Cântico:Puer Natus
DOR QUE CAUSOU A JESUS CRISTO A INGRATIDÃO DOS HOMENS
Veio para o que era seu e os seus não o receberam. (Jo. 1,11)
Em certo Natal andava São Francisco pela floresta e pelos caminhos gemendo e suspirando, e, ao perguntarem-lhe a causa de sua tristeza, respondeu: “Como quereis que não chore vendo que o amor não é amado? Vejo Deus inebriado de amor pelos homens e os homens tão ingratos para com esse Deus“. Se tanto afligia essa ingratidão dos homens a São Francisco, consideremos quanto mais afligirão ao Coração de Jesus. Tão logo foi concebido no seio de Maria viu a cruel correspondência que havia de receber dos homens. Tinha vindo do céu para atear o fogo do amor divino, e esse desejo o tinha feito descer à terra e sofrer um abismo de penas e ignomínias: “Vim trazer o fogo à terra e que quero senão que se ateie?” (Lc. 12,49). E depois via o abismo de pecados que cometeriam os homens apesar de terem sido testemunhas de tantas provas de seu amor. Esse foi, disse São Bernardino de Sena, o que lhe fez padecer uma dor infinita. Ainda entre nós, quando alguém se Vê tratado ingratamente por outro é uma dor insuportável, pois a ingratidão freqüentemente aflige a alma mais que outra dor ao corpo. Que dor, pois, ocasionaria a Jesus, que era nosso Deus, ver que, por nossa ingratidão, seus benefícios e seu amor seriam pagos com desgostos e injúrias? “Deram-me males em troca de bens e ódio em troca do amor que eu lhes tinha“. (Ps. 108,5). E ainda hoje se lamenta Jesus Cristo: “Fui um estrangeiro para meus irmãos” (Ps. 68,9), pois vê que não é amado nem conhecido de muitos, como se não lhes tivesse feito bem nenhum nem tivesse sofrido nada por seu amor.
Ó meu Deus, que caso fazemos, mesmo os cristãos, do amor de Jesus Cristo? Apareceu um dia Ele ao Beato Henrique Suso como um peregrino que mendigava de porta em porta, sendo sempre posto fora com injúrias. Quantos são semelhantes àqueles de quem falou Jó: “Eles diziam a Deus: Retira-te de nós, e julgavam o Onipotente, como se não pudesse fazer nada; sendo que ele cumulou de bens as suas casas” (Job,22,17). Nós, ainda que no passado nos tenhamos unido a esses ingratos, queremos continuar com nossa ingratidão no futuro? Não, porque não o merece aquele amável Menino que veio do céu padecer e morrer por nós para que o amássemos.
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