêmias e as falsas ideias que espalharam sobre o Messias, conquistador terrestre e libertador dos judeus do jugo romano, haviam distanciado o povo de Jesus (cf. M. SALES, Comentário ao Evangelho segundo Mateus).

O Evangelho de Mateus é confirmado por São Paulo

Deve-se notar que São Paulo (1Tes 2, 15-16) afirmava: “(desses judeus) que mataram o Senhor Jesus e os profetas, que nos tem perseguido a Nós, não agradam a Deus e são inimigos de todos os homens, proibindo-nos de pregar aos gentios para que sejam salvos. Assim vão sempre enchendo a medida dos seus pecados. Mas a ira de Deus caiu sobre eles com todo o rigor”.

Santo Tomás de Aquino comenta:

Não importa se foram os romanos que mataram-No materialmente, porque foram os próprios judeus que com seus gritos pediram a Pilatos para crucificarem-No. […] Portanto, eles não agradam a Deus porque não trabalham com uma fé reta e “sem a fé é impossível agradar a Deus” (Heb. 11, 6). Por fim, São Paulo mostra que os judeus “são inimigos de todos os homens”. Na verdade, eles são inimigos porque nos proíbem e impedem que nós, apóstolos do Novo Testamento, possamos pregar a todos os homens e, assim, dificultam sua conversão. […] Assim, eles vivem até chegarem ao ponto em que Deus lhes permite. Na verdade, depois da Paixão de Cristo, Deus concedeu aos judeus um espaço de 40 anos de penitência, mas eles não apenas não se converteram, mas acrescentaram mais pecados aos já existentes. E Deus não tolerou mais isso. […] Todavia, não pense que esta ira divina durará 100 anos, mas durará “até o fim” do mundo, quando todos os pagãos tiverem abraçado a fé em Cristo” (Thomas Aquinatis, Expositio et lectura super Epistolas Pauli Apostoli. Super Primam Epistolam ad Thessalonicenses Lectura, Lectio II, caput 2, versículos 15-16).

Settimio Cipriani comenta:

Observe o quadro sombrio que São Paulo pinta de seus compatriotas violentos e assassinos. Ele retrata maravilhosamente o espírito racista que até hoje não se extinguiu. No entanto, a ira de Deus atingiu seu ápice e não tardará a explodir. Na verdade, a Primeira Epístola aos Tessalonicenses foi escrita por volta de 50 d. C. e a destruição de Jerusalém teria ocorrido depois de 20 anos, nos anos 70. Mas a condenação da nação israelita não exclui a salvação dos judeus individualmente, crentes no Evangelho (cf. Rom 9, 11)” (S. CIPRIANI, Le Lettere di San Paolo, Cittadella Editrice, 5ª edição, 1965, p. 68, notas 14-16).

Finalmente, o Padre Marco Sales escreve:

“A pérfida conduta dos judeus [na Tessalônica] traz à mente de São Paulo os grandes crimes e, portanto, torna seu dever lembrar-se deles. Mataram o Senhor Jesus: os romanos não foram mais que instrumentos débeis nas mãos dos judeus, sobre os quais recai a principal responsabilidade pela morte de Jesus. E os profetas: o Senhor também culpou os judeus por este crime (cf. Mt 23, 3-37; Atos, 7, 52). Eles nos perseguiram: Apóstolos de Jesus Cristo, levantando obstáculos por toda parte para que não pudéssemos pregar. Eles nos expulsaram: isto é, eles nos expulsaram pela perseguição nos lugares onde íamos pregar. Manchados de tantos crimes, os judeus já não são mais o povo eleito e deixaram de agradar a Deus. São inimigos de todos os homens: porque gostariam que todos, exceto eles, fossem excluídos da salvação messiânica, e por isso odeiam os outros e por sua vez são odiados. Proibindo-nos: eles mostram seu ódio contra todos, opondo-se por todos os meios à nossa pregação do Evangelho aos pagãos. Acumulando, etc: agindo dessa maneira, eles vêm adicionar culpa à culpa, e acumulá-las cada vez mais à medida de seus pecados, isto é, sua maldade, e atrair a ira de Deus. As palavras para que sejam salvos: indicam o desfecho feliz que deve conseguir aquela pregação, que os judeus tentam impedir. Para acumular: comportando-se desta forma, os judeus vêm adicionar culpa à culpa, e acumular cada vez mais a medida de seus pecados, isto é, de sua malícia, e atrair a ira de Deus.

Por fim, São Paulo acrescenta que a ira de Deus lhes sobreveio: ele anuncia como acontecido o que certamente acontecerá, referindo-se como os profetas, ao tempo vindouro. Até o fim: a ira de Deus contra os judeus atingiu o seu limite, o castigo está prestes a começar. A maioria dos comentaristas acredita que São Paulo fala profeticamente aqui da destruição de Jerusalém por Tito em 70. Outros autores, entretanto, pensam que São Paulo trata apenas do endurecimento e obstinação dos judeus, através da qual foram excluídos como um povo do Reino messiânico e da Nova Aliança, para serem readmitidos quando a plenitude dos gentios tiver chegado (cf. Rom. 11, 25 “e então todo o Israel será salvo.”) (M. SALES, Le Lettere degli Apostoli, Proceno di Viterbo, Effedieffe, II ed., 2016, p. 423, notas 15-16).

Hipocrisia farisaica

Voltando ao Evangelho de São Mateus (23, 1-39), o vício que ali é principalmente censurado por Jesus, e que caracteriza mais do que todos os fariseus, é a hipocrisia, tanto que, genericamente, o termo “fariseu” tornou-se sinônimo de hipocrisia.

Aqui fica claro que os escribas e fariseus – com seu modo de vida relaxado, maus exemplos na vida prática acompanhados de seus rigorosos ensinos teóricos – não apenas distanciaram os fiéis do Messias Jesus de Nazaré e, portanto, de Deus, mas também impossibilitavam os fiéis a observarem a Lei, acrescentando-lhe todo tipo de preceitos humanos muito duros e dificilmente praticáveis. Portanto, no farisaísmo do tempo de Jesus, encontramos um duplo problema de rigor doutrinário e frouxidão prática.

Segundo “Ai de vós”: proselitismo ruinoso

O segundo “Ai de vós” nos versículos 14-15 diz: “Ai de vocês, escribas e fariseus hipócritas, que rodeais o mar e por terra para fazerdes um prosélito e, depois de o terdes feito, o tornais filho da geena duas vezes pior que vós”. Em suma, no Antigo Testamento os fariseus eram animados por um notável espírito de proselitismo, ao contrário do judaísmo pós-bíblico, que se dirige apenas aos judeus de sangue. Por isso os fariseus da época de Jesus (antes do Deicídio e da destruição do Templo) desejavam fortemente converter os pagãos ou não judeus à religião judaica do Antigo Testamento (cf. G. RICCIOTTI, Storia d’Israele, Torino, SEI, 1932, II vol., pp. 231-237). Eles, como diz o Evangelho, “rodeavam por mar e por terra”, ou seja, faziam longas viagens da Palestina através dos países dos gentios com o objetivo de pregar a religião judaica ou mosaica no mundo pagão e converter os pagãos ao Judaísmo do Antigo Testamento.

Santo Tomás explica: “Quando vós, escribas e fariseus, fazeis dele um judeu, tornaste-o duas vezes mais filho da Geena do que vós, pois primeiro ele é pagão e depois judeu, e depois tem ainda um duplo pecado, isto é, politeísmo pagão e participação na morte de Cristo” (Comentário ao Evangelho segundo Mateus, n.º 1861).

Terceiro “Ai de vós”: os juramentos envolvidos

A terceira maldição que Jesus lança contra os fariseus diz respeito ao problema dos votos acompanhados de um juramento. Com efeito, o Redentor proclama: “Ai de vós, condutores cegos, que dizeis: Se alguém jurar pelo Templo, isso não é nada; mas o que jurar pelo ouro do Templo, fica obrigado. […] E dizeis: Se alguém jurar pelo altar, isso não é nada, mas se alguém jurar pela oferenda [o animal que será sacrificado] que está sobre ele, fica obrigado” (v. 16 e 18).

Em suma, os rabinos – para dispensar do voto aqueles que o haviam feito imprudentemente – recorriam a toda sorte de peculiaridades e sutilezas mais ou menos hipócritas. Por exemplo, argumentavam que jurar pelo Templo, pelo altar do Templo ou pelo Céu não era obrigatório; enquanto era certamente obrigatório jurar pelo ouro do Templo ou pelas ofertas dos animais a serem sacrificados que eram feitas nele e a favor dele e com os quais eles poderiam contar como seus e lucrar, tirando do ouro ou comendo os restos de os animais sacrificados. Ora, esta distinção deixava claro que eles queriam ensinar aos fiéis um respeito “sagrado” pelas riquezas materiais (em preciosidades ou animais) guardadas no Templo, das quais os fariseus então tiravam abundantemente e que, portanto, queriam aumentar. Daí a hipocrisia e a avareza que Jesus os acusava, pois consideravam as sagradas ofertas como bens preciosos, mas não tão sagradas o Templo, o altar, o Céu. De fato, eles não podiam ganhar com o Templo e com o Céu, mas podiam tirar do tesouro que estava no Templo.

Aos sofismas desse último, o Redentor responde: “Estultos e cegos! Qual é mais: o ouro ou o Templo, que santifica o ouro? […] Cegos! Qual é mais: a oferta ou o altar que santifica a oferta?” (v. 17 e 19).

Por fim, Jesus afirma: “Aquele, pois, que jura pelo altar, jura por ele e por tudo o que está sobre ele e o que jura pelo templo, jura por ele e por Aquele que habita nele, e o que jura pelo céu, jura pelo trono de Deus e por Aquele que está sentado sobre ele” (vv. 20-22).

A doutrina ensinada pelos fariseus baseava-se na pouca importância que davam aos juramentos feitos às criaturas; enquanto, segundo eles, apenas os juramentos feitos a Deus eram obrigatórios. Na verdade, eles muitas vezes juravam pelo Templo, pelo altar do Templo, pelo Céu, por Jerusalém, sem se sentirem obrigados pelo juramento. Em seguida, eles explicavam que, se a criatura sobre a qual se jura não está diretamente e imediatamente relativa a Deus, o juramento feito sobre ela não os obrigava. Portanto, como no Templo havia muitas coisas que não estavam em relação imediata e direta com Deus, podia-se jurar sobre isso sem ser obrigado a guardar o juramento.

Todavia, Jesus se opôs a eles: como se poderia então afirmar que, em vez disso, obriga o juramento feito sobre o ouro do Templo e sobre as ofertas feitas no Templo? Este é o problema e a chocante contradição da doutrina e prática farisaica/rabínica. De fato, o ouro do Templo e as ofertas feitas e depositadas nele são sagrados apenas na medida em que pertencem ao Templo e não em si mesmas. O ouro e ofertas de bens preciosos não são coisas sagradas, mas profanas. Infelizmente, eram do interesse dos fariseus precisamente devido ao seu valor material intrínseco e não pela sua relação com Deus. Por conseguinte, o Salvador concluiu, se obriga o juramento feito por estas ofertas que se encontram no Templo, deveria ainda obrigar a um juramento feito para ou pelo próprio Templo. Além disso, o juramento feito pelo Céu, que é o trono de Deus, também deveria obrigá-lo.

O Aquinate explica: “É sabido que o que se encontra no Templo é sagrado em razão do Templo, por isso quem rouba no Templo, ou seja, num local sagrado, comete um sacrilégio. Portanto, é mais grave jurar pelo Templo do que pelo ouro. […] O Templo contém ouro e não vice-versa, da mesma forma o altar contém a oferta de sacrifício e não vice-versa. Portanto, quem jurar pelo Templo jura pelo ouro encontrado no Templo e quem jurar pelo altar jura pela oferta dele. Assim, quem jura pelo Templo ou pelo altar jura por Deus, visto que jura pelo Templo ou pelo altar como santificado e santificador, isto é, em relação à Divindade” (Comentário ao Evangelho de Mateus, n.º 1865 e 1867).

São Jerônimo comenta: “Aqui está condenada a avareza dos fariseus, que tudo fazem por proveito. De fato, ao ampliar as filatérias e multiplicar as franjas, eles adquiriram certa reputação entre o povo, que acreditava em sua máscara de santidade. Fazendo isso, os fariseus ganhavam pela estima que tinham entre os fiéis” (Comentário a Mateus, XXIII, 15, livro IV).

No versículo 23 há o quarto “Ai de vós”, mas veremos isso na última parte deste artigo.

(Continua…)