A AÇÃO DE GRAÇAS DEPOIS DA COMUNHÃO

Jesus fala apenas com aqueles que O ouvem. Não negligenciemos o dever de ação de graças. Que frutos podem dar comunhões feitas com tanto descuido?

Fonte: Le Seigndou – Tradução: Dominus Est

Este artigo é inspirado nas notas de direção espiritual do Pe. Garrigou-Lagrange, A Vida espiritual, de setembro de 1935: As Comunhões sem ação de graças.

Se há um dom que exige uma ação de graças especial, é a instituição da Eucaristia e a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo à nossa alma a fim de nela habitar, de a tomar posse e a conduzir ao paraíso. Recebemos, neste sacramento, o próprio Autor da salvação e um crescimento na vida da graça, que é a semente da glória, ou o princípio da vida eterna; recebemos uma elevação na caridade, a mais alta das virtudes, que vivifica e anima todas as outras. É, certamente, o maior dom que podemos receber.

Então, quão dolorosa é, para Nosso Senhor Jesus Cristo, a ingratidão daqueles que não sabem conversar com Ele e agradecer-Lhe por Sua vinda depois da Comunhão! Nosso Senhor já havia expressado Sua surpresa quando apenas um dos dez leprosos curados veio agradecer-Lhe. Quão indignado Ele fica diante de todas aquelas almas que não Lhe prestam a devida atenção e não Lhe agradecem quando as enche com Sua presença divina!

Os fiéis que deixam a igreja quase imediatamente após a comunhão, então, esquecem que a Presença Real permanece neles, bem como as espécies sacramentais, durante cerca de um quarto de hora após a comunhão, e não podem fazer companhia à Hóstia Divina durante este curto período de tempo? Como podem não compreender sua irreverência? Nosso Senhor nos chama, Ele se entrega a nós com tanto amor, e nós, não temos nada a Lhe dizer e não queremos ouvi-lo por alguns instantes.

Para mostrar a necessidade da ação de graças, diz-se que São Filipe de Neri teve dois acólitos ceroferários que acompanharam uma senhora que deixou a igreja imediatamente após o fim da missa durante a qual ela tinha comungado. Quantas vezes se contou esta lição tão merecida, que muitas vezes deu frutos!

Então, por que não retomar a resolução de não faltar mais a ação de graças? Caso contrário, pode haver muitas comunhões e poucos verdadeiros comungantes.

Os santos, em particular Santa Teresa de Ávila, como Bossuet gostava de recordar, disseram-nos muitas vezes que a ação de graças sacramental era para nós o momento mais precioso da vida espiritual. A essência do Sacrifício da Missa está de fato na dupla consagração, mas é pela comunhão que nós mesmos participamos desse sacrifício de valor infinito.

Deve haver, neste momento, um contato da alma santa de Jesus, pessoalmente unida ao Verbo, com a nossa, uma união íntima de Sua inteligência humana iluminada pela luz da glória com nossa inteligência muitas vezes obscurecida, esquecida de nossos grandes deveres, obtusa em relação às coisas divinas. Deve haver também uma união não menos profunda da vontade humana de Cristo, imutavelmente fixada no bem, com nossa vontade vacilante e, finalmente, uma união de Sua sensibilidade, tão pura, com a nossa, por vezes tão conturbada. E na sensibilidade do Salvador, as duas virtudes da força e da virgindade fortalecem e virginizam as almas que d’Ele se aproximam.

Mas Jesus fala apenas àqueles que O ouvem. Portanto, não negligenciemos o dever de ação de graças, como muitas vezes acontece hoje. Que frutos podem dar comunhões feitas com tanto descuido?

A negligência tão frequente na ação de graças depois da Comunhão deriva de nossa ignorância do dom de Deus: Si scires donum Dei! 

Peçamos a Nosso Senhor, humilde mas ardentemente, a graça de um grande espírito de fé, que nos permitirá perceber um pouco melhor, a cada dia, o preço da Eucaristia. Peçamos a graça da contemplação sobrenatural deste mistério de fé, princípio de uma fervorosa ação de graças, na medida em que se tem mais consciência da grandeza do dom recebido.

Que a Santíssima Virgem Maria, Medianeira de todas as graças, nos conceda, finalmente, tornar-nos filhos cheios de gratidão pela encarnação de seu Filho em nossas almas através da Santíssima Eucaristia.

Pe. Gonzague Peignot, FSSPX