LIBERALISMO MORTÍFERO

Resultado de imagem para liberalismo"Pe. François-Marie Chautard, FSSPX

“O fim dos modernos é a segurança na fruição privada; e eles chamam de liberdade
as garantias concedidas pelas instituições a essa fruição” 
(Benjamim Constant)

Fecundação artificial, “barriga de aluguel”, uniões homossexuais, eutanásia, aborto, contracepção, divórcio, a lista dos vícios validados, avalizados e encorajados pelas leis não cessa de crescer.

E se por acaso os católicos buscam — ainda que timidamente — impedir uma nova legislação imoral, lança-se ao seu rosto o repetitivo argumento: Como vocês ousam se opor a uma disposição legal que não faz mal a ninguém? Com base em quê a opinião dos católicos deveria prevalecer sobre a dos demais cidadãos, quando se trata de práticas que em nada lesam os católicos? Não é prova de intolerância querer impor aos demais uma conduta que não lhes diz respeito? 

O argumento é revelador do princípio fundamental que caracteriza os tempos modernos: a autonomia absoluta do homem como único limite da liberdade dos demais.

Desde que uma lei não fira um “direito” individual nem [incomode] uma minoria, desde que não gere transtornos à ordem pública, o homem é soberanamente livre de promulgar leis: eis o credo do “homo modernus”.

Benjamin Constant exprimia esse princípio de um modo límpido: 

“Eu defendi por quarenta anos o mesmo princípio, a saber, liberdade em tudo, em religião, filosofia, literatura, indústria e política: e por liberdade, compreendo o triunfo da individualidade, tanto sobre a autoridade que gostaria de governar pelo despotismo, como sobre as massas que reclamam o direito de sujeitar a minoria à maioria. O despotismo não tem direito algum. A maioria tem, sim, o direito de obrigar a minoria a respeitar a ordem: mas tudo o que não perturba a ordem, tudo o que é meramente interior, como a opinião; tudo o que, na manifestação da opinião, não perturba o próximo, quer provocando violências físicas, quer impedindo a manifestação contrária; tudo o que, de fato, em assuntos industriais, permite à indústria rival operar livremente, é individual e não poderia ser legitimamente submetido ao poder público.” Continuar lendo

O NOVO RITO DA EXTREMA-UNÇÃO

Cinquenta anos após a promulgação do novo rito, surge uma pergunta: quais são as principais diferenças entre o antigo e o novo rito de Extrema-Unção?

Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est

Vinde ver o mais belo espetáculo que se pode apresentar na terra; vinde e vereis morrer um fiel cristão… Assim como um sacramento abriu as portas do mundo aos justos, assim outro também as fechará; a religião teve o prazer de embalá-lo no berço da vida; seus belos cânticos e sua mão maternal o adormecerão também no berço da morte… O sacramento libertador gradualmente rompe seus laços; sua alma, já quase separada de seu corpo, é como que visível em seu rosto.

Chateaubriand, O Gênio do Cristianismo

Principais mudanças

Todo sacramento é constituído de uma parte essencial e de uma parte acidental.

A parte essencial é composta de matéria e forma.

O assunto corresponde ao que é oferecido ao sacramento e à forma pela qual é apresentado. Por exemplo, a matéria do sacramento do batismo é a água que corre sobre o catecúmeno.

A forma é a fórmula utilizada que especifica o significado da matéria. A forma do batismo é a seguinte: “Eu te batizo em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”.

As partes acidentais ou secundárias constituem a totalidade do rito, gestos e orações, que especificam o significado do sacramento e sustentam a fé e a devoção do celebrante e dos fiéis.

As mudanças introduzidas pela reforma conciliar referem-se a esses diferentes pontos.

A matéria e o problema do óleo

O novo ritual prevê o uso de um óleo diferente do de oliva. Paulo VI justifica-o nestes termos: “Dado que o azeite de oliva, até agora prescrito para conferir validamente (1) o sacramento, é escasso ou difícil de obter em certas regiões, decretamos, a pedido de vários Bispos, que, por conveniência, outro óleo possa ser utilizado no futuro, desde que este seja extraído diretamente das plantas, de modo que seja um óleo o mais próximo possível do azeite [de oliva]“.

Esta inovação constitui uma ruptura com a Tradição, ainda que o Concílio de Florença tenha sido extremamente explícito a respeito: “O quinto sacramento é a extrema-unção cuja matéria é o azeite de oliva abençoado pelo Bispo (2)”. O catecismo do Concílio de Trento, o Código de Direito Canônico de 1917 (3) e Santo Tomás (4) expressam-se da mesma forma quando mencionam o azeite “oleum olivae”. Continuar lendo

VIVEMOS UMA ÉPOCA LUCIFERINA

PADRE

Trechos do sermão do Pe. François-Marie Chautard(*) – Tradução: Dominus Est

Não vivemos em uma sociedade que oferece oficialmente um culto a Satanás, mas nossa sociedade vive em uma mentalidade de rejeição a Deus, natureza própria do pecado de Lúcifer.

O “Príncipe deste mundo”, Lúcifer, em oposição ao “Rei dos Céus”, afasta-nos da luz de Deus, das luzes sobrenaturais com o desejo de nos tornarmos independentes de Deus. Essa independência é traduzida pela:

– recusa de considerar Deus;

– recusa de julgar de acordo com os princípios de Deus;

– recusa de agir de acordo com as leis de Deus;

Desde o “Non Serviam!” Lúcifer destila a escuridão do erro e da mentira. A religião da república e a religião do laicismo não negam oficialmente a Deus, mas transformam-No em “opinião” … indolor, mas terrivelmente eficaz!

Desde o “Non Serviam“, há uma recusa em julgar! A partir do pecado original, a serpente seduz pela mentira, perverte o julgamento de Deus e distorce o julgamento de Eva transformando o Mal em Bem e o Bem em Mal. Nossa sociedade moderna participa dessa perversão de julgamento. Os vícios são promovidos e valorizados, até mesmo resgatados! Seus opostos são silenciados, ou ao menos “condenados ao ostracismo”. Desde o “Non Serviam”, há uma recusa da ordem de Deus. As leis da república querem estar acima das leis religiosas.

Lembremo-nos que devemos servir a Verdade, mas também que a Verdade nos serve! A obra de Lúcifer se opõe à sabedoria. Deus é a pedra angular do Conhecimento e a Fé traz uma profundidade, uma amplitude de visão, uma capacidade de visão … uma elevação. Isso requer esforço e perseverança.

Sem a unidade divina e suas consequências de disciplina e dogma, a unidade mental, a unidade moral, a unidade política desaparecem ao mesmo tempo. Elas só são reformadas se a primeira unidade for restabelecida. Sem Deus, não há mais verdadeiro nem falso, não há mais direito, não há mais lei. Sem Deus, uma lógica rigorosa iguala a pior loucura à razão mais perfeita … porque sem Deus só subsiste o princípio do exame, um princípio que pode excluir tudo, mas que não pode encontrar nada”.

(*) Em 05/02/2021 na Igreja Saint-Nicolas-du-Chardonnet, da FSSPX, em Paris

O PATRIOTISMO É UMA VIRTUDE CRISTÃ?

O valor dos patriotas e do patriotismo – Instituto Liberal

Pe. François-Marie Chautard, FSSPX

“Se o catolicismo fosse inimigo da pátria, 

não seria uma religião divina”.

São Pio X (1)

Desagrade ou não a Jean-Jacques Rousseau, o homem é um animal social.

Portanto, não seria coerente tratar da perfeição moral sem examinar as relações que o homem estabelece com Deus e seus semelhantes.

Essas relações envolvem vínculos, trocas, deveres e direitos; daí existir no homem uma virtude que lhe permite cumprir retamente seus distintos deveres para com Deus, a sociedade e o próximo: a virtude da justiça.

É incontestável que os deveres variam em função das diferentes formas de relações: o dever para com o bem comum da sociedade não é o mesmo que o dever para com um simples bem particular. Igualmente, os deveres variam segundo as pessoas: Deus, os pais, ou desconhecidos. Eis por que a justiça ramifica-se em várias espécies e partes.

Ora, uma virtude que se tornou desconhecida a muitos, por causa da ingratidão cristalizada do espírito moderno, é a virtude da piedade para com a nação, a pátria.

Ao examinar a virtude da justiça, pela qual “a vontade se dispõe a dar a cada um o que lhe é de direito”, Santo Tomás examina seus beneficiários, que são variados e de diversas ordens. Por exemplo, o comerciante a quem se deve pagar uma quantia exata cobrada por um objeto comprado. É um caso bastante simples, pois o que é devido – o valor – é algo preciso, exato. Uma vez que o comprador pagou a fatura, quitou seu dever em toda a justiça.

Neste caso, a dívida repara estritamente a justiça, pois quita uma dívida precisa (pagar uma quantia exata). Mas quando se trata de Deus, dos pais ou da nação, poderíamos   alguma vez nos julgarmos quites? Poderíamos aplicar essa justiça? Poderíamos, por exemplo, em toda a justiça prestar o culto devido a Deus? Ou recompensar aos pais um bem equivalente ao da vida que nos deram, sem falar na educação? Continuar lendo

PAULO VI E A AUTO-DEMOLIÇÃO DA IGREJA

Pe. François Marie-Chautard, FSSPX

É preciso reconhecer que o papa Paulo VI trouxe um sério problema à consciência dos católicos.

Esse papa causou mais males à Igreja que a Revolução de 1789”. (Dom Marcel Lefebvre)1

Quando em junho de 1963 Paulo VI tomou posse do segundo e terceiro andares do Palácio Apostólico, tradicionalmente reservados ao Santo Padre, tratou de arrumá-los a seu gosto. Amante de arte contemporânea, queria dar um aspecto moderno a seus apartamentos. Tapeçaria e poltronas antigas foram substituídas por tecidos e móveis de estilo recente, os aposentos renovados foram adornados com obras de artistas em voga, e sua capela privada foi transformada no espírito dos anos 60.

A história do seu pontificado revelaria que essa nova decoração era representativa da maneira com a qual o novo papa iria considerar e reger a Tradição da Igreja. (Continue a ler)

No vocabulário católico, a palavra Tradição indica várias realidades. Em primeiro lugar o objeto da Revelação, ou seja, as verdades reveladas, o depósito da fé. “Tradição” indica igualmente o ato de ensino pelo qual esse depósito revelado é fielmente transmitido. Pode também significar o órgão deste ensino, isto é, o Magistério constituído pelo papa e os bispos. Mais amplamente, a palavra “Tradição” compreende todo o patrimônio doutrinal, canônico, litúrgico, pastoral, religioso e artístico da Igreja. Desde a crise da Igreja, a palavra é utilizada para qualificar o movimento dos católicos da Tradição, os tradicionalistas. Por fim, ela qualifica a noção ou o modo de transmissão, e assim fala-se de “Tradição viva”. As relações de Paulo VI para com a Tradição podem ser vistas a partir dessas diferentes acepções.

Tradição como depósito da fé

O papa Paulo VI nunca ensinou heresias propriamente ditas. No decurso de uma ocasião solene, em 30 de junho de 1968, ele mesmo proclamou um Credo que repercutiu no mundo inteiro, um sinal de seu excepcional caráter. Suas evocações tradicionais, suas advertências sobre a santa Eucaristia, o tomismo ou ainda a Igreja, creditaram-lhe a imagem de um papa liberal de duas faces2: de doutrina tradicional e pastoral de ruptura.

Quarenta anos após a sua morte, porém, a sua herança deixa transparecer um pontificado espantosamente progressista. Paulo VI permitiu que tantas heresias se propagassem, encorajou os inovadores de modo tão flagrante, nomeou cardeais e bispos tão progressistas, perseguiu os defensores da fé de modo tão virulento que o seu governo foi tragicamente prejudicial ao depósito da fé. Mas, sobretudo, o seu próprio ensino fez naufragar a doutrina multissecular da Igreja.

O problema inicial e principal está no Concílio, o qual fez o jogo dos inovadores em detrimento da doutrina tradicional em muitos pontos fundamentais: o Magistério, a Santa Igreja, o sacerdócio, as Sagradas Escrituras, as falsas religiões, a autoridade, a liberdade etc. Essa turbulência gerou muitos atritos e a aula conciliar foi  teatro regular de controvérsias importantes cujo resultado é bem conhecido. Mas tudo isso não poderia ter ocorrido sem a autoridade papal. Sem o aval do papa um concílio não é nada, assim como um decreto ministerial preparado por comissões só tem valor quando é assinado pelo ministro. Ainda que os textos conciliares sejam preparados, debatidos e votados por milhares de bispos, um concílio é essencialmente obra do sucessor de Pedro. Ao ratificar as decisões dos padres, Paulo VI endossou a responsabilidade maior do concílio. Em toda verdade, o concílio Vaticano II é obra do papa Paulo VI. Um gesto traduz essa afinidade com o concílio: o anel que esse papa ofereceu a todos os bispos do mundo em 6 de dezembro de 1965, às vésperas do fechamento de Vaticano II, e que ele usou até a sua morte em lugar do anel de pescador. Aí está todo um símbolo.

A Tradição como ato de ensino

A modificação do conteúdo do ensino foi acompanhada de uma mudança na própria concepção deste, já que a natureza do ensino é correlata à do seu objeto. 

Paulo VI voltou frequentemente para a expressão seguinte: a Igreja está em diálogo: “O Concílio trabalhará para lançar uma ponte em direção ao mundo contemporâneo (…) vocês quiseram antes de tudo se ocupar não das suas tarefas, mas daquelas da família humana, e travar um diálogo não entre vocês, mas com os homens”, disse ele aos padres conciliares3. “A Igreja se faz palavra, a Igreja se faz mensagem; a Igreja se faz conversa”4. Até Pio XII, os soberanos pontífices procuravam falar como doutores da fé. Ensinavam as verdades de Cristo com a soberana autoridade de Pedro. Seu objetivo era pregar a verdade e condenar o erro. Paulo VI privilegiou o diálogo. O papa não ensinava mais, ele dialogava, conversava. Naturalmente, condenava ainda menos.

O episódio é célebre. Dom Lefebvre, reencontrando Mons. Montini nos anos 1950, pediu a condenação do “Rearmamento moral”5. E Mons. Montini respondeu que “a Igreja vai parecer uma madrasta”. O futuro soberano pontífice considerava esses anátemas como polêmicas estéreis e improdutivas. 

As heresias, além disso, haviam se tornado questões secundárias a seus olhos. “Não se trata mais de extirpar da Igreja tal ou qual heresia determinada ou certas desordens generalizadas”, escreve em sua encíclica Ecclesiam suam, “graças a Deus, não reinam mais na Igreja”6; “na defesa da fé, contribuiremos mais promovendo a doutrina”.7 

Em sentido contrário, recordemos essas palavras cheias de espírito católico: “Em todos os tempos”, escreveu o cardeal Pie, “surgiram espíritos que consideraram a defesa [da fé] como um escândalo adicionado ao do ataque, e que de bom grado unem sua indignação à do inimigo, quando os apóstolos da verdade se esforçam em tornar sua voz tão retumbante quanto à da mentira.”8

A Tradição como órgão de ensino

O adágio era célebre: Roma locuta, causa finita est. Com tal vontade de diálogo e a apologia dos erros conciliares, é a própria natureza do órgão de ensino que foi alterada. Poder-se-ia ainda falar de um verdadeiro exercício de poder do Magistério, tendo vocação em ensinar com autoridade? À exceção de algumas felizes reações, como a condenação da contracepção por Humanae Vitae em 25 de julho de 1968, os ensinamentos se revelavam mais indicativos que imperativos.

Em vez disso, o papa deixou se instalar uma liberdade teológica que degenerou em verdadeira anarquia dogmática. Quando da publicação dos catecismos canadenses e holandeses editados pelas correspondentes conferências episcopais, Roma adotou uma moderação espantosa e uma desaprovação discreta.

São Pio X tinha redigido um catecismo; Paulo VI fechou os olhos à difusão de catecismos heréticos.

Face ao perigo do modernismo, São Pio X tinha imposto um juramento antimodernista, que deveria ser pronunciado por todas as pessoas encarregadas de autoridade de ensino e direção. Paulo VI o aboliu em 1967.

São Pio X tinha fulminado o modernismo com excomunhões. Paulo VI suprimiu as excomunhões, como suprimiu a Inquisição, cujo papel era precisamente o de ensinar com clareza a fé católica e reprimir as heresias.

Index também desapareceu na tormenta de 14 de junho de 1966, pela Notificação do Santo Ofício, Post Litteras apostólicas. O pretexto invocado é sem precedentes: “A Igreja confia na consciência madura dos fiéis”. O significado era claro: o poder de ensino não reconhecia mais a necessidade de julgar com autoridade o que os fiéis constatavam por si mesmos no fundo da sua consciência. Não havia mais mestres nem discípulos. Todos os fiéis tinham se tornado seus próprios mestres.

Um gesto resumia essa revolução: em 13 de novembro de 1964, Paulo VI tinha abandonado a tiara e a sedia gestatória. A tiara é símbolo da monarquia papal. A hora era da colegialidade, da divisão de poder. O ensino se tornava colegial, sinodal. A Igreja se transformava num vasto fórum de discussões.

A Tradição como patrimônio da Igreja

Depois da Revolução Francesa, os papas se levantaram contra o espírito revolucionário que queria pôr abaixo a herança de Pedro. Liberalismo, falso ecumenismo, arqueologismo litúrgico, relativismo moral, pastoral relaxada, tinham sido regularmente condenados. Reencontraram, porém, direito de cidadania com Paulo VI.

Roma não tinha cessado de condenar a secularização dos Estados, a separação da Igreja e do Estado, a liberdade de cultos. Citemos Mirari Vos, de Gregório XVI, Libertas, de Leão XIII, Vehementer de São Pio X. Paulo VI fez com que fossem suprimidas uma a uma (ou as modificou num sentido liberal) as concordatas que uniam Estado e Igreja: Espanha, Irlanda, Colômbia, certos cantões suíços etc. Paulo VI não queria mais a cristandade, essa união admirável entre a Igreja e a Cidade, ilustrada por Constantino, Carlos Magno, São Luiz, Garcia Moreno e tantos outros. Adepto das teorias modernas de Jacques Maritain, o papa sonhava com uma nova cristandade, bem distinta, laica, humanista, em que os muçulmanos poderiam livremente invocar Maomé. Em 4 de outubro de 1965, ele falava a ONU numa linguagem digna de lojas maçônicas e louvava os direitos do homem que seus antecessores tinham tomado o cuidado de condenar: “Os senhores proclamam aqui os direitos e deveres fundamentais do homem, a sua dignidade, sua liberdade, e antes de tudo a liberdade religiosa. Sentimos que os senhores são os intérpretes do que há de mais alto na sabedoria humana. Diríamos quase: seu caráter sagrado”.

Roma tinha condenado as reuniões inter-religiosas, o pan-cristianismo, notadamente na encíclica Mortalium animos, do papa Pio XI. Paulo VI encorajou as reuniões ecumênicas. Assim “em 7 de dezembro de 1975, ele recebeu o metropolita (ortodoxo) Meliton de Calcedônia. O papa se pôs de joelhos diante dele e beijou-lhe os pés.”9

Os pastores protestantes que tinham participado na elaboração da reforma litúrgica foram felicitados e encorajados. Paulo VI apareceu sorridente, como se estivesse satisfeito em receber luzes de peritos protestantes no objetivo de reformar a missa católica.

Com a encíclica Mediator Dei, de Pio XII, Roma tinha condenado os desvios do movimento litúrgico que pretendia retornar a uma liturgia arcaica, privada dos admiráveis desenvolvimentos de vinte séculos de santidade. Paulo VI quis evitar tudo o que pudesse ofender os “irmãos separados”. Ele validou as inovações litúrgicas cujo resultado foi a destruição da liturgia da Igreja. A missa (1969), o breviário (1970), a oração dos padres, o ritual (modificado progressivamente), os sacramentos da Igreja, as ordens menores (1972), foram submetidas a uma mudança completa cujos efeitos perniciosos continuam a se fazer sentir. Para essa “reforma”, notadamente do ofício divino, o papa se apoiou em Annibale Bugnini, que declarou o espírito com o qual pretendia reformar o Breviário: “Trata-se de se orientar para uma redução do pensum [sic] quotidiano”10.

Até então, Roma tinha denunciado o relativismo moral e a moralidade situacional. Paulo VI permitiu a instalação de um ensino deletério nos seminários, nas universidades católicas e nas casas religiosas. 

Roma tinha sempre encorajado os religiosos a desprezar o mundo condenado por Cristo e aderir principalmente às realidades espirituais. Paulo VI obrigou todas as ordens religiosas, todas as congregações educadoras a se “reformar” segundo o espírito liberal, humanista e naturalista de Vaticano II. Diminuição trágica do fervor religioso, rarefação das vocações, fechamento de inumeráveis conventos, tais foram as consequências desastrosas dessa fracassada reforma, cujos efeitos se estenderam até mesmo ao ensino católico, que foi varrido nesta tormenta.

Roma tinha educado o Ocidente. O latim, língua da cultura profana e religiosa, foi sacrificado no altar do pluralismo. A arte católica, admirável em beleza, foi quebrada pelos bárbaros, que não eram mais os pagãos infiéis, mas os próprios ministros do Templo.

Os tradicionalistas

Os defensores da Tradição não foram melhor tratados que ela: “O servo não está acima do mestre”. Paulo VI, que em 23 de março de 1966 pediu ao doutor Ramsey, pretendido arcebispo de Cantuária, para abençoar a multidão de fiéis católicos; que em 7 de agosto de 1965 beijou o patriarca grego cismático de Constantinopla; que em 4 de outubro de 1965 encheu-se de compreensão pelos maçons da ONU, não suportava os tradicionalistas e o principal deles, Dom Marcel Lefebvre, só teve direito a repreensões veementes e condenações severas. O Seminário de Êcone, berçário de padres formados como a Igreja vinha formando há séculos, foi oficialmente suspenso em 6 de maio de 1975, sem respeito ao direito da Igreja na matéria. Em 22 de julho de 1976, o prelado se viu atingido por uma suspensão a divinis. Malgrado seus reiterados apelos, ele jamais pôde ser julgado segundo o Direito, nem teve verdadeiramente a possibilidade de se explicar e defender.

Desde 1963, Paulo VI considerava constranger os bispos de mais de 75 anos a pedir sua demissão e excluir os cardeais de mais de 80 anos do conclave. Foi feito em 21 de novembro de 1970 pelo Motu próprio Ingravescentem ætatem. Seria intenção do papa impedir toda resistência dos prelados conservadores e lhes substituir por jovens sucessores entusiastas das novas idéias? Eis uma resposta a essa pergunta: “Nos primeiros anos depois do Vaticano II”, nota o cardeal Ratzinger, “todo candidato ao episcopado demonstrava ser ‘aberto ao mundo’: em todo caso, esse pré-requisito era colocado em primeiro lugar”11.

O cardeal Mindszenty incomodava a Ostpolitik do Vaticano: ele foi afastado. Mas Janos Kadar, primeiro secretário do partido comunista húngaro, (foi declarado por Paulo VI) principal promotor e o mais autorizado para normalização das relações entre a Santa Sé e a Hungria”12.

A noção de Tradição

Que resta da Tradição no sentido de transmissão? Sua própria noção está substancialmente modificada. Para o papa Paulo VI, a Tradição não aparece mais como uma herança preciosa e viva que deve ser transmitida à posteridade conservando o seu sentido exato e inalterável, esforçando-se por torná-la ainda mais preciosa, ainda mais bela, ainda mais adaptada aos filhos de Deus.

Na verdade, o papa habitualmente tratava a Tradição não como um depósito a ser transmitido, mas como um objeto a ser transformado, como se o passado e a Tradição fosse uma espécie de depósito morto, que somente uma revisão completa seria capaz de reviver. Correndo o risco de não transmiti-lo fielmente, mas de modificá-lo substancialmente. A noção de Tradição foi radicalmente alterada. E isso talvez seja o mais grave. A ação de Paulo VI esvaziou-a de seu profundo significado: fez dela uma realidade evolutiva nas mãos dos homens.

Conclusão

O imenso entusiasmo suscitado em muitos católicos pelo concílio e pelas reformas conciliares rapidamente cedeu lugar a uma constatação muito amarga. Paulo VI se lamentará da autodemolição da Igreja13 e da fumaça de Satanás14. A palavra “demolição” indica a natureza do mal: uma deliberada e sistemática desconstrução do pensamento e das estruturas tradicionais da Igreja.

Quais são as causas? A expressão “autodemolição” exclui de si as causas externas. Devemos, portanto, buscar uma causa intrínseca, no interior mesmo da Igreja, ou seja, a causa está do lado dos que possuíam autoridade, que implementaram esse empreendimento de demolição. Muitas autoridades podem ser contadas, mas todas elas estiveram na dependência da autoridade suprema que operava as principais alavancas dessa destruição, validando o Concílio e lançando suas reformas, nomeando os progressistas aos postos de comando e condenando os filhos mais fiéis da Igreja. Paulo VI certamente não queria essa demolição. Ele, no entanto, a realizou. Fecit tamen.

Como não refletir nestas palavras do Eclesiástico: “Um governador sábio mantém seu povo em disciplina, e o governo de um homem sensato será estável. Tal o juiz do povo, tais os seus ministros; tal o governador da cidade, tais os seus habitantes. Um rei privado de juízo perde o seu povo, as cidades povoam-se pelo bom senso dos que governam.”

Epílogo

“Quanto mais precisamos de um papa santo, mais devemos começar colocando a nossa vida, com a graça de Deus, e mantendo a Tradição, na esteira dos santos. Então o Senhor Jesus terminará dando ao rebanho o pastor visível, de quem ele se esforçará para se tornar digno.

“À insuficiência ou à deserção do chefe não acrescentemos nossa negligência particular. Que a Tradição apostólica esteja pelo menos viva no coração dos fiéis, ainda que, no momento, esteja enfraquecida no coração e nas decisões de quem é responsável no nível da Igreja. Então o Senhor certamente nos mostrará misericórdia.

“Ainda por isso, é necessário que a nossa vida interior não se refira ao papa, mas a Jesus Cristo. Nossa vida interior, que evidentemente inclui as verdades da revelação sobre o papa, deve se referir puramente ao sumo sacerdote, ao nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, para superar os escândalos que chegam à Igreja pelo papa.”15 

Fonte: Permanencia

  1. Dom Marcel Lefebvre, Carta aberta aos católicos perplexos, Editora Permanência.
  2. Ibid.
  3. DC 1963, n° 1357, col. 101 : “O problema do diálogo entre a Igreja e o mundo moderno. Este é o problema que cabe ao Concílio descrever em toda a sua amplitude e complexidade, e resolver, na medida do possível, nos melhores termos. (…) A Igreja deve entrar em diálogo com o mundo em que vive. (…) o diálogo deve caracterizar o nosso apostolado.” Encíclica Ecclesiam suamde 6 agosto 1964, n° 15, 67 et 69.
  4. Ecclesiam suam, n°67.
  5. Fundado em 1938 pelo protestante Franck Buchman, esse movimento visa a federar toda a boa vontade, independentemente das confissões religiosas, com o objetivo de promover a paz no mundo, o diálogo e a liberdade.
  6. Ibidem, n°46.
  7. Citado por Paul Poupard, Connaissance du Vatican : histoire, organisation, activité, Beauchesne, 1974, p. 111.
  8. Mgr Baunard, Histoire du cardinal Pie, Oudin, 1886, pp. 605-606.
  9. Yves Congar, “L’œcuménisme de Paul VI”, in Paul VI et la modernité dans l’Eglise, Actes du colloque de Rome (2-4 juin 1983), Ecole Française de Rome, 1984, p. 817.
  10. Yves Chiron, Mgr.  Bugnini (1912-1982), Réformateur de la liturgie, Desclée de Brouwer, 2016, pp. 36-37.
  11. Joseph Ratzinger, Entretiens sur la foi, citado par Don Mancinella, 1962 Révolution dans l’Eglise, Ed. Courrier de Rome, 2009, p. 104.
  12. Dom Marcel Lefebvre, Carta aberta aos católicos perplexos, Editora Permanência.
  13. Discurso de 7 de dezembro de 1968, DC n°1531 (1969), p 12.
  14. 29 de junho de 1972.
  15. Pe. Roger-Thomas Calmel, o.p. “De l’Eglise et du pape en tous les temps et en notre temps”, revista Itinérairesn°173, maio de 1973, p. 39.

OS PRINCÍPIOS DA AÇÃO CATÓLICA – PARTE 4/4

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/08/Meeting_of_doctors_at_the_university_of_Paris.jpgPelo Pe. François-Marie Chautard

Fonte: Le Chardonnet nº 269 – Tradução: Dominus Est

Por mais pertinente que sejam os campos de ação do Apóstolo, e por mais elevado que esse campo seja na sociedade, sua eficácia depende necessariamente de algumas condições pessoais.

Ora, o católico que deseja ver o reino de Jesus Cristo intervém em dois tipos de esfera bem distintas: uma puramente espiritual e a outra puramente temporal. Além disso, o verdadeiro apóstolo deve ser dotado de qualidade espirituais e humanas.

Meios sobrenaturais

Um adágio filosófico extremamente simples ensina que a causa é proporcional ao efeito. Se o apóstolo pretende fazer uma obra sobrenatural, ele mesmo deve ser profundamente sobrenatural. Caso contrário, sua ação será humana e o fruto… humano. Se o apóstolo quer obter um fruto bem profundo e durável, ele mesmo deve ter um vida interior profunda.

O apóstolo deve, portanto, ter necessariamente como apoio uma profunda vida interior. Por isso é que os papas insistem tanto na vida de oração que deve dirigir toda a ação católica, que por sua vez é um prolongamento da ação salvífica de Cristo e dos Apóstolos. E, com efeito, trata-se de uma verdadeira vida de oração, e não do cumprimento de alguns exercícios de piedade. É uma vida de piedade, e não um verniz de piedade que não teria qualquer influência sobre a maneira de viver e julgar.

Essa vida de oração deve igualmente ser acompanhada de uma vida de fé sólida e instruída. E a formação doutrinal deve também ter uma importância de primeira ordem. Enfim, o apóstolo não deve poupar-se de um verdadeiro espírito de sacrifício.

Conforme escreveu São Pio X, «Antes de tudo, é preciso estar profundamente convencido de que o instrumento é inútil se ele não é apropriado ao trabalho que se quer executar. Conforme o que foi evidenciado acima, a ação católica, na medida em que se propõe a restaurar todas as coisas em Cristo, constitui um verdadeiro apostolado para a honra e glória do próprio Cristo. Para bem cumpri-lo é preciso que se tenha a graça divina e que o apóstolo só a receba se estiver unido a Cristo. Somente quando tivermos formado em nós Jesus Cristo é que podemos mais facilmente trazê-Lo às famílias e à sociedade. Todos aqueles que são chamados a dirigir ou que se consagram à promover o movimento católico, devem ser católicos à toda prova, convictos de sua fé, firmemente instruídos nos assuntos religiosos, sinceramente submissos à Igreja e especialmente à suprema Sé Apostólica e ao Vigário de Jesus Cristo sobre a terra; eles devem ser homens de piedade verdadeira, de varonil virtude, íntegros nos costumes e de uma vida de tal modo intemerata que eles sirvam a todos de eficaz exemplo. Continuar lendo

OS PRINCÍPIOS DA AÇÃO CATÓLICA – PARTE 3/4

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/a3/Leo_XIII.jpg/240px-Leo_XIII.jpgPelo Pe. François-Marie Chautard

Fonte: Le Chardonnet nº 268 – Tradução: Dominus Est

Cristianizar a sociedade em todos os seus elementos e fazer irradiar Cristo Rei: tal é o desejo caro a muitos corações católicos.

Ainda é preciso saber como se tomar uma decisão acerca dos meios. Por isso, após ter evocado os grandes princípios da Ação católica, resta-nos ver como aplicá-los: em quais campos de ação[1] e segundo quais condições.

«Ademais, importa — observa São Pio X — definir claramente as obras pelas quais as forças católicas devem se esforçar empregando toda sua energia e constância. Essas obras devem ser de uma tão evidente importância, responder de tal maneira aos desejos da sociedade atual, adaptar-se tão bem aos interesses morais e materiais — sobretudo os do povo e das classes mais pobres —, que, enquanto instiga nos promotores da ação católica a melhor atividade para obter os resultados importantes e certos que se devem esperar dessas obras, elas sejam também facilmente compreendidas e alegremente bem-vindas por todos»[2].

Privilegiar as estruturas

Além disso, mantidas inalteradas todas as outras coisas, parece necessário visar ainda mais as estruturas[3] que os indivíduos. O indivíduo afeta os demais indivíduos e desaparece em seguida. A estrutura permanece.

Privilegiar as estruturas já existentes

Essa atenção às instituições é dupla. Por um lado ela visa dar novamente um respiro às estruturas existentes, isto é, dar um verdadeiro espírito cristão; por outro lado ela visa fundar novas estruturas.

Esse apostolado pode então se ordenar em duas palavras: conservar e desenvolver. Antes de fazer melhor do que aquilo que existe, convém antes fazer bem aquilo que existe. Também vale mais proteger e desenvolver as obras existentes.

Infelizmente, esse princípio é frequentemente esquecido. Seduzido por uma idéia que lhe parece genial, o apóstolo se lança de cabeça numa obra que aos seus olhos parece indispensável: uma nova confraria, um novo círculo, um grupo de oração em torno de uma devoção esquecida há muito e que lhe parece imperativo ressuscitar[4]. Na Ação católica, assim como em tudo, é preciso desconfiar da tentação que tem aparência de bem.

Com efeito, frequentemente é preferível apoiar o que já existe. Além disso, é um meio certo de evitar o apego à uma obra pessoal e todos os inconvenientes humanos que ela traz consigo. Continuar lendo

OS PRINCÍPIOS DA AÇÃO CATÓLICA – PARTE 2/4

https://www.herodote.net/_images/8-papaute2-henri4-agenouille-gregoire7-vatican.jpgPelo Pe. François-Marie Chautard

Fonte: Le Chardonnet nº 260 – Tradução: Dominus Est

No artigo anterior foram evocados os objetivos assim como os três princípios da ação católica tais como o Magistério nos deu em seus ensinamentos:

O objetivo da ação católica é contribuir para a instauração do Reino de Jesus Cristo nos indivíduos, nas famílias e nas sociedades.

Esses três primeiros princípios[1] da ação católica são os seguintes:

A ação católica deve se adaptar à ordem natural e impregná-la da graça. Em poucas palavras, ela deve cristianizar a ordem das coisas.

Sendo a natureza do homem sociável, a ação católica deve impregnar sem destruir toda a vida social e política do homem, ou seja, cristianizar os corpos intermediários e, finalmente, todas as instituições sociais e políticas.

Sendo dupla a natureza das obras humanas — temporal e espiritual —, os princípios da ação católica variam de acordo com esses dois modos. E esses princípios engendram outros:

Quarto princípio: a ação católica deve estar submissa à autoridade eclesiástica

Se a ação católica visa instaurar o Reinado de Nosso Senhor na ordem puramente espiritual ou temporal, sua ação é eminentemente sobrenatural e diz respeito à ordem da graça. Ora, o que diz respeito à ordem da graça diz respeito à autoridade eclesiástica. Por conseguinte, a obediência condiciona o sucesso do apostolado, conforme ensina Pio XII:

«Essa estreita colaboração do laicato ao apostolado hierárquico, em uma inteligente e alegre obediência em relação aos chefes espirituais que o Espírito Santo colocou para reger a Igreja de Deus, é a garantia de sucessos sobrenaturais divinamente prometidos aos mensageiros do Evangelho (…)»[2].

Contrariamente a isso, afastar-se da tutela eclesiástica nas esferas que lhe pertencem equivale a se privar das bênçãos do Céu. Continuar lendo

OS PRINCÍPIOS DA AÇÃO CATÓLICA – PARTE 1/4

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/65/Chlodwigs_taufe.jpg/300px-Chlodwigs_taufe.jpgPelo Pe. François-Marie Chautard

Fonte: Le Chardonnet nº 260 – Tradução: Dominus Est

Conforme diagnosticou São Pio X na sua encíclica Notre charge apostolique de 25 de agosto de 1910, o «pecado original» do Sillon não consistia numa falta de generosidade, mas sim numa falta de formação.

Esse fato é importante: M. Sangnier e seus adeptos foram católicos piedosos e zelosos; infelizmente esse ardor foi desviado por uma cruel falta de conhecimento, e por se emanciparem da autoridade eclesiástica. É por isso que, antes de se lançar no campo da ação[1], é indispensável instruir-se.

Ademais, antes mesmo de buscar os princípios da ação católica, é importante conhecer a natureza da ação católica. Mas para aprender isso convém examinar o objetivo da ação católica.

I – OBJETIVO DA AÇÃO CATÓLICA: A CRISTANDADE

São Pio X forneceu uma descrição da natureza da Ação católica em sua magistral encíclica Il fermo proposito de 11 de junho de 1905:

«Com efeito, todos nós da Igreja de Deus somos chamados à formar um único corpo cuja cabeça é Cristo; corpo do qual, conforme ensina o Apóstolo Paulo, “coligado e unido por todas as juntas, por onde se lhe subministra o alimento, obrando à proporção de cada membro, toma aumento de um corpo perfeito para se edificar em caridade”.

E assim nessa obra de “edificação do Corpo de Cristo” (…) Nosso primeiro dever é o de ensinar, de indicar o método a seguir e os meios a se empregar, de advertir e de exortar paternalmente; é também dever de todos Nossos caríssimos filhos ao redor do mundo ouvir Nossos conselhos e de aplicá-los antes em si mesmos e cooperar eficazmente para que eles também sejam comunicados aos demais, cada um conforme a graça que recebeu de Deus, conforme seu estado e suas funções e conforme o zelo que inflamar em seu coração.

Aqui Nós queremos somente relembrar essas múltiplas obras de zelo para o bem da Igreja, da sociedade e dos indivíduos — comumente designadas pelo nome de Ação Católica — que, pela graça de Deus, florescem em todos os lugares…». Continuar lendo