Reconhecimento dos amigos ou a amizade no Céu
Todos os santos se têm comprazido no pensamento de reconhecer e amar ainda no Céu os seus amigos. – Sentimentos do B. Etelredo. – Palavras do P. Rapin. – Santo Ambrósio. – O Santo Cura d’Ars.
SENHORA,
Além do estreito círculo da família, pode a amizade estender a vasta esfera das nossas afeições.
O Homem-Deus quis ter amigos na terra, e dignou-se reuni-los em volta de Si no Céu. A Seu exemplo, os mais santos personagens deixaram dilatar o amor de seu coração; todos tiveram amigos escolhidos entre mil, e todos se têm regozijado com o pensamento de os reconhecerem e amarem ainda na eterna glória.
Também escreveram admiráveis páginas a respeito da verdadeira e perfeita amizade, que é toda espiritual.
Apenas vos citarei uma que diz particular respeito ao nosso assunto. É do bem-aventurado Etelredo ou Aelredo, contemporâneo de S. Bernardo e abade da ordem dos Cistercienses, na Inglaterra. É uma conversa com um amigo.
Aelredo. Suponhamos que não haja neste mundo pessoa alguma além de vós, e que todas as delícias, com todas as riquezas do universo, estejam à vossa disposição, ouro, prata, pedras preciosas, cidades muradas, acampamentos fortificados por torres, grandes edifícios, esculturas e pinturas. Suponhamos ainda que estejais restabelecido no antigo estado, e que todas as criaturas vos sejam submissas como ao primeiro homem. Pergunto-vos: Todas estas coisas poderiam ser-vos agradáveis sem um companheiro?
Gualter. Não, por certo.
Aelredo. Mas se tivésseis somente um companheiro cuja língua ignorásseis, cujos costumes desconhecêsseis, e cujo coração e espírito vos fossem ocultos? Continuar lendo