SEGUNDA-FEIRA SANTA – MEDITAÇÃO PARA A TARDE

flagellationJesus preso à coluna e flagelado

Tunc ergo apprehendit Pilatus Iesum et flagellavit — “Pilatos tomou então a Jesus e o mandou açoitar”(Io. 19, 1).

Sumário: Contemplemos como os algozes pegam dos açoites e a um sinal dado começam a bater por toda a parte em nosso divino Redentor. Seu corpo virginal primeiro torna-se roxo; depois começa a correr o sangue, e com tão grande abundância, que ficam manchados, não só os açoites, senão também as vestes dos algozes e a própria terra. Pelo que o Senhor ficou transfigurado como um leproso, coberto de chagas desde a cabeça até aos pés. E nós continuaremos a acariciar esta carne rebelde?

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Vendo Pilatos que falharam os dois meios empregados para não ter que condenar ao inocente Jesus, isto é, a remessa para Herodes e a apresentação ao lado de Barrabás, toma o alvitre de lhe dar um castigo qualquer e depois mandá-Lo embora. Convoca portanto os Judeus e lhes diz: “Apresentastes-me este homem como um agitador; não acho, porém, n’Ele culpa alguma, nem tampouco a achou Herodes. Todavia para vos contentar mandarei castigá-Lo e depois mandá-Lo-ei embora.” Ó Deus, que injustiça clamorosa! Declara-O inocente, e depois manda-O castigar!

Mas, qual é o castigo, ó Pilatos, a que condenas este inocente? Vais condená-Lo a ser açoitado? A um inocente infliges uma pena tão cruel e tão vergonhosa? Sim, foi o que se fez. Tunc ergo apprehendit Pilatus Iesum, et flagellavit (1) — “Então Pilatos tomou a Jesus e mandou que O açoitassem.” — Minha alma, contempla como, depois de uma ordem tão injusta, os algozes agarram furiosos o Cordeiro mansíssimo, e entre gritos e alaridos o levam ao Pretório e o prendem à coluna. E Jesus, que faz Jesus? Todo humilde e submisso, aceita por nossos pecados o tormento tão doloroso e ignominioso. Eis como os verdugos já pegam dos açoites, e ao sinal dado levantam os braços e começam a bater por toda a parte, na carne sagrada do Senhor. — Ó algozes, estais enganados, o criminoso não é Ele; fui eu que mereci esses castigos.

Ó minha alma, queres ser do número daqueles que indiferentes contemplam um Deus açoitado? Considera a dor, e mais ainda o amor com que o teu dulcíssimo Senhor padece por ti tão grande suplício. Com certeza, entre os açoites Jesus pensava em ti. Se Ele tivesse sofrido por amor de ti um golpe só, já deverias estar abrasado de amor para com Jesus e dizer: “Um Deus quis ser batido por amor de mim!” Jesus porém quis, para satisfação de teus pecados, que Lhe fossem rasgadas e dilaceradas todas as carnes, segundo a profecia de Isaías: Ipse autem vulneratus est propter iniquitates nostras (2) — “Ele foi ferido pelas nossas iniqüidades”. Continuar lendo

SEGUNDA-FEIRA SANTA – MEDITAÇÃO PARA A MANHÃ

HERODESJesus é levado a Pilatos e a Herodes e posposto a Barrabás.

Et vinctum adduxerunt eum, et tradiderunt Pontio Pilato praesidi — “E preso O conduziram e entregaram ao governador Pôncio Pilatos” (Matth. 27, 2).

Sumário. Imaginemos ver Jesus Cristo, que em meio de uma multidão de gentalha insolente é conduzido ao tribunal de Pilatos, depois ao de Herodes e afinal novamente ao de Pilatos. Este, para livrá-Lo, apresenta-O ao povo juntamente com um ladrão e assassino; mas o povo responde: Seja livre Barrabás, e Jesus seja crucificado. Ó céus! Todas as vezes que pecamos, fizemos o mesmo, pospondo nosso Deus a um vil interesse, a um pouco de fumo, a um vil prazer.

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I. Ao amanhecer, os príncipes dos sacerdotes novamente declaram Jesus réu de morte, e depois conduzem-no a Pilatos, a fim de que este O condene a morrer crucificado. Pilatos, tendo interrogado diversas vezes tanto os Judeus como nosso Salvador, reconhece que Jesus é inocente e que todas as acusações são calúnias. Sai, pois, para fora e declara que não acha em Jesus culpa alguma para condená-Lo. Vendo, porém, que os Judeus se empenhavam sumamente em fazê-Lo morrer, e ouvindo que Jesus era da Galiléia, para tirar-se dos apuros, remisit eum ad Herodem (1) — “devolveu-O a Herodes”.

Herodes ficou muito contente ao ver Jesus levado à sua presença. Esperava ver um dos muitos milagres obrados pelo Senhor e dos quais tinha ouvido falar. Interrogou-O muito, mas Jesus se calou e não lhe deu resposta alguma; castigando assim a vã curiosidade daquele insolente: At ipse nuhil illi respondebat (2). Ai da alma a qual o Senhor não fala mais. — Meu Jesus, eu também tinha merecido este castigo, por ter resistido tantas vezes às vossas misericordiosas inspirações. Mas, meu amado Redentor, tende piedade de mim e falai-me: Loquere, Domine, quia audit servus tuus (3) — “Falai, Senhor, porque o vosso servo escuta”. Dizei-me o que desejais de mim; quero obedecer-Vos e contentar-Vos em tudo.
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SOLENIDADE DE SÃO JOSÉ

Dia de São José -Ite ad Ioseph, et quidquid ipse vobis dixerit, facite — “Ide a José e fazei tudo que ele vos disser” (Gen. 41, 55).

Sumário. Aos outros Santos Deus concedeu o poderem proteger numa necessidade especial; mas a São José, como atesta a experiência, concedeu o ser protetor em todas as necessidades. O nosso Santo não somente tem vontade de auxiliar-nos, mas de certa maneira obrigação, pois que por nossa causa foi ele elevado a sua alta dignidade. Imaginemos portanto que o Senhor, vendo as nossas aflições, nos diz o que o Faraó disse ao povo do Egito no tempo da fome: Se quiserdes ser socorridos, ide a José!

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Deus concedeu aos demais Santos o serem protetores numa necessidade especial; mas a São José concedeu o ser protetor universal. Assim disse Santo Tomás, e Santa Teresa acrescenta que a experiência assim o demonstra. Socorrer em todas as necessidades quer dizer que São José socorre a todos que se lhe recomendam. Prova evidente disso acha-se na ordem da Igreja que de todos seja realizado o Ofício do Patrocínio de São José, onde se diz: Sperate in eo, omnis congregatio populi, effundite coram illo corda vestra (1) — “Esperai nele, toda a congregação do povo; derramai diante dele os vossos corações”.

O nosso Santo nos socorrerá não somente por inclinação de vontade, mas ainda de certa maneira reconhece-se obrigado a proteger todos os fiéis, e especialmente os que a ele recorrem; porquanto é por causa deles que recebeu a honra insigne de fazer às vezes de pai junto a Jesus. Se não fora necessária a Redenção, São José ficara privado de tão grande honra. Tendo-lhe Deus recomendado o cuidado do Redentor, encarregou-o no mesmo tempo do cuidado de todos os remidos, a fim de que nos assista e nos ajude a conseguirmos o fruto da Redenção, que é a salvação eterna. Continuar lendo

COMO EDUCAR O FILHO QUE NÃO QUER ESTUDAR

criancaUm momento delicado

Aos 7 anos, a criança deixa o círculo limitado e conhecido da família, e penetra no mundo inteiramente novo da escola. Não são mais os irmãos e os primos: são várias crianças, estranhas e heterogêneas. Não são somente os amiguinhos do edifício ou do quarteirão: são desconhecidos agora os seus companheiros: – nunca se viram, não sabe quem são, nem como se chamam, onde moram, de quem são filhos. Pela primeira vez, ela é uma desconhecida no meio de desconhecidos. A própria professora ela não sabe quem é: sabe-lhe apenas o nome.

Esse novo mundo em que vai viver é muito diferente da família. Em casa eram os outros que procuravam adaptar-se-lhe: ali é ela que deve adaptar-se a tudo. O seu novo mundo tem horários rígidos, marcados pela sirene estridente; tem programas que lhe são impostos; tem lugares certos que lhe são designados. Grande parte de sua liberdade acabou-se. Agora ela deve fazer tudo com os outros e como os outros. Um novo regime de vida. Obrigações, tarefas, exercícios, com prazo determinado, sem aquela ajuda pessoal a que está habituada. Poderá integrar-se com facilidade no ambiente novo; mas poderá encontrar elementos que lhe rompam o equilíbrio eemocional.

Dos colegas e da própria professora receberá talvez impressões que a traumatizarão, criando-lhe dificuldades. Se isto lhe acontecer, e se não encontrar compreensão e amparo em casa, a vida escolar lhe será difícil, com perspectivas até de fracasso. Continuar lendo

A CONFORMIDADE COM A VONTADE DE DEUS

ceuTem sido sempre este o fim que os Santos todos tem levado em vista: a con­formidade com a vontade de Deus. Conhe­cendo muito bem que, nisto consistia a pu­reza da alma. O beato Henrique Suso, disse: «Deus não quer que nos abundemos em luzes espirituais, mas sim que em tudo nos con­formemos com a Sua divina vontade.» E Santa Tereza: «Tudo o que se deve pro­curar no exercício da oração, é a conformidade da nossa vontade com a vontade di­vina, tendo por certo, que nisto consiste a maior perfeição.»

«Aquele que for mais superior nesta prática, receberá maiores mercês de Deus, e fará os maiores progressos no caminho da perfeição.» A Beata Stephania de Soncino, religiosa da Ordem de S. Domingos, sendo arrebatada em espírito e levada ao Céu em uma visão, viu algumas pessoas que conhecia e que tinham morrido colocadas entre os Serafins, e lhe foi dito que tinham sido exaltadas a tão alto grau de glória, em consequência de sua conformidade com a vontade de Deus, enquanto estiveram sobre a terra: e o beato Suso, que acima mencionamos, falando de si mesmo, exclama: «Eu antes queria ser o mais vil inseto que se arrasta pela terra, pela vontade de Deus, do que ser um Serafim por minha vontade

Nós devemos neste mundo aprender dos Santos, que estão no Céu, à maneira de amar a Deus. O amor puro e perfeito que os Bem-aventurados no Céu tem para com Deus, consiste em uma perfeita união da Sua à divina vontade. Se os Serafins entendessem ser esta vontade, que eles levantassem montes de área sobre as praias do mar, por toda a eternidade, ou que arrancassem erva nos jardins, eles o fariam com o maior prazer e gosto. E mais ainda: se Deus lhes significasse que seriam queimados no fogo do inferno, eles desceriam imediatamente ao abismo, para cum­prirem a vontade divina. E é o que Jesus Cristo nos ensina a pedir, que se faça a vontade de Deus na terra, como os Santos o fazem no Céu. (S. Mat. VI. 10.) Nosso Senhor chama a David «um homem segundo o meu coração, porque cumpriu todas as minhas vontades.» (Atos, XIII. 22.) Continuar lendo

DA VIRGINDADE

rezSão Cipriano (De disc. et hab. virg.) denomina a multidão de virgens que se consagram ao amor de seu Divino Esposo, de “a mais nobre porção da Igreja de Cristo”. Vários outros Santos Padres, como Santo Efrém, Santo Ambrósio, Santo Agostinho, São Jerônimo, São Crisóstomo, escreveram livros inteiros em louvor da virgindade.

Não é minha intenção expor aqui todos os méritos e vantagens que adquirem as pessoas que consagraram a Deus sua virgindade; disso tratarei extensamente no capítulo IV da III parte, que trata do voto de castidade [que reproduzimos logo abaixo]. Aqui farei seguir, simplesmente, uma instrução para os que levam uma vida virginal sem terem emitido o voto de castidade.

As almas virgens são extraordinariamente belas aos olhos de Deus: “Serão como os Anjos de Deus no Céu” (Mat 22, 30). Barônio conta que na morte de uma virgem, chamada Geórgia, uma multidão de pombos adejavam ao redor da casa e, quando seu cadáver foi transportado à igreja, pousaram no teto, exatamente em cima do lugar onde se achava o caixão, e daí não se retiraram até ser sepultada a piedosa virgem (An. 480). Essas pombas certamente eram Anjos, que queriam prestar as últimas honras àquele corpo virginal.

As almas virginais, que renunciaram ao casamento para se dedicarem exclusivamente ao amor de Jesus Cristo, tornam-se esposas do Filho de Deus. Nos Santos Evangelhos, Jesus Cristo é chamado Pai, Mestre, Pastor das almas; referindo-se às virgens, porém, dá-Lhe o nome de Esposo: “Elas saíram a receber o Esposo e a Esposa” (Mat 25, 1). Por isso, tinha razão Santa Inês, respondendo, segundo Santo Ambrósio, aos que lhe ofereciam a mão do filho do prefeito de Roma: “Ofereceis-me um esposo? Já encontrei um muito melhor” (De virg., 1.. 1). Semelhante resposta deu Santa domitila, sobrinha do imperador Domiciano, aos que queriam persuadi-la a casar­se com Aureliano: “Dizei-me: a quem deveria escolher por esposo uma jovem pedida em casamento por um monarca e por um camponês? Para casar-me com Aureliano, teria de renunciar ao Rei do Céu. Ora, isso seria uma loucura inominável, que nunca praticarei”. E, firme nessa resolução, deixou-se queimar viva, para poder permanecer fiel a Jesus Cristo, a Quem consagrara sua virgindade.

Quem poderá imaginar a glória que Deus reserva a Suas castas esposas lá no Céu? Os teólogos são de opinião que no Céu existe uma glória especial reservada às virgens, uma coroa ou alegria particular, de que estão privados os outros Santos. Continuar lendo

A CARICATURA DA FÉ

procuraUm sábio educara o filhinho completamente afastado do convívio do mundo e nunca pronunciava diante dele, a palavra “DEUS”. Queria experimentar se a alma, abandonada a si mesma, poderia chegar ao conhecimento de Deus. Quando a criança atingira seus dez anos, o pai notou que o rapazinho se esgueirava de madrugada para o jardim. Seguiu-o de mansinho, e que viu? O menino, ajoelhado no solo, erguia as mãos postas para o sol.

Pobre rapaz! Tomava o servo pelo Rei! Mas, mesmo assim, deu uma brilhante prova de que a alma humana é religiosa por natureza. Fechando-lhes as fontes apropriadas, ela se apega a grosseiras ilusões e erros.

Podemos retroceder até os tempos mais remotos da história dos homens e não encontraremos um único povo que não tivesse religião. A religiosidade é exigência da própria natureza humana. Negar a existência de Deus é violentar a natureza.

Observamos, hoje em dia, a cada passo a confirmação de que a alma do homem anela pela religião, e que sem esta fica desassossegada, impaciente, enferma. Vemo-lo naqueles homens, dignos de lástima, que se afastaram da religião. Acreditas que esses “descrentes” sejam realmente incrédulos? Não! A alma tem sede de fé; ao desviar-se da verdadeira religião, ela se apega com frenesi aos mais diversos substitutos da religião, a caricaturas grotescas de fé.

Floresce em nossos dias a mais crassa e estúpida superstição, não só entre ignorantes, mas também entre os cultos. Provam-no os adeptos do teosofismo, do espiritismo, da astrologia, da cartomancia de todos os tipos, ou como quer que se chamem todos esses “fenômenos ocultos”. Continuar lendo

RESPONSABILIDADES DOS CRISTÃOS

S._Catarina_de_Sena_okDo pecado original, que contraís através do pai e da mãe na concepção, restou-vos somente uma cicatriz. Ela é apagada, embora não completamente, pelo batismo, ao qual o Sangue de Cristo concedeu a virtude de infundir a vida da graça. Quando alguém é batizado, imediatamente cancela-se o pecado original e infunde-se a graça; a inclinação para o pecado, descrita antes como uma cicatriz, fica enfraquecida e submetida ao controle da pessoa. Assim, o homem dispõe-se a receber e aumentar a graça em si mesmo. O resultado, para mais ou para menos, depende do seu esforço em servir-me com amor e anseio. Embora possuindo a graça batismal, a pessoa pode encaminhar-se livremente para o bem ou para o mal. É ao atingir o uso da razão que praticará o bem ou o mal, conforme agradar ao arbítrio de sua vontade.

Aliás, tão grande é a liberdade humana, de tal modo ficou fortalecida pelo precioso Sangue de Cristo, que demônio ou criatura alguma pode obrigar alguém à menor culpa, contra o seu parecer. Acabou-se a escravidão; o homem ficou livre. Agora, ele pode dominar a sensualidade e chegar à meta para a qual foi criado. Ó homem infeliz, que prazerosamente te enlameias no lodo, como um animal, e não reconheces os imensos favores que te dei! Pobre criatura! Mais não poderias receber, e no entanto vives cheia de misérias!

Minha filha, procura compreender! Ao obter a graça, os homens são recriados no Sangue do meu Filho unigênito. Como disse, a graça foi restituída aos homens; mas se não a aceitam, passarão do mal para o pior. Desprezando meus benefícios, de pecado em pecado me ofendem. Além de não reconhecerem o auxílio da graça, até acham que cometo ofensas; afirmam que não desejo a sua santificação! Pois bem, quero esclarecer: semelhantes pessoas merecem um castigo mais severo! Agora que tiveram a redenção mediante o Sangue de meu Filho, a punição será mais grave do que antes, quando ainda não fora cancelada a ferida causada pela culpa de Adão.
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DA PAZ E DO ZELO EM APROVEITAR

orar01Muita paz podíamos gozar, se não nos quiséssemos ocupar com os ditos e fatos alheios que não pertencem ao nosso cuidado. Como pode ficar em paz por muito tempo aquele que se intromete em negócios alheios, que busca relações exteriores, que raras vezes e mal se recolhe interiormente? Bem-aventurados os simples, porque hão de ter muita paz!

Por que muitos santos foram tão perfeitos e contemplativos? É que eles procuraram mortificar-se inteiramente em

todos os desejos terrenos, e assim puderam, no íntimo de seu coração, unir-se a Deus e atender livremente a si mesmos. Nós, porém, nos ocupamos demasiadamente das próprias paixões e cuidados com excesso das coisas transitórias. Raro é vencermos sequer um vício perfeitamente; não nos inflamamos no desejo de progredir cada dia; daí a frieza e tibieza em que ficamos.

Se estivéssemos perfeitamente mortos a nós mesmos e interiormente desimpedidos, poderíamos criar gosto pelas coisas divinas e algo experimentar das doçuras da celeste contemplação. O que principalmente e mais nos impede é o não estarmos ainda livres das nossas paixões e concupiscências, nem nos esforçamos por trilhar o caminho perfeito dos santos. Basta pequeno contratempo para desalentarmos completamente e voltarmos a procurar consolações humanas. Continuar lendo

O EGOÍSMO RETOMA A DIREÇÃO DO MUNDO

arrSenhor! Fostes divinamente amado pelos homens. E, mesmo nos nossos dias, quantos corações puros Vos amam e Vos são dedicados até à morte!

Mas o meu coração confrange-se de tristeza. O número destas almas ardentes não parece diminuir de dia para dia? O egoísmo recupera a direção do mundo. Há tempos que vem infestando com o seu veneno toda a sociedade. Penetra agora na vida familiar e procura infiltrar-se na própria Igreja.

Quando o Senhor voltar à terra, encontrará ainda amor no mundo?

Por toda a parte, a caça aos prazeres, a cupidez, o luxo desenfreado; por toda a parte, a opressão dos fracos, o desdém pelos infelizes, o horror pelos menos favorecidos!

É como se o Senhor Se tivesse retirado, levando consigo o amor e a luz. As sombras já se aglomeram ao redor de nós e o frio faz-se mais intenso. É o melancólico paganismo que volta, como um espectro carregado de ódio, e que ameaça envolver-nos a todos numa imensa mortalha.

Senhor! Tende piedade de nós: Fica conosco, Senhor, pois é tarde e o dia já declina (Lc 24,29). Ficai conosco, senhor, pois faz-se tarde. A noite vem caindo, a terrível noite que nos apavora com os seus fantasmas. Ficai conosco! Continuar lendo

QUE É QUE PEDES A JESUS?

meninaJoei era uma menina que as Irmãs de Caridade encontraram abandonada pelos pais às margens do Rio Amarelo da Grande China.

Estava a criancinha a morrer de fome e frio, quando as Irmãs a levaram para o hospital.

Logo que as vestiram e alimentaram, dando-lhe leite quente, começou a pequenina a recobrar a vida e a saúde. Foi batizada e logo brilhou a inteligência em seus olhinhos vivos e começou a conhecer a Deus e a aprender as coisas do céu. Andava já pelos oito anos e gostava de assistir à doutrina com as crianças que se preparavam para a primeira comunhão. Mas a sua memória não acompanhava o seu coração e quando o missionário foi examiná-la, teve que dar-lhe a triste notícia de que não seria admitida à primeira comunhão enquanto não soubesse melhor a doutrina.

Julgava o Padre que essa determinação a deixaria indiferente. Mas não foi assim.

Daquele dia em diante notou-se uma mudança extraordinária no comportamento da menina.
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A OBRA REDENTORA DE CRISTO

cristoEstando a humanidade corrompida pelo pecado do primeiro homem, Adão, enviei o Verbo, meu Filho unigênito. Todos vós, vasos modelados no mesmo barro, estáveis contaminados e sem condições para aceder à vida eterna. Então eu, o Altíssimo, me uni à pequenez da vossa natureza humana. Desejava remediar a corrupção e morte do homem, restituindo-lhe a graça perdida com o pecado. Todavia, a mim, Pai eterno, era impossível sujeitar-me ao sofrimento e minha justiça exigia o castigo da culpa. Os homens eram incapazes de dar a satisfação; e, se isso acontecesse, cada pessoa teria que fazê-lo para si mesma, não por todos os outros. Na realidade, nenhum de vós tinha capacidade de dar reparação, nem por si, nem pelos outros, já que a culpa atingira meu ser infinito. Queria eu, então, reconstruir a humanidade; ela, enfraquecida, não podia dar a reparação ao mal. Enviei, pois, o Verbo, meu Filho unigênito, revestido de vossa natureza, a corrompida matéria de Adão. Nessa natureza, ele haveria de sofrer, morreria mesmo, para aplacar minha ira. Por tal maneira satisfiz a minha justiça, saciei-a pela misericórdia, pois esta última queria cancelar a culpa humana e preparar a humanidade àquela bem-aventurança para a qual a havia criado.

Assim unida à divindade, a humanidade pôde dar a reparação. Como? Seja mediante o sofrimento humano de Cristo, seja pela virtude da natureza divina infinita do Verbo encarnado. Desta união das duas naturezas, recebi e aceitei o sacrifício do Sangue. Era sangue humano, mas mesclado, amalgamado com a natureza divina, como fogo do meu amor. Este amor foi o único laço que reteve Jesus quando cravado na cruz. Foi somente dessa forma – na virtude da divindade (de Cristo) – que se tornou possível a reparação da culpa humana; foi assim que se cancelou a mancha do pecado de Adão. Dela restou apenas uma cicatriz, que é a inclinação para o mal e os defeitos corporais, à semelhança da cicatriz que fica quando uma pessoa é curada de uma ferida.

A ferida causada pela culpa de Adão era mortal. Ao chegar o grande médico, meu Filho unigênito, ele curou o doente, sorvendo a medicina amarga, impossível de ser tomada pela fraqueza humana. Cristo comportou-se como a ama-seca, que bebe o remédio em lugar da criança, dado que ela é grande e forte, ao passo que a criança é fraca e não suporta o amargor. Cristo foi o substituto. Graças ao poder e fortaleza da divindade que nele se achava unida à natureza humana, tomou o medicamento amargo, a morte na cruz, para curar e restituir a vida a vós, crianças enfraquecidas pelo pecado.

O Diálogo – Santa Catarina de Sena

TODA A NOSSA PERFEIÇÃO CONSISTE EM AMAR AO NOSSO AMABILÍSSIMO DEUS

Rezando«A caridade é o vinculo da perfeição.» (Colos. III. 14.)

E toda a perfeição do amor de Deus, consiste em unir a nossa vontade com a Sua santíssima vontade. «O principal efeito do amor diz S. Dionísio (De Div. Nom. C. 4.), é unir a vontade daqueles que se amam de maneira, que se torne uma e a mesma von­tade.» Por conseguinte quanto mais uma pessoa está unida com a vontade divina maior será o seu amor. Penitências, medi­tações, comunhões e obras de caridade, praticadas para com o nosso próximo, são de certo agradáveis a Deus, mas quando? quando estas obras são feitas em confor­midade com a Sua vontade, mas, quando elas não se praticam pela vontade de Deus, não só lhe são desagradáveis, mas odiosas e merecedoras unicamente de castigo. Se um amo tivesse dois criados, dos quais um trabalhando todo o dia, mas conforme a sua vontade, e o outro trabalhando à vontade de seu amo, seguramente o amo estimaria mais o segundo do que o primeiro. Como podem nossas ações promover a gloria de Deus, senão forem conformes ao Seu divino agrado? «O Senhor, disse o Profeta a Saul, não deseja sacrifícios, mas obediência à Sua vontade: acaso pede o Senhor holocaustos e vítimas, e não obediência à Sua voz? (I Reis, XV. 22, 23.)

Aquele que trabalha segundo a sua pró­pria vontade, e não conforme a vontade de Deus, comete uma espécie de idolatria, porque em lugar de adorar a vontade di­vina, adora de alguma maneira a sua própria. Continuar lendo

A HONRA DE AJUDAR À MISSA

aaFoi em 1888, Ano Jubilar do Santo Padre Papa Leão XIII. Num dos altares da Basílica de São Pedro encontravam-se dois sacerdotes: um era prelado romano e cônego da Basílica Vaticana; o outro era o bispo duma diocesa italiana, vindo a Roma para assistir às festas jubilares.

O prelado romano, que se dispunha para celebrar a missa, olhava inquieto ao redor, porque seu ajudante não aparecia. O Bispo, que estava ajoelhado ali perto, aproxima-se com grande simplicidade e diz:

– Permita-me, Monsenhor, que seja eu o ajudante de sua missa?

– Não, excelência, não o permitirei: não convém a um Bispo fazer de coroinha.

– Por que não? garanto-lhe que darei conta.

– Disso não duvido, Excelência; mas seria muita humilhação. Não, não o permitirei.

– Fique tranqüilo, meu amigo. Depressa ao altar; comece: Introibo…

Dito isto, o Bispo ajoelha-se e o prelado teve que ceder. Assistido por seu novo ajudante, o prelado romano prosseguia a sua Missa com uma emoção sempre crescente.
Terminada a Missa, o celebrante se desfez em agradecimentos perante o Bispo.

Aquele pio e humilde ajudante, vinte anos mais velho que o prelado romano, era a glória da diocese de Mântua, D. José Sarto, o futuro Papa Pio X, hoje canonizado por Pio XII.

Para o Cruzadinho, amigo fervoroso de Jesus Eucarístico, não deve haver honra nem glória maior do que poder ajudar devotamente o sacerdote ao altar.

Tesouro de Exemplos – Pe. Francisco Alves

O PRINCIPAL É A HONRA

honra“A qualquer credo pertenças, — nem sei se tens religião ou não — não importa, isso é secundário: o principal é ser honrado. Isso basta!”

Ouvirás por certo estes conceitos: “Isso basta!” dizem eles. O escritor francês Ségur, deu a respeito uma resposta lacônica: “Naturalmente, isso basta para não subir ao cadafalso; mas não basta para entrar no reino dos céus”.

Não quero, todavia, liquidar tão simplesmente uma questão assim importante. Não o quero, para que, apresentando-se-te a dificuldade, possas oferecer uma resposta oportuna a palavras tão ocas.

Em primeiro lugar pergunto: Se fosse coisa indiferente a religião à qual pertencemos, por que se teria esforçado Nosso Senhor por inculcar em nós o verdadeiro sentido da divindade e a maneira melhor de servir a Deus?

E pergunto mais: “O essencial é a honra? Admitido. Mas, poderá ser honrado quem não tem religião?”

Se responderes sem refletir, dirás: “Naturalmente que se pode! Senão, veja fulano e sicrano! Sei com certeza que nunca põem o pé na igreja, que se confessaram a última vez quando se casaram; no entanto, são cavalheiros sem jaça, da cabeça aos pés”.

Depois de madura reflexão, a resposta seria de certo bem diferente. Que haja “homens honrados”, “cavalheiros”, que, infelizmente, não se importam de religião, quem o poderia contestar? Contudo, se examinasses de perto o que eles entendem por “honra” e “cavalheirismo”, haverias de pasmar. Sua honradez se resume em geral na observância escrupulosa das prescrições da cortesia e educação exteriores e na omissão de tudo o que os poderia pôr em conflito com as leis civis. Continuar lendo

O VALOR DOS FILHOS NA FAMÍLIA

Foi doloroso e triste o quadro da família sem filhos que passou aos nossos olhos nas duas últimas instruções, mas o objeto das duas que virão agora é bem consolador e alegre: vou falar da “família numerosa”.

O quanto é terrível, porque é contra a natureza, o silêncio do túmulo que reina em casa dos esposos sem filhos, tanto é alegre e cheio de promessas o riso argentino que enche o lar da família numerosa.

O quanto é abandonada e triste a velha árvore seca que perdeu sua folhagem, suas flores e todo o seu ornamento, o quanto é triste o caminhar para o túmulo, dos esposos sem filhos, atingidos pela velhice os que generosamente e confiantes no auxílio de Deus acolheram o filho. São como gigantescos carvalhos, cujos vastos ramos trazem ninhos onde sempre cantam novos pássaros. Estes velhos vêem, com a alma cheia de gratidão para com Deus aparecer, no lar de seus filhos e mesmo netos novos berços, e nestes berços, pequeninos seres que exprimem o seu reconhecimento aos pais e avós.

Estes velhos terão alguém para rezar por eles, e implorar a graça de Deus para o repouso de sua alma.

Sim, sempre foi assim; as famílias cristãs sempre amaram seus filhos; o seu mais belo móvel sempre esteve a um canto do quarto, o berço com um pequeno anjo risonho quase a dormir, enquanto num outro canto um bebê de três anos se mantém ativamente em seu cavalo de balanço, e mostra ao seu irmão maior de 5 anos toda sua habilidade.

As duas últimas instruções passaram-se numa paisagem árida, na família sem filhos. Nas duas, porém, que se seguem, subiremos às alturas consoladoras do lar feliz da família numerosa. Nesta instrução, mostrarei só de um modo geral que a verdadeira família cristã tem duas características: Continuar lendo

COMO SE DEVEM EVITAR AS CONVERSAS SUPÉRFLUAS

converEvita, quanto puderes, o bulício dos homens, porque muito nos perturbam os negócios mundanos ainda quando tratados com reta intenção; pois bem depressa somos manchados e cativos da vaidade. Quisera eu ter calado muitas vezes e não ter conversado com os homens. Por que razão, porém, nos atraem falas e conversas, se raras vezes voltamos ao silêncio sem dano da consciência? Gostamos tanto de falar, porque pretendemos, com essas conversações, ser consolados uns pelos outros e desejamos aliviar o coração fatigado por preocupações diversas. E ordinariamente sentimos prazer em falar e pensar, ora nas coisas que muito amamos e desejamos, ora nas que nos contrariam.

Mas ai! Muitas vezes é em vão e sem proveito, pois essa consolação exterior é muito prejudicial à consolação interior e divina. Cumpre, portanto, vigiar e orar, para que não passe o tempo ociosamente. Se for lícito e oportuno falar, seja de coisas edificantes. O mau costume e o descuido do nosso progresso espiritual concorrem muito para o desenfreamento de nossa língua. Ajudam muito, porém, ao aproveitamento espiritual os devotos colóquios sobre coisas espirituais, mormente quando se associam em Deus pessoas que pensam e sentem do mesmo modo.

Imitação de Cristo – Tomás de Kempis

TRISTE SITUAÇÃO DA IGREJA

cataEntão Deus Pai, deixando-se levar pelas lágrimas e reter pelos laços do desejo santo daquela serva, olhou misericordiosamente para ela e queixou-se nestes termos:

– Filha muito amável, tuas lágrimas me coagem, porque estão unidas a mim e são derramadas por amor; prendem-me os teus sofrimentos íntimos. Olha e vê quanto minha Esposa sujou a sua face, como está leprosa por causa da impureza e egoísmo; como está intumescida pela soberba e ganância dos cristãos e mesmo dos membros da hierarquia. Falo dos ministros que se alimentam de sua riqueza e são encarregados de nutrir o povo fiel e aqueles que aspiram por deixar o paganismo e filiar-se como membros da minha Igreja. Considera com quanta maldade, incompreensão e ingratidão, com que mãos imundas são distribuídos seu alimento e seu sangue. Vê com que desconsideração e falta de respeito os mesmos são recebidos. É esse o motivo porque muitas vezes se torna fator de morte aquilo que deveria infundir a vida! Tal coisa se verifica com o Sangue precioso do meu Filho unigênito. Tal sangue afastou a morte e a escuridão, trouxe a luz e a Verdade, confundiu a mentira. Foi ele que propiciou todos os bens, quais sejam a salvação e a total perfeição dos homens. Exige apenas as boas disposições. Se de um lado produz a vida divina e todos os benefícios da graça de acordo com a acolhida e amor de quem o recebe, do outro causa a morte para aqueles que vivem no pecado. Sim! Para aqueles que recebem indignamente, em estado de pecado mortal – e unicamente por culpa sua – este Sangue produz a morte, não a vida. Isto acontece não por falha do Sangue (de Cristo) ou do ministro, mesmo que este se encontre em situação igual ou pior.

O pecado do ministro não prejudica, nem mancha o Sangue, não diminui o poder da graça. O mau ministro não prejudica a pessoa a quem distribui o Sangue de Cristo; prejudica somente a si mesmo, pois comete um pecado digno de castigo, a menos que se arrependa mediante uma sincera contrição e afastamento da culpa.

Repito: o Sangue de Cristo é prejudicial a quem o recebe indignamente, não por falha da Eucaristia ou do ministro; somente por más disposições ou defeitos pessoais, como sejam a maldade e a impureza, que mancham o espírito e o corpo, e as grandes maldades contra si mesmo e o próximo. A maldade contra si mesmo consiste na perda da graça, quando o homem egoisticamente despreza os dons recebidos no batismo. Neste a virtude do Sangue cancelara a mancha do pecado original, transmitido pelo pai e pela mãe no momento da concepção.

O Diálogo – Santa Catarina de Sena  

DA NECESSIDADE DE TER UMA FÉ ESCLARECIDA

feO apóstolo São Pedro, escrevendo aos primeiros fiéis e por eles instruindo os fiéis de todos os tempos, dizia: «Ficai sempre prontos a responder em defesa da religião a quem quer que lhes pergunte qual a razão da esperança que está em vós».

O que traduzimos por responder em defesa da religião, está expresso em uma só palavra no texto de São Pedro. Ele diz ao pé da letra: apologia:«Estejam sempre prontos para a apologia»; quer dizer, segundo as solenes instruções de São Pedro, o santo Papa, todo cristão deve estar sempre preparado para a apologia, para a defesa da fé, contra quem quer que lhe pergunte a razão da esperança que ele traz consigo.

É preciso pesar bem os termos de São Pedro: estar sempre preparado contra quem quer que seja. Evidentemente para estar assim sempre pronto contra quem quer que seja, é preciso uma dose de instrução cristã, que hoje não é comum entre os cristãos.

Mas temendo estar sendo exagerado em alguma coisa, dou a palavra a um intérprete que não se pode recusar: (Estius, Comm. in Cap… III Epist. I B. Pet.). Traduzo:

«Este é o pensamento de São Pedro: Já que os infiéis chamam vã a esperança que tendes em Jesus Cristo numa vida futura e numa glória eterna, advirto-vos de que devem ter sempre pronta uma resposta pela qual possais mostrar que vossa fé e vossa esperança se apóiam em razões sólidas, seja para o caso de confrontar um contraditor ou simplesmente um homem desejoso de se instruir, que vos pergunte porque desprezais os bens da vida presente e sofreis tantos males nesta terra. Continuar lendo

O PRIMEIRO MÁRTIR DA EUCARISTIA

tarcisioEra nos primeiros tempos do cristianismo. Os cristãos eram perseguidos, lançados às feras, mortos.

Quase todos procuravam antes receber a santa comunhão.

Os sacerdotes tinham de esconder-se porque eram os mais procurados pelos inimigos.

Um dia, depois de celebrar os divinos mistérios nas catacumbas, o padre, voltando-se para os fiéis reunidos, mostrou-lhes a Hóstia e disse:

– Amanhã muitos dos nossos serão conduzidos às feras. Quem de vós, menos conhecido que eu, poderá levar-lhes secretamente o Pão dos fortes?

As estas palavras aproxima-se um menino de dez anos, chamado Tarcísio, que parecia ter roubado aos anjos a pureza da alma e a formosura dos rosto; e, ajoelhando-se diante do altar, estendia os braços para o sacerdote sem pronunciar palavra, parecendo querer dizer:

– Eu mesmo levarei Jesus aos irmãos encarcerados…

– És muito pequeno – disse o padre – como poderei confiar-te tamanho tesouro?

– Sim, padre; justamente por ser eu pequeno me aproximarei dos mártires sem que ninguém desconfie.

Falava com tanto ardor e candura, que o padre lhe confiou os “Mistérios de Jesus”.

O pequeno, radiante de alegria, aperta ao peito o seu tesouro e diz:
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DA OBEDIÊNCIA E SUBMISSÃO

obedienciaGrande coisa é viver na obediência, sob a direção de um superior, e não dispor da própria vontade. Muito mais seguro é obedecer que mandar. Muitos obedecem mais por necessidade que por amor: por isso sofrem e facilmente murmuram. Esses não alcançarão a liberdade de espírito, enquanto não se sujeitarem de todo o coração, por amor de Deus. Anda por onde quiseres: não acharás descanso senão na humilde sujeição e obediência ao superior. A imaginação dos lugares e mudanças a muitos tem iludido.

Verdade é que cada um gosta de seguir seu próprio parecer e mais se inclina àqueles que participam da sua opinião. Entretanto, se Deus está conosco, cumpre-nos, às vezes, renunciar ao nosso parecer por amor da paz. Quem é tão sábio que possa saber tudo completamente? Não confies, pois, demasiadamente em teu próprio juízo; mas atende também, de boa mente, ao dos demais. Se o teu parecer for bom e o deixares, por amor de Deus, para seguires o de outrem, muito lucrarás com isso.

Com efeito, muitas vezes ouvi falar que é mais seguro ouvir e tomar conselho que dá-lo. É bem possível que seja acertado o parecer de cada um: mas não querer ceder aos outros, quando a razão ou as circunstâncias o pedem, é sinal de soberba e obstinação.

Imitação de Cristo – Tomás de Kempis

A FÉ E A CIÊNCIA

38-rc-frame-joelhosComo a senhora sabe, o homem nasce ignorante. E só sai da ignorância com dificuldade. O homem custa a aprender e quanto mais elevada a ciência que queremos adquirir, mais ela nos custa. O mal é tanto que não só temos dificuldades em aprender, como muitas vezes sentimos repugnância infeliz pelo estudo, repugnância que nos faria sentir uma espécie de tranqüilidade, uma felicidade estúpida por não saber nada.

E, no entanto, não é a ignorância em si que nos agrada. O que nos agrada é o fato de não precisarmos fazer o esforço necessário para chegar à ciência.

Nós cristãos, conhecemos a causa de tão lamentável estado, pois a fé nos indica ser este um dos efeitos do pecado original.

Quando Deus, pelo batismo, apaga em nós o pecado original, Ele nos dá a fé e com a fé a necessidade de conhecer as verdades cristãs e a inclinação para recebê-las e guardá-las.

Essa necessidade das almas não é coisa para ser negligenciada. Para isso a Igreja tem o catecismo. Mas, infelizmente, as lições duram pouco e são facilmente esquecidas. A educação cristã é muito relaxada nas escolas, quando não é totalmente desprezada. Disso resulta que os cristãos, geralmente, não são suficientemente instruídos naquilo que, no entanto, teriam a maior necessidade de conhecer a fim de conservar a fé, praticá-la fielmente e guardá-la até o fim de sua vida. Este é mais ou menos o estado geral dos cristãos cujos estudos terminaram na escola primária. Mas nós temos escolas secundárias, escolas superiores, até mesmo universidades. Se a ciência está em algum lugar, é nestes lugares que deveria estar. Continuar lendo

A MORAL SEM DEUS

santos1A moral é jóia tão indispensável à humanidade, que todos consideram sua defesa como absolutamente necessária. Por mais errados que sejam os conceitos de muitos acerca da religião, todos proclamam unanimemente a necessidade de proteger os bons costumes e de salvá-los, em prol da humanidade.

Mas esta é justamente a pergunta: pode-se falar de moral sem religião? Pode alguém ter bons costumes sem ter fé? Quando se instala a bússola num navio, procura-se isolá-la, o melhor possível, da influência de correntes magnéticas que poderiam provir da couraça do casco. A razão é a bússola da vida humana; correntes estranhas, oriundas do corpo — a inclinação para o mal — desviam-na facilmente e desgovernam nossa vida, se ela não estiver orientada para determinado ponto, muito acima de toda corrente de egoísmo e da ilusão própria. Se os homens, e não Deus, tivessem determinado o que é moral ou imoral, andariam muito mal parados a respeito da moralidade. Pois o que eu chamo pecado, com o mesmo direito outro poderia chamar virtude.

Portanto, quem não crê no Supremo Legislador, superior à natureza, quem não crê numa vida sobrenatural, depois da terrena não pode falar em moral. Em primeiro lugar deve o homem saber que é a criatura humana e quem é Deus; só então compreenderá o que deve fazer ou omitir.

Uma vida morigerada exige luta; não pode ser diversamente. Um colegial se exprimia assim: “Por que é tão difícil ser bom e tão fácil ser mau?” Não notaste ainda, e repetidas vezes, esse antagonismo trágico em teu coração? A razão reconhece o bem e o deseja; nossa natureza decaída, pelo contrário, arrasta-nos ao mal… Continuar lendo

COMO EDUCAR O FILHO (A) EGOÍSTA

egoEsse homem metido em si mesmo, voltado para suas preocupações e seus interesses, sem ressonâncias para as necessidades ou alegrias do próximo, incapaz de enxugar a lágrima de quem sofre, insensível à fome dos miseráveis, às angústias do aflito e ao frio dos esfarrapados, esse homem que só pensa nos outros na medida em que eles lhe podem ajudar à riqueza ou à fama, e que os larga quando já não tem mais o que lhe dar (como quem joga fora o bagaço da laranja que chupou), esse que só pensa em si, só tem para si – é o egoísta.

Também ele é infantilizado: não ultrapassou o nível da criança. Não se integrou na convivência humana. Seus horizontes fecham-se sobre si mesmo, estreitos e sufocantes. Seus olhos só vêem o chão em que pisa, numa infeliz miopia que não enxerga caminhos alheios.

Sua capacidade de sentir o que não é seu atinge a selvagens endurecimentos que negam a própria natureza – como a jovem que chega da cidade, senta-se, queixa-se do calor e pede um copo de água à velha mãe que labuta na casa e na cozinha desde as 6 da manhã!

Furtado pela natureza e vítima de má educação, ele diminui a própria capacidade de viver e extingue uma copiosa fonte de felicidade, desconhecendo a vida de seus irmãos e não os ajudando a ser felizes. Em torno de si espalha o desprezo e a aversão. Continuar lendo

AS DEVOÇÕES SEM A FÉ

devoA fé, que para o cristão é o princípio único das obras salutares, é igualmente o princípio da devoção e mesmo, se quiser, das devoções quando a devoção e as devoções são realmente salutares.

Vimos que muitas obras podem nascer ao lado da fé, mas que não são por si só, úteis à salvação. É isto exatamente o que se passa com a devoção e as devoções. Elas podem nascer, se desenvolverem e crescerem, até mesmo de modo prodigioso, paralelas à fé e no entanto serem inúteis para a salvação eterna dos homens.

Certamente gostará de ouvir o que li sobre este assunto no «Année Dominicaine» sob a assinatura do padre Vicent Maumus: – «A prática da devoção sem o conhecimento de Deus, é o grande obstáculo para o progresso das almas.

As almas são pouco esclarecidas, primeiro porque se tem poucas luzes, em seguida porque se taxa facilmente de curiosidade vã uma ciência que não se aprecia. As almas são pois pouco esclarecidas ao mesmo tempo que são cumuladas de práticas de devoção multiplicadas ao infinito; são envolvidas em todas as espécies de confrarias; são levadas a crer, como último esforço de piedade católica, na propaganda ativa de certas devoções cuja corrente, se não for freada, ameaça sufocar o amplo espírito cristão». «Que são hoje os livros de piedade? Pondo à parte algumas raras exceções, não passam de tratados superficiais que só se dirigem à imaginação e à prática exterior de tais ou quais devoções da moda. Há alguns anos um grande bispo se lamentava pela profusão com que se espalhou esse tipo de livro, e Bossuet já dizia: Não compreendo mais nada dos diretores».

A senhora, lendo esta citação com grande atenção, sente todo seu peso. Parece mesmo que daqui a ouço lembrar o que disse Joseph de Maistre: «Deus abençoe a partícula SE!»

De boa vontade aceitarei com a senhora essa desejável benção e terminarei aqui esta carta.

Digamos juntos: Credo.

Cartas sobre a fé – Pe. Emmanuel-Andre

SÚPLICA À TRINDADE

TrindadeMeu Senhor, olha com misericórdia para o teu povo e para a hierarquia da santa Igreja. Se perdoares a tão numerosas criaturas, concedendo-lhes a iluminação da inteligência, serás mais glorificado que só por mim, pobrezinha que tanto pequei, responsável por todos os males. Livres das trevas do pecado mortal e da condenação eterna por tua infinita bondade, todos te louvariam. Por essa razão eu te suplico, caridade divina e eterna, que te vingues sobre mim. Tem piedade do teu povo! Não me afastarei de tua presença enquanto não perceber que usaste de misericórdia para com o teu povo. Que prazer teria eu em ganhar a vida eterna, se teu povo estivesse na morte e se a escuridão aumentasse na tua Esposa – que é toda luz – por causa dos meus pecados e dos pecados dos demais?

Eu quero, portanto, e imploro tal graça; que tenhas piedade do teu povo, pela caridade incriada que te levou a criar o homem à tua imagem e semelhança, quando disseste: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” (Gn 1,26).

Ó sublime e eterna Trindade, agiste assim a fim de que a humanidade participasse do teu ser: deste-lhe a memória, Pai eterno, para que se recordasse do teu benefício, possuindo algo do teu poder; deste-lhe a inteligência com que conhecesse tua bondade e tivesse parte na sabedoria do Filho; deste-lhe vontade para amar tudo quanto a inteligência compreendesse da tua Verdade, e com isso participasse da clemência do Espírito Santo.
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A RENÚNCIA : MODERAR A PRETENSÃO DO ESPÍRITO

promessaComo os perigos dos sentidos esperam o jovem coração à entrada da vida, assim os do espírito ameaçam perverter a jovem inteligência pronta a dedicar-se ao estudo.

Apenas o espírito começa a ter consciência de sua força, a formar raciocínios, a gozar a doçura das primeiras descobertas no campo da verdade, e já a semente do orgulho deita raízes na alma com risco de romper o equilíbrio entre o espírito e o bom-senso.

Se os talentos dados por Deus excedem um pouco a mediocridade, a ambição intelectual bem depressa não conhece mais limites, o espírito sacia-se de tudo com avidez, enche-se mais de vaidade do que de verdade.

São Paulo disse: Scientia inflat (I Cor 8,1). A ciência incha.

O escolho desta formação intelectual tem sido a parte excessiva dada às luzes humanas em detrimento da luz divina, o predomínio do estudo sobre a oração, o culto da razão humana e o esquecimento do seu absoluto nada e de sua universal fraqueza.

O que é o mais sublime gênio diante da sabedoria de Deus? É com sacrifício que a mais poderosa inteligência consegue, depois de uma vida de esforços e de pesquisas, entrever um ou outro problema científico e quando crê resolvê-lo, vê surgir outras questões mais complicadas e abrir-se diante de si novos horizontes, que não conseguirá nunca abranger. Continuar lendo

A FÉ SEM AS OBRAS, E AS OBRAS SEM A FÉ

caridHouve outrora, no berço do cristianismo, em Roma, uma disputa muito viva sobre a fé e as obras. Uns diziam: a fé é suficiente; outros: as obras, as obras, é o necessário!

Se um belo dia estivéssemos no jardim de sua casa e submetêssemos a seus filhos uma pergunta análoga: meninos, digam o que acham, o que é mais necessário: as maçãs ou a macieira? Os meninos certamente nos diriam que bastam as maçãs. Mas os mais velhos, compreendendo que sem as macieiras não haveria maçãs, responderiam: o que é preciso são as macieiras com as maçãs. E com efeito, é impossível haver maçãs sem macieiras, e macieiras sem maçãs são inúteis.

Deixando o apólogo, diremos que a fé é a árvore indispensável para haver os frutos da salvação e que os frutos que se pode colher sem a fé, não serão frutos de salvação.

São Gregório Magno disse numa palavra: Nec fides sine operibus, nec opera adjuvant sine fide. Quer dizer: A fé sem as obras ou as obras sem a fé, de nada valem.

A fé é, para o cristão, a raiz da salvação e de toda obra que leva à salvação. A santa esperança e a caridade divina vêm dar ao fruto ou à obra o gosto, o sabor, a doçura, o mérito; mas sem a fé não há mérito, nem doçura, nem sabor, nem gosto, nem fruto, nem obra que seja útil à salvação.

Guarde bem esse primeiro princípio. Eis um outro que deste decorre incontestavelmente: a medida da fé é a medida do mérito da obra. Sei bem que a última palavra, o mérito do cristão, pertence à caridade; mas a caridade é filha da fé, filha que pode crescer com sua mãe de modo que, no final das contas, o cristão deve ter a fé como medida de todas as coisas. Nosso Senhor dizia com este pensamento: «Vossa fé vos salvou!». Continuar lendo

IDÉIAS MODERNAS NÃO ALTERAM O QUE ESTÁ ESCRITO NOS LIVROS DE DEUS

jesus_dirige_a_la_familiaAs idéias modernas de independência, pregadas e seguidas por tantas senhoras, não alteram a verdade do que está escrito nos Livros de Deus. Não passam de heresias para uma cristã temente a Deus e de consciência delicada. As mulheres, sejam sujeitas aos seus maridos (Ef 5,22). Mulheres, sede sujeitas aos vossos maridos, como é necessário no Senhor (Cl 3,18).

Assim como a Igreja está sujeita a Cristo, assim as mulheres estejam sujeitas a seus maridos em tudo (Ef 5,24). Tais são as palavras claras e imperecíveis de São Paulo.

Chefe, princípio que governa a família, é, portanto o marido. Para isso recebeu no sacramento uma graça de estado também. Não pode ser um chefe tirânico, um ditador, um comandante militar, tal como aquele centurião do Evangelho lembrou a nosso Senhor: “Digo a um soldado: vai! E ele vai”.

Seu domínio, sua superioridade sobre a esposa é como o da cabeça sobre o corpo, brando, influindo vigor, cheio de benevolência. Melhor ainda: é como a autoridade de Jesus Cristo sobre a Igreja, sua esposa. Estaria errado, cometeria intolerável abuso, o marido que quisesse fazer da esposa uma escrava de suas ordens, ou se a considerasse obrigada à obediência como um educando a deve ao educador. Sobre bases falsas estariam às relações dos cônjuges, se considerassem a autoridade como anterior ou, em seu exercício, independente do amor. Marido e esposa formam uma espécie de “assembléia deliberativa”. A última palavra fica com o marido, porque ele recebeu a delegação do poder, após mútuo entendimento. Continuar lendo

A INTEGRIDADE DA FÉ

pereA fé opera no cristão uma renovação sobrenatural, eleva a alma às coisas celestes e, como diz São Leão, dá à alma impulso em direção ao bem incorruptível, em direção à verdadeira luz, quer dizer, em direção ao próprio Deus.

Mas para que a fé produza no cristão a operação que lhe é própria, é preciso que seja pura, que seja íntegra. Ora, a fé em sua pureza, em sua integridade, é uma fé rara. Magnum est, dizia Santo Agostinho, Magnum est in ipsa intus catholica, integram habere fidem. Traduzindo: Mesmo dentro da Igreja, é uma grande coisa haver uma fé íntegra.

Para bem compreender, é preciso que se lembre o que dissemos sobre o nascimento da fé em nossas almas. É preciso, para que a fé nasça e se desenvolva, o dom de Deus e a palavra do catequista ou a instrução. O dom de Deus é sempre puro, mas a palavra do catequista pode trazer com ela a verdade que vem de Deus ou o erro que vem do homem.

Suponhamos uma criança batizada vivendo numa sociedade separada da Igreja católica. O batismo que recebeu fez da criança um filho de Deus, pôs-lhe na alma a graça habitual; a criança cresce e recebe uma instrução manchada de heresia, aceita a heresia crendo aceitar a fé, é enganado… No dia em que perceber qual é a verdadeira fé católica, ou bem repudiará a heresia ou bem rejeitará a verdade, tornando-se ou decididamente católico ou formalmente herético. No primeiro caso terá perdido a heresia que lhe tinham ensinado e conservado a fé que Deus pôs em seu coração no dia do batismo. É importante que uma criança batizada não receba lições de um mestre que a faça perder a fé. Mas nós estamos em plena Igreja Católica, me dirá a senhora. É justamente por isso que ensino com Santo Agostinho: é muito importante ter a fé em toda sua integridade. Explico-me. A fé está no mundo, Deus a colocou no mundo para nossa salvação. Mas o erro também está no mundo, semeado pelo diabo para nossa perda. A fé, em sua integridade, é uma fé que está ao abrigo de todos os erros, de todos os preconceitos, de todas as opiniões vãs que correm mundo, que enchem os espíritos, que perdem as almas. Continuar lendo