FESTA DA SANTÍSSIMA TRINDADE

trinTres sunt qui testimonium dant in coelo: Pater, Verbum et Spiritus Sanctus, et hi tres unum sunt – “Três são os que dão testemunho no céu: o Pai, o Verbo e o Espírito Santo, e estes três são um”. (1 João 5, 7)

Sumário: A Santíssima Trindade é nosso tudo; e todos os bens que já temos recebido e ainda esperamos para o futuro, nos vieram e virão da Santíssima Trindade. É, pois, com razão que a Igreja embora Lhe consagre todos os Domingos, Lhe dedique o dia de hoje de um modo especial. Veneremos devotamente tão augusto mistério, dizendo à miúde o Gloria-Patri; respeitemos também a imagem da Santíssima Trindade que se acha em nosso própria alma como na do próximo.

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Posto que todas as homenagens tributadas aos Santos redundem em honra da Santíssima Trindade, cuja imagem se honra na pessoa deles, exigem, contudo, a justiça e a gratidão que, tanto para glória do Altíssimo como para nosso próprio proveito, veneremos tão augusto mistério com obséquios especiais. É-nos isto um dever absolutamente indispensável; porquanto a Santíssima Trindade é o princípio d’onde procedemos, e o fim para o qual havemos de voltar. A primeira graça que nos foi conferida no batismo, veio-nos em nome da Santíssima Trindade e a glória essencial que se goza no paraíso é ainda a Santíssima Trindade.

É este o nome que faz tremer o inferno, põe em fuga os demônios, faz cessar as tentações, alegra os céus, beatifica os Santos, consola os justos, derrama a abundância das graças. Numa palavra, a Santíssima Trindade é nosso tudo. Todos os bens, que já temos recebido e ainda esperamos para o futuro, quer na ordem da natureza, quer na ordem graça e da glória, todos nos vieram da Santíssima Trindade.

Eis porque os Ofícios divinos da Igreja abundam em louvores, invocações e súplicas dirigidas expressamente às três Pessoas divinas. Não satisfeita ainda com isto e apesar de ter consagrado à augustíssima Trindade todos os domingos do ano, dedica-Lhe o dia de hoje de um modo especial. Quer nossa boa Mãe que todos os fiéis sejam devotos fervorosos de tão grande mistério; ou, antes, quer que esta seja a sua devoção particular. Todavia é talvez a devoção mais descuidada. Continuar lendo

MARIA SANTÍSSIMA, MODELO DE CASTIDADE

maria2Sicut lilium inter spinas, sic amica mea inter filias – “Como é a açucena entre os espinhos, assim é a minha amiga entre as filhas” (Cant. 2, 2).

Sumário. A pureza da Santíssima Virgem foi tão grande, que o Verbo divino a elegeu para sua Mãe, afim de que servisse a todos de exemplo de castidade. Como recompensa da sua inefável virgindade, Maria tem o privilégio de preservar do pecado os seus devotos e de os levantar depois da queda. É necessário, porém, que da nossa parte ponhamos em prática os meios para vencer, especialmente o evitar as ocasiões, e praticar a oração, consagrando-nos à Virgem de manhã e à noite, e invocando o seu nome em cada assalto do inimigo infernal.

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Depois da queda de Adão e de os sentidos se haverem rebelado contra a razão, a virtude da castidade tornou-se a mais difícil de ser praticada. Mas, seja para sempre louvado o Senhor, que em Maria nos deu um grande modelo desta virtude. Diz o Bem-aventurado Alberto Magno que Maria é chamada com razão Virgem das virgens; pois que, sendo ela a primeira, sem conselho nem exemplo de ninguém, a oferecer a sua virgindade a Deus, deu ao mesmo Deus todas as virgens que depois a imitaram, segundo a profecia de Davi: Adducentur Regi virgines post eam(1) – “Serão apresentadas ao Rei virgens depois dela“. E São Sofrônio acrescenta que Deus escolheu esta Virgem puríssima por Mãe, exatamente para que ela servisse a todos de modelo de castidade. Pelo que Santo Ambrósio lhe dá o belo título de Porta-bandeira da virgindade.

Por motivo desta sua pureza foi a Santíssima Virgem chamada pelo Espírito Santo bela como a rola (2); como também açucena: sicut lilium inter spinas. E aqui adverte Dionísio Cartusiano, que ela foi chamada açucena entre os espinhos, porque todas as demais virgens foram espinhos para si próprias ou para os outros; Maria Santíssima, ao contrário, não o foi nem para si nem para os outros. Segundo observa Santo Tomás, a beleza de Maria inspirava a todos amor à pureza e só ao ser vista infundia pensamentos e afetos castíssimos.

Numa palavra, diz um autor que a Bem-aventurada Virgem foi tão amante desta virtude, que, para a conservar, estaria disposta a renunciar ainda à dignidade de Mãe de Deus. Isto se colige das mesmas palavras que dirigiu ao Arcanjo e das que por fim acrescentou: Fiat mihi secundum verbum tuum (3) – “Faça-se em mim segundo a tua palavra“; significando que dava o seu consentimento porque o Anjo lhe assegurava que devia ser mãe unicamente por obra do Espírito Santo. Continuar lendo

TERNO PAI

Resultado de imagem para confissãoDiscípulo — E agora, diga-me Padre: ao ouvir certos pecados, será que o confessor não se surpreende, não fica ofendido, não perde a estima… não nega a absolvição?

Mestre — Mas como é que ele deve ficar surpreendido? Qualquer que seja o confessor, ele já conhece o mundo. Os mesmos pecados que você cometeu, ele já os ouviu mil vezes; por mais que você lhe diga, não lhe dirá nada de novo. Além disso, ele está ali para ouvir misérias e não para ouvir milagres. Nem se ofende se você lhe disser coisas graves, porque, com os pecados, não foi ele que você ofendeu; pelo contrário, como um terno pai, ficará mais comovido, terá mais compaixão de você; alegrar-se-á, pensando que, perdoando muito, aumentará a alegria e a glória de Deus. Será que os pescadores se sentem ofendidos quando puxam na rede peixes enormes?

— Nunca, pelo contrário, ficam satisfeitíssimos .

— Pois bem, o mesmo acontece com o Confessor. Ouça o que lhe vou contar: Um dia, um pecador que tinha culpas bem graves foi confessar-se com S. Luiz Bertrano. Apesar de intensamente arrependido, tinha ainda muito medo e muita vergonha, por isso a cada pecado deitava uma olhadela para o confessor para ver qual a impressão que causavam as suas culpas.

Tendo observado que o Santo não mostrava nem um sinal de espanto, criou coragem e confessou até os pecados mais feios e enormes, e então, muito admirado viu passar pelos lábios do Santo um sorriso muito doce. Como o Padre lhe perguntasse se ainda tinha mais coisa a dizer, respondeu tristonho:

— Padre; ainda tenho mais uma coisa a dizer, mas me falta a coragem…

— Como é que não ousas, se já disseste tantas e com tamanha bravura?

— Porque cometi essa falta neste momento.

— Tanto melhor; assim ela será morta agora mesmo, enquanto está fresca.

— Mas, Padre, eu a cometi contra o Senhor…

— Contra mim? Pois bem, quê importa? Se eu devo perdoar os pecados cometidos
contra Deus, por que, não perdoarei um pecado contra mim?

— Padre, quando eu estava confessando aqueles pecados enormes o vi sorrir e disse comigo mesmo “Este certamente ainda os cometeu maiores do que eu…”

A estas palavras, São Luiz Bertrano respondeu sorrindo:
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DEVOÇÃO DE SANTO AFONSO À PAIXÃO DE JESUS CRISTO

afoMihi autem absit gloriari, nisi in cruce Domini nostri Iesu Christi – “Quanto a mim, livre-me Deus de me gloriar, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gal. 6, 14).

Sumário. Com muita razão a Igreja chama Santo Afonso contemplador assíduo e propagador admirável da devoção à paixão e morte de Jesus Cristo. Foi este o assunto quase contínuo de suas meditações, de seus colóquios públicos e particulares. Se queremos ser devotos verdadeiros e dignos filhos do santo Doutor, sejamos, à sua imitação, devotos da Paixão de Jesus, façamos dela em todas as circunstâncias o assunto habitual de nossas meditações.

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Com muita razão a Igreja (1) chama Santo Afonso contemplador assíduo e propagador admirávelda devoção à paixão e morte de Jesus Cristo. Foi este o assunto mais freqüente, ou antes contínuo, de suas meditações; não deixava passar um dia sem percorrer as estações da Via sacra, e a cada instante lançava um olhar sobre o Crucifixo que tinha no seu quarto, acompanhando o olhar de alguma oração jaculatória de amor. – As suas mortificações e penitências eram sempre mais rigorosas nas sextas-feiras do ano; mas aumentava-as quase até ao excesso na Semana Santa, especialmente nos três últimos dias da mesma. Então via-se Afonso silencioso, pálido e triste, como que fora de si e absorto, na contemplação dos mistérios dolorosos da Paixão do Senhor, da qual a Igreja faz então comemoração especial.

Para desafogar os afetos de sua devoção e excitá-los também no coração de outros, o Santo falava muitas vezes desta devoção em seus colóquios privados; ensinava-a ao povo em quase todas as suas prédicas, e compôs diversas obras para transfundir à alma de seus leitores as puras chamas de seu amor. – Mais, não contente com isso, quis que todos os pregadores da sua diocese e especialmente os membros de sua Congregação, nunca deixassem de inculcar ao povo a meditação dos sofrimentos de Jesus Cristo. “Nas missões”, dizia o Santo, “são muito úteis os sermões sobre o juízo e o inferno, porque incutem o temor; mas as conversões que provém do temor, são pouco duráveis. Ao contrário, as conversões por meio do amor a Jesus crucificado, são mais fortes e constantes. Quem se afeiçoa a Jesus crucificado, não tem mais medo.” Continuar lendo

RESPEITO DEVIDO À DIGNIDADE SACERDOTAL

sacerEgo dixi: Dii estis, et filii Excelsi omnes – “Eu disse: Sois deuses, e todos filhos do Excelso” (Ps. 81, 6).

Sumário. É com muita razão que os santos tinham os sacerdotes na mais alta estima. Quanto ao corpo místico de Jesus Cristo, que são todos os fiéis, os sacerdotes têm poder de livrar o pecador do inferno e fazê-lo herdeiro do paraíso. Quanto ao corpo real, é um ponto da fé que, quando o sacerdote consagra, o Verbo eterno desce do céu para esconder-se sob as espécies sacramentais. Oh dignidade sublime!… Procuremos sempre ter grande veneração para com os ministros de Deus, e, sendo sacerdotes, sejamos os primeiros a respeitar o nosso caráter sacerdotal, se desejamos ser respeitados pelos outros.

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A dignidade do sacerdote e o respeito que lhe é devido dimanam do poder que ele possui sobre o corpo místicoe sobre o corpo real de Jesus Cristo. Quanto ao corpo místico, que são todos os fiéis, o sacerdote tem o poder das chaves, isto é, o poder de livrar o pecador do inferno e fazê-lo herdeiro do paraíso. Deus mesmo quis obrigar-se a ratificar a sentença do sacerdote, a perdoar ou não perdoar, conforme o sacerdote absolve o penitente por estar disposto, ou não o absolve. Precede a sentença do sacerdote e Deus a subscreve.

Se o Redentor baixasse do céu a uma igreja e se sentasse num confessionário para administrar o sacramento da penitência e em outro se sentasse um sacerdote: se Jesus Cristo e o sacerdote ambos dissessem: Ego te absolvo – “Eu te absolvo”, os penitentes, tanto de um como de outro, ficariam igualmente absolvidos. – Que honra não seria para um súdito, se o rei lhe conferisse o poder de livrar da cadeia a quem quisesse! Mas muito maior é o poder que Jesus Cristo deu a seus ministros: o poder de livrar do inferno não só os corpos, mas também as almas.

Quanto ao corpo real de Jesus Cristo, é um ponto da fé que o Verbo incarnado se obrigou a descer às mãos do sacerdote que consagra, sob as espécies sacramentais. Causa pasmo o ouvir que Deus obedeceu a Josué, fazendo parar o sol ao mando dele: obediente Deo voce hominis (1) – “obedecendo Deus à voz do homem”. Mais pasmo, porém, causa o ouvirmos que em virtude de poucas palavras do sacerdote Deus mesmo obedece e vem sobre o altar, ou aonde quer que o chamem, e se põe entre as mãos do sacerdote ainda quando este fosse seu inimigo. Continuar lendo

GRANDE RECOMPENSA, POR POUCO

Resultado de imagem para santa tereza d'avilaQuem conta o fato é a célebre carmelita Santa Tereza de Ávila.

Estava ela entretida na construção de conventos para sua ordem, quando se apresentou um senhor muito distinto e lhe ofereceu vasto terreno para levantar um mosteiro, nos arredores de Valadolid. Vendo a Santa a boa vontade do cavalheiro e de sua devoção, pois queria agradar à Nossa Senhora do Carmo, aceitou prontamente o generoso presente.

Dois meses depois, o dito senhor caiu doente. Perdeu a fala, e morreu sem poder confessar-se.

No mesmo dia Nosso Senhor apareceu à Santa e afirmou-lhe que o falecido estivera em sério perigo de condenar-se. Fora, contudo, salvo pela doação que fizera em honra de Maria Santíssima. Disse-lhe que só sairia do purgatório quando lá, no terreno presenteado, se celebrasse a primeira Missa.

A Santa, embora muito empenhada na construção de uma casa em Toledo, largou tudo, a fim de socorrer o benfeitor.

Tendo ido examinar o novo local, não gostou dele por ser muito distante da cidade e insalubre. Mas, lembrando-se dos terríveis sofrimentos que aquela alma padecia, não quis demorar-se.

Mandou vir pedreiros e carpinteiros, para arranjar logo o que fosse mais urgente, para, quanto antes, dizer-se a Santa Missa. Recorreu ao senhor Bispo, para obter as devidas licenças. E já no domingo, o sacerdote celebrou o sacrifício da Missa.

Na hora da Santa Comunhão, de repente, apresentou-se, ao lado da Santa, o tal cavalheiro de rosto resplandecente a transbordar de júbilo.

Agradeceu-lhe profundamente ter sido libertado naquela hora do purgatório.

Foi Maria Santíssima quem o buscou das chamas onde sofria dolorosamente.

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Agradeçamos a Nossa Senhora os muitos benefícios que nos tem prestado. São muito mais que pensamos.

Como Maria Santíssima é boa! – Frei Cancio Berri C. F. M.

NECESSIDADE DA OBSERVÂNCIA REGULAR PARA UM RELIGIOSO

pioFili mi… custodi legem atque consilium, et erit vita animae tuae – “Filho meu… guarda a lei e o conselho e terá vida a tua alma” (Prov. 3, 21).

Sumário. Cumpre observar que a predestinação dos religiosos está ligada à observância da Regra. Quem a transgride habitualmente, muito embora em coisas pequenas, posto que faça muitas outras coisas boas, não progredirá nunca na perfeição e trabalhará sem fruto. Foi por estas transgressões que começou a ruína de tantos que agora vivem fora da Ordem e talvez estão ardendo no inferno. Façamos muito caso da Regra; imaginemos que somente nós a temos de guardar e se virmos outros faltar à observância, procuremos suprir os seus defeitos.

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São Francisco de Sales escreveu a seguinte célebre sentença: A predestinação dos religiosos está ligada à observância das regras. Quer com isso dizer que o único caminho para a salvação e a santidade para os religiosos é a observância das regras; outro caminho qualquer não os poderia levar a este termo. Um religioso, pois, que habitualmente transgride algum ponto da Regra, nunca se adiantará um passo sequer na perfeição, posto que praticasse muitas penitências e orações, pregasse ao próximo ou fizesse outras obras espirituais. Trabalhará, mas sem fruto e verificar-se-á nele o que diz o Espírito Santo: “Os que não fazem caso da disciplina, são infelizes e esperam em vão; porque os seus esforços ficarão sem fruto e inúteis serão as suas obras.” (1)

Nem serve dizer que se trata de coisas pequenas; porque as prescrições da Regra são todas importantes e, quando guardadas, conduzem à alta perfeição. Costumava dizer o Bem-aventurado Egidio: “Um leve descuido nos pode fazer perder uma grande graça.” – Não se guardem numa Comunidade os pequenos pontos da Regra e não será mais um horto de delícias para Jesus Cristo, mas um antro de desordens, confusões e defeitos. Daí resultará afinal o relaxamento da Ordem inteira, porque a falta de observância passará de uma Comunidade para outra, e das transgressões de coisas leves se passará para a transgressão das grandes.

Oh! Que satisfação tem o demônio ao ver um religioso que começa a não fazer caso das coisas pequenas! O espírito maligno sabe por experiência que, quando alguém contraiu o hábito de não fazer caso das faltas leves, em breve deixará de fazer caso das faltas graves, relativas aos votos. Nemo repente fit turpissimus, diz São Bernardo. Ninguém se torna de uma vez, de bom que era, um grande celerado; mas os que finalmente caíram nos maiores pecados, começaram com faltas muito pequenas.  – Persuade-te de que foi por aí que começou a ruína de tantos confrades teus, que agora vivem fora da Ordem, e quiçá estão ardendo no inferno. O princípio foi o pouco caso das pequenas regras do Instituto: Ipse morietur, quia non habuit disciplinam (2) – “Ele morrerá, porque não guardou a disciplina”. Continuar lendo

A PENA DOS SENTIDOS NO INFERNO

infernoQuantum glorificavit se et in deliciis fuit, tantum date illi tormentum et luctum – “Quanto se glorificou e esteve em delícias, tanto lhe dai de tormento e pranto” (Apoc. 18, 7).

Sumário. É com razão que o inferno é chamado um lugar de tormentos, porque ali todos os sentidos e todas as faculdades do condenado terão o seu tormento próprio; e quanto mais tiver ofendido a Deus com algum dos sentidos, tanto mais terá de sofrer nesse sentido. Meu irmão, vê se a vida que levas te inspira confiança de não caberes naquele abismo. Quantos cristãos meditaram no inferno como tu, mas, porque não quiseram romper com o pecado e abusaram da divina misericórdia, estão agora queimando ali para sempre!

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É um ponto da fé que há um inferno, horrível prisão destinada a punir os que se revoltaram contra Deus. O que é o inferno? Um lugar de tormentos: locus tormentorum, como o chama o mau rico condenado (1). É um lugar de tormentos, onde todos os sentidos e todas as faculdades do condenado terão o seu tormento próprio e quanto mais alguém tiver ofendido a Deus com algum dos sentidos, tanto mais terá a sofrer neste mesmo sentido: Quantum in deliciis fuit, tantum date illi tormentum.

vista será atormentada pelas trevas. Que compaixão não sentiríamos, se soubéssemos que um pobre homem está encerrado num cárcere escuro por toda a vida, por quarenta ou cinqüenta anos! O inferno é um abismo fechado de todos os lados, onde nunca penetrará um raio de sol ou de qualquer outra luz. O fogo mesmo que na terra ilumina, no inferno deixará de ser luminoso, tão somente arderá.

olfato terá também o seu suplício. Quanto não sofreríamos se estivéssemos num quarto junto com um cadáver em putrefação? De cadaveribus eorum ascendet foetor (2) – “De seus cadáveres levantar-se-á grande fedor“. O condenado deve ficar no meio de milhões e milhões de cadáveres, vivos com relação aos sofrimentos, mas verdadeiros cadáveres pelo mau cheiro que exalam. Diz São Boaventura que o corpo de um só condenado, se fosse atirado à terra, bastaria com a infecção para fazer morrer todos os homens. Continuar lendo

A SALVAÇÃO É O NEGÓCIO MAIS IMPORTANTE E O MAIS DESCUIDADO

olhandoQuam dabit homo commutationem pro anima sua? – “Que dará o homem em troca da sua alma?” (Matth.16, 26.)

Sumário. Coisa estranha! Ninguém quer passar por negligente nos negócios do mundo e muitos não tem pejo de descuidar o negócio da eternidade, o mais importante de todos. Muitos fazem até tudo para perderem a alma e a maior parte dos cristãos vivem como se as verdades eternas fossem outras tantas fábulas. Nós ao menos não sejamos tão insensatos e pensemos seriamente de que nada nos serviria ganharmos o mundo inteiro, se depois viéssemos a perder a nossa alma. Perdida alma, está tudo perdido, e para sempre!

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A salvação eterna é certamente o negócio que sobre todos os outros mais nos interessa, porque dele depende a nossa eterna felicidade ou desgraça. Todavia é deste negócio que os cristãos menos se ocupam. Não se poupa nenhum cuidado, nem se perde nenhum momento, para chegar a tal dignidade, ganhar tal demanda, concluir tal negócio; que de conselhos então, que de providenciais! Não se come, não se dorme. Mas depois, que se faz para assegurar a salvação eterna? Como é que se vive? Não se faz nada, ou, para melhor dizer, faz-se tudo para a perder e a maior parte dos cristãos vive como se a morte, o juízo, o inferno, o céu e a eternidade não fossem verdades da fé, mas sim fábulas inventadas pelos poetas.

Que mágoa não sentimos quando se perde uma demanda, uma colheita! Quantos cuidados para reparar o prejuízo! Quando se perde um cavalo, um cão, quantas diligências para os reaver! Perdemos a graça de Deus e dormimos e gracejamos e rimos! – Coisa estranha! Cada um tem pejo de passar por negligente nos negócios do mundo; e são inúmeros os que não têm pejo de se descuidar do negócio da salvação, o mais importante de todos! Confessam que os Santos foram verdadeiros sábios, porque só trabalharam para se salvarem e eles mesmos ocupam-se de todas as cosias do mundo com exceção da sua própria alma!

Mas vós, diz são Paulo, ao menos vós, meus irmãos, aplicai-vos ao grande negócio da vossa salvação eterna, que é o negócio que mais vos interessa: Rogamus vos, ut vestrum negotium agatis (1). “Porquanto”, exclama Jesus Cristo, “de que serve ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca de sua alma? (2)” Perdida a alma está tudo perdido, e perdido para sempre. Continuar lendo

DOMINGO DE PENTECOSTES: AMOR DE DEUS PARA COM OS HOMENS NA MISSÃO DO ESPÍRITO SANTO

pentecosteEt repleti sunt omnes Spirit Sancto, et coeperunt loqui variis linguis – “E foram todos cheios do Espírito Santo, e começaram a falar em várias línguas” (Act. 2, 4).

Sumário. No sacramento da Confirmação todos nós recebemos o mesmo Espírito Santo que Maria Santíssima e os apóstolos receberam hoje tão abundantemente. Consideremos o amor que neste sublime mistério nos mostraram as três Pessoas divinas apesar dos maus tratos que o mundo infligiu a Jesus Cristo. Já que o amor se paga com amor, roguemos ao Espírito divino, que nos abrase o coração com suas felizes chamas, e nos conceda que com a língua louvemos a Deus e o façamos louvar pelos outros.

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I. Antes de partir desta terra, o divino Redentor prometeu várias vezes aos apóstolos, que, uma vez voltado para o céu, havia de pedir ao Pai lhes mandasse outro Consolador, o Espírito de verdade, que ficaria sempre com eles. Eis que hoje Jesus cumpre fielmente a sua promessa.

Refere São Lucas que “quando se completaram os dias de Pentecostes, todos os discípulos estavam juntos no mesmo lugar e perseveravam unanimamente na oração com as mulheres e Maria, a Mãe de Jesus. E veio de repente do céu um ruído, como de vento que soprasse com ímpeto e encheu toda a casa onde estavam sentados. E lhes apareceram repartidas umas como que línguas de fogo que repousaram sobre cada um deles. E foram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em várias línguas conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem”.

Consideremos aqui o amor que Deus nos mostrou em tão sublime mistério, porquanto no sacramento da Confirmação nós temos recebido o mesmo Espírito Santo, o Consolador, que Maria Santíssima e os apóstolos receberam hoje tão abundantemente e de um modo tão admirável. O Pai Eterno, não satisfeito de nos ter dado seu Filho divino, quis ainda dar-nos o Espírito Santo afim de que habitasse sempre em nossas almas e conservasse nelas aceso o fogo sagrado do amor. O mesmo faz o Filho Eterno, não obstante os maus tratos que os homens lhe infligiram na terra. Continuar lendo

VIDA INFELIZ DOS PECADORES E VIDA DITOSA DO QUE AMA A DEUS – PONTO III

Imagem relacionadaSe todos os bens e prazeres do mundo não podem satisfazer o coração humano, quem o poderá contentar?… Só Deus (Sl 36,4). O coração humano anda sempre à procura de bens que o possam saciar.

Alcança riquezas, honras ou prazeres, mas não se satisfaz, porque tais bens são finitos e ele foi criado para o bem infinito. Quando, porém, encontra Deus e se une a ele, se aquieta, acha consolo e não deseja nada mais. Santo Agostinho, enquanto se ateve à vida sensual, jamais gozou de paz; mas, quando passou a entregar-se a Deus, fez esta confissão ao Senhor:

“Meu Deus, vejo agora que tudo é dor e vaidade, e que só vós sois a verdadeira paz da alma”

Feito assim mestre por experiência própria, escrevia:

“Que procuras, homem? procuras bens?… Procura o único Bem, no qual se encerram todos os demais” (Sl 41,3).

Depois de ter pecado, o rei David entregava-se à caça, distraía-se nos seus jardins e em banquetes, gozava de todos os prazeres de um monarca.

Mas as festas, as florestas e as demais criaturas em que ele se comprazia, não faziam senão dizer-lhe a seu modo:

“David, queres encontrar em nós paz e satisfação? Não te podemos contentar… Procura teu Deus (Ibid), pois que unicamente ele te pode satisfazer”

Por essa razão, David gemia no meio de seus prazeres, e exclamava: Continuar lendo

COMO SE HÁ DE OCULTAR A GRAÇA SOB A GUARDA DA HUMILDADE

Resultado de imagem para joelhos vaticano peregrino eleiçãoJesus: Filho, muito útil e seguro te é encobrir a graça da devoção, sem te desvanceceres ou te preocupares muito com ela; convindo antes desprezar-te a ti mesmo e temer que não sejas digno da graça recebida. Importa não estares muito apegado a tais sentimentos, que bem depressa podem mudar-se nos contrários. Com a graça presente, pondera quão miserável e pobre és sem ela. O progresso na vida espiritual não consiste tanto em teres a graça da consolação, mas em suporta-lhe com humildade, abnegação e paciência a privação, de sorte que então não afrouxes no exercício da oração, nem deixes de todo as demais boas obras que costumas praticar. Antes faze tudo de boa vontade, como melhor puderes e entenderes, nem te descuides totalmente de ti por causa das securas e ansiedades espirituais.

Muitos há que se deixam levar pela impaciência e pelo desalento, logo que as coisas não correm como desejam. Pois nem sempre está nas mãos do homem o seu caminho (Jer 10,23), mas a Deus pertence consolar e dar a graça quando quiser, e quanto quiser, a quem quiser, tudo como lhe apraz, nem mais nem menos. Perderam-se alguns imprudentes por causa da graça da devoção, porque quiseram fazer mais do que podiam, não ponderando a fraqueza das suas forças e seguindo mais o impulso do coração que os ditames da razão. E porque presumiram de si coisas bem depressa perderam a graça. Caíram maiores do que Deus havia determinado, na pobreza e no abatimento os que pretendiam pôr seu ninho no céu, para assim, humilhados e empobrecidos, aprenderem a não voar com suas próprias asas, mas a esperar à sombra das minhas. Os novos e principiantes no caminho do Senhor facilmente se podem enganar e perder, se não se aconselharem com homens experientes.

Estes, se quiserem antes seguir seu próprio parecer, que confiar no conselho de pessoas experimentadas, põem em grande risco sua salvação, se continuarem aferrados à sua opinião. Os que se têm por sábios raro se deixam dirigir pelos outros. É melhor saber e entender pouco, humildemente, que possuir tesouros de ciência e presumir de si. Melhor te é ter menos do que muito, se com o muito te vem o orgulho. Não é bastante prudente quem se entrega todo à alegria, esquecido da antiga pobreza e do casto temor de Deus que sempre receia perder a graça concedida. Nem tampouco muita virtude denota entregar-se a nímio desânimo em tempo de adversidade e por qualquer contratempo, sem pôr em mim a confiança devida. Continuar lendo

VIDA INFELIZ DOS PECADORES E VIDA DITOSA DO QUE AMA A DEUS – PONTO II

Resultado de imagem para pecadorAlém disso, disse Salomão que os bens do mundo não apenas são vaidades que não satisfazem a alma, mas que são penas que afligem o espírito (Ecl 1,14). Os pobres pecadores pretendem ser felizes carregados de suas culpas, mas só encontram amarguras e remorsos (Sl 13,3). Nada de paz, nem de tranquilidade. Deus nos disse:

“Não há paz para os ímpios” (Is 48,22)

Primeiramente, o pecado traz em si o temor profundo da vingança divina; pois, assim como um homem, que tem um poderoso inimigo, não vive tranquilamente, como poderá o inimigo de Deus repousar em paz?

“O caminho do Senhor causa espanto para os que praticam o mal” (Pr 10,29)

Quando a terra treme ou o trovão ribomba, como estremece aquele que se acha em pecado! Até o suave movimento da folhagem, às vezes, lhe causa pavor:

“O zunido do terror amedronta constantemente os seus ouvidos” (Jo 15,21)

Foge sem ver quem o persegue (Pr 28,1), porque seu próprio pecado corre empós dele. Caim matou seu irmão Abel e exclamou logo:

“Todo aquele que me encontrar me matará” (Gn 4,14)

E não obstante o Senhor lhe ter assegurado que nada lhe aconteceria (Gn 4,15), — diz a Escritura, — Caim andou sempre fugitivo e errante (Gn 4,16). Quem era o perseguidor de Caim, senão o seu pecado? Além disso, a culpa anda sempre acompanhada do remorso, esse verme roedor que jamais repousa. Dirija-se, embora, o pobre pecador a banquetes, saraus e teatros, a voz da consciência o acompanha e lhe diz: Estás no desafeto de Deus; se morreres, para onde é que irás? O remorso é pena tão angustiosa, mesmo nesta vida, que alguns desgraçados, para se livrar de seu peso, suicidam-se. Um desses foi Judas que, como é sabido, desesperado, se enforcou. Conta-se de outro criminoso que, tendo assassinado uma criança, sentiu remorsos tão horríveis, que para acalmá-los se fez religioso; mas nem no claustro encontrou a paz. Foi ter com o juiz e declarou-lhe o seu delito, pelo qual foi condenado à morte. Continuar lendo

VIDA INFELIZ DOS PECADORES E VIDA DITOSA DO QUE AMA A DEUS – PONTO I

Resultado de imagem para pecadorNon est pax impiis, dicit Dominus – “Não há paz para os ímpios, disse o Senhor” (Is 58, 24)

Pax multa diligentibus legem tuam – “Muita paz para os que amam tua lei” (Sl 118, 65)

Nesta vida, todos os homens se esforçam para conseguir a paz.

Trabalham o comerciante, o soldado, o advogado, porque pensam que, realizando tal negócio, obtendo tal promoção, ganhando tal demanda, alcançarão os favores da fortuna e poderão gozar da paz. Mas, ó pobres mundanos, que procurais a paz no mundo, que não a pode dar! Deus somente no-la pode dar. Dá a teus servos, — diz a Igreja em suas preces, — aquela paz que o mundo não pode dar. Não, não pode o mundo com todos os seus bens satisfazer o coração humano, porque o homem não foi criado para essa espécie de bens, mas unicamente para Deus; de modo que somente em Deus pode encontrar felicidade e repouso.

O ser irracional, criado para gozos materiais, procura e encontra a paz nos bens terrestres. Dai a um jumento um feixe de capim, dai a um cão um pedaço de carne, e ficarão satisfeitos, sem desejar mais coisa alguma. Mas a alma, criada para amar a Deus e unir-se a ele, não encontra paz nos deleites sensuais; só Deus a pode fazer plenamente feliz.

Aquele rico de que fala São Lucas tinha obtido de seus campos abundantíssima colheita, e dizia de si para consigo:

“Minha alma, agora possuis bens abundantes, armazenados para muitos anos; descansa, come, bebe…” (Lc 12,19)

Mas este rico infeliz foi chamado louco, e com toda a razão, diz São Basílio. Continuar lendo

PREPARAÇÃO PARA A ORAÇÃO MENTAL – MEDITAÇÃO XII: DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO

Resultado de imagem para santíssimo sacramento fsspxVamos conversar com Deus sobre o importantíssimo negocio da salvação das nossas almas; porem, para que os nossos infernais inimigos não nos embaracem, armemo-nos primeiro com o sinal da Cruz, dizendo com vivíssima fé: Pelo sinal da Santa Cruz, etc…

Feito o sinal da Cruz, digamos:

Espíritos tentadores e demônios malditos apartem-vos de mim e deste lugar para as profundezas do inferno, e não me estorveis nesta oração, dirigida para a honra e glória de Deus, e salvação da minha alma.

Façamos atos da presença de Deus.

Eu creio meu Deus e Senhor, firmemente, que vós estais aqui presente, dentro de mim, penetrando no meu interior, presenciando ainda os mais ocultos pensamentos do meu coração, sem que eu me possa esconder aos vossos puríssimos olhos; porém (prostrem-se) prostrado por terra com o corpo e com a alma, unido ao mesmo pó, me humilho na vossa divina presença desejo adorar-vos como adora a Maria Santíssima, os anjos e os santos do céu e os justos da terra: – Porem, ai de mim, oh meu Deus! Eu pequei, Senhor, perdoe-me, que eu proponho de me emendar e de não tornar mais a pecar. (levantem-se da prostração)

Ato de petição

Pai Eterno pelo sangue de Jesus Cristo e pelas dores de Maria Santíssima conceda-me as luzes, auxílio e graças para fazer bem e com fruto essa meditação. (Rezar um Pai Nosso e Uma Ave Maria)

Leiam-se agora os pontos da meditação, um de cada vez; e quando se encontrarem esses pontinhos (…) deve-se parar por algum tempo, a fim de se ponderar bem o sentido do que se tiver lido; e depois de cada ponto se ficará em silencio, meditando, pelo menos, dez minutos, de maneira que a meditação dos três pontos perfaça, pelo menos, meia hora; e ultimamente se darão graças ao Senhor.

Breve método da oração

MEDITAÇÃO XII: DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO

Ponto 1 – Considera que, conhecendo o Redentor do mundo, que estava chegada a hora de voltar para seu Eterno Pai, não lhe sofrendo o seu animo deixar-nos sós neste vale de lagrimas, pôde descobri um modo de ficar para sempre no meio de nós.. Tão extremoso foi o seu amor para conosco, que nessa mesma noite em que havia de ser traído por um de seus discípulo, e entregue a cruéis verdugos para o arrastarem até ao Calvário, foi que Ele instituiu este Sacramento! Manda assentar os seus discípulos, e lhes diz:. Eu vou ser presa dos meus inimigos, que farão em mim o mais horroroso estrago; porém o que me dá maior cuidado é que tenho de deixar este mundo; mas nunca me apartarei de vós. Já que é necessário que eu padeça, eu vou morrer; porém não vos apaixoneis, pois que a minha morte há de ser a vossa vida. Tomai, comei e bebei daqui todos que neste sacramento vos deixo tudo quanto podia deixar : o meu Corpo, o meu Sangue, minha Alma, a minha Divindade e a mim todo: aquele que se ai manter deste divino manjar, viverá eternamente. Eis aqui o meio que o meu amor pôde descobrir para ficar sempre convosco. … Ó alma, agradece ao amantíssimo Jesus um tão grande amor, e suspira incessantemente pela sua misericórdia.

PONTO 2°.- Considera que Jesus Cristo está no Santíssimo Sacramento de noite e de dia á espera das almas, para lhes dar audiência para ouvir as suas petições, acudir ás suas necessidades e conceder-lhes todas as graças: está esperando pelos que vêm visita-lo no Sacramento para enriquecê-los de bênçãos. Ele quer ser tratado como Amigo, como Pai e como Esposo, com amor e confiança: e para isso é que está sempre junto de nós, para prontamente nos ouvir, santificar e consolar. Oh! Ditosa sorte a nossa! Podermos a toda hora falar com o nosso Deus, que, com corpo, alma e divindade, como está no céu, habita em nossos sacrários, pronto para nos escutar á toda hora do dia ou da noite que o quisermos procurar, escutando ali as nossas súplicas dando pronto remédio a nossos males, perdoando nossos pecados, acendendo em nossos corações aquele fogo celestial, que inflama no santo amor. Ah ! quantos pecadores se tem convertido por meio das visitas ao Santíssimo Sacramento! Quantos justos tem crescido em virtudes e feito progressos na perfeição! Foi esta a principal devoção do glorioso Afonso Maria de Ligorio, e que ele tanto promoveu com suas palavras, escritos, e exemplos, gastando todos os dias horas inteiras neste santo exercício. Segue tu, ó pecador, o exemplo deste e de todos os outros santos, que com tanta frequência chegavam aquela fornalha do divino amor; mostra a Jesus sacramentado as chagas da tua alma, chora, suspira e clama pela sua infinita misericórdia.

PONTO 3°.– Considera, que não se contentou o nosso Redentor só com ficar no meio de nós no Santíssimo Sacramento, quis também dar-nos a comer seu precioso corpo, sangue, alma e divindade na sagrada comunhão, onde nos deixou tudo quanto nós podíamos desejar para a salvação !.. Sim, a sagrada comunhão é a fonte de todas as graças: ali se aumentam as virtudes, ali se nutrem a alma e o corpo com o Pão da vida, que dos céus desceu ; ali se fortifica a alma, recebe as armas para resistir aos combates e ficar vencedor do mundo, do demônio e da carne; ali os fiéis são como leões que respiram chamas de fogo, fazendo-se terríveis a todo o inferno ; ali se reprimem as paixões, porquanto a comunhão é um remédio universal para todas ás misérias, por isso que purifica a alma de todos os vícios, e lhe infunde todas as virtudes !.. Aproxima-te com frequência aquela sagrada mesa, mas purifica primeiro bem a tua consciência, porquanto aquele que comunga em pecado, come e bebe juntamente, com o corpo e o sangue de Jesus Cristo, o seu próprio juízo, e torna-se réu do sangue do Senhor, e será ainda mais castigado do que Judas, que o vendeu, e do que os Judeus, que o mataram ! Procura, pois, viver de modo que possas receber dignamente e com frequência o teu Senhor, e vai já esconder-te na chaga do lado de Jesus, e dentro do Coração de Maria te agasalhe debaixo das asas da sua misericórdia.

 Goffiné – Manual do Cristão

PERSEVERANÇA: A CONSUMADORA DAS VIRTUDES

Resultado de imagem para são boaventuraFonte: Capela Santo Agostinho

Embora tenha alguém alcançado o fundamento de todas as virtudes, contudo não aparece glorioso diante dos olhos de Deus se lhe falta a perseverança, que é a consumadora das virtudes. Nenhum mortal, por mais perfeito que seja, é digno de louvor durante a sua vida enquanto não conclui com um bom e feliz êxito o bem que começou. É porque a perseverança é o fim e a consumadora das virtudes, nutridora dos merecimentos, a medianeira do prêmio. Por isto diz São Bernardo: Tira a perseverança e nem os obséquios, nem os benefícios merecem gratidão, nem a fortaleza, gloria.

De pouco serviria ao homem, ter sido religioso, paciente e humilde, devoto e continente, ter amado a Deus e possuído as demais virtudes, se faltasse a perseverança. É verdade que todas as virtudes correm, mas só a perseverança recebe o prêmio, porque não aquele que principiou, mas quem tiver perseverado até o fim, será salvo. Pelo que diz São João Crisóstomo: Para que servem searas florescentes se depois murcham? Isto quer dizer: não servem pra coisa alguma. Se, pois, virgem diletíssima de Cristo, possuíres alguma habilidade em boas obras, ou antes, porque tens muitas virtudes, persevera nelas, progrida e com ânimo varonil exerce nelas a milícia de Cristo até a morte.

Desta forma, quando vier o último dia, e o fim de tua vida, receberás em recompensa e prêmio de teu labores, a coroa da honra e glória. Cristo, o teu único dileto, te fala por isso no Apocalipse: Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida. Não é outra coisa esta coroa senão o prêmio da vida eterna, que todos os cristãos devem ardentemente desejar. Tão grande é este prêmio que, segundo São Gregório, absolutamente ninguém é capaz de tê-lo em devido apreço, tão abundante é que ninguém pode enumerá-lo; é, enfim, de tanta duração que jamais pode acabar e terminar. A este prêmio, a esta coroa te convida teu amado Esposo Jesus Cristo nos cantares com as palavras: Vem do Líbano, esposa minha, amiga minha, vem do Líbano, vem para ser coroada. Levanta-te, pois, amiga de Deus, esposa de Jesus Cristo, pomba do rei eterno, vem, corre a núpcias do filho de Deus, eis que toda corte celeste te aguarda, porque tudo está preparado. Aguarda-te um servo rico e nobre para te servir; um manjar precioso e delicioso para te saciar; uma companhia doce e amável sobretudo, para se alegrar contigo. Levanta-te, pois, e corre apressadamente as núpcias aí te espera um servo rico pra te servir. Este servo não é outro senão o coro angélico; ainda mais, é o próprio Filho de Deus eterno, conforme ele mesmo diz de si no Evangelho: Na verdade, vos digo, cingir-se-á e as fará sentar à mesa e passando, lhes servirá. Continuar lendo

RECUPEROU OS OUVIDOS

Resultado de imagem para surdezUm jovem de Flêscia, França, que por causa de seus estudos (escreveu o grande missionário Padre Segneri) deixara a prática, pediu a certa ocasião a seus pais que lhe enviassem dinheiro. Como estes não lhe mandassem, quanto ele desejava, remeteu-lhe uma carta cheia de desaforos. Apenas partira a missiva, o moço ensurdeceu totalmente. Toda a diligência dos médicos foi inútil para cure-lo.

Perdida inteiramente a esperança neles, o rapaz resolveu fazer uma peregrinação a Loreto, Itália, a fim de solicitar de Maria a cura que não conseguiram dar-lhe os doutores. Chegou à Santa Casa (é a mesma casa em que moraram Jesus, Maria e S. José em Nazaré, transportada inteirinha pelos Anjos até Loreto) na vigília da Assunção e, de noite, viu em sonhos uma celestial Senhora de grande majestade e esplendor, acompanhada de duas pessoas. Eram o pai e mãe do desgraçado estudante. A Senhora, que era a própria Maria Santíssima, voltada para os que a acompanhavam, pergunta-lhes:

– É este vosso filho?

– Sim, Mãe e Senhora nossa, disseram eles.

– Quereis que recobre a audição?

– Humildemente vo-lo suplicamos.

A Santíssima Virgem aproximou-se da cama do jovem e mostrou-lhe a carta escrita a seus pais:

–  Lei-a, disse-lhe.

O moço, envergonhado e arrependido, cativou a Mãe de Deus, que lhe tocou suavemente ambos os ouvidos, e desapareceu.

Despertou o estudante e com grande contentamento e maravilha achou-se são. Pediu novamente perdão pela má-criação e deixou na Casa Santa um escrito juramentando de todo o ocorrido.

Maria Virgem é sempre boa Mãe para todos, mormente para os que a procuram, pedindo-lhe graça s e favores.

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Apesar de o filho ter merecido aquele castigo pela má-criação, uma vez arrependido, Nossa Senhora não só lhe perdoou tudo, senão também o curou completamente.

Como Maria Santíssima é boa! – Frei Cancio Berri C. F. M.

O DIA DA DESILUSÃO

morteDormierunt somnum suum, et nihil invenerunt omnes viri divitiarum in manibus suis – “Dormiram o seu sono e nada acharam nas suas mãos todos estes homens de riquezas” (Ps. 75, 6).

Sumário. O dia da morte é chamado dia de desilusão, porque nesse dia de verdade, à luz da vela mortuária, se vêem as coisas deste mundo bem diferentes do que agora nos aparecem. Se, pois, quisermos avaliar bem as honras, as dignidades, os prazeres, as riquezas, imaginemos estar no leito de morte; contemplemos dali os bens deste mundo e digamos: No fim da vida não se fará caso de tudo isso, mas somente daquilo que nos acompanha para a eternidade: De que serve ao homem ganhar o mundo inteiro?

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Coisa maravilhosa! Quão grande é a prudência dos mundanos no que diz respeito aos bens da terra! Quantos passos não dão para adquirirem tal emprego, tal fortuna! Quantos cuidados para conservar a saúde do corpo! Mas que descuido pelo que diz respeito à alma; para a eternidade nada querem fazer! E no entanto é certo que a saúde, as dignidades, as riquezas devem acabar um dia, ao passo que não tem fim nem a alma nem a eternidade.

Mais cedo ou mais tarde chegará o dia da desilusão. Ó Deus, ao clarão da vela mortuária conhece-se a verdade e confessam os mundanos a sua loucura. Então não há nenhum que não exclame: Ah! Porque não deixei tudo para me santificar! – O papa Leão XI dizia na hora da morte: Melhor fora para mim ter sido porteiro num convento do que papa. Onório III, também papa, dizia igualmente na hora da morte: Antes tivesse ficado na cozinha de meu convento para lavar a louça.

Filippe II, rei de Espanha, estando para morrer, mandou chamar o filho, e entreabrindo as vestes seaes, mostrou-lhe o peito roído de vermes, dizendo:

– Príncipe, vê como se morre, e aonde vêm a parar as grandezas do mundo.

Depois exclamou: Continuar lendo

FESTA DA ASCENSÃO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

ascensao-de-nosso-senhorDominus Iesus, postquam locutus est eis, assumptus est in coelum, et sedet a dextris Dei – “O Senhor Jesus, depois que lhes falou, foi assunto ao céu, e está sentado à direita de Deus” (Marc. 16, 19).

Sumário. Como a águia ensina os filhos a voarem, assim, no mistério de hoje, Jesus Cristo nos exorta a elevarmos o nosso vôo e a acompanhá-Lo ao céu, se não com o corpo, ao menos com nosso afeto. Desprendamos os nossos corações desta terra e suspiremos pela pátria celestial, onde se acha a nossa felicidade: esperando, como diz o Apóstolo, a adoção de filhos de Deus, a redenção do nosso corpo. Entretanto tenhamos sempre diante dos olhos os exemplos da vida mortal do Redentor e imitemos as suas belas virtudes, em particular a sua humildade e doçura.

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O lugar que competia a Jesus ressuscitado, era o céu, que é a morada das almas e dos corpos bem-aventurados. Quis Jesus, todavia, permanecer quarenta dias sobre a terra e aparecer repetidas vezes a seus discípulos para os certificar da sua ressurreição e instruí-los nas coisas relativas à sua Igreja: Loquens de regno Dei (1) – “Falando do reino de Deus”. – Tendo desempenhado esta nobre missão, quis o Senhor, antes de deixar a terra, mostrar-se mais uma vez aos apóstolos em Jerusalém; e depois de lhes exprobrar suavemente a sua dureza, por não acreditarem na sua ressurreição, ordenou-lhes que fossem para o Monte das Oliveiras, o lugar onde tinha começado a sua Paixão, afim de que compreendessem que o verdadeiro caminho para ir ao céu é o dos sofrimentos. Depois, cercado de cento e vinte pessoas, repetiu-lhes mais uma vez o que já lhes havia ordenado, especialmente que fossem pregar o Evangelho pelo mundo inteiro; feito o que o divino Redentor levantou as mãos e os abençoou.

Em seguida, como medita São Boaventura (2), Jesus abraça a sua santíssima Mãe e aperta-a contra o coração, anima e conforta os seus discípulos, que, entre lágrimas, Lhe beijam os pés e com as mãos levantadas e o semblante extraordinariamente majestoso e amável, coroado e vestido como rei, se eleva lentamente ao céu, levando em sua companhia as numerosíssimas almas justas, livradas do limbo. – A esta vista todos os presentes ajoelham novamente e Jesus mais uma vez os abençoa. Afinal uma nuvem subtrai o divino Triunfador à sua vista, e Jesus vai sentar-se à direita do Pai, onde não cessa de ser nosso medianeiro e advogado.

Avivemos a nossa fé, e contemplemos o júbilo que a entrada triunfal de Jesus causou no paraíso: alegremo-nos com o nosso divino Chefe e unamos os nossos afetos aos de Maria Santíssima e dos santos discípulos. Continuar lendo

EFEITOS ADMIRÁVEIS

Imagem relacionadaDiscípulo  — Padre, além do perdão dos pecados, a confissão traz mais outras vantagens?

Mestre — Traz; e muitíssimas e surpreendentes. Nós todos temos três inimigos implacáveis, deploráveis e obstinados, os quais, dia e noite armam ciladas contra a nossa alma. São eles: a concupiscência, o demônio e o mundo. Da infância ao túmulo, perseguem-nos sempre, onde quer que estejamos e ceifam inúmeras vítimas de todas as idades e condições. Ai de quem não se previne com o remédio divino, que é a confissão.

— E a confissão consegue vencer esses inimigos?

— Uma confissão isolada, não; é preciso que seja repetida frequentemente. Esses inimigos, feridos uma vez com a confissão, não morrem, mas tornam a tentar a prova, mais maliciosos do que antes, modificam e multiplicam os seus lagos para nos causar danos maiores. Oh! quantos, apesar de sinceramente arrependidos, tornam a cair, depois de breves intervalos, nas mesmas faltas.
São Felipe Néri conta que um jovem o procurou, resolvido a abandonar, custasse o que custasse, certos pecados impuros, que tinha o hábito de cometer. Ele ouviu-o, e, vendo a firme vontade que tinha de se emendar, absolveu-o em nome de Jesus Cristo e lhe disse que fosse em paz, e que, se por acaso, aquilo acontecesse de novo, voltasse logo para se confessar.

No dia seguinte, eis de novo o rapaz aos pés de São Felipe.

— Padre, o demônio foi mais forte do que eu, tornei a cair na mesma falta.

— Você está arrependido?

— Sim, padre.

— Pois bem, eu o absolvo, vá em paz, mas na primeira recaída, volte. No terceiro, no quarto, no quinto dia, ei-lo sempre de novo aos pés do Santo confessando as recaídas de sempre, e assim aconteceu doze, treze vezes com intervalos mais ou menos longos, até que finalmente venceu o seu defeito, tornou-se tão puro e tão casto que São Felipe o acolheu entre os seus filhos e ele se tornou um apóstolo zeloso. E assim, a confissão, constantemente repetida, acabou por ser a mais forte, venceu o demônio impuro e os seus mais obstinados assaltos.
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INFELIZ DE QUEM PECA CONTANDO COM O PERDÃO

pecadEffugium peribit ab eis, et spes illorum abominatio animae – “Não lhes ficará refúgio e a esperança deles será abominação de sua alma” (Iob. 11, 20).

Sumário. Deus suporta, mas não suporta sempre. Quando se encheu a medida dos pecados que Deus quer perdoar, lança mão dos castigos mais formidáveis. Se Deus suportasse sempre, ninguém se condenaria, mas é opinião comum, que a maior parte dos adultos, incluindo os cristãos, se condenam. Infelizes de nós portanto, se pecarmos na esperança do perdão e abusarmos da misericórdia de Deus, para o ultrajar mais! Seremos irreparavelmente condenados para sempre, como se condenaram tantos outros nossos iguais.

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Escreve São Bernardo que a esperança do perdão, que os pecadores têm quando pecam, não atrai a misericórdia de Deus, mas sim a sua maldição. Pelo que São João Crisóstomo nos avisa: Tomai cuidado, porque não é Deus que vos promete misericórdia, mas antes o monstro insaciável do inferno, afim de que desta maneira pequeis mais livremente. E Santo Agostinho acrescenta: Sperant ut peccent; vae a perversa spe! Ai daqueles que não esperam afim de que Deus lhes perdoe os pecados de que se arrependem, mas esperam que, ao passo que continuam a pecar, Deus tenha piedade deles. – Quantas almas se não deixaram enganar e se perderam por esta vã esperança! Diz ainda o Santo. Tal esperança é uma abominação aos olhos de Deus: Spes illorum abominatio. Longe de mover o Coração de Deus à misericórdia, irrita-O para castigar mais depressa o culpado, assim como um criado irritaria a seu amo se o ofendesse porque é bom. Diz São Bernardo que Lúcifer foi tão depressa castigado por Deus porque se revoltou com a esperança de não ser punido. O rei Manassés foi pecador; mas converteu-se em seguida e Deus lhe perdoou. Amon, filho de Manassés, vendo o pai tão facilmente perdoado, entregou-se à vida desregrada na esperança do perdão; mas para Amon não houve misericórdia. Diz também São João Crisóstomo que Judas se perdeu porque pecou confiado na clemência de Jesus Cristo: Fidit in lenitate Magistri.

Numa palavra: se Deus suporta, não suporta sempre. Se Deus suportasse sempre, ninguém se condenaria. No entanto, a opinião mais comum é de que a maior parte dos adultos, incluindo os cristãos, se condenam: Lata porta et spatiosa via est, quae ducit ad perditionem, et multi intrant per eam (1) – “Larga é a porta e espaçosa a estrada que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela”. Infeliz, portanto, de quem abusa da misericórdia de Deus para o ultrajar mais! Perder-se-á irreparavelmente para todo o sempre.

Meus irmãos, escreve São Paulo, não vos enganeis; de Deus não se zomba: aquilo que o homem semear, isso colherá (2). O que semeia pecados, não tem a esperar senão os castigos do inferno. Seria zombar de Deus o querer continuar a ofendê-Lo e depois desejar o paraíso. Continuar lendo