TRABALHA COMO UM BOM SOLDADO DE CRISTO

cavaleiro cruzadoLUTAR SEMPRE – DESÂNIMO NA VIDA ESPIRITUAL

Labora sicut bonus miles Christi (II Tim 2,3)

Trabalha como um bom soldado de Cristo

Os combates pelo amor são longos e por vezes difíceis, e toda alma, por pouco generosa que seja, verifica em si mesma, em dados momentos, um movimento de depressão que se chama desânimo.

Essa depressão nasce insensivelmente da acumulação de contratempos e reveses sucessivos. A alma sente-se abatida, depois, de repente, um acidente qualquer, uma pequena indisposição, uma fadiga corporal, uma palavra de repreensão, uma falta de atenção sobrevêm a nosso respeito e a alma desanima.

Então tudo se torna pesado. A conversação espiritual é insípida, os livros que de ordinário a estimulavam perdem o sabor, os exercícios espirituais tornam-se um ônus intolerável. Nada a encoraja, tudo a aborrece e a desgosta.

A vida espiritual parece uma ilusão; atingir-lhe o cimo, uma impossibilidade. E ela senta-se tristemente a meia encosta sem forças para as alturas. Eis, por certo, um sério obstáculo, que impede por vezes o caminho às almas mais resolutas. Importa procurar as causas do desânimo e os meios de frustrar-lhes a influência paralisante.
Antes de tudo, o que deve consolar-te, alma piedosa, é não seres tu a única, sujeita a essas depressões passageiras. As melhores almas sofrem por vezes desse mal… Jesus, em sua infinita sabedoria, permite de bom grado que as almas mais dispostas sintam algumas vezes sua impotência pessoal.

Aliás “não é extraordinário, como diz São Francisco de Sales, que a miséria se sinta por vezes miserável”. Continuar lendo

O GRANDE COMBATE

combaAmar a Jesus de todo o nosso coração, permitir-Lhe, a poder de amor, estabelecer em nós, o seu Reino, isto é, fazer-nos semelhantes a Ele, eis o belo ideal da santidade.

Mas esse reino de Jesus não se estabelece assim tão facilmente…quando Jesus se apodera da alma, infundindo-lhe o santo amor, não destrói nem desarma seu adversário, o egoísmo.

Este, ao contrário, entrincheira-se na parte mais inacessível da alma, fortifica-se e resiste ao assaltante.

Antes de compreender os combates de amor, é necessário saber quais as forças de que dispõe o inimigo. O egoísmo é um inimigo poderoso. Entrou na alma com o pecado original e daí estendeu seu império sobre todas as faculdades do homem.

A vontade, devido a esse domínio, tornou-se frágil e propensa ao mal; a razão, por sua vez, velou-se, e a imaginação emancipou-se; as paixões revoltaram-se e os sentidos passaram a conspirar constantemente contra a sã razão.

Esse egoísmo teve tempo de preparar seu refúgio durante anos. Todo o tempo da infância e adolescência, até ao momento em que a alma decidiu-se a viver para Deus foi consagrado a alimentar e fortificar o amor próprio. 

O egoísmo lançou, assim, raízes profundas nos hábitos e inclinações. Todas as fibras do nosso ser, todas as células do nosso organismo foram como que impregnadas por ele. Todas as idéias que nutrem a inteligência, todas as representações que povoam a imaginação, todas as palavras que caem dos lábios, tudo foi mais ou menos penetrado por esse veneno. Continuar lendo

A LOUCURA DO ORGULHO

orgulhoSeria uma singular desordem ver claramente, pela razão, nossa absoluta nulidade e não querer reconhecê-la perante os homens; saber, por raciocínio e por experiência pessoal, que nada somos e nada podemos e ficarmos contristados por nos vermos tratados em conformidade.

Ora, a vida da maioria dos homens se passa nesta contradição perpétua, nesta mentira confessada, neste antagonismo aceito entre a verdade e o erro, a realidade e a aparência, a sinceridade e a hipocrisia.

Quão bela, em outra parte, aparece a existência de um homem humilde, no qual há harmonia perfeita entre o pensamento e a conduta, entre a convicção interior e a vida exterior.

Esta alma sabe que nada é, e a vontade deduz: desde que nada sou, aceito meu estado de nada; ainda mais, amo-o e não quereria parecer outra coisa. Isto chama-se, na Santa Escritura, andar na verdade: Oportet in veritate ambulare (Jo 3,4).

Eis aí a humildade perfeita, a humildade de ação que supõe a coroa a humildade de espírito e a humildade de coração.

Mas como é difícil praticar esta virtude com todas as suas conquistas! O homem caído parece ter perdido o juízo, quando se trata de sua própria excelência. 

O Espírito Santo ao orgulhoso chama insensato: Pugnabit cum illo orbis terrarum contra insensatos (Sab. 5,21). O universo combaterá com Ele contra os insensatos, isto é, os orgulhosos que se opõe a Deus.

E verdadeiramente a respeito de seu próprio mérito, o homem perdeu a justa apreciação das coisas. Geralmente, é razoável, sociável, inclinado a prestar serviço, judicioso. Mas tocai o ponto de sua excelência, de seu mérito, de sua superioridade, imediatamente uma espécie de loucura se manifesta. Não é mais senhor de seu bom-senso, eleva-se a si próprio e rebaixa os outros, impacienta-se e exalta-se. Continuar lendo

PROCEDIMENTO DA ALMA NO TEMPO DA PROVA

ajoelhado1A alma não deve admirar-se por sofrer oposição, mesmo da parte de pessoas de bem. Deve persuardir-se de que esta miséria é uma consequência fatal da estreiteza do espírito humano e do egoísmo inerente ao coração do homem.

Se todos tivessem idéias amplas e elevadas, todos seriam pelo menos tolerantes e respeitariam o modo de ver e de proceder dos outros. Não condenariam tão facilmente as intenções e as atitudes alheias. Ninguém há tão indulgente como Deus para com os erros do espírito, os defeitos do caráter, as extravagâncias do humor, e mesmo para as culpas morais, porque as vistas de Deus são infinitamente largas. Contenta-se com a boa vontade das Suas criaturas; por ela é que forma o Seu juízo.

O homem, limitado por natureza, não procede assim. Vê as aparências, julga pelo exterior, segue as próprias impressões, simpatias ou antipatias, reprova e quer corrigir tudo o que não se conforme com as suas idéias e modo de agir.

Devemos persuadir-se desta verdade: neste mundo, nunca encontraremos, fora do círculo dos que comungam com o nosso ideal, quem esteja disposto a dar-nos a sua aprovação e apoio sem reservas. Enquanto a alma não tiver enraizada esta convicção, não estará livre de penosas desilusões. É preciso conformar-se com esta inclinação da natureza humana. Deus assim o quis, para que a alma só O tenha como ponto de apoio seguro e só confie nEle e nos que por Ele lhe estão unidos. Continuar lendo

SEM DEDICAÇÃO NÃO HÁ AMOR

Resultado de imagem para duas floresJesus, vindo ao mundo, nada ensinou de mais amável do que a dedicação. Esta pequena flor – podemos chamá-la assim? – nasceu no Gólgota, aos pés da Cruz, no solo regado com o sangue de Cristo. Daí por diante, nunca mais desapareceu da terra.

Os amigos de Jesus cultivam-na carinhosamente. Conhecem o terreno onde se dá bem e a seiva de que se nutre. Sabem que evita o clima glacial do egoísmo e que se compraz nas quentes regiões da caridade divina. Mergulham-na no amor de Jesus, que é o seu verdadeiro lugar, o seu canteiro predileto.

Amor e dedicação são duas flores numa só haste. Jesus transplantou-as das regiões celestes para o nosso solo ingrato. Criaram raízes, vicejaram, multiplicaram-se e foram bem recebidas nos jardins dos grandes e nos canteiros dos pobres. 

Sob a influência do seu perfume, desabrocharam por toda a parte admiráveis virtudes: a abnegação, a humildade, o sacrifício, a mansidão, a compreensão mútua. A terra, anteriormente deserta, cobriu-se de creches, escolas, hospícios, asilos; povoou-se de irmãos e irmãs de caridade.

Não, não há dedicação sem amor, como não há amor sem dedicação. Nunca a flor da dedicação brotou em terras não cristãs. O joio, o insolente joio do egoísmo, devorava o solo pagão. A sociedade antiga, no apogeu da sua civilização, só engendrava monstros horrendos: a crueldade, a luxúria, a escravidão. Como já era tempo de que Jesus viesse ressuscitar esta pobre humanidade que jazia e se decompunha no túmulo! Como já tardava que Ele viesse ensinar-nos o amor e a dedicação!

O dom de si, vida de abandono em Deus – Pe. Joseph Schrijvers

A ALMA E O CONVÍVIO SOCIAL

dsc04729A alma abandonada a Deus deve viver no meio a que pertence, de maneira humana. Não lhe foi dada uma natureza angélica, unicamente ocupada  em pensar e amar a Deus. Vive no seio de uma família, de um ambiente de trabalho, de uma sociedade.

Mil relações de amizade, de interesses, de conveniências, de parentescos, ligam-na e solicitam-lhe a atenção. Entre estas muitas são boas e gratas, oferecendo-lhe ocasiões de servir, de dar-se, de distrair-se e cultivar-se. Outras são cordiais e íntimas, e outras ainda não são apenas pessoais, mas meio de expansão e convívio da família com outras famílias.

Ora essas relações agradam e encantam a alma, ora a perturbam, agitando-a, embaraçando-a, roubando-lhe o tempo e sossego; ou ainda a contrariam e descontentam, pois podem ser fonte de invejas e ódios e levar-lhe o pensamento para longe do Deus da paz.

É preciso, pois, escolher as relações com critério, eliminar as supérfluas, reduzir as que são apenas úteis e regular as necessárias. A alma verdadeiramente interior nunca se escraviza a criatura alguma, por mais agradável que seja. Nunca se abandona a não ser a Jesus. No fundo do coração, reserva um lugar onde nunca penetra nenhuma amizade terrena, por mais íntima que seja. A porta permanece fechada, pois só o Senhor a transpõe. É a morada de Deus.

O coração que pertence a Deus está completamente ocupado por Ele, até transbordar. É esta superabundância que derrama depois sobre as criaturas que o rodeiam. Continuar lendo

A ALMA FAZ MAL EM EXAGERAR AS DIFICULDADES DA VIDA INTERIOR

exagDeus é o soberano Senhor de todas as coisas. É o princípio do meu ser, o fim da minha existência, o divino modelo da minha vida. Tem sobre mim um direito absoluto e universal. Eu me assusto perante esta obrigação tão rigorosa e tão graves de ser todo de Deus. Não Lhe posso subtrair nenhum ato nem tempo algum sem com isso praticar um furto.

Como dedicar-Lhe por inteiro uma vida composta de milhares de ações diárias? O espírito engendra pensamentos sem conta e o coração produz afeições sem número. Como governar todo este mundo interior?

As paixões fortes ou indômitas estão constantemente em ação. Os sentidos dificilmente aceitam o jugo da vontade; a imaginação julga-se a dona da casa e perturba toda a ordem interior; a razão deixa-se enganar pelos sentidos e seduzir pelas aparências da verdade; a própria vontade é fraca e mantém ligações secretas, está de conivência com o inimigo.

E mais, como dedicar a Deus uma vida inteira, quando os obstáculos exteriores se multiplicam em volta da alma? Querendo ela dar-se a Deus, consentirão que o faça? Os inimigos de Deus e da piedade são muitos, e os indiferentes e os covardes ainda mais numerosos. O respeito humano governa o mundo: o sorriso, o sarcasmo e a pilhéria têm afastado mais almas de Deus do que o próprio demônio. Continuar lendo

O QUE É ESQUECER-SE?

despAquele que se entrega a Deus já não se pertence. Deixa de existir aos seus próprios olhos, não vive em si mesmo, mas nAquele a quem se entregou, e não tem outros interesses a não ser os do Mestre.

Esquecer-se de si próprio, por amor, eis a grande lei de toda a vida espiritual. Esquecer-se é excluir das ações, sofrimentos e orações todo o cálculo humano, toda a sombra se amor-próprio ou intenção egoísta.

Esquecer-se é aceitar simplesmente da mão de Deus todas as responsabilidades, todos os deveres, todos os sofrimentos, todas as contrariedades, sem queixumes, sem pretender sobressair por isso, sem examinar a duração e a natureza das próprias penas ou sacrifícios, tal como se eles tivessem atingido outra pessoa.

Esquecer-se é moderar a procura de satisfações pessoais, fugindo das ilícitas e só escolhendo das outras as que a Providência tiver preparado.

Esquecer-se é avaliar-se pelo seu justo valor, isto é, como um mísero pecador; é afastar da memória própria e alheia as qualidades e obras pessoais; é mesmo evitar um olhar ansioso e demorado sobre as próprias fraquezas.

Esquecer-se é desaparecer aos próprios olhos, por um ato de vontade, para não ver em si e nos outros, nas pessoas e nas coisas, senão Jesus e a Sua santa vontade. Continuar lendo

A ALMA ABANDONADA DEVE CONTAR COM A PERSEGUIÇÃO

cruzaOs que quiserem viver piedosamente em Jesus Cristo sofrerão perseguição“. (II Tim 3,12)

É São Paulo quem o diz sob a inspiração do Espírito Santo.

Nos começos, a alma naturalmente boa acha que na vida tudo lhe sorri. Entrega-se descuidada ao que lhe agrada e atrai. Julga que todos os homens são retos e simples como ela. Esta ilusão dura pouco. Em breve constata que o amor que lhe manifestam, a bondade com que a tratam não andam sem mistura e muitas vezes não passam de um verniz, de uma aparência, digamos de um véu, sob o qual se esconde muitas vezes o egoísmo.

Quanto mais lida com os homens, mais descobre em muito deles a frieza de coração, a pequenez de sentimentos, e estreiteza de vistas. Esses defeitos, pode encontrá-los mesmo naqueles que lhe parecem virtuosos e instruídos. E a verdade é que, por uma série de experiências pessoais, acaba por constatá-los em si própria.

E não se engana. Todo homem é por natureza limitado em todos os sentidos: em inteligência, prudência, reflexão e conselho.

O amor-próprio egoísta amesquinha extraordinariamente o coração humano; e o mesmo faz a ambição com o espírito. A mesquinhez e estreiteza de vistas, a obstinação nas próprias opiniões desfiguram as melhores almas. Muitas vezes, sem dúvida, estes defeitos não são culpáveis, mas são reais e com frequência tornam difícil o convívio prolongado, mesmo entre pessoas que têm o mesmo nível espiritual ou no seio da família. Continuar lendo

QUANTO MAIS A ALMA SE ESQUECE DE SI, MAIS DEUS PENSA POR ELA

joelhosÀ medida que a alma avança na perfeição, a sua vida espiritual simplifica-se e acaba por resumir-se nestas palavras dirigidas a Santa Catarina de Sena: “Pensa em mim, que Eu pensarei em ti”. Isto quer dizer: Eu pensarei na tua honra, na tua saúde, nos teus bens temporais; pensarei na tua salvação e santidade. Jesus tudo sabe e nada esquece.

Quando Ele pede à alma um tão grande sacrifício como é o abandono total de si mesma, encarrega-se de por remédio aos inconvenientes que daí possam resultar humanamente.

A alma deve limitar-se a obedecer e abster-se de perscrutar o futuro.

A pobre viúva de Sarepta estava numa grande miséria quando um dia encontrou o profeta Elias. Ia consumir as suas últimas provisões, e depois só lhe restaria morrer à míngua junto com o seu filho. No entanto, a pedido daquele estranho, cedeu-lhe o último pão. Humanamente, era uma loucura, mas era também sabedoria diante de Deus, pois compelia-o a fazer um milagre.

A alma verdadeiramente simples procede assim com Deus. Só pensa nos seus deveres de estado, sempre cumpridos de olhos postos nEle. Ignora o cálculo, os rodeios, o fingimento, e, em troca, Deus tudo prevê por ela. Às vezes, sem dúvida, a astúcia julga tê-la feito cair nos seus laços. Puro engano. Um acontecimento imprevisto, uma simples palavra, um gesto, desmascaram a intriga. Continuar lendo

A ALMA SIMPLES AMA A CRUZ

cruzA alma que de todo se esqueceu age sempre com simplicidade, guiada unicamente pela boa intenção.

Está sempre satisfeita com Deus, seja o que for que Ele faça ou permita. A doença ou a saúde, a prosperidade ou a adversidade, o êxito ou o insucesso, a vida ou a morte, tudo recebe com um sorriso de agradecimento. Acolhe de bom grado o sofrimento, qualquer  que seja a forma com que se apresente. A dor, como a alegria, é sempre a embaixatriz de Cristo.

O homem a quem falta uma fé ardente nem sempre reconhece Jesus sob os diferentes véus em que Ele Se envolve. Em vida de Jesus, só um pequeno número de fiéis O reconheceu como o verdadeiro Messias. Após a Sua morte e Ressurreição, os próprios Apóstolos e mesmo a ardente Madalena tiveram dificuldade em reconhecê-lO pelas aparências com que Se revestia.

Agora que vive nos nossos Sacrários, escondido sob as humildes aparências do pão e do vinho, a Sua visita é ainda mais misteriosa. Só a alma exercitada no amor reconhece o Mestre quando Ele Se apresenta. Reconhece-O muitas vezes pela cruz que traz consigo. Quando a dor a atinge, exclama: “É Jesus que passa“, e corre ao Seu encontro. Não o deixa curvado sob esse fardo. Estende os braços, empresta-lhe os ombros e ajuda-O a carregá-lo. Foi para ser ajudado que Ele veio ter conosco. Continuar lendo

A ALMA SIMPLES NÃO PROCURA EM NADA A SUA GLÓRIA

simplesA alma que se esqueceu de si própria mora no seio de Deus. A sua vida, na sua simplicidade, está cheia de maravilhas, mas escapa à vista do vulgo.

Uma alma inteiramente entregue a Deus é o mesmo que uma alma simples: só tem um olhar, e esse olhar está fixo em Deus. Só tem um móbil, e esse móbil leva-a a Deus em todas as suas ocupações, sem permitir-lhe que se preocupe consigo mesma. É um fluxo constante e sem retorno para o oceano divino.

A simplicidade exclui por natureza o dobrar-se sobre si próprio. A alma entregue a Deus não pensa nas suas boas obras, na pureza da sua vida, nos méritos que acumula. Não se interessa em saber o que pensam dela. Não procura chamar a atenção para a sua pessoa, para os seus atos, nem mesmo para os seus defeitos e faltas. Não procura para si a aprovação, os favores ou a benevolência alheia, porque, nada sendo, nada pode pretender.

A alma que se entregou ama ardentemente o seu divino Mestre. Expressa-Lhe este amor de mil modos diversos e encontra a todo o instante novos meios de agradar-Lhe, pois o amor é engenhoso. Mas este amor também é singelo e exclui quaisquer artifícios.

A alma simples nunca pede a Jesus explicações sobre o modo como Ele a trata. Está nas mãos dEle como o barro nas mãos do oleiro. Nota que o Senhor lhe imprime formas muito singulares, mas pode o vaso dizer a quem o moldou: “Por que me fizeste assim?” Continuar lendo

AQUELE QUE SE ENTREGA A DEUS JÁ NÃO SE PERTENCE

entregaDeixa de existir aos seus próprios olhos, não vive em si mesmo, mas nAquele a quem se entregou, e não tem outros interesses a não ser os do Mestre.

Esquecer-se de si próprio, por amor, eis a grande lei de toda a vida espiritual. Esquecer-se é excluir das ações, sofrimentos e orações todo o cálculo humano, toda a sombra se amor-próprio ou intenção egoísta.

Esquecer-se é aceitar simplesmente da mão de Deus todas as responsabilidades, todos os deveres, todos os sofrimentos, todas as contrariedades, sem queixumes, sem pretender sobressair por isso, sem examinar a duração e a natureza das próprias penas ou sacrifícios, tal como se eles tivessem atingido outra pessoa.

Esquecer-se é moderar a procura de satisfações pessoais, fugindo das ilícitas e só escolhendo das outras as que a Providência tiver preparado.

Esquecer-se é avaliar-se pelo seu justo valor, isto é, como um mísero pecador; é afastar da memória própria e alheia as qualidades e obras pessoais; é mesmo evitar um olhar ansioso e demorado sobre as próprias fraquezas.

Esquecer-se é desaparecer aos próprios olhos, por um ato de vontade, para não ver em si e nos outros, nas pessoas e nas coisas, senão Jesus e a Sua santa vontade.

Aquele que quiser vir após Mim, diz Jesus, renuncie a si mesmo. Quem desejar ter parte na Ressurreição de Jesus, consinta primeiro em morrer com Jesus; quem quiser com Jesus levantar-se glorioso do túmulo, desça primeiro aí com Ele; quem quiser salvar a sua vida, comece por perdê-la. Continuar lendo

O EGOÍSMO RETOMA A DIREÇÃO DO MUNDO

arrSenhor! Fostes divinamente amado pelos homens. E, mesmo nos nossos dias, quantos corações puros Vos amam e Vos são dedicados até à morte!

Mas o meu coração confrange-se de tristeza. O número destas almas ardentes não parece diminuir de dia para dia? O egoísmo recupera a direção do mundo. Há tempos que vem infestando com o seu veneno toda a sociedade. Penetra agora na vida familiar e procura infiltrar-se na própria Igreja.

Quando o Senhor voltar à terra, encontrará ainda amor no mundo?

Por toda a parte, a caça aos prazeres, a cupidez, o luxo desenfreado; por toda a parte, a opressão dos fracos, o desdém pelos infelizes, o horror pelos menos favorecidos!

É como se o Senhor Se tivesse retirado, levando consigo o amor e a luz. As sombras já se aglomeram ao redor de nós e o frio faz-se mais intenso. É o melancólico paganismo que volta, como um espectro carregado de ódio, e que ameaça envolver-nos a todos numa imensa mortalha.

Senhor! Tende piedade de nós: Fica conosco, Senhor, pois é tarde e o dia já declina (Lc 24,29). Ficai conosco, senhor, pois faz-se tarde. A noite vem caindo, a terrível noite que nos apavora com os seus fantasmas. Ficai conosco! Continuar lendo

A RENÚNCIA : MODERAR A PRETENSÃO DO ESPÍRITO

promessaComo os perigos dos sentidos esperam o jovem coração à entrada da vida, assim os do espírito ameaçam perverter a jovem inteligência pronta a dedicar-se ao estudo.

Apenas o espírito começa a ter consciência de sua força, a formar raciocínios, a gozar a doçura das primeiras descobertas no campo da verdade, e já a semente do orgulho deita raízes na alma com risco de romper o equilíbrio entre o espírito e o bom-senso.

Se os talentos dados por Deus excedem um pouco a mediocridade, a ambição intelectual bem depressa não conhece mais limites, o espírito sacia-se de tudo com avidez, enche-se mais de vaidade do que de verdade.

São Paulo disse: Scientia inflat (I Cor 8,1). A ciência incha.

O escolho desta formação intelectual tem sido a parte excessiva dada às luzes humanas em detrimento da luz divina, o predomínio do estudo sobre a oração, o culto da razão humana e o esquecimento do seu absoluto nada e de sua universal fraqueza.

O que é o mais sublime gênio diante da sabedoria de Deus? É com sacrifício que a mais poderosa inteligência consegue, depois de uma vida de esforços e de pesquisas, entrever um ou outro problema científico e quando crê resolvê-lo, vê surgir outras questões mais complicadas e abrir-se diante de si novos horizontes, que não conseguirá nunca abranger. Continuar lendo

JESUS SOFRE! ALMA AMADA, TOME A RESOLUÇÃO DE CONSOLÁ-LO …

ajoeTristis est anima mea usque ad mortem (Mc 14,34)

Minha alma está triste até à morte

Há vinte séculos, quando ninguém pensava ainda em mim, quando ninguém podia ainda suspeitar que um dia eu existiria, um Coração amava, interessava-se pela minha felicidade e se entristecia pelos meus pecados.

Oh! como esse último pensamento me punge a alma de dor e remorso! Jesus entristeceu-se e sofreu por causa de meus pecados e dos de cada homem em particular.

Jesus era Deus. Ele via clara e minuciosamente todos os meus pecados e os crimes do mundo inteiro. Contava-lhes o número e pesava-lhes a gravidade e compreendia a malícia infinita de todos eles. Continuamente Ele tinha diante dos olhos essa montanha de crimes; continuamente pesava no Seu coração a ofensa infinita feita a Deus, ofensa tantas vezes repetida e desejada, de algum modo pela vil criatura humana.

As lágrimas que derramou no presépio foram lágrimas de tristeza à vista de tantas ingratidões. Quando moço, a idéia de todos os sofrimentos e da morte, que o esperavam, jamais o abandonou.

Diz a piedade cristã que, estando Jesus já crescidinho e começando a andar, no vaivém contínuo em torno de São José na sua oficina de operário, tomou dois pedaços de madeira e, dispondo-os em forma de cruz, mostrou-os à santa Virgem. Vendo-os, os olhos da Mãe arrasaram-se de lágrimas e o Coração de Jesus encheu-se de tristeza. Continuar lendo

A ALMA AMANTE IMOLA-SE COM JESUS

cruzMortui sumus cum Christo (Rom., 6,8)

Mortos somos com Cristo.

… O Cristianismo … é a religião por excelência do sacrifício. Tudo converge para o altar. Todos os benefícios descem da cruz. A Santa Igreja mesma com seus canais de graça, os sacramentos, nasce do Coração transpassado de Jesus.

Todas as cerimônias começam e terminam pela cruz, todas as consagrações, todas as bênçãos se fazem com o sinal da cruz, todas as grandes solenidades, quer religiosas, quer profanas, são marcadas com o sinal da cruz. E quanto mais se penetra nesse pórtico da Igreja, na sua vida íntima, na alma que a move, tanto mais se percebe o sacrifício.

Milhares de mártires fecundam-se com seu sangue em todas as partes do mundo, e esta imolação, que não cessou em nossos dias, abrange todas as idades e todas as condições.

Perseguições intermítentes, lutas internas, cismas, heresias, apostasias, conservam sempre aberta, no seio da Igreja, a chaga que lhe fizeram os tiranos dos primeiros séculos…. Não há ninguém no mundo que possa escapar à dor. O sofrimento, seja físico, ou moral, espreita todas as criaturas sem distinção. Deus quer, na sua justiça e misericórdiosa bondade, que todos, bons e maus, tenham sua parte na medida e proporção prevista por sua infinita sabedoria. Continuar lendo

A TÁTICA DO COMBATE (VIDA ESPIRITUAL)

olhaHi in curribus et hi in equis: nos autem in nomine Domini Dei nostri invocabimus (Sl 19,8).

Uns confiam em seus carros, outros em seus cavalos; quanto a nós, apoiamo-nos no nome do Nosso Deus que invocamos.

Se o trabalho da perfeição é uma luta, há, pois, uma estratégia a adotar, uma tática a seguir. Nos combates humanos, triunfa aquele que tem fé em si. O grande recurso do general é manter no coração do soldado a confiança no seu próprio valor.

No combate com o divino amor, o guerreiro mais terrível é a criancinha que nenhuma confiança tem em si mesma, e tudo espera de Jesus que com ela combate. Entretém incessantemente em tua alma a desconfiança absoluta em ti mesma e exalta cada vez mais tua confiança em Deus, e vencerás.

O pais do divino amor é situado além das fronteiras humanas. A nenhum homem é dado pretender sequer, com suas próprias forças, fazer ainda que um passo no caminho que para lá conduz.

O natural e o sobrenatural aproximam-se, entrelaçam-se tão bem, que a alma se engana muitas vezes. Ela atribui a si um papel que pertence exclusivamente à graça. Jesus insinuou-Se de tal modo em seu ser que não raro ela julga andar só, quando é levada em Seus divinos braços.
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LUTAR SEMPRE – DESÂNIMO NA VIDA ESPIRITUAL

cavaleiro cruzadoLabora sicut bonus miles Christi (II Tim 2,3)

Trabalha como um bom soldado de Cristo

Os combates pelo amor são longos e por vezes difíceis, e toda alma, por pouco generosa que seja, verifica em si mesma, em dados momentos, um movimento de depressão que se chama desânimo.

Essa depressão nasce insensivelmente da acumulação de contratempos e reveses sucessivos. A alma sente-se abatida, depois, de repente, um acidente qualquer, uma pequena indisposição, uma fadiga corporal, uma palavra de repreensão, uma falta de atenção sobrevêm a nosso respeito e a alma desanima.

Então tudo se torna pesado. A conversação espiritual é insípida, os livros que de ordinário a estimulavam perdem o sabor, os exercícios espirituais tornam-se um ônus intolerável. Nada a encoraja, tudo a aborrece e a desgosta.

A vida espiritual parece uma ilusão; atingir-lhe o cimo, uma impossibilidade. E ela senta-se tristemente a meia encosta sem forças para as alturas. Eis, por certo, um sério obstáculo, que impede por vezes o caminho às almas mais resolutas. Importa procurar as causas do desânimo e os meios de frustrar-lhes a influência paralisante. Continuar lendo