ASSIS, FRUTO DO IMPÉRIO MAÇOM

Conferências de Dom Lefebvre em Barcelona e Madri – Outubro de 1986 

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Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Ao longo de duas conferências, feitas em Barcelona e Madri na época em que ocorria a primeira reunião de Assis, Dom Lefebvre refez o caminho aberto e seguido pelo liberalismo até a subordinação da Igreja às exigências da Maçonaria.

O liberalismo é um pecado

Não somente o liberalismo é um pecado grave que atinge a honra de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas também uma religião. Morremos do liberalismo e de suas consequências. Já faz dois séculos que ele tem se difundido por toda parte, em nossas escolas, em nossas sociedades. É um veneno que destrói os mandamentos de Deus, tudo o que gera a beleza e a grandeza da civilização cristã.

É bom delimitá-lo, como o fez Leão XIII sobre a Maçonaria, em sua encíclica Humanum genus:

“É preciso arrancar-lhes sua máscara e mostrá-los tais como são, para que os evitemos e evitemos seus erros”.

Acredito que o liberalismo é um fruto da Maçonaria e que ele deve ser desmascarado de modo que compreendam todos os seus perigos.

O liberalismo tem sua deusa: é a liberdade. Na época da Revolução francesa, adorou-se a deusa Razão na catedral Notre-Dame de Paris, ou seja, a liberdade, a liberdade do Homem, esta liberdade que tem sua estátua na entrada de Nova Iorque, que se festejou de um modo inacreditável há pouco tempo. O Homem é livre, enfim ele está liberto de toda lei e, em particular, da lei de Deus. A liberdade é a deusa da religião do liberalismo.

O liberalismo tem seu sacerdócio, na pessoa dos maçons, sacerdócio secreto, organizado, extremamente eficaz. Existem milhares e milhares de maçons. Somente a seita exclusivamente judia dos B’nai B’rith, que recebe tratamento diferenciado em Roma de modo muito frequente e que estava presente na reunião de Assis, conta com cento e cinquenta mil membros no mundo. O Grande Oriente também está espalhado por toda parte.

O liberalismo tem seus dogmas: são as constituições dos direitos do homem. Esses direitos do liberalismo – os papas no-lo ensinaram – são os instrumentos inventados pela Maçonaria contra Deus, para libertar o homem de Deus. Agora o homem é livre para pecar, para desobedecer a Deus… Liberdade, liberdade de imprensa… São estas liberdades inscritas nos direitos humanos, que foram condenadas pelos papas durante um século e meio.

O liberalismo tem sua moral, que é simplesmente a imoralidade: nenhum cabresto à liberdade. Faz vinte anos que conseguiram introduzir em quase todas as legislações dos Estados todos os princípios que vão ao encontro da moral católica, como o aborto, a união livre – a concubinagem sendo administrativamente favorecida.

O liberalismo tem sua política: a da democracia, a democracia numérica. É o povo quem – supostamente – manda. Mas, de fato, trata-se de melhor escravizá-lo, dominá-lo, despojá-lo em proveito de um Estado onipotente, de um socialismo totalitário que, pouco a pouco, arruína o direito de propriedade, que faz o cidadão trabalhar durante um terço do ano para o Estado. Os cidadãos se tornam praticamente escravos do Estado totalitário. Eis a política do Liberalismo, suposta liberdade.

O liberalismo tem seu ensino: ele pretende que ele seja ateu, laico e único para toda a nação. Na França, não foram os bispos que defenderam a liberdade de ensino, foram as famílias. Se não tivesse havido dois milhões de pessoas que foram a Paris para impedir a aprovação da lei socialista sobre o ensino, hoje haveria, na França, um ensino único, e o ensino privado teria desaparecido.

O liberalismo tem sua economia, dirigida pelos grupos financeiros internacionais. Na medida em que os Estados aplicam a moral liberal, a economia liberal, o ensino liberal, as leis liberais, ainda que eles contraiam dívidas gigantescas, eles são sustentados pelo Fundo Monetário Internacional.

Por outro lado, o general Pinochet, um católico que quer defender a ordem em seu país, tenta-se por todos os meios derrubá-lo e arruinar o Chile. Da mesma forma todos os meios são empregados para desestabilizar a África do Sul.

O próprio Vaticano não escapa disso: ele foi arruinado pela finança internacional. Na época do cardeal Villot e – infelizmente – sob a proteção de João XXIII e graças à sua ingenuidade, os maçons penetraram nas finanças pontifícias por meio de Dom Marcinkus, do Banco Ambrosiano e da famosa Logia P 2. Eles aconselharam a transferência dos ativos do Vaticano para o Canadá. Um instituto bancário foi criado com esse dinheiro. Mas ele não tardou a falir e a fortuna do Vaticano desapareceu. O cardeal Villot não escondeu isso: “Falimos. Perdemos tudo. Fomos obrigados a dispensar alguns funcionários e a diminuir os salários”. O Vaticano se encontra financeiramente à beira da ruína.

Evidentemente, os maçons se apressaram e a finança internacional interveio.

“Não se preocupem, estamos aqui. Se precisarem de dinheiro, ei-lo, tanto quanto quiserem. Ampararemos vocês”.

Ainda que o Vaticano constante publicamente o péssimo estado de suas finanças, esse apoio explica as pressões que podem ser exercidas sobre Roma para a nomeação dos bispos, ou deste ou daquele cardeal, e, depois, para impor tudo o que o Papa faz. Ele está praticamente agora a serviço do liberalismo maçônico. Precisamos dizer as coisas como elas são.

Assis: a super-religião

Acabamos de ver isso ao longo da cerimônia de Assis, que nada mais é do que a finalidade que os maçons fixaram pela liberdade religiosa: a instauração de uma super-religião. Ora, a maçonaria liberal também tem seus mitos: super-religião, super governo mundial, colocar de fato a mão sobre tudo o que tem um pouco de influência no mundo. Passou-se despercebida uma reunião que ilustra essa vontade de uma super-religião e que ocorreu em 27 de setembro também em Assis. Ela fora dirigida pelo príncipe Philippe de Edimburgo, o marido da rainha Elisabete. Foi algo abominável, bem pior do que ocorreu ontem. Isso se passou no meio da basílica de São Francisco, com a participação das cinco grandes religiões, reunidas sob a égide de um maçon, com a autorização de Roma… para a proteção da natureza! Os jornais italianos não erraram ao intitular:

“A super-religião presidida pelo príncipe Philippe de Edimburgo”.

O superior geral dos franciscanos, o padre Franco Zerini estava assistindo a essa cerimônia, que ele qualificou de “harmonia ecológica da humanidade”. Cada uma das religiões renunciava finalmente aos seus dogmas, à sua doutrina, à pretensão de que um homem que viveu há dois mil anos seja ele próprio a Via, a Verdade e a Vida. Escândalo! Blasfêmia! Acabou “a pretensão” de Nosso Senhor Jesus Cristo ser a Via, a Verdade e a Vida. Isso é passado!

Como não ver uma relação entre essa “cerimônia” – muito mais escandalosa, certamente – e a reunião de ontem? Sua confusão é idêntia. Ambas constituem etapas rumo à super-religião, querida pela Maçonaria, realizada pelo Vaticano. Isso parece de tal modo assustador que não se pode acreditar que tal “cerimônia” tenha sido autorizada por Roma. Há, infelizmente, um pequeno fato que demonstra que isso é, contudo, tristemente certo. O padre Franco pediu autorização a Roma para a realização de uma dança hindu diante do altar de São Francisco na basílica. O Vaticano hesitou por um momento, depois concordou, e a dançarina pronunciou um hino ao sol. Um hino ao sol, pagão, por uma dançarina hindu… enquanto se mantém em mente o magnífico Cântico do sol de São Francisco, tão belo, tão elevado, tão sobrenatural. É um verdadeiro sacrilégio!

Em seguida Monsenhor recordou o papel desempenhado pelo cardeal Bea à solicitação do B’nai B’rith, que recebeu sua medalha de ouro em reconhecimento pela inserção e a aprovação que ele obtivera da liberdade religiosa que eles exigiam nos textos conciliares.

Pela liberdade religiosa veio o ecumenismo e, por ele, todas as reformas que se produziram na Igreja, as mudanças litúrgicas, a introdução da colegialidade para agradar aos protestantes e o espírito democrático de nossa época. Tudo veio dessa aceitação da liberdade religiosa e dos princípios do mundo moderno. Isso está claro, e se não tivermos isso em mente, não poderemos entender o que se passou nos bastidores do Concílio, nem o que se passa hoje nos do Vaticano. Como disse Leão XIII na Humanum genus, o propósito da Maçonaria é destruir todas as instituições cristãs, tudo o que o cristianismo produziu na sociedade, a família, a escola, a justiça e a paz cristã. É preciso suprimir tudo isso. Este é o propósito do demônio: Non serviam. Não servirei. Não quero obedecer à lei do Bom Deus. Quero a liberdade.

Nosso Senhor veio à terra para instituir A religião. Há apenas uma religião. Aqueles que não tiverem se convertido a ela não poderão entrar no Céu.

Nosso Senhor disse aos seus Apóstolos: “Ide e ensinais a todas as nações”. Ele não disse: “Deixem os budistas tranquilos, os muçulmanos, os pagãos tranquilos”. Cada um deles tem sua religião. Não se deve incomodá-los.

Os missionários partiram, eles foram mortos, eles derramaram seu sangue, eles foram mártires. Agora, depois da reunião de Assis, como sermos missionários? Por que partir para a África? Por que partir para as Índias? Por que partir para a China para convertê-los, visto que todas as religiões também são um meio de salvação? Por que perturbar as pessoas que estão em outra religião? O ecumenismo é o fim das missões, do espírito missionário. É extremamente grave. A Igreja é essencialmente missionária. “Euntes, ite, docete – Ide e ensinai”. É uma mudança radical, abominável. Não é de se admirar que não haja mais vocações missionárias, vocações sacerdotais.

Façamos nossa a divisa da Bretanha: “Potius mori quam foedari – Antes morrer que trair”.

Preferimos morrer que trair nossa vocação, trair Nosso Senhor Jesus Cristo. Da minha parte, não tenho opiniões pessoais, tenho apenas a opinião da Igreja. Sempre disse aos meus seminaristas, não digam: sou um discípulo de Dom Lefebvre. Não. Sou o discípulo da Igreja, da Tradição da Igreja, de vinte séculos de Igreja.

Não, não estou sozinho, pois tenho vinte séculos de Igreja comigo. Sou o eco de milhões e bilhões de bispos, fiéis e de todos os séculos da Igreja passada, para continuar a Igreja. São eles que abandonam a fé da Igreja, que traem a igreja. No lugar de destruir a Igreja, tenho passado minha vida em construir a Igreja.

† Dom Marcel Lefebvre