A Fé é um dom de Deus. Hoje gostaria de fazer com que a senhora compreendesse ainda melhor a natureza íntima deste dom precioso.
Adão o teria recebido de Deus e nos teria transmitido, se ele não tivesse pecado; mas tendo acreditado em Eva e, por Eva, em Satã mais do que em Deus, perdeu a Fé que Deus lhe havia dado, perdendo-a para ele e para nós (Adão pôde conservar o hábito da Fé; mas perdeu a Fé enquanto virtude informada pela Caridade; e este hábito não era transmissível à sua descendência, pois era uma disposição pessoal de sua alma). Por sua vez, quando o filho de Adão entra neste mundo já não tem mais Fé e só pode recupera-la se esta for dada pelo próprio Deus.
A Igreja reza para pedir a Deus a Fé para os infiéis e o aumento de Fé para os fiéis, de modo que o começo, o aumento e a conservação da Fé nas almas, são pura e simplesmente um dom que Deus nos dá pelos méritos de nosso único Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Mas chego agora ao ponto que tinha prometido abordar hoje: a natureza íntima deste dom.
A Fé é um ato em parte da inteligência que crê, e em parte da vontade que quer crer. Ao perguntarem se a Fé é um dom de Deus do lado da inteligência que crê ou do lado da vontade que quer crer, é preciso responder que há um dom de Deus na inteligência e um dom na vontade.
Pois para o que concerne à inteligência é preciso notar duas coisas: primeiramente as verdades em que devemos crer estão tão acima do espírito humano, que este nunca poderia atingi-las naturalmente. Assim, o adorável mistério da Santíssima Trindade, as profundezas da sabedoria de Deus na Encarnação de Nosso Senhor, a Redenção e a salvação dos homens, sem o dom da Fé, seriam para sempre tesouros escondidos às inteligências humanas. Em segundo lugar, além do ministério da Igreja ensinando essas sublimes verdades, é necessário ainda para que nós creiamos, uma graça interior que clareie nossa inteligência e a faça receber com docilidade a palavra da Fé, a Fé falada, como dissemos antes. Continuar lendo