O texto a seguir é a transcrição adaptada e completada de uma conferência pronunciada a um grupo de rapazes católicos, na Capela Nossa Senhora da Conceição, em janeiro de 2012. Foi mantido o estilo coloquial.
Introdução
O meu propósito nesta conferência é tratar um problema muito sério que ocorre na vida de todos, de todas as famílias, de todos os casais. Vocês bem sabem, e não vou entrar neste detalhe, que a sociedade moderna não ataca apenas a religião e a fé, mas perverte também a natureza das coisas. No comportamento dos homens também existem distorções graves, fruto desses duzentos anos de liberalismo e dos quinhentos anos de espírito revolucionário. As transformações foram se fixando e atingiram aspectos essenciais da vida social. Assim, a tese que quero apresentar para vocês é a seguinte: “vocês não são homens”.
Por que posso dizer isso? Porque a atitude geral dos homens casados não é mais uma atitude de homem. E se assim ocorre, se a maioria dos jovens casados ingressa na vida familiar sem uma atitude de homem, é porque não estão sendo formados como homens. Apesar de freqüentarem a Capela, de serem católicos e estudarem o catecismo, vocês respiram esse ambiente cultural decadente. Por isso, preciso alertá-los antes, para que saibam agir como homens agora. Será que as mulheres os aceitarão, quando perceberem que vocês recuperaram a condição e as atitudes próprias dos homens? Talvez não. Será preciso, por outro lado, formar as mulheres, o que é outra tarefa necessária na reeducação da sociedade católica.
O problema não é saber se são homens por terem vida masculina, por usarem calças compridas e agirem exteriormente como homens. Não é a voz grossa ou a força física que falta na nossa sociedade. Eu diria mesmo que quanto menor a atitude essencialmente masculina, mais o homem engrossa a voz e ameaça com os punhos, para tentar impor-se pelo temor. Trata-se de saber o que é ser homem, o que isso significa. O mundo perdeu essa noção, e vocês a perderam juntos.
Paralelamente, o mundo levou a mulher a ocupar o lugar dos homens, a ocupar o vazio deixado pelo homem nos estudos, no trabalho, na prática da autoridade; e isso altera os fundamentos da sociedade.
Há, portanto, um movimento duplo e simultâneo, no qual as atitudes de chefia, de autoridade, de força moral e de referencial da sociedade bascularam do lado masculino para o lado feminino. Elas assumiram esse papel sem que vocês se dessem conta; ou melhor, insensivelmente, os homens deixaram para elas o papel de comando da sociedade.
Não discuto, de modo algum, a maior ou menor capacidade das mulheres de exercerem a chefia e a autoridade. Estou pronto para reconhecer a grandeza delas. O que me ocupa aqui é um problema de ordem superior, espiritual, causado por uma deficiência da natureza humana, tal como foi criada por Deus, e das conseqüências desastrosas que ela tem causado na vida da sociedade.
A Casa
Tudo começa dentro de casa: é onde recebemos educação. E aqui acontece a primeira deficiência: a falta ou a recusa de educação.
Gostaria de deixar claro que não podemos considerar como educação o mesmo que é pregado pelos governantes atuais. Segundo eles, o que falta ao Brasil é educação. Para remediar, pretendem investir em maior número de escolas, ou de vagas universitárias, como se escolaridade desse ao homem a verdadeira educação. De que adianta dar um diploma a todos, se nas escolas e nas famílias já não se transmite o caráter reto? Nem sempre os povos sem escolaridade foram povos mal educados. Hoje, ao contrário, quando a escolaridade se espalhou e universalizou, o que mais se encontra pelo mundo é a falta de caráter e de virtudes.
Nosso propósito é analisar a ausência de virtudes na educação moral dispensada pelos pais e pelas escolas.
Ora, dentro do conceito de educação, deveríamos pensar em obediência – é a primeira virtude que nos é exigida na vida. Deveríamos todos aprender a obedecer desde o berço, mas crescemos sem conhecer essa virtude, porque os pais não sabem se impor. A televisão, a internet, os jornais dizem aos pais que eles têm de dar liberdade à criança, não podem castigar, não podem repreender. Com isso, a criança não sabe obedecer, porque os pais não sabem mandar. Como tudo na vida moderna, é pelo lado subjetivo que se encara o exercício da educação, e ficam com pena, não podem dar uma palmada simples, que serviria perfeitamente como linguagem muito bem conhecida de uma criança que não despertou ainda para as ideias universais. Quando a desobediência e a arrogância dos filhos mal educados começar a ficar mais grave, aí os pais exercerão sua autoridade de modo excessivo e bruto, porque foram guardando a raiva, sempre subjetiva, até que não agüentam mais e explodem com violência.
Deveríamos pensar também na virtude da justiça: ela nos ensina a dar a cada um segundo os seus méritos e segundo a sua qualidade. Dentro de casa é que se aprende a verdadeira justiça. E o primeiro ato de justiça é dar aos pais a submissão que lhes é devida; dar a si mesmo a condição de subordinado, de filho, condição igualmente devida às crianças. Hoje, dentro de casa, ela já não existe, porque cada um morde o seu pedaço, cada um quer a sua parte, e todos vivem do egoísmo. O mundo moderno, individualista e subjetivista, produz o egoísmo, e por isso ele vai querer ensinar a justiça no comunismo, que é o regime do inferno levado à vida social. É aí, na política esquerdista, fomentadora das maiores injustiças que o mundo já conheceu, que se ouve falar de justiça, mas de uma noção deturpada, porque dentro de casa já não se ensina mais. Os próprios pais se consideram em igualdade em relação aos filhos, a quem atribuem pseudo-direitos e mínimos deveres.
Outra virtude que será demolida pela sociedade atual é a amizade. Também ela é uma virtude. Eis outra coisa que o mundo moderno tira da alma. Ora, a amizade se produz no convívio dentro de casa, sobretudo entre irmãos. Uma casa onde as crianças devem conviver com seus irmãos, devem partilhar de seus bens, devem aprender a generosidade para com o próximo, é uma fonte de amizade verdadeira, que será um dia aplicada ao próximo.
A vida familiar, na convivência entre um grupo de irmãos, também produz atritos. É preciso aprender a lidar com os atritos. Mais tarde, a sociedade e até mesmo o mercado de trabalho será cruel com quem não souber suportar o próximo. As pessoas, em casa, não sabem mais suportar os atritos. Fecham-se em seu amor-próprio, na desobediência, nas injustiças e não conseguem mais um mínimo de paz. Os filhos que aprendem a obediência, a justiça, a amizade, aprendem também a suportar as ordens mais pesadas e os defeitos dos seus irmãos.
Outra virtude que se deveria aprender em casa é a ordem, a boa ordenação das coisas, a hierarquia e o respeito. Mas isso já é sabido: desde os anos 60 que os filhos se colocam no mesmo nível dos pais, numa guerra insana contra seu próprio lar. O que vemos, nos dias de hoje, é a criança dar ordens aos pais, e estes os servirem como se fossem seus empregados. Tiram dos filhos a capacidade de reagir diante das situações da vida, tolhem as iniciativas humanas, a começar pelo copo d’água que se apressam em buscar quando a criança grita, deitada num sofá: — Mãe, traz água!!!! São raras as famílias em que os pais ensinam a seus filhos o espírito de sacrifício.
Há certos ritos naturais na vida da casa, que também se devem ensinar às crianças: saber se levantar quando uma visita chega; saber comer à mesa com a família reunida, e não vendo televisão; os meninos não irem à mesa sem camisa, as meninas não usarem roupas indecentes, etc. Tudo isso são coisas muito importantes na formação do caráter.
Desapareceram também, na casa, a oração e a piedade. É dentro de casa, pequenino, que se aprende a rezar. E quando não se aprende pequenino a rezar, não se aprende mais. Por uma graça, alguém, muito mais velho, é sacudido por Deus e se converte. Conseguirá perseverar? Claro que existem casos de perseverança na vida católica e na oração, entre convertidos adultos, mas é difícil, tudo fica mais difícil. Se a piedade e a regra da oração não forem ensinadas no berço, é bem mais difícil perseverar. Aqueles que receberam isso desde a pequena infância, agradeçam a Deus; aqueles que não receberam, saibam que não existe verdadeira vida de homem sem piedade. Vocês são católicos, batizados, precisam estar em contato com Deus. Isso influenciará cada uma das etapas de suas vidas.
Piedade não é ir a Missa todo domingo: isso é obrigação estrita de todo católico; piedade é a prática do catolicismo: o homem católico confia em Deus, tem uma relação com Deus. Não basta dizer: “Ah! Eu Creio” – é pouco; “Eu vou à Missa” – é pouco; “Mas é Missa de São Pio V” – ainda é pouco. É preciso mais do que isso. É preciso amar a Deus em tudo, com todas as forças, fazer d’Ele a referência primeira das nossas vidas. E esta referência precisa estar presente em todas as etapas, em todas as idades. Isso se aprende em casa.
A criança é deformada dentro de casa. Não o é por falta de amor dos pais, não é isso. Os pais amam seus filhos, mas amam de um amor errado. O equívoco está em achar que o amor sentimental é o verdadeiro amor que vem do espírito racional. Tudo isso nós podemos colocar como sendo causado pelo sentimento. Vocês não são homens. Por quê? Porque vivem dos sentimentos e não da razão. O demônio é um anjo esperto; ele quer levar todo mundo para o inferno; sabe que é pelos sentimentos que ele pega o homem. É pelos sentimentos que pecamos. O pecado vem pelo sentimento. Quando não se consegue mais dominar os sentimentos pela razão, então o homem deixa de ser homem, age como animal irracional, e cai no pecado.
Com Adão e Eva foi exatamente assim. Foram criados numa situação de natureza íntegra: a razão humana dominava as paixões. Quando Adão e Eva pecaram, a integridade se rompeu, a natureza tornou-se decaída. Nós nascemos, por castigo de Deus, com o pecado original. Duas coisas que estão juntas: a mancha do pecado original e a natureza decaída. O Batismo limpa a mancha, não muda a natureza, que continua decaída.
É por isso que não somos verdadeiramente homens, porque, se definimos o homem como um animal racional, então a razão deveria imperar sobre aquilo que é animal. Porque os animais também têm sentimentos. Todos têm algum tipo de sensibilidade, ainda que seja a menor de todas, que é a sensibilidade física. Sentem fome, sentem necessidades e vão em busca do necessário, movidos pelo instinto. Deus lhes deu o instinto para isso; a nós, não. Para nós, Deus deu a razão. E é pela razão que vamos em busca das nossas necessidades. Também pela razão devemos controlar nossos sentimentos animais para obedecer à Lei do Criador.
Porém, com a natureza decaída, a situação se inverte, e não a dominamos mais. Impera dentro de nós a lei das paixões: “Porque eu não faço o bem que quero, mas o mal que não quero” 1.
E como podemos fazer com que volte a razão a dominar? Pela graça. Só a graça, essa criação de Deus soprada dentro de nós, pode restaurar nossa condição humana. Mas ela é instável, não é algo que se tenha em definitivo, pois somos levados a pecar quando esquecemos de ter em Deus nossa referência principal.
Formar homens significa inverter a tendência da natureza decaída, devolver à razão o reinado sobre os sentimentos, em todas as situações que se apresentarem diante de nós. Somos homens, somos racionais, por isso precisamos aprender a dominar a nós mesmos para, em seguida, dominar as situações da vida que se apresentarem diante de nós.
Escola
Se dentro de casa não aprendemos essas coisas, não é na escola que as iremos aprender. Ao contrário, na escola de hoje, somente reforçaremos a desordem, a inimizade, a injustiça, o egoísmo. A escola de hoje é formadora de vícios, porque não nos dá o que deveríamos receber. Somos forçados ao sentimento. Freqüentemente lemos nos jornais afirmações como esta: “o homem precisa viver de paixão”. Está errado. O homem precisa aprender a dominar suas paixões, orientá-las pela razão. Muitos psicólogos modernos acusam a Igreja de querer uma condenação sumária das paixões, o que teria provocado os distúrbios que se encontram na juventude. Mas isso não é verdade. A Igreja sempre ensinou que as paixões fazem parte da natureza sensível do homem. Em si, elas não são nem boas nem más, seriam neutras se não houvesse sempre uma polarização dos nossos atos entre o bem e o mal. Acontece que a natureza decaída se inclina com facilidade ao mal, movida por paixões desregradas. Se nossa natureza inclinada ao mal não fizer um esforço de elevação espiritual, cairá no pecado, na desobediência, na impureza ou na avareza. Essa é a situação da natureza decaída em Adão e Eva.
Os pais de vocês, quando se converteram, aprenderam algo sobre esse combate espiritual, mas não souberam aplicá-lo na educação dos seus filhos: podem ter tentado ensinar algo disso, mas não tudo. Às vezes dão aos filhos essa compreensão, mas esquecem de ensinar a piedade. Ora, como vocês vão sobreviver sem a piedade? Como vocês vão conseguir a graça, que é o único meio de manter a razão reinando sobre os sentimentos? Vocês sabem o que os pais dizem? “Não dá tempo para ensinar tudo”. Se eu pergunto: “você reza com seus filhos?” — “Não consigo, não dá tempo”. Mas eu pergunto: por que não dá tempo?
Vamos ver que alguns dos problemas que encontramos em casa, também os encontramos na escola.
Mas na escola damos um passo a mais na nossa vida social. Nela aprendemos uma coisa que, infelizmente, em casa já não se aprende. Na escola temos obrigações a cumprir. O ideal é que as crianças tenham suas tarefas e obrigações em casa, mas isso é raro.
Com essas obrigações aprende-se a fazer sacrifícios. Aprende-se a superar suas próprias deficiências e a desenvolver seus talentos: saber lidar com as vitórias e com as derrotas. É na escola que a criança deveria perceber que tem um desafio a realizar, boas notas, bom estudo, bom comportamento. Se ela repetir de ano, sentirá o remorso e o arrependimento, a vontade de melhorar e recuperar o tempo perdido.
A amizade e os atritos serão vividos de um modo novo, na escola. Uma coisa é ter atritos com o irmãozinho, outra coisa bem diferente é não se entender bem com alguém que pode bater em você, ou prejudicar sua estabilidade no convívio com os demais. Na escola a criança deverá aprender a firmar suas amizades com aqueles que merecem. Muitas vezes as amizades são fontes de muitos erros, de negligências e pecados. Toda criança bem educada conseguirá conciliar a alegria e o senso lúdico com a obediência, a honestidade e a pureza.
Qual a finalidade da escola? Qual a finalidade da família? A educação recebida em casa ou na escola deve desenvolver o caráter, a honra, e a Fé. Essas coisas se aprendem e passam a fazer parte da nossa natureza. A criança deve tornar-se um homem que não mente, que preza a honestidade em tudo o que faz, e que procura conviver com os amigos.
Na escola, a finalidade primeira é o estudo. Uma formação complementar à vida em família e que deveria ser subordinada à orientação moral ensinada pelos pais. A escola hoje, na verdade, já não tem mais o papel que deveria ter.
A escola hoje é dominada pelo Estado. Existe uma usurpação, por parte do Estado, do poder de ensinar. A criança tem de ir para a aula, tem de estar na escola. No fundo existe uma intenção de tirar dos pais o dever de criar e educar os filhos. A proibição, no Brasil, do home-schooling é significativa. Na cabeça deles, os pais não podem dar aulas porque o Estado é o responsável. Cuidado! Esse erro vai entrando, vai entrando dentro da gente, e perde-se a noção da verdade. Quem tem a obrigação de educar é a Igreja, na ordem sobrenatural, e são os pais, na ordem natural. Essa é a ordem estabelecida por Deus desde a criação do mundo. A escola é complementar, recebe dos pais delegação para atender seus filhos. O Estado nosso, que se impõe como educador, é comunista, é socialista, e manipula as consciências.
Aprende-se, tanto em casa como na escola, uma certa cultura. Quando falo de cultura, quero dizer aprender a ler. Não me refiro a aprender o alfabeto, a ser alfabetizado; digo aprender a ler, compreender que é através da leitura dos grandes clássicos, da verdadeira literatura, que aprendemos a conhecer a vida, aprendemos, pelo exemplo, o bem e o mal, e também adquirimos a capacidade de bem escrever. Cabe aos pais ter uma biblioteca ou usar uma biblioteca verdadeira para dar aos filhos essa formação de leitura.
Mas isso lhes parece muito chato: por que irão ensinar à criança o gosto da boa leitura, se podem apertar um botão e colocá-la diante de imagens vivas e cativantes da televisão ou de um computador? Então existe um problema aqui também na formação da criança, na formação da cultura. Temos aqui uma questão de cultura, tanto na literatura quanto na música. E temos também uma questão de Fé.
Dirão vocês: escola e Fé? Ora, a obrigação de toda escola deveria ser dar a Deus o verdadeiro culto, que é o culto católico. Temos de receber na escola uma complementação da casa, tanto na parte do convívio, da obediência, amizade, da formação do caráter, como da cultura e da Fé.
Quando eu era criança, estudava num colégio católico de leigos, não eram religiosos. Todo mês de maio, por exemplo, um menino e uma menina eram escolhidos para serem “Guardiães de Nossa Senhora”. A cada semana novas crianças eram escolhidas; uma coisa aparentemente boba, mas era a maior honra que podíamos ter no colégio. Quando a educação é feita com Fé, os pequenos ritos e gestos têm uma importância enorme, nunca mais se esquece. Meus antigos colegas de Primário, mesmo os que não guardaram a Fé, lembram-se ainda hoje: “Gostávamos de ser Guardiães de Nossa Senhora”. Cabe à escola nos dar algo da verdadeira Fé, do estudo sério e da formação complementar do caráter.
Os pais precisam ter conhecimento da escola em que matricularão seus filhos, devem saber o que procurar quando vão escolher uma escola. Não se trata de buscar aquela que vai levar o filho ao primeiro lugar no vestibular, não é isso. Além do bom nível de ensino e da disciplina, ela deveria oferecer o complemento de uma educação católica para seus filhos.
Com a crise de Fé que se espalhou dentro da Igreja, arma-se um novo problema, pois as escolas religiosas já não são aptas para dar às crianças uma educação que inclua a perseverança na Fé. De tal forma os erros do Concílio Vaticano II estão impregnados nessas escolas, que elas servem mais para arrancar a Fé do coração das crianças.
Os pais deverão procurar institutos de leigos com boa disciplina e bom nível de estudo, de pessoas sérias que se preocupem com a formação da família tradicional, e depois eles mesmos devem complementar em casa o que a escola não proporciona. Isso exige dos pais espírito de sacrifício, em casa. Em vez de gastar seu tempo com o Facebook, os pais têm a obrigação de se sentar com os filhos para ver as notas, acompanhar de perto os livros que são analisados na escola, e ensinar-lhes em casa as disciplinas que a Escola não ensina, como a vida dos santos, catecismo, história da Igreja, e diversas outras atividades culturais importantes. Nesse sentido, adquire grande importância o curso de Catecismo da Capela, ou de qualquer Priorado tradicional. Os pais não podem negligenciar essa formação dos seus filhos, pois na crise da adolescência a base moral e religiosa adquirida na infância será de grande valor.
E eu termino este capítulo sobre a Escola, voltando à casa, para lembrar a grave necessidade de se organizar a oração do Terço em família, além de se criar um ambiente de respeito e de interesse pelas coisas da Igreja. Talvez possam fazer em casa pequenos gestos ou cerimônias que marquem as crianças. No Natal, por exemplo, mostrar para a criança pequena o Presépio e, no dia 24 de dezembro, na Noite de Natal, colocar o Menino Jesus no Presépio, com uma pequena oração ou um cântico de Natal. Pequenos gestos que formam a Fé, e que podem se repetir em outras ocasiões.
Faculdade
O significado de estudo na faculdade não é o mesmo da Escola. Temos uma técnica a aprender. Devemos aprender as coisas que serão úteis para o trabalho honesto, com vistas a uma remuneração suficiente para o nosso sustento e o da nossa família. Mas é preciso evitar a visão marxista do homem trabalhador no sentido de ser uma força produtiva. Vivemos num mundo que respira o socialismo, que esquece o sentido espiritual do trabalho, que é o resgate da condição de pecado da humanidade. “A terra será maldita por tua causa; tirarás dela o sustento com trabalhos penosos todos os dias da tua vida” 2.
O fato é que vamos aprender uma técnica para possuir uma profissão. Vocês vão considerar as oportunidades e seguir uma carreira. Na faculdade continua havendo um problema com a justiça, com a obediência, apesar de que isso diminui um pouco, pois o regime agora é de maior liberdade. Por outro lado, os esquerdistas tentarão convencê-los de que os jovens podem consertar o mundo injusto, segundo eles causado pelos monstros capitalistas. Falarão da justiça social e do bem do Povo, uma entidade sem forma e sem lei, que lhes serve perfeitamente para a Revolução.
O convívio na faculdade parece mais maduro, mas está ainda longe da maturidade adulta. Continuará a vida de amizades assim como os atritos. A piedade não poderia, nessa hora, diminuir, mas é o que, em geral, acontece: o mundo abre-se para o jovem como se fosse um sonho; ele aspira à autonomia, aos amores da vida, à posse do dinheiro e da liberdade. Pela primeira vez a educação recebida na infância vai mostrar para que serve, pois será preciso saber lidar com esses anseios e paixões mais fortes. Aqueles que aprenderam desde cedo a obedecer, a ser equitativos e justos, a dividir com os outros da casa e da escola, passarão pela faculdade sem cair num deslumbramento perigoso.
Aqui aparece mais um problema na vida do jovem, a relação com o dinheiro. Todo o mundo moderno vive em torno do dinheiro. Como os homens perderam a noção da vida eterna e desta vida passageira neste mundo, vão concentrar nas riquezas materiais o fim de suas vidas. Fazem do dinheiro o seu deus.
Ora, nós não trabalhamos pelo dinheiro. É preciso que o católico saiba que há um problema moral relacionado ao dinheiro. Nosso sentimento nos inclina à posse de bens, isso é natural. Faz parte daquilo que chamamos de concupiscência. Nesse caso, é a concupiscência dos olhos que nos inclina de modo exagerado à busca pelo dinheiro e pelos bens. Pelas inclinações perversas da nossa natureza decaída, temos uma dificuldade para nos conter; pela falta de moralidade do mundo em que vivemos, somos literalmente empurrados ao pecado pela explosão de ofertas de toda espécie, sobretudo dos objetos e aparelhos eletrônicos que invadiram a nossa sociedade.
Se alguém disser, numa roda de amigos, que não se interessa pelo dinheiro, que prefere uma vida modesta, é chamado de louco.
Mas não podemos esquecer o exemplo dado por Nosso Senhor nos Evangelhos, pela vida pobre que viveu, pelo pouco que possuiu, e pela dificuldade extrema que declarou haver para que um rico entre no Céu. A pobreza levada aos extremos é ruim, pois gera a falta do mínimo necessário para se viver em paz e em certa harmonia espiritual e material. Porém, a riqueza posta como centro da vida gera tantas obrigações e falsas necessidades, que o homem perde também a paz, vive estressado e doente, cria inimigos e falsos amigos, e não tem tempo para cuidar da sua salvação eterna.
É preciso ainda saber que muitos homens não levam jeito para lidar com muito dinheiro. Se cada um souber se contentar com aquela vida que parece ser a melhor para si, seguindo os passos da Divina Providência, certamente terá paz mais segura.
Vocação religiosa
Um dia alguém recebe de Deus um chamado. É muito difícil haver um chamado para a vocação se a criança não for educada com princípios católicos, em casa, na escola e na faculdade. Sempre que posso eu alerto os pais de família, porque não formaram seus filhos para a vocação. Isso é um problema que vocês vão ter de enfrentar. Por que não formaram seus filhos para a vocação? Porque os formaram para ganhar dinheiro.
Eles os formaram para ter mulheres, viver no prazer ou para o sexo? Não, absolutamente. É verdade que, em geral, foram fracos quando não limitaram o uso da televisão, da internet, as noitadas em ambientes sensuais, atravessando a madrugada, toda essa vida social decadente e imoral que se vê hoje, e que leva ao pecado. Contudo, não foi essa a intenção primeira deles. Tiveram falta de visão? Sim, mas não era essa a intenção. A conseqüência dessa fraqueza é uma vida estéril, vazia, sem busca da verdade, sem amor pela oração, e sem vocações nas nossas famílias da Tradição.
Vocês podem objetar que o mundo é assim, exige que se viva dessa maneira. Respondo: nem tanto, nem tão pouco; é possível conviver com os amigos, jogar bola, se divertir, e não pecar. O pecado é como um muro: podemos chegar bem perto, até bater com a cabeça nele, mas não podemos ir além, senão, não somos homens. O homem quando peca, não é homem. Não tem mais a razão iluminada pela graça, dominando sobre os sentimentos; ele inverteu o seu reino interior e perdeu sua qualidade de filho de Deus.
A vocação é o fruto da presença de Deus. A maioria das vocações é uma graça que Deus dá apesar de o jovem ter vivido dessa forma. Quando há algo dentro do coração do homem que é dócil a esse chamado de Deus, o jovem abandona tudo e segue a Cristo. Mas acontece o contrário, quando há algo que não é dócil, porque preso ao vício, preso aos prazeres, preso ao gosto do dinheiro, preso ao gosto da liberdade. E a vocação morre na esterilidade da semente do espírito.
Eu falei da presença de Deus, de Jesus Cristo. Qual a relação do homem católico com Jesus Cristo, que é homem? É preciso que o católico tenha alguma relação com Jesus Cristo: relação séria, de homem a homem. Às vezes é preciso sentar-se diante de nosso pai, e ter uma conversa de homem a homem, já não mais de criança. O problema é que Jesus virou uma espécie de mito para a gente. Ele está no crucifixo, está no altar. Aos domingos vamos à Missa, comungamos; sabemos mais ou menos que se trata da Presença Real de Jesus, mas não estamos mais ligados a nada. Vocês não têm a seriedade de olhar para Ele e dizer: “Eis O homem”. Tenho de me espelhar n’Ele, Ele é o meu modelo. Tudo aquilo que posso dizer sobre minha virilidade, Ele possui em perfeição. Tudo o que posso dizer sobre meu modo de ser homem, Ele se encarnou para me ensinar. Tudo o que tenho como preocupação de homem, posso falar com Ele, pois serei ouvido. É na Fé, é verdade. Mas é preciso passar pela Fé para podermos ter com Ele a conversa eterna que iniciaremos na porta do Paraíso. Um dia morreremos, e quando isso ocorrer, Ele estará lá, sentado em seu trono. Então, chegaremos. A quem puder olhar nos seus olhos e dizer: –“Senhor, estou aqui. Posso entrar no vosso Reino? Fui fiel para poder entrar, lutei para poder entrar, fiz tudo para poder entrar”, Ele vai olhar nos seus olhos e dirá: “Entre, venha tomar parte no Reino que lhe foi preparado desde o princípio”. Porém, se o homem começar a desviar o olho, a não poder encará-Lo face a face, Ele dirá: “Afaste-se de mim, maldito, e vá para o fogo do inferno”.
Então, estamos na faculdade, na profissão, em casa, estudando, praticamos esporte… Ele tem de ter participação nisso.
Vocês talvez não tenham sido chamados à vocação, mas precisam ter uma relação com Jesus Cristo, como todo católico.
O que na educação ajuda a vocação religiosa?
Piedade, honra, Fé, educação, aprender a rezar… O pai deve perder tempo com o filho, saber que não pode ficar pendurado na internet, com seus amigos: ele tem de perder tempo com o filho. A primeira coisa que vão tentar colocar na cabeça de vocês é que ter filhos atrapalha. Todo mundo vai dizer isso para vocês: filho atrapalha, atrapalha o meu projeto de vida. Ora, quem disse que Deus quer esse seu projeto de vida? Você perguntou para Ele? Ele disse que tem de ser assim?
Ter filhos não atrapalha, porque o filho é o fruto do casamento, é a razão de ser da vida familiar. Ter filhos, para um jovem casal moderno, é reverter a situação de decadência, é sermos homens de verdade. Parece que eu avancei um pouco ao falar do casamento, mas não faz mal. Voltaremos a falar no assunto.
Esporte
Dentro de tudo isso entra a questão do esporte. É uma questão menor, podemos dizer assim, mas pode ser perigosa. Pode significar saúde e bem estar. Aqueles que não gostam de praticar esporte devem se esforçar para fazer alguma atividade física, porque o mundo moderno corrompe o corpo e a alma; sim, corrompe o corpo também. Não temos medida na comida, não temos medida na bebida. O mundo moderno é profundamente intemperante.
O homem antigo não precisava praticar esporte. A vida já era um esporte: ele cortava lenha, roçava a terra, andava a cavalo, tudo nele era esforço. A vida era um combate físico, de modo que o homem era saudável naturalmente. Hoje, não: o homem fica sentado atrás de uma cadeira, na escola toda, na faculdade toda e também na profissão: computador, computador, computador. Assim, vai atrofiando, desenvolvendo dores, gordura etc. Dessa intemperança pecaminosa surge a grave preguiça, a inversão da noite e do dia, a perda do ritmo natural do sono restaurador.
Mas, além da saúde, existe a paixão. E a paixão vicia, é sentimento sobrepondo-se à razão. Quando o esporte significa uma paixão, ele acarreta muitos erros e faltas, a começar pelos estudos e demais obrigações. O esporte é saudável, é gostoso, mas tem de se tomar cuidado. Outro problema relacionado com o esporte é a vaidade com o corpo. Chega a ser doentio o cuidado que vemos em rapazes ligados ao esporte, ou às academias de ginástica, onde se promove o culto do corpo. Muitos católicos se deixam levar por erros grosseiros como este.
Muitas vezes, por outro lado, encontra-se na prática do esporte a formação do sentido de justiça que pode ser uma virtude. O espírito de sacrifício e de superação também podem estar presentes, assim como o aprendizado da aceitação virtuosa da vitória e da derrota, como vimos na escola. Também podemos ver os jovens desenvolverem as amizades, o sentido da ordem, da hierarquia e da camaradagem.
A piedade muitas vezes cai muito, pode desaparecer por completo. É muito bom viajar com os amigos, competir, mas é preciso lembrar que temos nossas obrigações religiosas. O 3º Mandamento é uma obrigação estrita, e não podemos faltar à missa por causa de uma competição. Quando estamos no meio do mundo, temos obrigação de rezar. O católico tem obrigação de rezar, pois não seria normal estarmos numa casa e nunca nos dirigirmos ao dono da casa. Deus é o Senhor do nosso coração, e devemos todos os dias dar a Ele o nosso tributo de amor, que se manifesta pela obediência aos seus Mandamentos e pela oração.
Meu trabalho, minha profissão
A dedicação. Um dia acordamos e estamos formados. Vamos aprender que não podemos fazer somente o que queremos. É preciso acordar cedo. Dedicação. O profissional dedicado vai ser visto pelo patrão, vai buscar a perfeição: não apenas a obrigação, mas o gosto de fazer a coisa bem feita, não pela vaidade.
Cuidado com o comunismo. Aqui o comunismo vai atuar muito forte: virá o sindicato, o Procon, a tentação de tudo resolver nos tribunais. Tentarão impingir nas suas cabeças que o patrão é necessariamente usurpador e mau; o espírito de vingança será a tônica do ensinamento comunista. Todo mundo tem isso hoje no sangue. Somos deformados. Em alguns casos pode ser necessário entrar na justiça, mas em geral, não é esta a atitude de um homem católico. Cuidado com o desejo de se dar bem na vida. Já vi muitos católicos, que freqüentam a Missa, entrarem na justiça contra o patrão. Às vezes o patrão faz algo que não deveria fazer, isso pode acontecer; mas é preciso suportar com paciência muitas injustiças, e a vida continua. Não se pode querer tudo no rigor da justiça, sabem por quê? Porque acabaremos achando que essa vingança mesquinha é o normal da vida, e não saberemos agir de outra forma. Leiam o Evangelho. O que custa todo dia ler um pedacinho do Evangelho? Nele, aprendemos a conhecer esse homem, que é também Deus, e nos ensina a viver como verdadeiros homens. Ora, lá no Evangelho lemos a história do sujeito que devia uma boa quantia, suplicou ao patrão e teve a dívida perdoada. Logo em seguida, esse mesmo homem encontrou um companheiro que lhe devia um valor insignificante, bateu nele e o colocou na prisão. O patrão, ao saber disso, chamou-o e disse: “Eu não perdoei a sua dívida, que era muito maior? Por que você não teve misericórdia com ele?”. Eis o Evangelho, e ele é contra o sindicato, contra o comunismo, contra esse mundo de aproveitamentos mesquinhos em que se vive hoje.
Qual a finalidade da profissão? Subsistência, viver, comer; isso significa ganhar dinheiro. Agora, esse dinheiro é diferente daquele outro. Isso aqui é nossa obrigação: é preciso ganhar dinheiro. E esse dinheiro precisa ser ganho com a razão dominando os sentimentos.
Existe ainda outro ato de justiça nosso para com o patrão. Quantas tentações as pessoas têm de roubar. “Não faz falta, não”. Ora, não faz falta, mas não é seu. É preciso manter a seriedade da propriedade. Nosso Senhor vai pedir contas disso. Vocês sabem que quando alguém se confessa de furto, o padre explica ao penitente sobre a obrigação da devolução. Não basta se confessar, é preciso devolver; a justiça de Deus o exige.
Por outro lado, pode acontecer de um católico se deparar com alguma exigência contrária à moral ou à fé. A alma católica precisa ponderar com cuidado, pedir conselho, e uma vez ficando estabelecido que aquele ato é, em si mesmo, um pecado, conversar com seus chefes e explicar sua dificuldade de consciência. Atos ilícitos com contratos, favorecimento de abortos, e outros tipos de exigências não podem ser realizadas.
Por fim, é preciso considerar que o mundo moderno levou o homem a divinizar o trabalho, talvez por causa do apego exagerado, que ele mesmo criou, ao dinheiro. O fato é que muitos pais de família negligenciam o tempo que deveriam dedicar aos filhos e à esposa, para ganhar mais dinheiro. Muitas vezes até mesmo o descanso dominical e a missa ficam relegados a segundo plano. Somos levados insensivelmente a considerar as obrigações familiares e religiosas como algo secundário, como um peso e um estorvo para a nossa vida. Para aprofundar essa noção, recomendamos a leitura do artigo “A Casa”, de Gustavo Corção. Tenhamos um grande apego às nossas famílias. O ambiente familiar deve ser de tal forma preservado que a volta para casa seja sempre acompanhada de alegria e de repouso. O mundo moderno empurra o homem para fora de si mesmo, para a perda da vida interior, ao mesmo tempo em que o empurra para a rua, para o exterior da sua casa, do seu casulo onde são alimentadas as amizades profundas e a piedade.
Casamento
Eu digo para vocês que não são homens, também por causa da relação que têm com a mulher. Dirão vocês: “É o contrário. É por isso mesmo que somos homens: é natural ao homem buscar a mulher”. É verdade, mas quando nessa busca deixam que imperem os sentimentos, a coisa se complica, porque gera o pecado.
A mulher, em princípio, é a companheira. Adão procurou, entre todos os seres, uma companhia para si e não a encontrou. Deus, então, tirou a costela de Adão e fez a mulher. Adão reconheceu em Eva o osso dos seus ossos, a carne da sua carne. Chamou-a de mulher da sua carne. Virago. “Vir” significa homem, em latim. Aquela que veio do homem.
Ela é complemento, porque de fato preenche a vida do homem. E esse complemento começa como uma fortaleza que deve ser conquistada. A relação do homem começa com uma conquista, e não é qualquer mulher que deve ser conquistada.
Que significa conquistar uma mulher? Para quê? É uma ordem da natureza a conquista da mulher, para que ela seja companheira, para que ela seja o complemento. Por causa dessa finalidade, a fortaleza deve ser vencida e conquistada. Esse ímpeto que conduz o homem à conquista do seu castelo é o amor.
O que o mundo moderno faz neste ponto, esse mundo sem lei e sem honra, é viver de paixões, extravasar as paixões na busca da mulher. Isso não é o verdadeiro amor, que está na formação de uma companheira, de um complemento. Porque uma coisa é a conquista de uma fortaleza – lugar forte, estável, definitivo – outra coisa é possuir um “carrinho de mão”.
Uso aqui a figura de um carrinho de mão para mostrar a instabilidade, a coisa cambiante e cambaleante.
A mulher de hoje, que é conquistada pela juventude, é “carrinho de mão”. Tem rodinha. Rotatividade. O verdadeiro amor só pode ser por uma fortaleza, que se conquista para ser sua, para ser sua morada e seu domínio. Aparece aqui a veracidade desse bem do casamento, tal como Deus o instituiu no Paraíso, que é a indissolubilidade. Todo casamento é indissolúvel, porque é a conquista de uma fortaleza amada, que se tornou sua morada definitiva.
Como se realiza essa conquista? Vocês sabem muito bem que no passado, no regime de casamento natural, ele passava a existir a partir da união carnal. Se um homem e uma mulher tiveram relações, consideravam-se casados. Nós, católicos, batizados, temos um sacramento. O sacramento do Matrimônio gera uma graça sobrenatural que sela a união do casal. Nosso Senhor instituiu um sacramento próprio para isso, próprio para o amor, próprio para o sexo, próprio para a conquista da fortaleza. É um sacramento, e se é assim, se é um sacramento, se a conquista da fortaleza vem pela graça, olhem então para Jesus Cristo e perguntem se vocês podem namorar como o mundo hoje namora. Vale a pena fazer isso? Essa é a questão: Perguntem a Jesus Cristo. Vocês não estão sendo homens quando levam uma vida de pecado, quando se entregam a qualquer coisa. Vocês têm uma casa para formar. Não percebem que tendo com a mulher uma relação banalizada, estão destruindo essa fortaleza? Não estão considerando os fundamentos da sua casa futura? A mulher que não é a fortaleza a ser conquistada, é casa sem muralha, é porta aberta, onde os homens entram e saem ao sabor das paixões e sentimentos.
Os jovens de hoje diminuem tudo quando não percebem que a mulher é a porta aberta ao pecado. Vocês vão ter de criar um casulo, criar asas coloridas, como a borboleta. Quando um homem se une a uma mulher, ele a possui. Mas isso não acontece nesses namoros sexuais modernos. Ele a levou para casa? Vai dar comida para ela? Vai ter filhos com ela? Claro que não; então, eles não possuem a mulher, não é amor verdadeiro. Não tem Jesus Cristo. Não tem finalidade.
E eu já ouço a resposta: “Ah! Mas eu a amo”. É claro que ama! Qualquer homem ama uma mulher que está em seus braços. Mas não é o verdadeiro amor. É um amor de sentimento, uma paixão que une a carne, mas não é a conquista de uma fortaleza. É a conquista de um carrinho de mão. Um a mais, na coleção dessa falsa virilidade.
Quando isso é feito com a finalidade própria, então a razão domina sobre os sentimentos. O homem possui a mulher nesse sentido profundo de que falei, e o sentimento de posse é verdadeiro. Há uma falsa posse no sentimento que vem a um homem quando tem relações com uma mulher que não é a sua esposa, que não é a sua escolhida, a sua companheira conquistada.
O mundo da Revolução em que vivemos propaga que, quanto maior o número de mulheres com quem um homem tem relações, mais viris são. É o contrário disso: eles são menos homens. Qual a mulher que quer hoje ser possuída? Pergunto aos que têm condições para já estarem casados: Por que até hoje não se casaram? Porque a mulher não quer. Ela tem profissão, ela quer se formar, quer manter sua liberdade. Então vocês não as possuíram. Na hora que vocês conquistarem a fortaleza, a mulher se entrega, e ela só quer uma coisa: ser do homem. E aí ela se casa. Hoje em dia ninguém se casa por causa disso. Não existe o verdadeiro amor. Portanto, não existe verdadeiro sexo. É tudo uma enganação, um prazer passageiro e egoísta. Não é posse, não é a conquista da fortaleza. Isso tem de ser visto, isso precisa ser analisado de modo muito profundo diante de Jesus Cristo.
A formação da família passa por essa crise profunda, em que a mulher se igualou ao homem na busca de uma profissão, no dinheiro que quer ganhar, deixando de lado o maior bem que é a maternidade e a transmissão aos filhos do caráter e da honra, que é a verdadeira educação. Quando ela considera o casamento um bem para si mesma, une-se de modo instável ao seu namorado, considerando mais a manutenção da sua vida própria do que a doação de si mesma ao seu marido. Ele, por sua vez, deformado pela falsa ideia de masculinidade que lhe passaram, não saberá viver como verdadeiro homem. Os dois terão diante de si o desafio de voltar à casa, e nem sempre saberão como realizar este retorno.
Voltamos à casa
Tudo começa dentro de casa, para a criança que se tornará um homem adulto. Após todas as etapas que procuramos analisar, voltamos à casa, à nova casa criada pelo casamento. Ao longo da vida de criança até alcançar a idade adulta, a grande questão será a formação da cabeça do homem. É aqui que eu queria chegar. Toda esta conferência foi feita para analisarmos como os homens, hoje, iniciam sua vida de casados. Vocês não são homens porque a cabeça de vocês é deformada. Não sabem mais possuir. Digo isso porque, quando chegam na casa, não são chefes, não são autoridade, não são pais. Continuam sendo garotos mimados, egoístas, agora em disputa com a mulher para ver quem, no igualitarismo moderno, vence a queda de braço.
Qual a característica de um chefe em casa?
Em primeiro lugar, o papel do chefe da casa é comandar a sua casa, amar sua esposa, educar seus filhos. Em seguida existe a grande obrigação de dar subsistência à casa. Que a mulher ajude nesse ponto, como o homem ajuda a cuidar dos filhos, entende-se, apesar de que deve haver um esforço da sociedade familiar para proteger e priorizar a permanência da mãe junto a seus filhos. Que o homem se lembre de que cabe a ele essa obrigação, e a ela a obrigação própria da maternidade. Um primeiro ponto muito importante para a boa formação do lar é a harmonia das tarefas e das funções.
O pai precisa saber que ele dominou, ele conquistou a fortaleza, ele adquiriu a autoridade. Essa autoridade não significa que a mulher não seja companheira dele. Os dois se completam, mas não como duas peças de uma máquina. A vida da esposa é, ao mesmo tempo, complementar e subordinada à vida do marido. A analogia que poderíamos tomar seria a relação entre a cabeça e o coração. Um não vive sem o outro, mas a cabeça é mais do que o coração. Nela reside a inteligência, o conhecimento e a visão. Sem o sangue bombeado pelo coração, a cabeça morre, mas sem a cabeça, a bomba de sangue não serviria para nada. Essa harmonia está na essência da casa, ela é muito mais do que uma harmonia de agir, de bom entendimento entre os dois. A essência da família está nessa relação de autoridade e de subordinação. Ela é bela e profunda e o casal ganharia muito se compreendesse a riqueza que existe nesse fundamento espiritual da família.
Os dois mandam nos filhos, os dois têm autoridade sobre os filhos, mas entre os dois existe uma hierarquia. Ele é o chefe da casa, mas o homem de hoje não sabe mais ser chefe, ser cabeça. Não foi formado dentro dessa perspectiva. As mulheres trabalham, estudam, têm altas posições nas empresas, e quando chegam em casa não sabem mais se posicionar diante do marido. A mulher enfrenta o marido porque tem vontade própria. O marido reclama da mulher porque tem suas atividades próprias e a casa atrapalha. O filho enfrenta os pais. Tudo é invertido.
Então, o sujeito chega com a noiva para se preparar para o casamento (muitas vezes já vivem como marido e mulher). O padre explica “Adão e Eva… Pecado Original… Deus deu Eva para Adão… instituiu o casamento natural… Jesus Cristo elevou o casamento ao nível de sacramento, um ato sagrado… formação da família”. Casam-se, e logo começa a briga. “Eu quero isso”, “eu quero aquilo”, “eu quero assim”, etc. Perdeu-se a ordem das coisas. O homem com seus sentimentos, vontades e gostos; e a mulher, com seus sentimentos, vontades e gostos vão fazer uma mistura. Casamento hoje é mistura. Na hora em que os sentimentos, vontades e gostos do homem não derem certo com os da mulher – porque sentimento, vontades e gostos são coisas que variam – acaba o casamento. Não é isso o casamento. Casamento é passar por cima dos sentimentos, vontades e gostos porque existe algo chamado família, e família é mais do que o homem e mais do que a mulher. Existe um bem comum, e esse bem comum o homem tem obrigação de preservar. Ele, em primeiro lugar, porque é o chefe: Deus vai lhe pedir contas do que fez com sua família. Se Deus instituiu a reforma da razão sobre os sentimentos por meio do sacramento do Matrimônio, é porque Jesus Cristo tinha, para com a família, algo de muito forte, e confia ao homem algo que é d’Ele: “Eu te dou esta família, homem, chefe, para você cuidar, para propagar o gênero humano, para levar isso adiante, até o dia em que Eu tenha a corte celeste completa e acabe com esse mundo passageiro, para todos viverem na glória do Paraíso, enquanto os pecadores irão para o inferno”. Jesus Cristo tinha uma intenção muito forte, e Ele põe isso na mão do homem, na chefia da família. O homem esqueceu que ele tem essa responsabilidade. Hoje é tudo vivido no mesmo nível, no igualitarismo. Ouvem o que o padre tem para dizer, a doutrina bimilenar da Igreja, mas não sabem pôr em prática, porque o mundo não deixa. A mulher também não sabe mais o que significa essa subordinação, revolta-se contra ela como se trabalhar num escritório ou num projeto qualquer também não lhe trouxesse submissão às autoridades. Perdeu a noção de que, subordinada àquele que ama, àquele que a ama, e voltada para o bem dos filhos a quem deu à luz, viveria mais feliz do que no deserto de um mundo cruel e implacável. Como disse Gustavo Corção, elas acharam mais interessante arrumar um fichário do que arrumar a gaveta do armário.
Esta situação significa um desequilíbrio grave nas forças naturais da sociedade, no fundamento da família. O convívio dos meninos com meninas da mesma idade, continuando na adolescência e na juventude alterou completamente a relação entre os dois sexos. A saudável diferença de idades que existia antigamente, quando as mulheres casavam-se com homens mais velhos, desapareceu quase por completo, pois o convívio diário atrai os jovens da mesma sala da escola ou da faculdade. Como a psicologia da mulher é mais amadurecida do que a do homem, elas acabam tendo mais dificuldades para a função que lhes é própria na hierarquia da família, enquanto os homens se acomodam, sem perceber, numa confortável dependência da mulher mais madura do que eles.
Jamais a humanidade conheceu época tão desequilibrada como a atual. O meio século que nos separa do final da 2ª Guerra Mundial abriu um abismo entre o mundo moderno e o anterior. Estamos em uma nova civilização que já não tem mais nada de cristã. Está destruída a família, está destruído o homem e também a mulher. Este novo mundo é formado por uma geração de homens que perderam a noção da fortaleza própria do homem; uma geração de mulheres que perdeu o gosto pela maternidade e pela grande aventura de educar filhos, para que recomecem, mais tarde, o ciclo da vida social, pela fundação de uma nova família.
Os católicos podem resistir a essa destruição. Mesmo não tendo mais o Evangelho como critério da civilização, podemos mantê-lo como critério das nossas casas, da educação dada aos filhos, das escolas que possamos fundar e do mundo empresarial que consigamos formar.
No final da nossa formação, recomeçamos todo o processo: casa, escola, faculdade, vocação, esporte, profissão… Mas agora são vocês, e não seus pais. São vocês com suas esposas e com os filhos que vieram do casamento. Porque vocês souberam ser homens, souberam vencer o mundo, reverter a situação que o mundo trouxe para a vida de vocês.
Então, vocês vão viver a vida sabendo que têm uma finalidade, que é assumir o turno de vocês na construção da civilização cristã.
Essa é a realidade em que se vive hoje. Pensem nessas coisas e considerem isso de um modo profundo na vida de vocês. Não sei se tem solução para toda a sociedade, pois isso depende de um milagre, e nem sempre os homens merecem os milagres. Mas certamente existe uma solução pontual para cada um de vocês. Basta que procurem voluntariamente a formação necessária e a vida virtuosa que, só ela pode nos dar a graça divina necessária para a restauração do homem ainda nessa vida, e a conquista do céu, na vida eterna.
- S. Paulo Rom, VII, 19.. E mais adiante o Apóstolo completa: “Mas vejo nos meus membros uma outra lei que se opõe à lei do meu espírito” Idem, VII, 23.
- Gn 3, 17