REMORSOS E DESEJOS DE UM PECADOR MORIBUNDO

moribundo

Angustia superveniente, requirent pacem, et non erit — “Ao sobrevir-lhes de repente a angústia, eles buscarão a paz e não a haverá” (Ezech. 7, 25).

Sumário. Consideremos o estado infeliz de um moribundo que viveu mal, especialmente se era pessoa consagrada a Deus. Que remorso lhe causará o pensamento de que, com os meios que o Senhor lhe proporcionou, até um pagão se faria santo! Desejará então um instante daquele tempo que agora se perde, ou é empregado no pecado, mas em vão. Irmão meu, a fim de que não tenhamos tal desgraça, tomemos agora as resoluções que então havíamos de tomar. Talvez seja esta a última vez que Deus nos chama.

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Como se deixam bem conhecer no momento da morte as verdades da fé, mas para maior tormento do moribundo que viveu mal, especialmente se era pessoa consagrada a Deus, já que, para o servir, tinha mais facilidade, mais exemplos, mais inspirações. Ó Deus, que pena será para essa pessoa pensar e dizer: “Repreendi os outros e fiz pior do que eles! Deixei o mundo e vivi ligado aos gozos, às vaidades e às afeições do mundo!” Que remorso lhe causará o pensamento de que, com as luzes que recebeu de Deus, até um pagão se teria feito santo! Que dor não sofrerá, lembrando-se de ter ridicularizado as práticas de piedade dos outros como fraquezas de espírito e de ter louvado certas máximas do mundo, de estima ou de amor próprio!

Desiderium peccatorum peribit (1) — “O desejo dos pecadores perecerá”. Quanto será desejado na morte o tempo que se perde agora! Conta São Gregório, nos seus Diálogos, que um homem rico, mas de maus costumes, chamado Crisâncio, estando a ponto de morrer, gritava aos demônios que lhe apareciam visivelmente para se apoderar de sua alma: “Dai-me tempo, dai-me tempo até amanhã.” Respondiam os demônios: “Ó insensato, é nesta hora que pedes tempo? Tiveste tanto tempo e perdeste-o, empregaste-o a pecar, e agora é que pedes tempo? Já não há mais tempo.” O desgraçado continuava a gritar e a pedir socorro. Próximo dele achava-se um seu filho chamado Maximo, que era monge. Dizia-lhe o moribundo: “Socorre-me, filho, meu caro Maximo, socorre-me!” No entanto, com o rosto chamejante, volvia-se de um para outro lado do leito, e nesta agitação e gritos de desespero, expirou desgraçadamente.

Ó céus! Durante a vida, aqueles desgraçados comprazem-se na sua loucura, mas na morte abrem os olhos e reconhecem quanto foram insensatos; mas isto então lhes serve tão somente para aumentar o seu desespero de remediarem o mal que fizeram. — Meu irmão, penso que ao leres estas reflexões, dirás: É verdade; é mesmo assim. Mas se é verdade, muito maior seria a tua loucura e a tua desgraça, se, reconhecendo a verdade na vida, não te aproveitasses dela a tempo. Esta mesma leitura, que acabas de fazer, ser-te-á no momento da morte uma espada de dor. Continuar lendo

MARIA APARECEU-LHE E CONVERTEU-O

Resultado de imagem para virgem santíssimaCerto conde, que se dizia devoto de Nossa Senhora, não vivia bem. Diariamente rezava-lhe certas orações, mas continuava em seus pecados.

Um dia, durante uma caçada, sentiu fome devoradora. Nossa Senhora, que é sempre boa, apareceu-lhe, oferecendo-lhe, numa vasilha imunda, comida gostosa. O fidalgo queixou-se com as palavras:

“Como poderei eu comer de um prato tão sujo?”

Ao que a mãe de Deus lhe respondeu:

“Assim como o senhor não pode apreciar uma iguaria, embora boa, numa vasilha suja, do mesmo modo eu também não posso aceitar com prazer seus louvores, enquanto continuar nessa vida de pecados”.

O conde caiu em si, mudou de vida, desde então foi muito favorecido de graças e bênçãos da Virgem Santa.

Teve uma morte santa, e ganhou o Céu.

Observação:

Uma das maneiras para agradar a Nossa Senhora é exatamente evitar os pecados, que aborrecem a Jesus. O que entristece a Deus, desgosta também a sua mãe.

Como Maria Santíssima é boa! – Frei Cancio Berri C. F. M.

O AMOR VENCE TUDO

amorFortis est ut mors dilectio — “O amor é forte como a morte” (Cant. 8, 6).

Sumário. Assim como a morte nos desprende de todos os bens terrestres, das riquezas, das dignidades, dos parentes e amigos e de todos os prazeres do mundo; assim o amor de Deus, quando reina num coração, desprende-o do afeto a todos os bens caducos. Queremos, pois, saber se amamos a Deus e se somos inteiramente d’Ele? Examinemos se estamos desapegados de todas as coisas terrestres. Vejamos sobretudo se já estamos desapegados de nós mesmos, pela morte do maldito amor próprio, que quer intrometer-se mesmo nas ações mais santas.

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Assim como a morte nos desprende de todos os bens terrestres, das riquezas, das dignidades, dos parentes e amigos e de todos os prazeres mundanos: assim o amor de Deus, quando reina num coração, desprende-o do afeto a todos estes bens terrestres. Por isso vemos os Santos desfazerem-se de tudo quanto o mundo lhes oferecia, renunciarem às suas posses, às mais altas dignidades e retirarem-se para os desertos ou claustros, para pensarem somente em amar o seu Deus. — A alma não pode deixar de amar, ou seu Criador, ou as criaturas. Desfaça-se uma alma de todo o afeto terrestre e achá-la-eis cheia do amor divino. Queremos saber se pertencemos inteiramente a Deus? Examinemo-nos se estamos desapegados de todas as coisas da terra.

Queixam-se alguns de que em todas as suas devoções, orações, comunhões, visitas ao Santíssimo Sacramento não acham Deus. Responde-lhes Santa Teresa: desprende o coração das criaturas e então busca Deus e achá-Lo-ás. Não acharás sempre doçuras espirituais, mas o Senhor te fará gozar aquela paz interior que sobrepuja todas as delícias sensitivas. Que delícia maior pode experimentar uma alma abrasada no amor divino do que em dizer: Deus meus et omnia — “Meu Deus e meu tudo”?

Fortis ut mors dilectio — “O amor é forte como a morte”. Enquanto virmos um moribundo interessado por alguma coisa terrestre, teremos a prova mais certa de que não está ainda morto, visto que a morte nos tira tudo. Quem quiser ser todo de Deus deve deixar tudo: a reserva feita de qualquer coisa prova que o amor de Deus não é perfeito, mas fraco. — O amor divino, diz o P. Segneri Júnior, é um amável ladrão que nos tira todas as coisas terrestres. A outro servo de Deus, que tinha distribuído todos os seus bens entre os pobres, perguntou-se o que o reduzira a tal estado de pobreza. Tirou da algibeira o livro dos Evangelhos e disse: Eis aí quem me despojou de tudo. Em uma palavra, Jesus Cristo quer possuir o nosso coração todo inteiro e não sofre competidores. Continuar lendo

A GRANDE TRAIÇÃO – PARTE II

Resultado de imagem para beijo judasNo século XVII, as forças anticatólicas foram agrupadas em torno dos três grandes heresiarcas: Lutero, Zwingli e Calvino. Embora todos ensinassem diferentes doutrinas e, ao se falar um do outro, expressaram-se em termos pouco claros, estavam unidos em seu ódio contra a “não suficientemente execrada Missa”. Adotando todas as heresias eucarísticas do passado e adicionando outras, eles estabeleceram e propagaram o que hoje chamamos de Reforma.

Já conhecemos os meios usados pelo arcebispo Cranmer na Inglaterra protestante para a destruição da Missa. Cranmer com outros dois líderes protestantes, Ridiye e Latimer, pediram um debate público com teólogos católicos sobre a transubstanciação. Este debate público ocorreu em Oxford em três proposições:

  • Na Eucaristia, em virtude das palavras de Cristo pronunciadas pelo sacerdote, o Corpo e o Sangue de Cristo estão verdadeiramente presentes, sob as aparências do pão e do vinho.
  • Após a consagração, não há substância de pão ou vinho, mas corpo e sangue.
  • A Missa é um verdadeiro sacrifício proveitoso aos vivos e aos mortos como propiciação de seus pecados.

Após uma disputa de três dias, os protestantes viram-se obrigados a repudiar a autoridade do Quatro Concílio de Latrão “por não concordar com a palavra de Deus”. Embora este repúdio tenha sido uma consequência lógica da doutrina protestante, não deixou de surpreender grandemente os católicos, bem como os teólogos que disputavam como os estudantes que ouviam.

O quê? Exclamou o teólogo católico que presidia “Não admitem o Concílio de Latrão?”

Não, responderam os protestantes; não admitimos.

Nada havia a acrescentar. Eles repudiaram uma doutrina, que indubitavelmente expressava a doutrina católica. Repudiavam a própria ideia da continuidade apostólica da Igreja, em seu desenvolvimento.

Como Karl Adam coloca em The Spirit of Catholicism: Continuar lendo

SEGUNDO DOMINGO DEPOIS DA EPIFANIA: DESEJO QUE JESUS TEVE DE SOFRER POR NÓS

Resultado de imagem para sofrimento jesusBaptismo habeo baptizari, et quomodo coarctor, usquedum perficiatur — “Tenho de ser batizado com um batismo; e quão grande não é a minha ansiedade até que ele se cumpra” (Luc. 12, 50).

Sumário. Podia Jesus salvar-nos sem sofrer. Mas não; por nosso amor quis abraçar uma vida de dores e de desprezos, sem qualquer consolação terrena. Mais, durante toda a sua vida suspirava continuamente pela hora de sua morte, a fim de ser batizado com o seu próprio sangue e limpar-nos das imundícies dos nossos pecados. Em vista de tudo isso, como poderemos deixar de amá-Lo de todo o nosso coração, e recusar-nos a sofrer alguma coisa por seu amor?

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I. Podia Jesus salvar-nos sem sofrer; mas não, quis abraçar uma vida de dores e de desprezos, sem qualquer consolação terrestre, e uma morte toda amargosa e desolada, unicamente para nos fazer compreender o amor que nos tinha e o seu desejo de ser amado por nós. Durante toda a sua vida Jesus suspirava pela hora da morte, que Ele desejava oferecer a Deus a fim de obter para nós a salvação eterna. É este o desejo que o fazia dizer: Baptismo habeo baptizari, et quomodo coarctor, usquedum perficiatur — “Tenho de ser batizado com um batismo; e quão grande não é a minha ansiedade até que ele se cumpra!” Jesus desejava ser batizado com o seu próprio sangue, para expiar, não os pecados próprios, senão os nossos. Ó amor infinito! Infeliz de quem não Vos conhece e não Vos ama.

Foi esse mesmo desejo que na véspera de sua morte Lhe inspirou estas palavras: Desiderio desideravi hoc Pascha manducare vobiscum (1) — “Tenho desejado ansiosamente comer esta Páscoa convosco”. Falando assim, demonstrou que em toda a sua vida não tivera outro desejo, a não ser o de ver chegado o tempo de sua paixão e morte, a fim de patentear ao homem o amor imenso que lhe tinha. — É pois, verdade, ó meu Jesus, almejais o nosso amor com tamanha veemência, que para o ganhardes não recusastes a morte! Como poderei negar alguma coisa a um Deus que por meu amor deu o seu sangue e a sua vida? Continuar lendo

MARIA SANTÍSSIMA, MODELO DE FÉ

nossa_senhoraBeata quae credidisti, quoniam perficientur ea, quae dicta sunt tibi a Domino — “Bem-aventurada és tu, que creste, porque se hão de cumprir as coisas que te foram ditas da parte do Senhor” (Luc. 1, 15).

Sumário. Maria Santíssima teve fé tão viva, que excedeu a de todos os homens e de todos os anjos, porquanto viu Jesus Cristo sujeito a todas as misérias humanas e sempre o reconheceu por seu Deus verdadeiro. Se quisermos ser dignos filhos da divina Mãe, imitemo-la nesta virtude como em todas as demais. Exercitemo-nos em fazer contínuos atos de fé e vivamos segundo as verdades da nossa fé: porque a fé sem as obras é morta.

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Assim como a Bem-aventurada Virgem é modelo de amor e de esperança, assim também é modelo de fé, pois que, diz Santo Irineu, aquele dano que Eva fez com a sua incredulidade, Maria o reparou com a sua fé. Com efeito, Eva, porque quis dar crédito à serpente contra aquilo que Deus tinha dito, trouxe a morte; mas a nossa Rainha, dando crédito às palavras do anjo, que ela, ficando Virgem, devia fazer-se Mãe do Senhor, trouxe ao mundo a salvação. Exatamente por causa da sua fé é chamada bem-aventurada por Santa Isabel:Beata quae credidisti— “Bem-aventurada és tu porque creste”.

Diz o Padre Soarez, que a Santíssima Virgem teve mais fé que todos os homens e todos os anjos. Via o seu Filho no presépio de Belém e cria que Ele era o Criador do mundo. Via-O fugir de Herodes e não deixava de crer que era o Rei dos reis. Via-O nascer, e O cria eterno. Via-O pobre e necessitado de alimento, e O cria Senhor do universo; deitado sobre a palha, e O cria onipotente. Observava que não falava e cria que era a Sabedoria infinita. Ouvia-O chorar e cria que era a alegria do paraíso. Via-O, finalmente, na morte vilipendiado e crucificado e bem que nos outros vacilasse a fé, Maria estava firme em crer que Ele era Deus. É por esta razão, diz Santo Antônio, que no Ofício das Trevas só se deixa uma vela acesa e São Leão, a este propósito, aplica à Virgem esta passagem: Non extinguetur in nocte lucerna eius (1) — “A sua lâmpada não se apagará de noite”.

Maria Santíssima, pela sua grande fé, mereceu ser feita a Luz de todos os fiéis, como é chamado por São Metódio: Fidelium fax. E São Cirilo de Alexandria a chama Rainha da verdadeira fé: Sceptrum orthodoxae fidei. A mesma Igreja atribui à Virgem, pelo merecimento de sua fé, a derrota de todas as heresias: Gaude, Maria Virgo, cunctas haereses sola interemisti in universo mundo (2). Continuar lendo

A GRANDE TRAIÇÃO – PARTE I

Resultado de imagem para beijo judasPrezados amigos, leitores e benfeitores, louvado seja Nosso Senhor Cristo.

Iniciamos hoje a publicação de um texto de Hugh Ross Williamson (1901-1978) historiador britânico e dramaturgo. Ordenou-se sacerdote anglicano em 1943. Em 1955 converteu-se ao Catolicismo romano e escreveu várias obras históricas com tom apologista católico. Em 1956 publicou sua autobiografia, The Walled Garden e foi crítico às reformas introduzidas pelo Concílio Vaticano II.

O texto que publicamos agora é parte de sua obra The Great Betrayal: Some Thoughts on the Invalidity of the New Mass. Britons, 1970 (Tradução: Dominus Est) e aborda com mestria a sutileza das maquinações heréticas contra Nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia, nosso Tudo e maior tesouro da Igreja.

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O Evangelho, a “Boa Nova de Jesus Cristo”, é, acima de tudo, o fato histórico de sua Ressurreição. Ao ressuscitar dos mortos, o Deus Encarnado interrompe o processo da natureza e dá uma nova dimensão à existência humana. Em vez da morte e a decadência, que pareciam ser o fim inevitável de todas as coisas, temos agora a Vida Eterna diante de nós.

Os apóstolos foram testemunhas presenciais deste evento singular, aqueles que podiam dizer: “Eu O vi; eu falei com Ele; aprendi com Ele; eu O toquei, comi com Ele depois de sua ressurreição dentre os mortos”. Por isso, esses homens não tiveram medo da morte, quando em mãos daqueles que não acreditavam, por sua grande fé e pela esperança certa de sua própria ressurreição.

Hoje, quando para a maioria dos homens o Evangelho não significa nada além de uma narrativa, uma lenda de certos episódios da vida de Cristo e o “apóstolo“ não passa de um mestre peregrino de barbas brancas do primeiro século da Igreja, é impossível imaginar o impacto desta “Boa Nova” da abolição da morte, que era “escândalo para os judeus e loucura para os gregos”.

Embora a ressurreição de Cristo seja a base de nossa fé católica, há uma grande multidão de nomeados cristãos, que substituíram esta esperança da própria ressurreição por um interesse insaciável na melhoria social, uma preocupação para com as coisas deste mundo, que parece indicar a convicção de que “a morte é o fim de tudo”, embora continuem dizendo em palavras que acreditam na ressurreição e na vida eterna. Continuar lendo

FUGA DE JESUS PARA O EGITO

fugaSurge, et accipe puerum et matrem eius, et fuge in Aegyptum — “Levanta-te, e toma contigo o Menino e sua Mãe, e foge para o Egito” (Matth. 2, 13).

Sumário. Considera que Jesus apenas nascido é perseguido de morte por Herodes, sendo assim obrigado a fugir para o Egito, a fim de salvar a vida. Quão penosa devia ser aquela fuga para a sagrada Família e especialmente para o Coração extremamente sensível do Menino Jesus. Minha alma, associa-te àqueles três pobres exilados, compadece-te deles, e quando o Senhor te provar com tribulações, une os teus padecimentos aos daqueles santos personagens. Considera igualmente que pelos pecados que cometeste, renovaste para Jesus a perseguição de Herodes.

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O Anjo aparece em sonhos a São José e lhe dá a entender que Herodes vai procurar o Menino Jesus, para Lhe tirar a vida.Surge, et accipe puerum et matrem eius, et fuge in Aegyptum— “Levanta-te, e toma contigo o Menino e sua Mãe, e foge para o Egito”. Eis como Jesus apenas nascido é perseguido de morte. — Herodes é figura daqueles miseráveis pecadores que vendo Jesus Cristo apenas renascido em sua alma pelo perdão obtido, novamente o perseguem à morte, tornando a pecar: quaerunt puerum ad perdendum eum.

José, tendo recebido a ordem do Anjo, obedece logo, sem demora, e avisa a sua santa Esposa. Ajunta a pouca ferramenta que podia carregar, a fim de exercer o seu ofício no Egito, e deste modo sustentar a sua pobre família. — Maria, por seu lado, faz uma pequena trouxa dos paninhos, ao uso do divino Menino. Depois entra na pobre morada, ajoelha junto ao berço de seu tenro Filhinho, beija-Lhe os pés, e derramando lágrimas de ternura, lhe diz: Ó meu Filho e meu Deus, acabas de nascer e de vir ao mundo para salvar os homens e já os homens vêm procurar-Te para Te matarem! — Toma em seguida o Menino nos braços e enquanto os santos Esposos choram, saem da casa, fecham a porta e na mesma noite se põem em caminho para o Egito.

Considera em espírito quais foram as ocupações daqueles santos viajantes durante a jornada. Não falam senão sobre seu caro Jesus, sobre a sua paciência e o seu amor, e desta maneira consolavam-se nas dificuldades e incômodos de tão longo caminho. Oh! Quão doce é o sofrimento quando se olha para Jesus que sofre! Associa-te, minha alma, diz São Boaventura, a esses três santos e pobres exilados; compadece-te deles na viagem tão penosa, longa e incômoda, que estão fazendo. Roga a Maria que te faça sempre trazer o seu Filho divino em teu coração. Continuar lendo

EXEMPLOS QUE NOS DÁ JESUS MENINO

meninojesusErunt oculi tui videntes praeceptorem tuum — “Os teus olhos estarão vendo o teu mestre” (Is. 30, 20).

Sumário. Quantos belos exemplos nos dá Jesus Cristo durante todo o tempo da sua infância! Exemplos de submissão à vontade divina, de pobreza, de humildade, de mansidão, de obediência; exemplos de mortificação, de amor à cruz, de recolhimento e de oração; uma palavra, exemplos de todas as mais belas virtudes. Esforcemo-nos por imitá-Lo, custe o que custar e imaginemos que lá de cima, da Gruta de Belém, o Pai Eterno nos diz: Se não vos fizerdes semelhantes a este meu amado Filho, feito menino por vosso amor, não entrareis no reino dos céus.

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Tendo o Pai Eterno decretado que o Verbo divino se fizesse homem para operar a nossa Redenção, podia Jesus Cristo tomar um corpo glorioso, ou de homem perfeito, como Adão, sem que ficasse sujeito a todas as fraquezas e misérias próprias da infância. Não obstante isso, para nosso ensinamento e maior proveito, quis nascer criança como nós, a fim de que, vendo-O em tudo nosso semelhante, nos sintamos com mais estímulo de imitá-Lo e fazer-nos semelhantes a Ele.

Oh! Que exemplos tão numerosos de virtudes nos deu o divino Menino durante toda a sua infância, se quisermos aproveitá-los! Exemplos de amor para com seu Pai e de submissão à vontade divina. Vede, como Jesus, apenas nascido e, conforme diz o Apóstolo, no seu primeiro ingresso no mundo, inclina humildemente a cabeça, adora respeitosamente a Deus Pai e protesta que está pronto a fazer-Lhe em tudo a santíssima vontade: Ecce venio, ut faciam, Deus, voluntatem tuam (1) — “Eis que venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade”. — Exemplos de pobreza e de castidade: escolhendo para mãe uma virgem; para guarda, um homem castíssimo; para sua corte, uns pastores inocentes. Quer que tudo ao redor d’Ele seja indigência e miséria: Propter vos egemus factus est (2) — “Para vós Ele se fez pobre”. — Exemplos de mansidão, de humildade e de obediência. Podia castigar instantaneamente ao ímpio Herodes, que o persegue à morte, mas demora o castigo, e entretanto substrai-se à sanha do rei por meio de uma fuga humilhante para o Egito, onde vive obediente a qualquer aceno de José e Maria: Et erat subditus illis (3) — “E estava-lhes sujeito”.

Finalmente Jesus nos dá exemplos de mortificação, de abnegação própria, de amor de cruz, e sobretudo de recolhimento e de oração. Passa todos os seus dias nas mais duras privações e santifica o trabalho pelo silêncio e pela oração. De sorte que desde então se Lhe pode aplicar o que depois disse o Evangelista: Erat pernoctans in oratione (4) — “Passava as noites em oração”. Felizes de nós se soubermos imitar os exemplos do santo Menino Jesus!

Imaginemos que Deus Pai lá de cima da Gruta de Belém nos diz o que Jesus Cristo mesmo disse mais tarde a seus discípulos:Nisi efficiamini sicut parvulus iste, non intrabitis in regnum coelorum(5) — “Se não vos fizerdes como este menino, não entrarei no reino dos céus”. Se não vos fizerdes semelhantes a este meu Filho, feito criança por vosso amor, não entrareis no reino dos céus.

Examinemos, pois, a nossa consciência, e se infelizmente acharmos que nos tempos passados pouco ou nada temos imitado os exemplos do santo Menino, tomemos uma resolução firme de fazê-lo ao menos para o futuro.

“Ó dulcíssimo Jesus, como estou envergonhado de me ver tão diferente de Vós! Mas já que acolheis os maiores pecadores, quando se convertem, fazei que de hoje em diante não seja mais assim. Dai-me, ó Senhor, assim como fizestes para com todos os pecadores arrependidos, um coração semelhante ao vosso. Dai-me um coração humilde, amante da vida oculta e desprezada, ainda no meio das honras terrestres; um coração paciente, resignado em todas as contrariedades, por mais penosas que sejam; um coração pacífico, que guarde sempre uma inalterável paz com o próximo e consigo mesmo. Dai-me um coração amante da oração, que goste de entregar-se freqüentemente a este santo exercício; e tenha só um desejo, o de ver Deus conhecido, amado e louvado de todas as criaturas; um coração no qual nada desagrade, senão ver Deus ofendido; que nada odeie senão o pecado; que não tenha outro desejo no mundo senão o de promover a glória de Deus e a salvação do próximo. Dai-me um coração reconhecido, que nunca se esqueça dos benefícios divinos e saiba sempre estimá-los devidamente; um coração forte e corajoso, que não tenha medo de mal algum e suporte tudo por amor do seu Deus; um coração benéfico para com todos os necessitados e cheio de compaixão das almas do purgatório; finalmente um coração perfeitamente regrado, cujas alegrias e tristezas, repugnâncias e desejos, movimentos e aspirações sejam todas conformes com a vontade divina. Numa palavra, dai-me, ó meu Jesus, um coração todo semelhante ao vosso. Fazei-o pelo amor de vossa e minha querida Mãe Maria santíssima.”(6)

  1. Hebr. 10, 9.
    2. 2 Cor. 8, 9.
    3. Luc. 2, 51.
    4. Luc. 6, 12.
    5. Matth. 18, 3.
    6. Oração de São Clemente Maria Hoffbauer, C. SS. R.

Meditações para todos os dias e festas do ano – Tomo I – Santo Afonso

VIDA POBRE QUE JESUS COMEÇOU A LEVAR DESDE O SEU NASCIMENTO

vida pobrePropter vos egenus factus est, cum esset dives, ut illius inopia vos divites essetis — “Sendo rico, se fez pobre por vosso amor, a fim de que vós fosseis ricos pela sua pobreza” (2 Cor. 8, 9).

Sumário. Se Jesus tivesse nascido em Nazaré, teria nascido pobre, sim; mas ao menos num quarto asseado e sem humidade, com um pouco de lume, paninhos aquecidos e um bercinho mais cômodo. Mas não; Jesus quis nascer naquela gruta fria e sem lume; quis que uma manjedoura lhe servisse de berço e um pouco de palha Lhe fosse colchão, a fim de padecer mais e ensinar-nos a santa pobreza. Aproveitemo-nos da lição e lembremo-nos de que, quem ama as comodidades, nunca será santo.

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Deus dispôs que no tempo em que seu Filho devia nascer na terra, fosse lançada a ordem do imperador, que cada um fosse alistar-se na cidade da sua origem. E assim aconteceu que, de conformidade com o édito de César, São José tivesse de ir, com a sua santa Esposa, a Belém para ser alistado. Chegou então a hora do parto de Maria, que, por não achar acolhida em nenhuma outra casa, nem mesmo na hospedaria comum dos pobres, viu-se obrigada a passar a noite em uma gruta, e ali deu à luz o Rei do céu. Se Jesus tivesse nascido em Nazaré, teria nascido pobre, sim; mas ao menos teria tido um quarto asseado e sem humidade, um pouco de lume, paninhos aquecidos e um bercinho mais cômodo. Quis, porém, nascer naquela gruta fria e sem lume; quis que uma manjedoura lhe servisse de berço e um pouco de palha dura lhe fosse colchão.

Entremos na lapinha de Belém, mas entremos com fé. Se entrarmos sem fé, acharemos apenas uma criança pobre, que excita a nossa compaixão pela sua formosura amável, que está tiritando e chorando por causa do frio e da palha pungente. Se, ao contrário, entrarmos com fé e pensarmos que aquele Menino é o Filho de Deus, que por nosso amor veio à terra e sofre tanto para satisfazer pelos nossos pecados, como poderemos deixar de Lhe agradecer e de O amar? Continuar lendo

A ETERNIDADE DO INFERNO É TERRÍVEL, MAS JUSTA

infiernoNon dabit Deo placationem suam… laborabit in aeternum — “Não dará a Deus a sua propiciação… estará em trabalho eternamente” (Ps. 48, 8).

Sumário. Digam os incrédulos o que quiserem: as penas do inferno durarão eternamente. E com razão. À ofensa de uma Majestade infinita é devido um castigo infinito. Sendo, porém, a criatura incapaz de sofrer um castigo infinito em intensão, é justo que o seja em duração. Quantos daqueles que não quiseram crer nesta terrível eternidade, experimentam-na agora em si mesmos! Ai daquele que cair no abismo infernal!

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As penas da vida presente passam; porém, as da outra vida não passarão nunca, estarão sempre principiando. Pobre Judas! Passaram-se quase mil e novecentos anos desde que caiu no inferno e o inferno está apenas principiando para ele. Pobre Cain! Há perto de seis mil anos que está no inferno e o seu inferno ainda está no princípio. Perguntou-se certa vez a um demônio há quanto tempo já estava no inferno; e respondeu: Desde ontem. — Como? Disseram-lhe; desde ontem? Não há mais de cinco mil anos que foste condenado ao inferno? — Tornou o demônio: Oh! Se soubesses o que quer dizer eternidade, bem compreenderias que em comparação dela cinco mil anos não são senão um instante.

Mas como? Dirá um incrédulo; que justiça é essa? Castigar com uma pena eterna um pecado que dura apenas um momento? E como é, respondo eu, que o pecador pode ter a audácia de ofender, por um prazer momentâneo, uma Majestade infinita? Até a justiça humana, observa Santo Tomás, mede a pena, não pela duração, mas pela qualidade do crime. Non quia homicidium in momento committitur, momentanea poena punitur. A ofensa feita à Majestade divina merece castigo infinito, diz São Bernardino de Sena. Mas, como a criatura, acrescenta o Doutor Angélico, não é capaz da pena infinita em intensidade, é com justiça que Deus torna a pena infinita em duração.

Além disso, esta pena deve ser necessariamente eterna, porque o condenado já não pode satisfazer pelo seu pecado. Nesta vida, o pecador penitente pode satisfazer, porquanto podem ser-lhe aplicados os merecimentos de Jesus Cristo; mas desta aplicação fica excluído o condenado, e visto não poder aplacar a Deus, e ser eterno o seu estado de pecado, a pena deve também ser eterna: Non dabit Deo placationem suam… laborabit in aeternum — “Não dará a Deus a sua propiciação… estará em trabalho eternamente”. — Demais: ainda que Deus quisesse perdoar, o réprobo não quisera ser perdoado, porque a sua vontade está obstinada e confirmada no ódio contra Deus. Por isso o mal do réprobo é incurável, porque ele recusa a cura: Factus est dolor eius perpetuus, et plaga desperabilis renuit curari (1). Continuar lendo

MISERICÓRDIA DE DEUS EM BAIXAR DO CÉU PARA NOS SALVAR COM A SUA MORTE

Resultado de imagem para jesus crucificadoBenignitas et humanitas apparuit Salvatoris nostri Dei — “Apareceu a benignidade e o amor de Deus nosso Salvador” (Tit. 3, 4).

Sumário. Antes da vinda de Jesus Cristo, manifestou-se o poder de Deus na criação do mundo, a sabedoria divina manifestou-se na sua conservação; a misericórdia, porém, manifestou-se particularmente, quando Jesus tomou a natureza humana a fim de salvar, pelos seus padecimentos e morte, os homens perdidos. Com efeito, de que misericórdia maior podia o Filho de Deus usar para conosco do que tomando sobre si os castigos por nós merecidos? E, apesar disso, quantos pecadores há que não voltam a Deus por desconfiança da sua bondade!

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Quando o Filho de Deus apareceu sobre a terra, viu-se quão grande é a bondade de Deus para conosco. Escreve São Bernardo, que primeiro se manifestou o poder de Deus em criar o mundo, a sua sabedoria em conservá-lo; mas a sua misericórdia manifestou-se, particularmente, quando o Filho de Deus tomou a natureza humana, a fim de salvar, pelos seus padecimentos e morte, os homens perdidos. Com efeito, que maior misericórdia podia o Filho de Deus mostrar-nos do que tomando sobre si os castigos por nós merecidos? Ei-lo nascido como criança, fraco e envolto em panos, deitado numa manjedoura, como que impossibilitado de mover-se e alimentar-se. É mister que Maria lhe dê um pouco de leite para lhe sustentar a vida. Vede-o depois no pretório de Pilatos, onde é preso a uma coluna com cordas, de que não podia livrar-se e açoitado da cabeça aos pés. Vede-o no caminho ao Calvário, onde pela extrema fraqueza e pelo peso da cruz que carrega, cai repetidas vezes por terra. Vede-o, finalmente, pregado no infame lenho, sobre o qual termina a vida à força de sofrimentos.

Pelo amor que nos teve, Jesus Cristo quer ganhar todo o amor dos nossos corações. Por isso, não quer enviar um anjo para nos remir, senão quer vir Ele mesmo para nos salvar com a sua Paixão. Se um anjo houvera sido nosso Redentor, o homem deveria dividir o seu coração, amando a Deus como seu Criador, e ao anjo como seu Redentor. Mas Deus, que quis possuir o coração do homem todo inteiro, assim como já era Criador do homem, quis também ser seu Redentor. Continuar lendo

HEI DE MORRER UM DIA

heiStatutum est hominibus semel mori; post hoc autem iudicium — “Está decretado que os homens morram uma só vez, e que depois venha o juízo” (Hebr. 9, 27).

Sumário. É utilíssimo para a salvação eterna dizermos muitas vezes conosco: “Hei de morrer um dia”; e entretanto escolhermos nos negócios da vida o que na hora da morte quiséramos ter feito. Com efeito, meu irmão: nesta terra um vive mais tempo, outro menos; mas mais cedo ou mais tarde, para cada um chegará o fim e então nada nos consolará senão o havermos amado Jesus Cristo e o termos padecido por seu amor e com paciência as dificuldade da vida presente.

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É utilíssimo para a salvação eterna dizermos muitas vezes conosco:Hei de morrer um dia. A Igreja lembra-o todos os anos aos fiéis no dia de Cinzas:Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris — “Lembra-te, ó homem, que és pó e em pó te hás de tornar.” Mas no correr do ano a lembrança da morte nos é sugerida freqüentíssimas vezes, ora pela vista de um cemitério à beira da estrada, ora pelas campas que vemos nas igrejas, ora pelos defuntos que são levados à sepultura. — Os objetos mais preciosos que os anacoretas guardavam nas suas grutas eram uma cruz e uma caveira: a cruz para se lembrarem do amor que nos teve Jesus Cristo e a caveira para não se esquecerem do dia da sua morte. Assim é que perseveraram na sua vida de penitência até ao termo de seus dias. Morrendo pobres no deserto morreram mais contentes do que morrem os monarcas em seus palácios régios.

Finis venit, venit finis (1) — “O fim vem, vem o fim!” Nesta terra uns vivem mais tempo, outros menos; porém, mais cedo ou mais tarde, para cada um chegará o fim da vida, e nesse fim, que será a hora da nossa morte, nada nos dará consolo, senão o termos amado Jesus Cristo e o termos padecido com paciência, por amor d’Ele, as penalidades desta vida. Então nenhum consolo poderão dar-nos, nem as riquezas adquiridas, nem as dignidades possuídas, nem os prazeres gozados. Todas as grandezas terrestres não somente não consolarão os moribundos, antes lhes causarão aflições. Quanto mais as tiverem procurado, tanto mais lhes aumentará a aflição. Soror Margarida de Sant´Anna, carmelita descaça e filha do imperador Rodolfo II dizia: Para que servirão os reinos do mundo na hora da morte?

Ah! Meu Deus, dai-me luz e dai-me força para empregar o tempo de vida que me resta em Vos servir e amar! Se tivesse de morrer neste instante, não morreria contente, morreria com grande inquietação. Para que, depois, esperar? Esperarei por ventura até que a morte me surpreenda, com grande perigo para a minha eterna salvação? Se nos tempos passados tenho sido tão insensato, não o quero ser mais. Dou-me inteiramente a Vós; aceitai-me e socorrei-me com a vossa graça. Continuar lendo

DA VIDA HUMILDE E DESPREZADA QUE JESUS LEVOU DESDE A MENINICE

crianEt hoc vobis signum: invenietis infantem, pannis involutum, et positum in praesepio — “E este é o sinal que vô-lo fará conhecer: achareis um menino envolto em panos e posto em uma manjedoura” (Luc. 2, 12).

Sumário. Todos os sinais que o Anjo deu aos pastores para acharem o Messias nascido foram sinais de humildade. O sinal pelo qual o reconhecereis, disse-lhes, é que achareis um menino, envolto em pobres paninhos, numa estrebaria, e deitado sobre a palha numa manjedoura de animais. Assim quis nascer o Rei do céu, porque veio para destruir o orgulho, a causa da perdição do homem. E apesar disso o homem continua orgulhoso e ambicioso.

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Todos os sinais que o Anjo deu aos pastores para acharem o Salvador já nascido foram sinais de humildade.Et hoc vobis signum: invenietis infantem, pannis involutum et positum in praesepio.Eis o sinal para reconhecer o Messias nascido, disse o Anjo: achareis uma criança, envolta em pobres paninhos, numa estrebaria e deitada sobre a palha numa manjedoura de animais. Foi assim que quis nascer o Rei do céu, o Filho de Deus, porque vinha destruir o orgulho, que fora a causa da perdição do homem.

Os profetas já tinham predito que o nosso Redentor devia ser saciado de opróbrios e tratado como o homem mais vil do mundo. Quantos desprezos não teve Jesus de sofrer da parte dos homens! Foi qualificado de ébrio, de mágico, de blasfemo e de herege. E depois, quantas ignomínias sofreu na sua Paixão! Foi abandonado por seus próprios discípulos, dos quais um O vendeu por trinta dinheiros, outro negou tê-Lo jamais conhecido. Foi levado pelas ruas preso e amarrado como um malfeitor, açoitado como um escravo, qualificado de insensato e de rei de burla; foi esbofeteado, coberto de escarros, e finalmente fizeram-No morrer suspenso numa cruz, em meio de dois ladrões, como se fosse o mais celerado dos homens. Assim, diz São Bernardo, o mais nobre de todos foi tratado como se fosse o mais vil de todos. Acrescenta porém o Santo: Quanto mihi vilior, tanto mihi carior — Ó meu Jesus, quanto mais humilhado e desprezado Vos vejo, tanto mais amável Vos fazeis e amado. Continuar lendo

FIM DO HOMEM

fimDeum time, et mandata eius observa: hoc est enim omnis homo — “Teme a Deus e observa os seus mandamentos; porque isto é o tudo do homem” (Eccles. 12, 13).

Sumário. Não temos nascido, nem devemos viver para gozarmos, para nos fazermos ricos e potentes, senão unicamente para amarmos a Deus e nos salvarmos para sempre. Todavia, este grande fim da nossa existência é o mais descuidado pelos homens, que em tudo pensam exceto na salvação da alma. Nós ao menos não sejamos tão insensatos e consideremos seriamente que tudo que se faz, se diz ou se pensa contra a vontade de Deus, é perdido e perdido para sempre.

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Considera, minha alma, que o teu ser é um dom de Deus, que sem mérito algum da tua parte te criou à sua imagem. No santo Batismo adotou-te por filho; amou-te com um amor mais que paternal, e deu-te a existência, a fim de que O ames e sirvas nesta terra, para depois gozares com Ele no paraíso. Portanto, não nasceste, nem deves viver para gozares, para te fazeres rico e poderoso, para comeres, beberes e dormires, como os irracionais; mas unicamente para amares o teu Deus e te salvares para sempre. O Senhor deu-te o uso das coisas criadas, a fim de que te sirvam para atingir o teu grande fim. — Ai de mim, que em tudo tenho pensado exceto no meu fim! Ó meu Pai celestial, pelo amor de Jesus Cristo, fazei que eu comece uma vida nova, toda santa e toda conforme à vossa divina vontade.

Considera também que na hora da morte terás veementes remorsos, por não te teres aplicado ao serviço de Deus. Qual será a tua aflição se no fim de teus dias perceberes que nessa hora não te resta de todas as riquezas, dignidades, glórias e prazeres senão um punhado de pó. Pasmarás que por coisas vãs e por ninharias perdeste a graça de Deus e a tua alma, sem poderes reparar o mal feito. Não haverá mais tempo para entrares no bom caminho. Ó desespero! Ó tormento! Verás então quanto vale o tempo; mas será tarde. Quererás comprá-lo pelo preço do teu sangue, mas ser-te-á impossível. Ó dia de amargura para quem não serviu e amou o seu Deus.

Considera quanto é descurado o último fim do homem. Pensa-se em aumento de riquezas, em banquetes, em festas, em passatempos. E ninguém se importa com o serviço de Deus, nem com a salvação da alma! O destino eterno é tido por uma bagatela e assim a maior parte dos Cristãos vai a caminho do inferno banqueteando-se, cantando e dormindo! Oxalá compreendessem o que quer dizer: inferno! Continuar lendo

PRIMEIRO DOMINGO DEPOIS DA EPIFANIA: PERDA DE JESUS NO TEMPLO (FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA)

perdaRemansit puer Iesus in Ierusalem, et non cognoverunt parentes eius — “O Menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais se apercebessem” (Luc. 2, 43).

Sumário. Quando Jesus chegou à idade de doze anos, José e Maria levaram-No consigo a Jerusalém na solenidade de Páscoa. Por ocasião da volta, porém, Jesus ficou no templo, sem que seus pais se apercebessem, e só foi achado ao fim de três dias de busca e de lágrimas. Aprendamos deste mistério que devemos deixar tudo, parentes e amigos, quando se trata de promover a glória de Deus.

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I. Escreve São Lucas que Maria e José iam todos os anos à Jerusalém na solenidade de Páscoa, e levavam consigo o Menino Jesus. Era costume entre os Israelitas, conforme diz o venerável Beda, que durante a viagem ao templo (ao menos na volta) os homens andassem separados das mulheres, ao passo que os meninos acompanhavam à vontade o pai ou a mãe. O Redentor, que então tinha doze anos, depois da solenidade, ficou três dias em Jerusalém. A Virgem-Mãe pensava que Jesus estava com José e este julgava-O na companhia de Maria. — O santo Menino empregou aqueles três dias em promover a glória de seu Eterno Pai com jejuns, vigílias e orações e em assistir aos sacrifícios que eram outras tantas figuras do seu próprio sacrifício da Cruz. Para ter algum alimento, diz São Bernardo, foi-lhe mister pedi-lo por esmola, e para descansar não tinha outro leito senão a terra nua.

Quando, à noite, Maria e José se encontraram na pousada, não achavam o seu Jesus, e com suma aflição se puseram a procurá-Lo entre os parentes e amigos. Voltando depois a Jerusalém, acharam-No finalmente, ao terceiro dia, no templo, disputando entre os doutores, que pasmados admiravam as perguntas e respostas daquele menino extraordinário. — Nesta terra não há pena que se possa comparar àquela que uma alma, desejosa de amar a Jesus, experimenta quando teme que por qualquer culpa d’Ele se tenha afastado. Foi esta a dor exatamente de Maria e José naqueles dias, porquanto a sua humildade, diz o devoto Lanspergio, fazia-lhes crer que se tornaram indignos de ter sob sua guarda um tão grande tesouro. É por isso que Maria, encontrando o Filho, a fim de Lhe exprimir a sua dor, disse: “Filho, porque fizeste assim conosco? Sabe que teu pai e eu te andamos buscando cheios de aflição.” E Jesus respondeu: “Porque é que me buscáveis? Não sabeis que importa ocupar-me das coisas de meu Pai?”

Tiremos do presente mistério dois ensinos. Primeiro, que devemos abandonar tudo, parentes e amigos, quando se trata de promover a glória de Deus. Segundo, que Deus se deixa achar por quem o busca. Bonus est Dominis animae quaerenti illum (1) — “O Senhor é bom para a alma que o busca. Continuar lendo

MÃES IMPROVISADAS

Resultado de imagem para mães másMães improvisadas. São tais porque mamãe não as preparou para essa vocação. Não as educou para isso. Não lhes formou nem a vontade nem o coração e tão pouco lhes coordenou as reservas morais. Hoje são mães desorientadas, de gestos frouxos e vacilantes. Guiam-se apenas pelo instinto materno, egoísta e cego tantas vezes.

Erro é, muito comum, esse descuido das mães quanto à preparação das filhas para a maternidade vindoura. Entretanto em nossos dias mais indispensável tornou-se ela. Pois as mocinhas ouvem tanta coisa nas escolas e mais ainda enxergam nos cinemas. Fala-se-lhes de direitos, de emancipação. Coloca-se a criança quase como uma intrusa na vida da moça que se casa.

Grandeza, seriedade, deveres de maternidade – tudo isso deve ser abraçado com uma consciência esclarecida e tranqüila, ao lado de um coração generoso e resoluto.

Portanto, leitora, leva a sério a preparação de tuas filhas… À filha moça irás entregando os cuidados pelos irmãozinhos menores. Ensiná-la-ás como se lida com uma criança de colo, como se vigia e se diverte a outra que já começou a falar, etc.

Haja apenas o cuidado de não deixar, na filha moça, a impressão de que mamãe está se livrando de um trabalho pouco agradável. Nesse caso a filha o aceitará de mau humor, só porque não há remédio. A mãe esclarecida vai ensinando, vai explicando, porque, desde já, quer acostumar suas filhas aos cuidados pelos pequenos. Não há negar, a primeira professora de puericultura é sem favor a  mãe, em casa.

Aqui eu ouço uma objeção: para que preparar as filhas? Pois não tem a mulher o dom de intuição, que descobre pelo coração o que falta ao filho?

Ilusão, gentil leitora…isto requer certas noções indispensáveis, colhidas pela preparação e pelas luzes da instrução religiosa.

– “Minha filha – assim falará a mãe cristã – se Deus não te der outra vocação especial, você, por ser mulher, terá de ser um dia mãe de família, possivelmente. Vá se preparando desde já para essa missão, que é difícil, mas gloriosa também. Eu irei ajudando você com minha experiência, com muitos conselhos e meus exemplos.”

Não querem as mães usar desta linguagem?

Então insinuem, inspirem tais pensamentos e procedam com as filhas como se, pelos fatos, lhes estivessem dizendo tudo isso. Elas não receberão de mau humor as ordens dadas para cuidarem dos irmãozinhos menores.

As três chamas do lar– Pe. Geraldo Pires de Souza

EPIFANIA DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

abcVidimus enim stellam eius in oriente, et venimus adorare eum — “Vimos a sua estrela no Oriente, e viemos adorá-Lo” (Matth. 2, 2).

Sumário. Jesus, apenas nascido, quis começar a comunicar-nos as graças da Redenção. Por meio de uma estrela chama os Magos, e na pessoa destes a todos nós, a fim de O venerarem. Os santos Reis põem-se logo a caminho, entram na gruta, adoram o santo Menino e oferecem-Lhe as suas ofertas místicas. Adoremo-Lo nós também, em união com os santos Reis, e ofereçamos-Lhe pelas mãos de Maria os nossos corações arrependidos e amantes.

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Jesus nasce pobre numa lapinha: os anjos do céu, é verdade, reconhecem-No por seu senhor, mas os homens da terra deixam-No abandonado. Vêm apenas uns poucos pastores para O adorar. O Redentor, porém, já quer começar a comunicar-nos a graça da Redenção, e por isso começa a manifestar-se aos gentios que menos O conheciam. Manda uma estrela iluminar os santos Magos, para que venham conhecer e adorar o seu Salvador. Foi esta a primeira e também a maior graça que Jesus nos deu: a vocação à fé, à qual sucede a vocação à graça, de que os homens se achavam privados.

Sem demora os Magos se põem a caminho; a estrela acompanha-os até à gruta, onde está o santo Menino. Chegados ali, entram, e o que acham? Invenerunt Puerum cum Maria (1) — “Acharam o Menino com Maria”. Eles acham uma donzela pobre e um menino pobre envolto em paninhos, sem ninguém para o servir ou assistir. Mas como? Ao entrarem naquela humilde gruta, os santos peregrinos sentem uma alegria nunca antes experimentada; sentem seu coração atraído para aquele Menino pequenino. Aquela palha, aquela pobreza, aqueles vagidos de seu pequeno Salvador, ah! Que setas de amor para seus corações, que chamas felizes de amor neles se acendem! O Menino acolhe-os com sorriso amável, demonstrando assim o afeto com que os aceita entre as primeiras presas da sua Redenção.

Os santos Reis olham depois para Maria, que queda silenciosa, mas com semblante no qual reluz uma doçura celeste, acolhe-os e agradece-lhes o terem vindo os primeiros a reconhecer-lhe o Filho por seu soberano Senhor. Eis que os santos varões, silenciosos pelo respeito, adoram o Filho da Virgem e reconhecem-No como Deus, beijando-Lhe os pés e oferecendo-Lhe os seus presentes; ouro, incenso e mirra. Em união com os santos Magos, adoremos o nosso pequenino Rei Jesus e ofereçamos-Lhe todo o nosso coração. Continuar lendo

O SONO DE JESUS-MENINO

sonoEgo dormio, et cor meum vigilat — “Eu durmo, e o meu coração vela” (Cant. 5, 2).

Sumário. O sono do Menino Jesus era muito diferente do das outras crianças. Enquanto dormia, seu Corpo, a Alma, unida à Pessoa do Verbo, velava. Desde então pensava nas penas que devia depois sofrer por nosso amor. Roguemos ao Santo Menino, pelo merecimento daquele bendito sono, que nos livre do sono mortal dos pecadores e, em vez disso, nos conceda o sono dos justos, pelo qual a alma perde a lembrança de todas as coisas terrestres.

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O sono de Jesus-Menino foi demasiadamente breve e doloroso. Servia-Lhe de berço uma manjedoura, a palha de colchão e de travesseiro. Assim o sono de Jesus foi muitas vezes interrompido pela dureza daquela caminha excessivamente dura e molesta, e pelo rigor do frio que reinava na gruta. De vez em quando, porém, a natureza sucumbia à necessidade e o Menino querido adormecia. Mas o sono de Jesus foi muito diferente do das outras crianças. O sono destas é útil à conservação da vida; não, porém, quanto às operações da alma, porque esta, privada do uso dos sentidos, fica reduzida à inatividade. Não foi assim o sono de Jesus Cristo: Ego dormio et cor meum vigilat. O Corpo repousava; velava, porém, a alma, que em Jesus era unida à Pessoa do Verbo, que não podia dormir nem ficar sopitada pela inatividade dos sentidos.

Dormia, pois, o santo Menino, mas enquanto dormia, pensava em todos os padecimentos que teria de sofrer por nosso amor, no correr de toda a sua vida e na hora da sua morte. Pensava nos trabalhos pelos quais havia de passar no Egito e em Nazaré, levando uma vida extremamente pobre e desprezada. Pensava particularmente nos açoites, nos espinhos, nas injúrias, na agonia e na morte desolada, que afinal devia padecer sobre a Cruz. Tudo isso Jesus oferecia ao Pai Eterno enquanto estava dormindo, a fim de obter para nós o perdão e a salvação. Assim nosso Salvador, durante o sono, estava merecendo por nós, reconciliava conosco seu Pai e alcançava-nos graças. 

Roguemos agora a Jesus que, pelos merecimentos de seu beato sono, nos livre do sono mortal dos pecadores, que dormem miseravelmente na morte do pecado, esquecidos de Deus e do seu amor. Peçamos-Lhe que nos dê, ao contrário, o sono feliz da sagrada Esposa, da qual dizia: Eu vos conjuro… que não perturbeis à minha amada o seu descanso, nem a façais despertar, até que ela mesma queira (1). É este o sono que Deus dá às almas suas diletas, e que, no dizer de São Basílio, não é senão o supremo olvido de todas as coisas — summa verum omnium oblivio. Então a alma olvida todas as coisas terrestres, para só pensar em Deus e nos interesses da glória divina. Continuar lendo

JESUS É ALIMENTADO

alimQuis mihi det te fratrem meum, sugentem ubera matris meae?— “Quem te dará a mim por irmão, que tomara o leite da minha mãe?” (Cant. 8, 1.)

Sumário. Quando o Menino Jesus foi envolto em paninhos, suspirou pelo alimento da Virgem Maria, e tomando-o já pensava em como havia de mudá-lo naquele sangue com que deveria um dia resgatar as almas sobre a cruz e alimentar nelas a vida da graça pela Comunhão. Roguemos à divina Mãe que nos alimente com o leite de uma devoção terna e amorosa à Infância de Jesus.

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Depois que o Menino Jesus foi envolto nas faixas, pediu por vagidos a alimentação de Maria. A esposa dos Cânticos desejava ver seu irmãozinho tomando o alimento maternal — Quis mihi det te fratrem meum, sugentem ubera matris meae?Aquela esposa desejava-o, mas não foi atendida. Nós, ao contrário, temos a ventura de ver o Filho de Deus, feito homem e nosso irmãozinho, pedir a Maria o alimento próprio da sua idade. Que espetáculo era para o Paraíso ver o Verbo divino feito criança, nutrir-se com o leite que lhe oferecia uma virgenzinha, sua criatura! Aquele que nutre todos os homens e todos os animais da terra, ei-lo reduzido a tal estado de fraqueza e de pobreza, que precisa de um pouco de leite para sustentar a vida. Soror Paula Camaldulense, ao contemplar uma imagem de Jesus tomando leite, sentia cada vez o coração abrasado de terníssimo amor para com Deus.

Jesus, porém, alimentava-se poucas vezes por dia, e cada vez em pequena quantidade. Foi revelado à Soror Mariana, da ordem franciscana, que Maria Santíssima alimentava o Filho só três vezes cada dia. Ah! Como foi precioso para nós aquele leite que nas veias de Jesus Cristo devia mudar-se em sangue e assim preparar um banho salutar, no qual pudéssemos lavar as nossas almas! — Ponderemos ainda que Jesus tomava o leite a fim de nutrir este corpo que queria deixar-nos como nosso alimento na santa Comunhão. Ó meu pequenino Redentor, enquanto tomais alimento, estais pensando em mim; pensais em como aquele leite se transformará no sangue que um dia derramareis antes de morrer, a fim de resgatar por tão alto preço a minha alma e alimentá-la com o Santíssimo Sacramento, que é o leite salutar por meio do qual o Senhor conserva as nossas almas na vida da graça. Lac vestrum Christus est, diz Santo Agostinho, — O vosso leite é Jesus Cristo. 
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JESUS ENVOLTO EM FAIXAS

faixasEt pannis eum involvit — “Envolveu-o em faixas” (Luc. 2, 7).

Sumário. Imaginemos ver a Maria que toma com reverência seu divino Filho, o adora, o beija e em seguida o envolve nas faixas. O santo Menino oferece obediente as mãos e os pés, e sentindo que lhe apertam as faixas, pensa nas cordas com que um dia será amarrado no Horto. Se um Deus assim se deixa enfaixar, não será por ventura justo que nos deixemos ligar também com os laços de seu amor, e nos desfaçamos de qualquer afeto terreno?

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Imaginai verdes a Maria que, depois de ter dado à luz seu divino Filho, O toma com reverência nos braços, adora-O primeiro como seu Deus, e em seguida O enfaixa estreitamente:  Membra pannis involuta, Virgo Mater alligat (1). Vêde como o Menino Jesus obediente oferece as mãozinhas, oferece os pés e se deixa enfaixar. Ponderai que, cada vez que o divino Infante se deixava enfaixar, pensava nas cordas com que um dia devia ser amarrado no Horto, naquelas que depois deviam prendê-lo à coluna, e nos pregos que deviam fixá-lo na cruz. Pensando assim, deixava-se de boa mente enfaixar, a fim de livrar as nossas almas dos laços do inferno.

Jesus, estreitado nas faixas, volve-se a nós e convida-nos a que nos unamos consigo pelos doces laços do amor.Volvendo-se em seguida a seu Eterno Pai diz: “Meu Pai, os homens abusaram de sua liberdade e, revoltados contra Vós, tornaram-se escravos do pecado. Para compensar a sua desobediência, quero ser envolto e estreitado nestas faixas. Assim ligado, ofereço-Vos a minha liberdade, a fim de que o homem fique livre da escravidão do demônio. Aceito estas faixas, que me são caras, e mais caras ainda, porque são símbolos das cordas com que, desde agora, me ofereço a ser um dia amarrado e conduzido à morte para salvação dos homens.” 

Vincula illius alligatura salutaris (2)  — “Os seus vínculos são ligadura de salvação”. As faixas de Jesus foram as ligaduras saudáveis para curar as chagas de nossas almas. — Portanto, ó meu Jesus, quisestes ser estreitamente envolto em faixas por meu amor, e eu me recusarei a fazer-me ligar pelos laços do vosso amor? Terei para o futuro ainda a coragem de me desligar dos vossos laços tão suaves e amáveis, para me fazer escravo do inferno? Meu Senhor, por amor meu estais ligado nesta manjedoura, quero sempre estar ligado em união convosco. Continuar lendo

O DEMÔNIO MUDO

Resultado de imagem para olharDiscípulo — Padre, o senhor há pouco falou no “demônio mudo”; o que vem a ser esse demônio mudo?

Mestre — É o demônio da impureza ou desonestidade. O próprio Jesus chama-o assim no Santo Evangelho.

— Mas o que é essa impureza ou desonestidade?

— São todos os pecados proibidos pelo sexto e nono mandamentos, isto é, as más ações, os maus olhares, os maus desejos e as infidelidades e malícias no matrimônio.

— Então a impureza é um pecado muito grave?

— É um pecado gravíssimo e abominável diante de Deus e dos homens. Abaixa os que o cometem às condições dos brutos, é causa de muitos pecados e provoca os maiores e terríveis castigos nesta e na outra vida.

A Sagrada Escritura chama os pecados de impureza pelos nomes mais baixos: “crime péssimo, coisa detestável, horrível infâmia sem nome”. São Paulo então, diz claramente: “Neque molles, neque fornicarii, neque adulteri… regnum Dei possidebunt”.

“Vida desonesta, morte impenitente”.

Isto quer dizer que nem os moles, que pecam sozinhos; nem os devassos; nem os adúlteros, que são infiéis no matrimônio, possuirão o reino de Deus!

— Pobres de nós! Devemos então estar sempre alerta. — Certamente! Os santos Padres são todos da mesma opinião quando dizem que a impureza é o pecado que atrai maior número de almas para o inferno.

— Devéras?

— É isso mesmo! Santo Agostinho afirma que, assim como a soberba populou o inferno de anjos, a desonestidade enche-o de homens; e Santo Afonso acrescenta que todos os cristãos que são condenados, o são por causa da desonestidade, ou pelo menos, nunca sem ela.
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PORQUE JESUS QUIS NASCER CRIANÇA

crianParvulus enim natus est nobis, et filius datus est nobis — “Nasceu-nos uma criança; foi-nos dado um filho” (Is. 6, 9).

Sumário. São vários os motivos pelos quais Jesus quis nascer criança. Primeiro, quis desta forma mostrar-nos a sua propensão e facilidade em dar-nos os seus bens. Quis, em segundo lugar, afastar de nós todo o temor ao vermo-Lo reduzido, por assim dizer, a um estado de impotência para nos castigar pelos nossos pecados. Mas sobretudo Jesus nasceu como criança para se fazer amar por nós, não somente de apreço, senão de ternura. Amemo-Lo, pois, de todo o coração, cheguemo-nos a Ele, e peçamos-Lhe toda a sorte de bens.

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Considerai que ao fim de tantos séculos, depois de tantas súplicas e suspiros, o Messias, a quem os santos Patriarcas e Profetas não tinham sido dignos de verem, o Suspirado das gentes, o desejo das colinas eternas, o nosso Salvador, já veio, já nasceu e já se deu todo a nós: Parvulus natus est nobis, et filius datus est nobis — “Nasceu-nos uma criança; foi-nos dado um filho.” O Filho de Deus se fez pequenino, para nos fazer grandes; deu-se a nós, a fim de que nós nos demos a Ele, veio mostrar-nos o seu amor a fim de que nós Lhe respondamos com o nosso. Façamos-Lhe acolhida afetuosa, amemo-Lo e recorramos a Ele em todas as nossas necessidades.

Puer facile donat. As crianças, diz São Bernardo, gostam de dar o que se lhes pede. Jesus veio como criança para se nos mostrar todo inclinado e propenso a comunicar-nos os seus bens. “Nele estão encerrados todos os tesouros.” (1) “O Pai tudo tem posto em sua mão.” (2) Se desejamos luz, Ele veio para nos iluminar. Se queremos força para resistirmos aos inimigos, Ele veio exatamente para nos confortar. Se queremos o perdão e a salvação, ei-Lo que veio para nos perdoar e nos salvar. Se queremos, finalmente, o dom supremo do divino amor, Ele veio para abrasar-nos o coração. É sobretudo para este fim que se fez criança. Quis aparecer no meio de nós tanto mais amável, quanto mais pobre e humilde, quis tirar-nos todo o temor e ganhar o nosso amor, como observa São Pedro Crisólogo: Taliter venire debuit, qui voluit timorem pellere, quaerere caritatem. 

Além disso, Jesus quis vir pequenino para ser de nós amado com amor não somente de apreço, senão também de ternura. Todas as crianças sabem ganhar o afeto de todos aqueles que as vêem; mas quem não amará com toda a ternura a um Deus feito criancinha, necessitado de leite, tiritante de frio, pobre, humilhado, abandonado; a um Deus que chora e está vagindo numa manjedoura sobre a palha? Isso fez o amante São Francisco exclamar: Amemus Puerum de Bethlehem; Amemus Puerum de Bethlehem. Vinde amar a um Deus feito criança, feito pobre, e tão amável que baixou do céu para se dar todo a vós. Continuar lendo

UM CASTIGO E UMA GRAÇA

Resultado de imagem para imagem nossa senhora barrocaO Sr. Beauveau, marquês de Novian, deveu a sua conversão e vocação religiosa à Companhia de Jesus a uma vitória sobre o respeito humano para honrar a Nossa Senhora.

Em 1649, estando as tropas alemãs na Alsácia-Lorena, alguns soldados alojados em Novian, depois de haverem bebido em excesso, puseram-se a jogar. Um deles, depois de haver perdido no jogo, vendo uma estátua de Nossa Senhora colocada na parede, ficou furioso como se fora ela a causa de sua falta de sorte, e começou a golpeá-la proferindo horríveis blasfêmias. Apenas terminara, caiu por terra com um tremor em todo o corpo e dores tão fortes e contínuas que foi impossível fazê-lo tomar alimento durante quatro ou cinco dias. Tendo a tropa recebido a ordem de partir, ataram o infeliz em seu cavalo para que acompanhasse a marcha.

Soube-se que, à força de agitar-se, caíra da montaria e morrera no caminho, mordendo a terra espumando de raiva.

Naquela vila falou-se, por muito tempo, do exemplar castigo do blasfemo. Dois anos após, a pedido de um missionário, resolveu-se fazer um ato solene de reparação. Para esse fim foram àquela casa em procissão o vigário, o missionário, alguns outros sacerdotes e o povo de Novian com o marquês à frente.

Chegados ao lugar, por mais que o padre chamasse a alguns homens, nenhum se apresentou para levar a imagem à igreja. O Sr. Beauveau, indignado com semelhante indiferença para com Nossa Senhora, sentiu-se interiormente movido a levá-la ele mesmo. Apesar do respeito humano e de parecer beato aos olhos daquela gente, tomou a imagem e levou-a com respeito à capela do castelo onde, por ordem do Bispo, foi colocada com todas as honras. Maria Santíssima não tardou a recompensar esse ato de piedade, pois, segundo declarou ele mesmo, começou o marquês a receber tal abundância de graças e tão fortes inspirações para a vida perfeita que não só se tornou um cristão modelo, mas ainda abraçou a vida religiosa, onde viveu e morreu santamente.

Tesouro de Exemplos – Pe. Francisco Alves

A CIRCUNCISÃO DE JESUS E O SACRAMENTO DO BATISMO

circConsummati sunt dies octo, ut circuncideretur Puer — “Foram cumpridos os oito dias para ser circuncidado o Menino” (Luc. 2, 21).

Sumário. A cerimônia da circuncisão era figura do sacramento do batismo. Podemos, por tanto, imaginar que Jesus Cristo, quando foi circuncidado, pensou em cada um de nós, e que oferecendo a seu divino Pai as primícias do seu sangue, desde então nos mereceu a graça de sermos regenerados pelo batismo. Oh, que dom inestimável é o do santo batismo! Como, porém, temos respondido a tamanho favor? Temos, por ventura, manchado a vestimenta branca da inocência?

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Considera o Pai Eterno, que, tendo enviado seu Filho a fim de padecer e de morrer por nós, quer que no dia de hoje seja circuncidado e comece a derramar o seu sangue divino, para depois acabar de derramá-lo no dia da sua morte na cruz num, oceano de dores e desprezos. E porque? A fim de que esse Filho inocente pague assim as penas por nós merecidas. É, pois, com razão que a Igreja canta: Ó bondade admirável da misericórdia divina para conosco! Ó inestimável amor de compaixão! A fim de remires o homem entregaste teu Filho à morte! — Ó Deus eterno, quem seria capaz de fazer-nos esse dom infinito, senão Vós que sois a bondade infinita? E se, com o dom do vosso Filho, me destes o que mais caro possuíeis, justo é que eu miserável me dê todo a Vós.

Considera por outro lado o divino Filho, que, todo humilde e cheio de amor para conosco, abraça a morte amargosa, que lhe está destinada, para nos salvar, a nós pecadores, da morte eterna. De boa vontade começa hoje a satisfazer por nós à divina justiça, com o preço do seu sangue. — Nosso Senhor disse: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a própria vida por seus amigos.” (1) O amor, porém, de Jesus Menino foi muito além, porquanto, assim como diz São Paulo, Ele chegou a sacrificar a vida por nós, seus inimigos: Cum inimici essemus, reconciliati sumus Deo per mortem Filii eius (2)  — “Sendo inimigos de Deus, fomos com Ele reconciliados pela morte de seu Filho”. 

Portanto, ó meu Jesus, é por meu amor que aceitastes a morte; e que farei eu? Continuarei porventura a ofender-Vos com os meus pecados? Não, Redentor meu, não mais quero ser-Vos ingrato; hoje quero com todas as veras começar a amar-Vos de todo o meu coração. Vós, porém, ó Deus todo-poderoso, concedei-me a graça para Vos ser fiel. “E já que me fizestes chegar ao começo deste ano, salvai-me pelo vosso poder, a fim de que no correr do mesmo não caia eu em nenhuma falta, e os meus pensamentos, palavras e obras tenham por único escopo fazer aquilo que com toda a justiça exigirdes de mim.” (3) Continuar lendo

NÃO PODE FALTAR EM TUA CASA, HÁBITOS RELIGIOSOS!

Imagem relacionadaA casa de família – deve ser benzida e nela entronizado o quadro do Sagrado Coração de Jesus. Está escrito que ricas bênçãos Deus derramará sobre a casa e seus habitantes, sempre que isso se der. Pelos quartos, à cabeceira das camas, haverá um quadro de santo, um Crucificado. Aqui te dou o conselho de procurares antes poucos, mas belos quadros ou imagens, do que muitos e feios.

No horário da casa – haverá tempo marcado para as orações da manhã e da noite. Que belo costume esse de se unir a família perante o oratório da família e aí rezar pelos presentes e ausentes!

Nos dias da semana – o domingo tem lugar de honra. É dia sagrado, dedicado primeiro à oração e à Missa e somente depois aos divertimentos inocentes. É também dia respeitado, até nos trajes festivos da família. O mesmo se dá com os dias de festa religiosa.

No aniversário dos batizados, das primeiras comunhões, a família faz questão de agradecer a Deus as graças que esses dias trouxeram.

As devoções da família – Se o pai já trouxe algumas de seu tempo de moço, ou se na tua mocidade praticava algumas, continua com elas na casa. Sobretudo a devoção a Nossa Senhora não pode faltar, em caso algum. Pois é garantia de salvação eterna e fonte de muita bênção material. Mas, não o esqueças nunca, a primeira devoção cristã é a Santa Eucaristia. Amor a nosso Senhor Sacramentado – pelaassistência à Santa Missa – deve ser precioso patrimônio de todo lar cristão.

Fidelidade á fé – A cristã a recebeu dos pais e deve deixá-la aos filhos. Do contrário, os privaria da herança mais preciosa na vida. Tudo farás, leitora, para conservá-la em ti e nos teus. Para isso é preciso praticar a oração… fugir dos livros maus e procurar os bons. Sobretudo é necessário viver de acordo com aquilo que se crê.

Combaterás energicamente as superstições que tanto prejudicam a fé e ofendem a Deus. Se algum dos teus se afastar da fé, não descanses nas tuas orações e sacrifícios para convertê-lo. Cedo ou tarde o conseguirás…

As três chamas do lar – Pe. Geraldo Pires de Souza

JESUS NASCE MENINO

Resultado de imagem para jesus nasce menino santo afonsoInvenietis infantem pannis involutum, et positum in praesepio — “Achareis um menino envolto em panos e colocado numa manjedoura” (Luc. 2, 12).

Sumário. A pequenez das crianças é um grande atrativo de amor, por causa da inocência. Mas atrativo muito mais poderoso nos deve ser a pequenez do Menino Jesus, que, sendo Deus imenso, se fez pequeno para atrair com mais força os nossos corações. Ah! Como será possível contemplar com fé um Deus feito Menino, chorando e gemendo numa gruta, sobre um pouco de palha, e não amá-Lo e não convidar todos a seu amor, como fazia São Francisco de Assis? Amemus puerum de Bethlehem — “Amemos o Menino de Belém”.

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I. Considera que o primeiro sinal que o Anjo deu aos pastores para reconhecerem o Messias nascido foi este: que o haviam de achar como menino: invenietis infantem — “achareis um menino”. A pequenez das crianças é um forte atrativo do amor; mas atrativo muito mais forte deve ser para nós a pequenez de Jesus Menino, que, sendo Deus imenso, se fez pequeno para atrair com mais violência os nossos corações. Sic nasci voluit, qui voluit amari. Jesus não veio ao mundo para ser temido, mas para ser amado, e por isso quis mostrar-se na sua primeira vinda como menino tenro e pobre.

Magnus Dominus et laudabilis nimis, dizia São Bernardo — O meu Senhor é grande e por isso digno de todo o louvor, pela sua majestade divina. Mas, contemplando-o depois o Santo, feito pequenino na gruta de Belém, acrescentou com ternura: Parvulus Dominus et amabilis valde. — O meu grande e supremo Deus se fez pequenino por meu amor, e por isso é extremamente amável. — Oh! Quem poderá contemplar com fé um Deus feito menino, chorando e gemendo numa gruta, sobre um pouco de palha, e não O amar, e não convidar todos a seu amor, como os convidava São Francisco de Assis, dizendo: Amemus puerum de Bethlehem — “Amemos o menino de Belém”! Ele é pequenino, não fala, apenas geme: mas, ó Deus, aqueles vagidos são outras tantas vozes pelas quais nos convida a seu amor e nos pede os nossos corações.

Considera que as crianças atraem o afeto pela sua inocência. Todas as crianças, porém, nascem manchadas pelo pecado. Jesus nasce pequenino, mas nasce santo: sanctus, innocens, impollutus (1) — “santo, inocente, impoluto”. “O meu amado”, assim dizia a Esposa dos Cânticos, “é todo rubicundo pelo amor, e todo cândido pela sua inocência, sem mancha de qualquer culpa” — Dilectus meus candidus et rubicundus, electus ex millibus (2). Consolemo-nos, nós pobres pecadores, porque este divino Menino veio do céu para nos comunicar pela sua Paixão a sua inocência. Os seus méritos, contanto que os aproveitemos, podem mudar-nos de pecadores em santos; ponhamos, pois, neles toda a nossa confiança; peçamos por eles todas as graças ao Eterno Pai, e tudo alcançaremos. Continuar lendo

SALVE RAINHA – EXPLICADA AO COMUM DOS FIÉIS

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SALVE RAINHA

Bendita, venerada sejais, glória vos seja dada por todas as criaturas no céu e na terra, Esposa do Rei onipotente, Mãe do Rei da glória, que reinais e deveis reinar sempre, como Soberana, em nossos corações.

MÃE DE MISERICÓRDIA

Mãe do afeto, Mãe no cuidado, Mãe no desejo e na diligencia por nossos proveitos verdadeiros e substanciais; e Mãe compassiva que em suas entranhas se dói de nossos extravios, de nossas faltas e nossas misérias.

VIDA, DOÇURA

Por cuja intercessão, por cujo socorro muito especialmente é que nós podemos viver a vida do espírito em serviço do Senhor, e por cujo amparo e beneficio é que em muitos casos conservamos e dilatamos até a vida do corpo.  –Cujo nome é suave a nossos ouvidos, cuja memória é suave a nossos corações e em cujo patrocínio é doce e suavíssima nossa confiança.

ESPERANÇA NOSSA

De cuja compaixão para conosco e alto valimento com o bendito Filho, é que nós, tão fracos, tão pouco dignos de nos apresentarmos ante o seu trono, podemos esperar e esperamos que Ele se dignará de nos olhar com piedade.

DEUS VOS SALVE

BENDITA, venerada sejais, glória vos seja dada por todas as criaturas no céu e na terra.

A VÓS BRADAMOS

Os expulsos, por natureza, por severo mas justo juízo, em razão da culpa, da mimosa pátria, do lugar de inocência, de delícias, de completa bem aventurança.

FILHOS DE EVA

Procedidos, por natureza, da mulher que, dando ouvidos ao espírito de engano, nos envolveu na massa infeliz da corrupção; da mulher, por quem nos vieram tamanhos danos e prejuízos, de que só por vós nos chegou remédio; da mulher, a que só a vós pertence mudar o nome, dando-nos , em lugar de mãe pouco lembrada da nossa ventura, mãe eficazmente solicita e amorosa.

A VÓS SUSPIRAMOS

Enviamos, pedindo ajuda e favor, as vozes mal formadas e entrecortadas, por que usam explicar-se os corações ansiosos.

GEMENDO E CHORANDO

Entre gemidos e pranto, que não nos cabe outra coisa, á vista de tantos males e apuros de que é cheia, de que é tecida a pobre vida humana.

NESTE VALE DE LAGRIMAS

Neste misero desterro, neste mofino mundo, nesta terra de tormento e dor, a que fomos condenados em razão da desobediência e soberba.

EIA, POIS ADVOGADA NOSSA

Ouvi, pois, nossos brados, atendei nossos suspiros, gemidos e lágrimas; — ó defensora e intercessora nossa.

ESSES OLHOS MISERICÓRDIOSOS A NÓS VOLVEI

Ponde em nós vossos olhos compassivos e cheios de piedade.

E DEPOIS DESTE DESTERRO

E quando, com o fim de nossa vida tiver fim a morada neste vale de miséria e amargura, a que nos trouxe a culpa.

MOSTRAI-NOS A JESUS

Fazei-nos ver, face a face, Jesus, cuja presença e clara vista é o sumo da glória, que sobre tudo desejamos.

BENDITO FRUTO DO VOSSO VENTRE

Jesus, que é abençoado fruto do vosso ventre, onde, por obra maravilhosa do Espírito Santo, foi concebido, tomando a nossa natureza.

Ó CLEMENTE, Ó PIEDOSA, Ó DOCE

Remédio, benefício, dom grandioso, que ansiosamente desejamos alcançar, e que não cessamos de esperar de quem, como vós sois, tão doce e benigna para os pobres e pequenos, tão compassiva com os desgraçados, tão clemente para desculpar os pecadores.

SEMPRE VIRGEM MARIA

Maria, que ainda que desposada com José e verdadeira Mãe de Jesus, conservaste sempre pureza incontaminada e perfeita inteireza.

ROGAI POR NÓS, SANTA MÃE DE DEUS

Sim, intercedei sempre, pedi por nós ao Divino Esposo e ao bendito Filho, ó imaculada Mãe de Jesus, que é Deus verdadeiro e verdadeiro homem.

PARA QUE SEJAMOS DIGNOS DAS PROMESSAS DE CRISTO

A fim de que, por virtude de vossa intercessão e rogativas, nos de o Senhor muito da sua graça, e dela ajudados sejamos tão conformes em pensamentos, palavras e obras á sua lei, que por isso mereçamos o que Jesus Cristo prometeu aos que amarem, seguirem e servirem com fidelidade e perseverança: isto é, a coroa de glória em bem aventurada eternidade.

AMÉM

Assim seja, que por vossa intercessão piedosos alcancemos a divina graça, e mereçamos a eterna recompensa.

Manual do Cristão Goffiné – 11º edição

TEMPO DO ADVENTO: DA NECESSIDADE DA ENCARNAÇÃO QUANTO À SATISFAÇÃO SUFICIENTE PELO PECADO

FRA_ANGELICOI. Uma satisfação pode ser considerada suficiente de duplo modo: Primeiro, perfeitamente; quando é condigna por uma certa adequação, para recompensar a culpa cometida. E, assim, uma suficiente satisfação não podia existir da parte do homem; pois, a natureza humana estava corrupta na sua totalidade pelo pecado; nem o bem de nenhuma pessoa, nem ainda o de muitas, podia, por equiparação, recompensar o detrimento de toda a natureza. Quer também porque o pecado. cometido contra Deus implica uma certa infinidade, relativamente à infinidade da majestade divina; pois, tanto mais grave é a ofensa, quanto maior é aquele contra quem se delinqüiu. Por onde, uma satisfação condigna exigia que o ato do satisfaciente tivesse uma eficácia infinita, como dizendo respeito a Deus e ao homem. 

Noutro sentido, uma satisfação pode ser considerada suficiente, imperfeitamente; isto é, quanto à aceitação de quem com ela se contenta, embora não seja condigna. E, deste modo, a satisfação do puro homem é suficiente. E como tudo o que é imperfeito pressupõe algo de perfeito, em que se funda, daí vem que toda a satisfação de um puro homem, tira a sua eficácia da satisfação de Cristo.

(IIIa., q. 1, a. 2, ad 2)

II. A Encarnação traz a confiança na remissão do pecado:  Assim como o homem é disposto para a bem-aventurança pela virtude, dela é também impedido pelo pecado. Ora, o pecado contrário à virtude é impedimento para a bem-aventurança, não só porque traz uma certa desordem à alma, enquanto a afasta da ordenação para o devido fim, como também ofendendo a Deus, de quem espera o prêmio da bem-aventurança (…) Além disso, tomando o homem consciência dessa ofensa, pelo pecado perde a confiança de se dirigir para Deus, confiança necessária para a aquisição da bem-aventurança.

É, pois, necessário ao gênero humano, que transborda de pecados, que lhe seja ministrado um remédio contra os pecados. Ora, esse remédio não pode vir senão de Deus, que pode mover a vontade humana para o bem, repondo-a na devida ordem, e pode perdoar a ofensa que recebeu, porque uma ofensa só é perdoada por quem recebe. 

Mas, para o homem librar-se de uma ofensa passada, é necessário que ele tenha conhecimento do perdão vindo de Deus. No entanto, só pode ficar certo disso, se Deus certificá-lo.

Por isso, foi conveniente e útil ao gênero humano, para que se conseguisse a bem-aventurança, que Deus se fizesse homem. Desse modo conseguiria de Deus perdão dos pecados e, pelo Deus-homem, a certeza desse perdão.

(Contr. 4, 54)

Meditações tiradas da obra de S. Tomás – Pe. D. Mézard

TEMPO DO ADVENTO: DA NECESSIDADE DA ENCARNAÇÃO – PARTE 2

ENCARNAÇÃO DO VERBO DE DEUS – Agência Boa Imprensa – ABIM

Foi necessário que Deus se encarnasse não somente para fazer avançar o homem no bem, mas para removê-lo do mal.

1. Porque assim o homem é instruído para não preferir o diabo a si nem venerá-lo a ele, o autor do pecado. Por isso diz Agostinho: Pois que a natureza humana pode assim unir-se a Deus, de modo a fazer com ele uma só pessoa, aqueles soberbos espíritos malignos não ousem antepor-se ao homem, pois não têm carne
2. Porque isso nos adverte quão grande seja a dignidade da natureza humana, para não a inquinarmos pelo pecado. Por onde, diz Agostinho: Deus nos mostrou quão excelso lugar tem a natureza humana entre as criaturas, por ter se manifestado aos homens como verdadeiro homem. E Leão Papa diz: Reconhece, ó Cristão, a tua dignidade; e, feito consorte da natureza divina, não queiras por uma volta degenerada tornar à antiga vileza
3. Porque, para eliminar a presunção humana, a graça de Deus, sem nenhuns méritos precedentes, se nos inculca no homem Cristo. 
4. Porque a soberba do homem, que é o máximo impedimento para nos unirmos a Deus, pode ser neutralizada e curada pela tão grande humildade de Deus. 
5. Para livrar o homem da servidão do pecado. O que, no dizer de Agostinho, devia realizar-se de modo que o diabo fosse vencido pela justiça do homem Jesus Cristo; e isso se deu por ter Cristo satisfeito por nós. Pois, um puro homem não podia satisfazer por todo o gênero humano; e Deus não devia satisfazer. Por onde era necessário que Jesus Cristo fosse Deus e homem. Por isso diz Leão Papa: A fraqueza é assumida pela força, pela majestade a humildade; de modo que, como convinha ao remédio à nossa salvação, um mesmo mediador entre Deus e os homens pudesse, como homem, nascer, e como Deus, ressurgir. Pois, se não fosse verdadeiro Deus não daria remédio; e se não fosse verdadeiro homem, não daria o exemplo
E há ainda muitas outras utilidades daí resultantes, superiores à compreensão dos sentidos do homem.