BOLETIM DO PRIORADO PADRE ANCHIETA (SÃO PAULO/SP) E MENSAGEM DO PRIOR – OUTUBRO/23

Dia de Nossa Senhora Aparecida: conheça a história da Padroeira do Brasil

Caríssimos fiéis,

Uma criança mal-criada pode tomar água benta e jogá-la em sua irmãzinha. Uma mãe irritada pode usar seu livro de orações para bater em seu filho. Um homem orgulhoso pode dar esmolas para chamar a atenção. Esses exemplos nos mostram que não basta que uma realidade seja boa para que seu uso seja igualmente bom. É por isso, por exemplo, que nossa mãe, a santa Igreja, se esforça, por meio de seus ministros, para nos dar as disposições devidas para receber os sacramentos. Os sacramentos são bons em si mesmos, mas podem ser mal utilizados.

Se, por um lado, quanto se trata dos sacramentos, as disposições devidas são bem conhecidas; por outro lado, quando se trata dos sacramentais ou das várias devoções, elas são muito menos conhecidas.

Antes de mais nada, precisamos distinguir entre o essencial, que é obrigatório, e o acidental ou não essencial, que é opcional. Como sempre, uma comparação entre a vida natural e a vida sobrenatural nos ajudará a entender. Uma mãe alimenta seu bebê recém-nascido imediatamente. Ela não espera que ele expresse seus gostos pessoais. Ela lhe fornece o essencial. Mais tarde, quando a criança tiver adquirido a capacidade de escolher com prudência, ela poderá decidir entre várias boas opções para se alimentar, de acordo com seus gostos, mas também segundo suas necessidades, que podem variar segundo a idade ou o estado de saúde. Da mesma forma, os pais cristãos darão a seus filhos a vida sobrenatural por meio do batismo – o essencial – sem demora. Mais tarde, quando eles tiverem atingido a idade da razão, poderão optar por nutrir a vida da graça em suas almas por meio de devoções – o acidental – que correspondam a seus gostos e necessidades.

Deve-se respeitar isso. É louvável incentivar a devoção, mas não devemos forçar as pessoas a fazerem o que é opcional. Os escapulários, o rosário, a água benta, as novenas e as medalhas, em si mesmos, não são necessários para a salvação. Se o fossem, teríamos que praticar todas essas devoções. Ora, isso é impossível porque há muitas delas. Por tanto, sem desprezar um ou outro destes meios de santificação, cada pessoa é livre para escolher aquele que mais lhe convém.

Compreende-se, então, que uma criança que não tenha feito a Primeira Comunhão não possa receber o escapulário. Se ela não atingiu idade da razão, como pode escolher uma devoção e assumir os compromissos que a acompanham? Também entendemos que as pessoas que colecionam devoções raramente são profundas. A quantidade rapidamente prejudica a qualidade! Ademais, entendemos que é legítimo apreciar uma devoção e ter o zelo de divulgá-la, mas que isso deve ser feito com delicadeza. O fato de eu gostar de suco de limão não significa que eu deva forçar todos a tomá-lo! O fato de eu acreditar nos benefícios do alho para a saúde não significa que eu deva forçar todos a comê-lo! Da mesma forma, o fiel não deve se comprometer com uma devoção apenas para imitar os seus amigos. Em uma ocasião, alguém me procurou para pedir a imposição do escapulário. Pedi-lhe que explicasse brevemente em que consistia essa devoção. Não houve resposta!

Nossa Senhora Aparecida 01 - OrigamiAmiNão devemos nos esquecer de que a própria natureza de um objeto nos leva a seu uso específico. É por isso que misturar gêneros é perigoso. Por exemplo, não é incomum que nas famílias se encontrem brinquedos de pelúcia com a efígie de Nossa Senhora ou dos santos, que receberam características infantis do fabricante. Isso não é apropriado. O que há de errado com isso? Se for um brinquedo, é normal que Santo Antônio seja usado pelo bebê para mamar e fique coberto de saliva. Se for um brinquedo, é normal que Santa Clara acabe no chão e seja baleada pela criança que passa correndo. Se for um brinquedo, é normal que Nossa Senhora esteja em uma prateleira ou em uma cama entre um dinossauro e o Homem-Aranha. Mas se forem imagens sagradas? As duas podem ser compatíveis? Parece que não. A confusão de fins leva ao mau uso.

Por um lado, é aceitável que um menino tenha um pôster de seu esportista favorito na parede do quarto. Obviamente, a admiração pelo atleta não significa a aprovação de tudo o que ele faz na sua vida. Se não, teríamos que nos privar de admirar muitas obras-primas. Sejam pinturas, esculturas, peças musicais etc. Por outro lado, se a imagem do esportista ocupar o lugar principal que pertence ao crucifixo ou a uma imagem sagrada, será uma desordem.

O Homem-Aranha é um super-herói, mas não é Deus. Pelé é o rei do futebol, mas não é Deus. Nossa Senhora é a Mãe de Deus. Ela não é um brinquedo, nem os santos. Se cada realidade permanecer em seu devido lugar, seu uso adequado virá naturalmente.

Neste mês de outubro, peçamos a Nossa Senhora que nos ilumine rezando o Santo Rosário, tantas vezes recomendado, sem esquecer que ela intercede no céu pela salvação do pobre pecador que não consegue rezar mais do que um Ave-Maria por dia.

Que Deus os abençoe.

Padre Jean-François Mouroux, Prior

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