A moral é jóia tão indispensável à humanidade, que todos consideram sua defesa como absolutamente necessária. Por mais errados que sejam os conceitos de muitos acerca da religião, todos proclamam unanimemente a necessidade de proteger os bons costumes e de salvá-los, em prol da humanidade.
Mas esta é justamente a pergunta: pode-se falar de moral sem religião? Pode alguém ter bons costumes sem ter fé? Quando se instala a bússola num navio, procura-se isolá-la, o melhor possível, da influência de correntes magnéticas que poderiam provir da couraça do casco. A razão é a bússola da vida humana; correntes estranhas, oriundas do corpo — a inclinação para o mal — desviam-na facilmente e desgovernam nossa vida, se ela não estiver orientada para determinado ponto, muito acima de toda corrente de egoísmo e da ilusão própria. Se os homens, e não Deus, tivessem determinado o que é moral ou imoral, andariam muito mal parados a respeito da moralidade. Pois o que eu chamo pecado, com o mesmo direito outro poderia chamar virtude.
Portanto, quem não crê no Supremo Legislador, superior à natureza, quem não crê numa vida sobrenatural, depois da terrena não pode falar em moral. Em primeiro lugar deve o homem saber que é a criatura humana e quem é Deus; só então compreenderá o que deve fazer ou omitir.
Uma vida morigerada exige luta; não pode ser diversamente. Um colegial se exprimia assim: “Por que é tão difícil ser bom e tão fácil ser mau?” Não notaste ainda, e repetidas vezes, esse antagonismo trágico em teu coração? A razão reconhece o bem e o deseja; nossa natureza decaída, pelo contrário, arrasta-nos ao mal… Continuar lendo