PRIMEIRAMENTE, SERVOS DE DEUS

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Fonte: SSPX Great Britain and Scandinavia – Tradução: Dominus Est

Caros fiéis,

O mundo

O novo ano inicia com uma sensação de “mau presságio”, como se estivéssemos às vésperas de uma guerra. A sociedade ocidental está se desintegrando porque não há mais nenhuma cultura para unir e direcionar as almas a um bem comum. O racionalismo, o materialismo e o capitalismo seguiram seu curso e foram considerados insuficientes; as elites globais visam agora a tecnologia e a coerção para sustentar as estruturas existentes, enquanto preparam uma nova ordem de coisas para manter sua hegemonia. Essa nova ordem mundial será uma tirania ateia, muito provavelmente como a da China, mas com vícios ainda mais antinaturais; e então, por sua vez, entrará em colapso, mas não antes de muito sofrimento e a perda eterna de muitas almas. Eis o presságio.

A Igreja

A única coisa que pode salvar o mundo é a Igreja, instituição essa fundada e dirigida por Deus Encarnado, Jesus Cristo, com uma hierarquia visível de ministros cujo dever é continuar a missão de Jesus Cristo na terra: ensinar, governar e santificar almas. A Igreja é Cristo no mundo: um sinal de contradição, uma cidade assentada no monte, mestra da verdade, defensora da lei natural e divina, uma criadora de santos.

Infelizmente, a Igreja também está em crise. Embora ela seja espiritualmente perfeita como o Corpo Místico de Cristo, ela está fisicamente doente porque muitos de seus ministros parecem ter perdido a fé. Coletivamente, comeram do fruto chamado Modernismo no Concílio Vaticano II, que apregoou uma nova compreensão da fé, uma nova consciência e um novo Pentecostes, mas que então causou um colapso espetacular da fé, da moral e dos membros.

Golpe de mestre de Satanás

Satanás, a mais sutil das criaturas, consolidou sua vitória usando a própria força da Igreja contra si mesma. Um cristão acredita no que a Igreja ensina e obedece ao que a Igreja ordena, porque a Igreja é apoiada pela autoridade de Deus. O “golpe de mestre de Satanás” foi fazer com que ministros corrompidos invocassem a autoridade de Deus para impor a heterodoxia. Nunca na história da Igreja sua hierarquia agiu assim. É um mistério de infidelidade.

O Santo Sacrifício

O sucesso de Satanás não durará, porém, pois não apenas a Igreja tem uma garantia divina, como também é uma sociedade perfeita, possuindo por sua natureza tudo que ela precisa para sua perfeição. A Igreja tem o poder de se curar em seu corpo. Este poder vem do mesmo ato que redimiu objetivamente o mundo, o Sacrifício do Calvário, que se torna presente e fecundo até o fim dos tempos, pelo Santo Sacrifício da Missa.

A Missa ensina o mistério da fé, ordena as almas a Deus, santifica todos os que a assistem dignamente. É o perfeito cumprimento da missão da Igreja de ensinar, governar e santificar. A Missa é o ato determinante do sacerdote, tornando-o fonte de santidade que é Cristo, tornando Cristo presente no mundo, na sua pessoa e no Santíssimo Sacramento, confessado durante a Missa.

Foi o maior triunfo de Satanás, portanto, ver todo o peso da autoridade da Igreja mal utilizada para substituir o rito tradicional da Missa por um rito doentio e amigável aos protestantes chamado de Novus Ordo Missae. O NOM ainda é válido como um rito da Missa, mas é deficiente em sua habilidade de ensinar, ordenar e santificar almas. Gradualmente, enfraquece a fé, a moral e a vida espiritual daqueles que a assistem, como os últimos 50 anos têm demonstrado amplamente.

Mas este novo rito não durará, pois na economia da justiça de Deus, que extrai um bem maior de todo mal, este abuso de autoridade se tornará a ocasião da maravilhosa renovação da Igreja. Na verdade, esse processo já começou.

D. Marcel Lefebvre

Durante o Concílio Vaticano II, D. Marcel Lefebvre foi um entre os muitos que lutaram contra o Modernismo que acabou por triunfar no Concílio, mas foi um dos poucos que discerniu o “golpe de mestre de Satanás” e teve tanto a prudência como a coragem para enfrentá-lo. Não é exagero dizer que D. Lefebvre iniciou a renovação da Igreja.

Eis aqui suas palavras em uma conferência em Ecône, em 30 de maio de 1970, logo após a introdução forçada do Novus Ordo Missae no primeiro domingo do Advento em 1969:

O que permanece como um dever absoluto é salvaguardar a fé. E a missa é a expressão mais viva disso, a fonte divina, por isso tem uma importância suprema. Ninguém tem o direito de nos fazer perder a fé.

O que posso dizer? Vivemos em circunstâncias verdadeiramente dramáticas. Talvez Deus nos tenha permitido estar aqui e, dentro de alguns meses, seremos 50. Talvez daqui a alguns anos, seremos a 80 ou 100 para continuar a Missa [no rito tradicional], para que continue a haver Missas onde Nosso Senhor está presente.

Agora, não é possível renunciarmos um rito que já dura séculos, que vem dos apóstolos. Manteremos o rito de São Pio V – São Pio V apenas codificou o rito.

Santo Tomás explica o rito da Missa. Por exemplo, o “Mysterium fidei” na consagração, Santo Tomás diz que vem dos apóstolos. Não é algo insignificante. Nosso Senhor certamente lhes deu este ensinamento. Se veio dos apóstolos, então temos que guardá-lo como algo precioso dentro do rito, para que possamos manter nossa fé. Se o retirarmos, não saberíamos onde estamos; não saberíamos se as fórmulas que possuímos são válidas. Estaríamos perdidos.

É por isso que acredito sinceramente que não desobedeço ao Papa em continuar o rito de São Pio V, porque estou certo de que o Santo Padre deseja que mantenhamos nossa fé. Estou certo de que o Papa deseja que continuemos o Santo Sacrifício da Missa.

Em 1 de novembro de 1970, a Fraternidade São Pio X foi oficialmente fundada para a formação de sacerdotes que ofereçam o Santo Sacrifício da Missa no rito tradicional. Logo, D. Lefebvre, fiel a esta missão, incorreria em penalidades canônicas: mais notavelmente uma suspensão in divinis em 1976 por ordenar sacerdotes sem permissão e excomunhão em 1988 por sagrar Bispos sem mandato. Ele considerou as penalidades nulas e sem efeito, é claro, pois ele agiu de boa fé e pela fé.

Comunidades Ecclesia Dei

Curiosamente, pouco mais de 50 anos depois, as chamadas comunidades Ecclesia Dei, a quem foram autorizadas oferecer o rito tradicional da missa sob a condição de aceitarem oficialmente o Concílio Vaticano II, encontram-se em uma encruzilhada semelhante.

Após a recente publicação do motu proprio, “Traditionis custodes”, que impõe o Novus Ordo Missae (e o novo ritual – um novo e empobrecido rito dos sacramentos) a essas comunidades, são elas agora confrontadas com a escolha de continuar sua aparente obediência à hierarquia ou seguir o exemplo de D. Lefebvre em defesa da fé.

Sobre nós mesmos

Ao iniciarmos o novo ano de graça, que nenhum presságio do futuro nos leve à letargia da melancolia, mas que nos vivifique para que, também nós, possamos estar preparados para renunciar tudo para salvaguardar a fé, para sermos sempre, primeiramente, servos de Deus.

Rezemos pelas vocações, rezemos pelas comunidades Ecclesia Dei e por todos os sacerdotes que se encontram na mesma conjuntura. Rezem pelo Papa – para que ele veja que a verdadeira solução para os problemas da Igreja e do mundo não é política, econômica ou ecológica, mas espiritual. A verdadeira solução é a restauração do Santo Sacrifício da Missa de acordo com o rito de São Pio V.

Desejo a todos as graças do Natal e da Epifania para o novo ano que se aproxima.

In Jesu et Maria,

Pe. Robert Brucciani, FSSPX

Retirado da Revista Ite Missa Est, Boletim informativo do Distrito da FSSPX na Grã-Bretanha e Escandinávia