THE ECONOMIST, O PANGOLIM E O CORONAVÍRUS

Fonte: Boletim Permanencia

Pois esta última semana os grandes sites de notícia publicaram com certo destaque a inusitada relação entre um certo mamífero asiático, que estaria em vias de extinção, e o surto do novo coronavírus na China.

Pangolim: Iguaria ou alvo do tráfico internacional de bichos exóticos?

Depois das sopas de morcegos e das cobras do mercado de Wuhan se tornarem objeto de debate como a suposta origem zoonótica da virose, eis que passa a encabeçar a lista de suspeitos um mamífero de língua viscosa e comprida, comedor de formigas como o tamanduá; coberto de escamas e que se enrola como o tatu-bola; saltitante e arborícola como o esquilo; e que atende pelo curioso nome de pangolim.

E tem gente que come.

Quem nos lê há algum tempo deve se lembrar de um post do início de ano passado em que descrevíamos a capa da revista ‘The Economist’ para o ano de 2019. Interessante lembrar que entre as figuras desenhadas à la Da Vinci no frontispício da publicação, ali sobre o norte da América do Sul estava o simpático bichinho asiático. Supomos tratar-se de uma alusão à ecologia, ou mesmo ao tráfico de animais. Será que nos enganamos?

Coincidência ou não, em dezembro de 2019, portanto ainda dentro do escopo da ‘The Economist’, aparece no meio da China uma doença ainda pouco conhecida, de rápida difusão e que vem ganhando manchetes cada vez mais alarmantes nos meios de comunicação do mundo todo.

A infecção pelo novo coronavirus (2019-nCoV) pode evoluir da gripe comum para uma pneumonia potencialmente letal, lembrando casos recentes e relativamente preocupantes como o da gripe asiática de 2009 ou mais antigos e perturbadores como o da gripe espanhola de 1919.

Sendo assim, a suposta relação com o pangolim faz do animal um hospedeiro intermediário da doença, e o transforma de ameaçado de extinção em cúmplice de pandemia. Vale perguntar se os tais quatro cavaleiros do Apocalipse na tal capa de 2019 auguravam um cenário de uma iminente peste mundial.

Aliás, será que a capa de 2020 corrobora esse cenário? É o que veremos no próximo post.

O MAPA DA PERSEGUIÇÃO

O World Watch List 2020 publicou a lista dos 50 países onde mais se persegue cristãos.

O lugar onde a perseguição é mais intensa continua sendo a Coréia do Norte comunista. Mas, atualmente, os muçulmanos roubaram dos comunistas o título de maiores algozes: dos 34 países onde a perseguição é “muito grave”, 23 são islâmicos. E dos cinco onde ela é considerada “significativa”, quatro são islâmicos.

O leitor interessado encontrará aqui um resumo da atual perseguição religiosa no mundo islâmico.

Note-se que países majoritariamente hindus, como a Índia e o Nepal, e budistas, como Butão, Laos e Sri Lanka — religiões pagãs tidas por pacificas no Ocidente — estão entre os que mais perseguem católicos e protestantes.

Com efeito, São Francisco Xavier (1506-1552) ao chegar no Tibete logo compreendeu a oposição entre a religião da cruz e o budismo, e anunciou que isso seria o presságio de muitas perseguições: “Nossas idéias sobre Deus e a salvação das almas são tão opostas as deles que não será de admirar se nos perseguirem, e não apenas em palavras”.

No Sri Lanka, por exemplo, ataques contra cristãos ficam impunes por causa da proteção da polícia. Além do mais, todo proselitismo não-budista está proibido e, desde 2005, todas as escolas superiores católicas foram proibidas.

Na Índia, um movimento religioso de cunho nacionalista busca proibir o proselitismo religioso de religiões não-indianas. PraveenTogadia, chefe desse movimento, afirma que “a conversão ao cristianismo equivale a uma mudança de nacionalidade e ameaça a unidade nacional”. Leis “anti-conversão” tem sido adotadas em diversas porções da Índia, condenando a até cinco anos de prisão a conversão de hindus ao cristianismo. Confisco de bens do clero, proibição de escolas católicas e agressões físicas não são raras.

A pesquisa do World Watch List abrange o período de 1 de novembro de 2018 a 31 de outubro de 2019 e incluiu de cem países. Os cristãos em risco devido à perseguição são 260 milhões, 15 milhões a mais do que em 2018.

PS: Sabemos que, como ensina Hilaire Belloc no seu “As Grandes Heresias”, não existe uma religião chamada Cristianismo, mas apenas a Igreja Católica e as diversas heresias formadas a partir dela, que a combatem. Por isso, é sempre com desagrado que utilizamos o nome “cristãos” ou “cristianismo”, como o faz a lista supracitada, referindo-se indistintamente a católicos e protestantes.

CANCELE SEU NETFLIX

Fonte: Boletim Permanencia

Para os que não sabem, o Netflix promove neste Natal uma sátira sacrílega do grupo Porta dos Fundos, provando, mais uma vez, desconhecer os limites entre a comédia e a regra moral que deve nortear todos os nossos atos.

Brincar com a religião dos outros é fácil. Difícil é brincar com a própria religião. No caso do Porta dos Fundos, engraçado seria vê-los fazer humor com a “sagrada família” deles, os Lula da Silva. O noticiário recente sobre a famiglia tem oferecido material suficiente para uma paródia da série Os Sopranos, por exemplo. Fica a sugestão.

O argumento da “liberdade de expressão” não cola. Ninguém imaginaria fazer piada com o Holocausto ou com a escravidão africana nas Américas, satirizando o extermínio dos judeus ou a vida nas senzalas ou nos navios negreiros. Há coisas que são, e devem ser, graves demais para virar comédia.

Se o grupo de bobalhões ficasse confinado em seu canal no YouTube, não haveria muito a fazer, fora as vias judiciais. O YouTube é uma plataforma aberta e gratuita que exibe todo tipo de conteúdo, de palestras sofisticadas a tutoriais de manutenção de geladeiras velhas. Não há seleção prévia, a não ser algumas regras genéricas de conteúdo, que são particularmente austeras quanto à sensibilidade de certos grupos.

Mas à parte a denúncia a posteriori de conteúdos considerados ofensivos – e que serão depois avaliados por examinadores da plataforma que decidirão se o conteúdo sairá ou não do ar – não há muito o que se fazer. Mesmo os anunciantes que aparecem em intervalos regulares durante a transmissão dos vídeos segue uma ordem aleatória e se fosse o caso de tentar boicotá-los seria preciso assistir o conteúdo diversas vezes. A emenda seria pior do que o soneto. A solução, portanto, é ignorá-los.

O caso do Netflix é diferente. Lá os conteúdos são selecionados. Ao optar por exibir um determinado conteúdo, a plataforma confere sua chancela à obra e, direta ou indiretamente, a financia.

Portanto, não há escusa: ao escolher exibir a paródia do Porta dos Fundos, o Netflix ofende seus assinantes católicos, bem como qualquer um com um mínimo de refinamento ético ou estético.

Só resta aos católicos o cancelamento de sua assinatura do Netflix.

Não será nenhum sacrifício: há outras opções no mercado até mais em conta. E, apesar de ser improvável, diante dos graves exemplos de material imoral promovidos anteriormente, havendo uma retratação da empresa, um retorno poderia ser considerado.

Mas, por ora, não cancelar seria um ato de pusilanimidade inaceitável.

O cancelamento da conta do Netflix é um ato pedagógico e, quem sabe até, misericordioso. Mas certamente será divertido. Ateus não acreditam em alma. Mas acreditam em conta bancária. A consciência nunca lhes dói, mas o bolso é seu órgão mais sensível.

Quanto a nós, que sabemos o quanto somos espirituais e devedores da graça da Redenção, pela Cruz de Nosso senhor Jesus Cristo, tenhamos nossas consciências católicas em paz pela defesa da honra de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua Santa Igreja.

BREVE RELATO SOBRE O CHILE

Recebemos do Chile o texto seguinte, que tenta explicar as causas dos acontecimentos recentes. O autor é Augusto Merino, renomado professor de ciência política do país, e católico tradicionalista. A tradução do artigo é nossa (Boletim Permanencia).

Os jovens foram o instrumento da esquerda latino-americana para conduzir o Chile ao caos.

Para resumir com máxima concisão o que está acontecendo no país, diremos que se trata de um triunfo da esquerda internacional, que avança com sua agenda de ruptura contra a cultura cristã ocidental. O recente acordo firmado por todas as forças políticas no sentido de elaborar uma nova constituição política a partir do zero, sem considerações pelos valores contidos na atual constituição, é o testemunho mais eloquente disso. Nenhuma das demandas socioeconômicas dos cidadãos foi atendida e, no entanto, tornou-se impossível dar um passo atrás para proteger os princípios cristãos que, embora de maneira débil, até hoje constituíam o fundamento moral do Chile.

Para explicar os acontecimentos do mês passado é preciso um certo distanciamento: o que aconteceu não foi um simples “surto”, nem mesmo uma “convulsão popular de caráter econômico-social”, ainda que tenha sido apresentado amiúde com esses nomes, e que o aumento do preço do metrô tendo servido de gatilho.

Os eventos recentes (muito mais violentos que os da Unidad Popular de Allende) são uma expressão, diferida no tempo e no espaço, do colapso da cultura do Ocidente, claramente iniciado há pelo menos 300 anos, com o Iluminismo e a Revolução Francesa. Sem considerar a cultura, não se pode compreender o que acontece no Chile — todos os outros elementos explicativos são secundários.

Nesse colapso, é necessário destacar a responsabilidade que cabe à Igreja, porque era nela que se estribava o núcleo da cultura que presidia a vida do país. A ruína da Igreja chilena e sua perda de ascendência sobre a vida nacional se acelerou após o Concílio Vaticano II — com o qual o clero se alinhou em bloco e resolutamente, como em outras partes do mundo — e fez com que a moral cristã entrasse em colapso em não mais de vinte anos, pelo trabalho de um clero corrupto, sem instrução e teologicamente ignorante, sem outra orientação intelectual e moral que a “teologia da libertação”, em sua versão mais crua. Continuar lendo

AS DEMOLIÇÕES DE PAULO VI

Nota da Permanência: Retomamos a publicação da série “Breve crônica da ocupação neo-modernista na Igreja Católica”, utilíssima para quem quiser compreender como chegamos ao atual estado de coisas em Roma. Na foto ao lado, o Papa Paulo VI entrega seu anel episcopal ao “arcebispo” anglicano Ramsey.

*************************

Para ler a Primeira Parte clique aqui.

Para ler a Segunda Parte clique aqui.

Para ler a Terceira Parte clique aqui.

Para ler a Quarta Parte clique aqui.

Para ler a Quinta Parte clique aqui.

Para ler a Sexta Parte clique aqui.

*************************

Quanto a Paulo VI, é claro que um filo modernista como ele, chegando a ocupar – com a permissão de Deus e em punição de nossos pecados – a Sé de Pedro, não poderia ser senão um demolidor da Igreja. Além, evidentemente, de suas intenções pessoais, ou melhor, de suas utopias pessoais.

Admirador de personagens como Blondel, Teilhard de Chardin, Henri de Lubac, do “segundo” Jacques Maritain e de outros da mesma laia, o Papa Paulo VI se emprenhou, com obstinação digna das melhores causas, à aplicar em todos os domínios as novas doutrinas do Vaticano II. Ele desmantelou todas as defesas da Igreja, em particular pela reforma do Santo Ofício; promoveu a difusão da nova teologia em todas as faculdades pontificais, universitárias e seminários (ainda hoje, como já sublinhamos, Henri de Lubac e Von Balthasar, com Karl Rahner, dominam imperturbavelmente o currículo dos estudos teológicos); obrigou os religiosos dos dois sexos a um aggionarmento catastrófico de suas Regras e Constituições segundo o “espírito” do Vaticano II (resultado: conventos vazios e vocações raras); favoreceu também o aggionarmento de padres e seminaristas a fim de que se engajassem na abertura ao mundo promovida pelo Concílio (resultado: defecção súbita de dezenas de milhares de padres e a difusão lenta mas inexorável de um espírito secularizado, que se reflete até mesmo nas vestimentas); deixou completamente impunes os propagadores de heresias e de imoralidades que, imediatamente após o Vaticano II, espalharam-se como fogo no mundo católico.

“Por ocasião da morte do Papa João — relembrava o Pe. Francisco Spadafora, célebre exegeta – dava-se como certa a eleição de Montini, e os membros do Sacro Colégio foram advertidos que isto constituiria um grave perigo para a fé. Foi tudo em vão: a maior parte dos eleitores devia as suas púrpuras aos bons ofícios de Montini, sob a influência do qual se tinha desenrolado o pontificado do Papa João: por esta razão também, sua eleição era certa. Continuar lendo

CONTRA A HISTÓRIA

Fonte: Boletim Permanencia

Já se fala em perseguição religiosa e em nova guerra civil na Espanha. Talvez seja um exagero, mas o que dizer da decisão de exumar os restos mortais de um personagem histórico decisivo para a Espanha, morto já há 44 anos, mas enterrado no solo consagrado de uma basílica sob a guarda de uma abadia beneditina?

Uma desmesura, uma impropriedade, uma covardia.

O prior resiste. Há cerca de um mês, depois da derrota judicial da família de Francisco Franco contra a exumação, o prior da Abadia da Santa Cruz do Vale dos Caídos, Dom Santiago Cantera, proibiu a entrada do governo espanhol na basílica. Em carta, o beneditino alegou a inviolabilidade dos locais de culto, contrariando diretamente as decisões do governo socialista do Primeiro Ministro Pedro Sanchez, da Suprema Corte espanhola, do Secretário-Geral da Conferência Episcopal Espanhola, Dom Luis Arguello, do Arcebispo de Madri, Dom Carlos Osoro Sierra, do Abade da Abadia de Solesmes, Dom Philippe Dupont, diretor da congregação beneditina espanhola a que a abadia está submetida, e do próprio Vaticano, que não se opôs à decisão, nem tem se manifestado sobre as crescentes violações da basílica e da abadia.

Em vão. No último domingo, a polícia expulsou os monges e invadiu a clausura. Os religiosos foram instruídos a levar suas “coisas” e a não voltar mais à basílica, ocupada já pelas máquinas necessárias pela exumação, prevista para acontecer antes das eleições de 10 de novembro. Continuar lendo

O DIREITO PELO AVESSO

Moisés Quebrando as Tábuas da Lei. Gravura de Gustave Doré, c. 1866.

Fonte: Boletim Permanencia

Uma constituição é uma carta política.

Historicamente ela surge como um conjunto de leis e princípios provados no tempo, que tratam da formação, sucessão e inspiração para os atos de determinado Estado. Neste sentido se falava, por exemplo, da Constituição de Atenas. Com a Carta do rei João Sem Terra, nasce a idéia de constituição como instrumento de garantias individuais e limites ao poder estatal. Há um início de decadência do senso de sociedade civil, reação natural às tendências absolutistas do outono da Idade Média.

Por fim, no período pós Revolução Francesa, as idéias de Código e Vontade Popular arrematam essa aberração, dão à luz a idéia de constituição como conjunto de leis promulgadas por poder onipotente, que determinará, a partir do seu nascimento, o perfeito substituto para a Lei Natural. Eis a jóia do Voluntarismo.

É da Alemanha que nasce a idéia de neoconstitucionalismo, que basicamente significa extrapolar ainda mais os limites do poder constitucional, que já não deve ser simplesmente uma inspiração do ordenamento, mas um conjunto sistemático de políticas a serem implementadas na Sociedade Civil. Doravante, qualquer sonho ou delírio do constituinte, uma vez publicado no diário oficial, torna-se regra de conduta, pacote de ações governamentais a ser promovido a todo custo.

Esta árvore, produto direto da semente revolucionária, depende de instrumentos que garantam sua aplicação abrangente, o que em termos técnicos chamamos de controle constitucional. Ora, apesar de existir uma famosa discussão entre Kelsen e Schmitt sobre onde deve subsistir este controle ― se em sede de poder executivo ou num tribunal constitucional ―, o Brasil adotou, como a quase totalidade do mundo jurídico, o sistema de suprema corte, que em Pindorama chamamos Supremo Tribunal Federal.

Não bastassem os doutrinadores que inventam as mais ilógicas interpretações e os malabarismos mais chocantes em termos jurídicos, a Suprema Corte fundou como regra, não apenas um entranhamento de normas com grave teor subjetivo nas leis ordinárias, mas a própria insegurança jurídica e a morte do direito humano. Isso porque todo o ordenamento já não mais vale por sua letra, essa sim uma verdadeira garantia ao cidadão, nem tem sua força derivada da autoridade promulgante, mas depende exclusivamente do entendimento de uma força de fraca legitimidade e em constante mutação. São os novos iluminados, a sagrada vanguarda que dita a lei conforme sua vontade.

Coisa ainda mais terrível, essa Corte é a promotora da revolução, sob o argumento de inércia dos demais poderes,fazendo avançar a agenda revolucionária sem possibilidade de defesa pela sociedade civil. Contra a previsão constitucional de favorecer o casamento e a conversão da união estável em casamento, o STF facilitou de tal modo o estado juridicamente imperfeito das uniões sem contrato, que o casamento civil virou um desnecessário peso burocrático. Depois disso, o casamento gay, o direito da amante e o poliamor foram passos logicamente conseqüentes.

Contra a segurança pública, a fundação das audiências de custódia, além de significar uma ingerência de forças externas no país, promoveu o relaxamento de prisões por qualquer razão, como se o bem-estar do preso perdoasse qualquer pecado, qualquer crime. Chegaram mesmo a criar um tipo penal vazio, impossibilitando a defesa de qualquer pessoa contra a ditadura do lobby gay, ferindo um princípio só antes maculado no nazismo, a anterioridade legal no direito penal: não há crime sem prévia lei. Ou não havia, até o STF criar o seu.

Agora, ameaçam desestabilizar a maior operação anticorrupção da história do país, mais uma vez legislando em matéria processual, por cima da lei existente.

O que é o STF? Um simulacro infernal da santa indignação de Moisés quebrando as tábuas da Lei. Também os excelentíssimos ministros reduzem a pó a lei natural ― sua inspiração, porém, não é o zelo do santo patriarca, mas a falaz promessa da serpente maldita: “sereis como deuses”.

O STF é o fim do Direito.

 

SÍNODO DA AMAZÔNIA: UM COMENTÁRIO DO INSTRUMENTUM LABORIS

Matteo D’Amico

Fonte: Courrier de Rome, Julho-Agosto de 2019

Publicado na Permanencia

Conclusão

É possível e talvez necessário sintetizar, à guisa de conclusão, a estrutura do documento que acabamos de analisar, ressaltando os seus gravíssimos erros.

Em primeiro lugar, todo o discurso laborioso que o Instrumentum Laboris desenvolve jamais esclarece a situação da Igreja na Amazônia: não narra a sua história, nada se diz da sua difusão, do número de batismos ou de casamentos. O discurso é, portanto, completamente abstrato e, definitivamente, pouco sério. Ninguém poderá dizer, após a leitura desse texto, do que se está tratando e qual a situação do catolicismo na Amazônia.

Não há nenhuma avaliação rigorosa e séria da situação moral, do respeito ao laço conjugal, da frequência aos sacramentos etc. Não podemos dizer se a situação é boa ou péssima.

A confusão aumenta pelo fato de que jamais se diz se no documento se o tema é a evangelização de índios batizados e convertidos, ou de indígenas afastados do Evangelho. A cultura e as crenças indígenas “ancestrais” são exaltadas a tal ponto, que parece que ainda lidamos com pagãos.

Exalta-se de modo ridículo a visão de mundo dos índios amazonenses, como se fosse uma visão da vida de uma profundidade, beleza, harmonia e delicadeza insuperáveis: um conhecimento ainda que superficial desses povos bastaria para mostrar que se trata de um mundo muito longe de ser perfeito. O texto todo é perpassado desse equívoco, que o torna ridículo.

Jamais se trata, em ponto algum do texto, do tema da salvação das almas, da vida eterna, da imortalidade da alma. Estamos em face de um catolicismo situado entre o sentimental e o ideológico, a ser corrigido em prol da harmonia com a natureza. O texto apresenta uma fé completamente esvaziada do seu núcleo escatológico e soteriológico.

Não se fala do pecado e, em paralelo, não se faz a menor alusão à cruz de Cristo ou à economia da salvação fundada sobre a cruz. Como o pecado é completamente ausente, também é ausente, e não por acaso, o tema da salvação: Para que salvação se não há pecado? O nome mesmo de Jesus Cristo é pouquíssimo citado — e isso também não é por acaso. 

Falta, logicamente, toda alusão à vida da graça e à necessidade de alimentá-la pelos sacramentos e pela oração: toda vida de piedade é dissolvida numa nuvem de contínuas exaltações da espiritualidade original dos índios da Amazônia, os novos “bons selvagens”.

Trata-se do texto menos mariano de todo o pós-Concílio: não há praticamente nenhuma referência à Santíssima Virgem. Isso é muito suspeito e levanta sérias dúvidas sobre a fé daqueles que escreveram esse documento.

O documento apresenta uma idéia de inculturação completamente falsificada e deformada, que acaba por recomendar à Igreja a conversão à espiritualidade indígena.

Busca-se alterar o sacerdócio e a liturgia, e abonar a ordenação de mulheres de um modo ou de outro (ainda que não se ouse dizê-lo abertamente).

As referências doutrinais e escriturais são mínimas, e encontramos apenas uma enxurrada de referências aos textos de Francisco, de quem usa-se sem o menor pudor o jargão, repetindo como papagaios suas expressões típicas (em especial, “Igreja em saída”).

Todo o texto é francamente modernista sob cada um de seus aspectos, e sobretudo no seu modo de promover a causa do “mobilismo dogmático” mais desenfreado: onde a doutrina e amoral não podem ser rígidas nem opressivas, mas doces e aptas a se adaptarem a realidade concreta e às necessidades dos índios da Amazônia.

O Instrumentum Laboris que viemos de comentar não é um texto católico, mas um apanhado de heresias. É um texto escandaloso e é dever de todo católico, mas sobretudo de todo bispo, condená-lo publicamente e exigir que seja retirado, denunciando a sua falsidade e suas ciladas publicamente. Sua aplicação e sua utilização durante o Sínodo da Amazônia só podem provocar a ruína da Igreja na Amazônia, em primeiro lugar, e no mundo inteiro, quando sua aplicação for alargada.

A AMAZÔNIA E A SARÇA ARDENTE

Moisés e a sarça ardente. Sébastien Bourdon, c. 1642-45.

Fonte: Boletim Permanencia

Às vésperas do Sínodo, o Papa Francisco vem externando sua angústia com a devastação da Amazônia, real ou suposta. “Problema mundial”, disse. Para debelá-lo, conclama para a “conversão ecológica” a fim de salvar o “pulmão vital” do mundo, nossa “casa comum”.

Quanto a nós, conclamamos Sua Santidade a voltar os olhos para outro incêndio, bem mais angustiante, que há meio século queima a única Videira mais vital que todas as florestas, e devasta a casa comum dos filhos de Deus, que é a Santa Igreja.

Bem sabemos, pela Fé, que essa Videira arderá sem se consumir. É a nova sarça ardente. Na fúria do incêndio conciliar, os olhos da nossa Fé hão de enxergar a mão de Deus, como Moisés viu na chama da sarça a presença do Senhor. Num impulso, talvez, cobriremos o rosto como ele cobriu, não ousando olhar para a ira de Deus por detrás da chama. Mas é Ele que permite o fogo devorador. É Ele que preserva a Videira. E sempre preservará: Non praevalebunt.

As labaredas não destroem a Videira, isto é certo. Mas quanto estrago fazem, quantos ramos secam! Na sua profundeza interior ainda corre, discreta mas eficaz, a seiva da graça. Mas é pura devastação o casco, o tronco, os ramos, tudo o que a vista alcança. Eis o verdadeiro problema mundial. Continuar lendo

A CRISE CLIMÁTICA É UMA FANTASIA

Seria melhor para Greta se em vez da ONU a tivessem levado à Disney

Fonte: Boletim Permanencia

Um grupo de 500 cientistas e profissionais da ciência climática notificou oficialmente as Nações Unidas de que não há crise climática e que gastar trilhões de dólares nesse não-problema é “cruel e imprudente”. É claro que a carta, datada de 24 de setembro, foi censurada pela grande mídia que só tem olhos para Greta Thumberg, a nova sacerdotisa da emergência climática.

Lançada por Guus Berkhout, geofísico e professor emérito da Universidade de Haia, na Holanda, essa iniciativa é resultado de uma colaboração de cientistas e associações de treze países. Publicada em um momento em que a agenda internacional mais uma vez coloca o clima no topo da lista de preocupações, esta “Declaração Européia sobre o Clima” afirma categoricamente que não há urgência ou crise climática. Por isso, exige que as políticas climáticas sejam completamente redesenhadas, reconhecendo, em particular, que o aquecimento observado é menor que o esperado e que o dióxido de carbono, longe de ser poluente, é benéfico para a vida na Terra.

Os signatários convidam seus oponentes a organizar com eles, em 2020, uma reunião construtiva de alto nível para debater o aquecimento global.

Eis a carta: Continuar lendo

NÃO É BRINQUEDO, NÃO

Querem uma geração do vale tudo

Fonte: Boletim Permanencia

Quarta-feira passada, dia 25 de setembro, a companhia de brinquedos Mattel – a criadora da Barbie – lançou uma nova linha de bonecas. A novidade é que elas não têm “gênero” definido: tanto podem ser menino, menina, ambos ou nenhum dos dois. Um monstro polimorfo. E quem irá escolher será a criança!

“As crianças não querem que seus brinquedos sejam ditados por normas de gênero”, diz a declaração da Mattel.

A coleção inclui vários tipos de acessórios como jaquetas, calças, chapéus, etc., além de tipos de cabelo e cor de pele diferentes. Tudo para “celebrar o impacto positivo da inclusividade”. Não bastasse isso, ainda reduziram o busto da Barbie e os ombros do Ken para, em nome da neutralidade de “gênero”, contemplar as crianças que se identificam como “gênero fluído”.

O vídeo para a promoção da coleção é impublicável.

Sim, o pequeno filme promocional usa crianças para promover a ideologia de gênero. Crianças ‘fantasiadas’ de “não-crianças” para vender um produto fruto da imaginação de adultos, que dizem entender as crianças:

“As crianças agora, especialmente as menores de dez anos, experimentam o “gênero” de um modo muito diferente. Nós vamos desafiar o ponto de vista das pessoas de como as crianças devem brincar” – diz o comercial.

A contradição é evidente. Primeiro eles querem que as crianças brinquem livremente (sem normas de “gênero”), depois admitem que vão desafiar o senso comum. Não desejam sequer uma geração livre para escolher – o que já seria absurdo – mas obrigada a seguir sua agenda desde o berço.

A COMUNHÃO DOS ADÚLTEROS E A “OUTRA”

O Casamento da Virgem. Giotto, c. 1305 (afresco).

Fonte: Boletim Permanencia

“As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor, pois o marido é o chefe da mulher, como Cristo é o chefe da Igreja, seu corpo, da qual ele é o Salvador. Ora, assim como a Igreja é submissa a Cristo, assim também o sejam em tudo as mulheres a seus maridos. Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim os maridos devem amar as suas mulheres, como a seu próprio corpo.”

(Epístola de S. Paulo aos Efésios, V, 22-28)

Eis a sublime lição que nos dá a Santa Igreja em cada casamento que celebra: a santa união de Cristo com seu Corpo Místico é o modelo da união entre os esposos, que Nosso Senhor elevou à ordem sacramental.

Nos últimos anos, sob o pontificado de Francisco, cresce a perplexidade de muitos fiéis (e até prelados) ante o escândalo da condescendência papal com o adultério. Mesmo em ambientes distantes e às vezes hostis à Tradição, levantam-se vozes estarrecidas com a oficialização, pelas mãos do Papa, de uma praxe há muito consumada em paróquias mais vanguardistas: a comunhão dos divorciados “recasados”. Espantam-se com razão, porque as palavras de Nosso Senhor não deixam margem à dúvida: “Todo aquele que abandonar sua mulher e casar com outra, comete adultério; e quem se casar com a mulher rejeitada, comete adultério também”[1].

Mas se hoje Roma contemporiza com as relações adúlteras, se da Cátedra de Pedro nos vem uma voz estranha, diferente da do Bom Pastor, a chamar de “misericórdia” a crueldade de confirmar o pecado ao invés de corrigi-lo, é porque meio século atrás um outro adultério ainda mais grave se introduziu no templo católico: um concílio ecumênico deu carta de repúdio à Fé de sempre para se unir às ideologias do mundo moderno, na infidelidade conhecida como aggiornamento. Não é à toa que Monsenhor Lefebvre, o fidelíssimo Atanásio do século XX, definiu a obra do Concílio e suas reformas como uma união adúltera entre os homens da Igreja e os princípios da Revolução[2]. E nosso Gustavo Corção, pouco depois, vislumbrou na novilíngua conciliar, no espírito saído do Vaticano II, os trejeitos e gafes que denunciavam a traição à Esposa com a “Outra”[3]. De fato, não há adultério sem a “outra”. Continuar lendo

SÃO GUIDO E AS NOTAS MUSICAIS

Guido d'ArezzoFonte: Boletim Permanencia

Quando ouvimos uma melodia mal nos damos conta que qualquer música é composta por uma combinação de apenas sete notas: Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá e Si.

Porém, nem sempre foi assim.

São Guido d’Arezzo, monge beneditino italiano, nascido na cidade de Talla, entre 991 e 994, cresceu sob os muros do mosteiro em Pomposa, a Magnífica, na costa adriática, próximo a Ferrara.

Desde de tenra idade, São Guido amadureceu em um ambiente de alta cultura. Rodeado de afrescos bizantinos, vasta biblioteca e membro do coro de canto gregoriano. Depois, mudou-se para a cidade de Arezzo.

Apaixonado por música, o monge percebeu a dificuldade dos estudantes para aprender a complexa notação neumática da escala musical, composta de virga ascendente, tractulus descendente, gravis alto descendente, punctum, podactus, clives e outros elementos.

Já adulto, São Guido dedica-se a teoria. Lê e relê as obras dos grandes melômanos da Antiguidade, até que, em 1026, publicou o Micrologus, onde resumia as notas musicais a apenas sete tons distintos.

São Guido desenvolveu um método para ensinar os cantores em pouco tempo, e rapidamente se tornou famoso em todo o norte da Itália.O seu trabalho é tão completo e primoroso que até hoje, quase mil anos depois, não houve quem modificasse a escala musical.

DESCONSTRUINDO O CONSTRUTIVISMO

Fonte: Boletim Permanencia

A matéria saiu na Gazeta do Povo e está aberta ao acesso de não-assinantes. Na verdade, o texto deveria ser repassado de mão em mão até que todos lessem – alguns, as vítimas do construtivismo, com mais dificuldade do que outros.

Segue abaixo uma edição resumida do texto, mas recomendamos a sua leitura integral e da pesquisa que lhe serviu de fundamento.

Alunos aprendem quando o ensino é sistemático, explícito, em que o estudante não orienta o andamento das aulas, mas segue o professor, que é quem comanda o processo de aprendizagem. Isso é o que aponta uma pesquisa publicada na mais conceituada revista acadêmica de Educação do mundo, a Review of Educational Research, primeira no ranking de impacto do Scimago Journal Ranking, indicador internacional utilizado para medir a qualidade de estudos científicos.

A partir de um levantamento feito com resultados de 328 estudos publicados em 50 anos, entre 1966 e 2016, sobre diferentes métodos para ensinar, focando em 4 mil efeitos, quatro pesquisadores da Universidade de Oregon chegaram à conclusão que a “instrução direta”, que parte do princípio que todos os alunos podem aprender, desde que recebam instruções bem planejadas, tem resultados mais robustos comparados com outros métodos.

Os alunos na instrução direta aprendem mais e com rapidez. Além disso, ao longo do tempo, têm mais autoestima e não perdem o que aprenderam, mesmo se submetidos a um método pior.

Segundo a pesquisa, isso é assim porque, pelas evidências científicas, na instrução direta:

  • os alunos dominam conhecimentos básicos que são pré-requisito para conceitos mais complexos – busca-se que o aluno tenha um repertório mínimo para cada etapa antes de avançar;
  • a instrução é clara, não ambígua;
  • ao invés de ter um conceito defeituoso formado por si mesmo, o aluno aprende diretamente (não precisa ‘reinventar a roda’) – dito em outras palavras, o estudo mostra que é mais fácil aprender algo novo do que corrigir um conceito defeituoso, mal aprendido;
  • o aluno está na série correta de acordo com o que sabe, nem à frente, nem atrasado;
  • o aluno recebe um reforço positivo para celebrar seus avanços e, só depois de aprender o básico, é estimulado a produzir ciência (investigar e desenvolver novos conhecimentos).

A matéria avança no detalhamento da pesquisa e suas conclusões e, como já dissemos, é leitura obrigatória para os pais com filhos em idade escolar.

O VALOR DE UMA ORAÇÃO

O gráfico abaixo pretende ter mapeado a oração mundo afora.

Fonte: Boletim Permanencia

O quadro não é animador. A primeira reação de um católico é observar, com tristeza e ironia, que se reza mais aos demônios do que a Deus. Quantitativamente, ao menos. A favor dos católicos, pode-se argumentar que a oração entre nós é voluntária e privada. Não se trata, portanto, de uma obrigação social que não se pode recusar sob o risco de graves sanções. Compensa-se em qualidade o que se perde em quantidade e histrionismo.

Nesse caso, podemos perguntar: quanto vale uma verdadeira oração ao único Deus verdadeiro, feita em silêncio e recolhimento, às vezes sob o risco da própria vida, como entre chineses, islâmicos ou norte-coreanos?

Sozinhos, na escuridão dos seus quartos, provavelmente sem sequer um terço que os guie ou uma simples velinha acesa – porque é com medo que rezam – são como Jesus no Jardim das Oliveiras. Quanto vale essa oração?

Ou quanto vale a oração dos que enfrentam o escárnio e indiferença de um mundo paganizado ou desafiam a própria Igreja para rezar as orações de sempre: a Missa verdadeiramente católica (que é sacrifício e não banquete), o Rosário com seus três terços (e não quatro), o Pai Nosso que perdoa dívidas (e não ofensas)?

Há uma pequena oração, não mais que umas poucas palavras recitadas em alguns segundos, que Jesus em pessoa transmitiu a Santa Gertrudes e que, se rezada com fé, valeria a cada vez, a liberação antecipada de mil almas do Purgatório.

Eis uma medida bem humana da misericórdia infinita de Deus: umas poucas palavras recitadas com fervor por um relés pecador e mil almas serão resgatadas para a Glória. Eis o quanto vale uma verdadeira oração.

Eterno Pai,
ofereço-Vos o Preciosíssimo Sangue de Vosso Divino Filho Jesus,
em comunhão com todas as Missas rezadas hoje em todo o mundo;
por todas as santas almas do purgatório,
pelos pecadores de todos os lugares,
pelos pecadores de toda a Igreja,
pelos de minha casa e de meus vizinhos.
Amém.

O AMOR DO PAPA À TRADIÇÃO

Fonte: Boletim Permanencia

Mais um pouco e só restará às irmandades Ecclesia Dei virar tribos amazônicas para sobreviver. O Papa Francisco está liquidando com elas. Depois dos Franciscanos e Franciscanos da Imaculada, e das Pequenas Irmãs de Maria do Redentor da Diocese de Laval, Roma decidiu agora exterminar com a Fraternidade Sacerdotal Familia Christi.

Fundada em 4 de junho de 2014 pelo Arcebispo de Ferrara, Dom Luigi Negri, e elevada à condição de sociedade de vida clerical apostólica, em 8 de setembro de 2016, ela foi a primeira comunidade Ecclesia Dei da Itália.

Monsenhor Negri confiou à irmandade a paróquia de Santa Maria de Vado, no centro histórico de Ferrara, igreja construída no final do século XV no local de uma capela do século X, palco de um milagre eucarístico, em 28 de março de 1171.

Mas, logo em seguida, em fevereiro de 2017, o Papa decidiu substituir Monsenhor Negri, sob o pretexto de que chegara aos 75 anos. O intuito era, entre outras coisas, dar início ao processo de demolição da Irmandade Familia Christi, que se tornara o refúgio de muitos noviços dos Franciscanos da Imaculada, e era, naquele momento, o alvo da perseguição romana.

 Em dezembro de 2018, o superior da Fraternidade foi demitido e um comissário foi nomeado para liderar a Fraternidade e decidir o seu futuro: Dom Daniele Liboni, um jesuíta nomeado Bispo Auxiliar de Roma por Francisco em dezembro de 2017.

O comissário começou proibindo a celebração da missa tradicional em público e confinou os irmãos em um monastério isolado. Finalmente, em 30 de junho de 2019, Dom Liboni proferiu seu veredicto: todos os postulantes e noviços serão obrigados a deixar a Fraternidade, que não pode mais receber.

É essa a sorte das congregações que tentam se equilibrar entre um escrupuloso legalismo e a necessária defesa da Tradição, entre a Igreja de sempre e a subserviência a um Concílio que só mal tem feito à Igreja.

A TIBIEZA

Pe. Michel André

“Ninguém pode servir a dois senhores: odiará a um e amará ao outro;
ou se apegará a um e desprezará o outro”. (Mt 6, 24).

A exemplo de alguns Padres da Igreja, pode-se ver em Mamon, o falso deus sobre que fala Nosso Senhor, não apenas o dinheiro, mas também outros apegos terrestres, materiais, que entravam o progresso espiritual.

Quero-vos falar da tibieza, doença da alma muito comum – ela contagia a metade ou bem três quartos dos cristãos que estão em estado de graça; e isso é realmente terrível, já que é preciso crer nas palavras da Escritura: “Deus vomita os mornos de sua boca”, i. é, ele os expulsa para longe de si, e por conseqüência, essas almas estão em grande perigo de cair no inferno eterno, caso não mudem de vida.

Ora, a tibieza, que afeta tanto os clérigos – i. é, os padres e os bispos – quanto os laicos, se encontra em três tipo de pessoas:

  1. Em primeiro lugar, as que saíram duma má vida, em estado de pecado mortal, para retornar a uma vida normal, em estado de  graça. Mas então, satisfeitas consigo mesmas, cessam os esforços e não querem mais se elevar…
  2. Há aquelas que, depois de atingirem uma vida fervorosa, amiúde bem jovens, esfriam para uma vida de tibieza, de mediocridade. Deus vela para que não despenhem para muito baixo! É o caso de inúmeros religiosos, se se levar em conta as palavras da Imitação, e a experiência cotidiana!
  3. Finalmente, há o caso dos cristãos que naturalmente são felizes: eles nunca buscaram se tornar melhores. Deve-se pois sacudir-lhes a indolência, o torpor – eles dormem!; mais das vezes, só de uma coisa precisam: um bom diretor espiritual, que lhes apontará os caminhos da vida perfeita.

Mas em que consiste esta terrível doença espiritual, ignorada por tantos cristãos, e contudo tão difundida? Quais são os sintomas, entre os “bons” cristãos? (Contine a ler)

Pode-se distinguir pelo menos dois: Continuar lendo

AMAZONIS LAETITIA

Quando os bispos professavam a fé católica e os índios brasileiros manisfestavam seus ritos e expressões culturais. Será isso a “conversão ecológica” proposta por Francisco?

Fonte: Boletim Permanencia

O “Instrumentum Laboris”(‘Rancoris’ seria o termo apropriado) do próximo Sínodo Pan-amazônico publicado este mês pelo Vaticano é mais uma prova da apostasia epidêmica do clero oficial.

A propalada preocupação com o ‘povo de Deus’ que habita a selva amazônica, não esconde o desprezo pela fé e doutrina católicas por seus entusiasmados promotores.

Não perderemos tempo aqui demonstrando todos os erros e abusos presentes no documento. Quantos sites não já o fizeram? Não nos iludimos tampouco com a pretensa diferença entre Francisco e os outros papas desde João XXIII. Diferença de grau, não de espécie: modernistas tout court.

Mas queremos sucintamente salientar dois pontos. Tão somente dois.

Primeiro: o ataque frontal ao sacerdócio.

A irreverência com que propõem admitir o que chamam de viri probati ao sacramento da ordem demonstra uma estratégia de muito conhecida dos estudiosos. Trata-se de admitir uma exceção aplicável a um lugar específico, em uma época específica, e, depois, criar, a partir da exceção, uma casuística e uma jurisprudência que a tornem replicável em outras (quando não, em quaisquer) circunstâncias, locais e épocas.

Tal ignomínia é similar à proposta de admissão à comunhão de divorciados ‘recasados’ pela exortação Amoris Laetitia. Nada mais infame. Primeiro quebraram o vínculo matrimonial depois o celibato clerical, tudo em nome de Laetitia – a “alegria”. Há que se perguntar: de quem? Continuar lendo

O DEVER DOS POBRES DE ABORTAR

Nathalie Lieven, a juíza responsável por essa decisão hedionda

Fonte: Boletim Permanencia

A juíza inglesa Nathalie Lieven autorizou, no dia 21 de junho, a realização por médicos do sistema público de um aborto forçado numa moça grávida de 22 semanas, sob o pretexto de que ela é deficiente mental e sofre de transtornos de humor. A autorização foi dada a despeito da discordância da moça e de sua mãe, que se prontificou a assumir a criança. Mãe e filha são nigerianas e católicas.

O episódio, no entanto, gerou uma tamanha onda de protestos – não só entre católicos, mas também em grupos pró-vida – que três outros juízes felizmente derrubaram a decisão na segunda-feira, no dia 24 de junho.

Na sentença, a juíza afirmara estar consciente da “imensa intrusão” que sua decisão significava, mas dizia acreditar que agia “em defesa dos interesses” da moça, cujo nome e idade não foram revelados, mas que teria “pouco mais de 20 anos” e a idade mental de uma criança de nove anos.

O aborto como direito revela sua verdadeira face: quando se trata de pobres ou deficientes, fazem dele um dever.

Na sua loucura, os médicos e a juíza garantiram que o aborto seria “menos traumático” (sic) do que a presumida separação da criança, decorrente da falta de condições materiais da família para criá-la. Segundo a juíza, a avó não teria meios de cuidar satisfatoriamente da filha e do neto, e acabaria tendo de entregá-lo a um orfanato para adoção. A assistente social que acompanhava a família também foi contra o aborto.

Aos poucos, o verdadeiro sentido do aborto institucionalizado vai mostrando o seu verdadeiro sentido: o controle da natalidade dos pobres.

A DISNEY A FAVOR DO ABORTO

Fonte: Boletim Permanencia

A Disney se tornou um império bilionário humanizando animais. Agora, coloca esses animais humanizados a serviço da desumanização dos homens: tornou-se a favor do aborto.

Na pessoa do presidente da companhia, Bob Iger, a Disney ameaçou encerrar suas atividades no estado da Georgia, nos EUA, se a lei estadual antiaborto recentemente aprovada entrar mesmo em vigor em abril do ano que vem. Antes dela, a Netflix já anunciara decisão semelhante.

A Georgia é considerada a Hollywood do Sul, porque oferece incentivos fiscais para a industria cinematográfica filmar em seu território.

No dia 7 de maio, o governador do estado, o republicando Brian Kemp, assinou a lei proibindo qualquer tipo de aborto quando o coração do bebê já puder ser detectado da barriga da mãe.

Vários atores e atrizes já haviam se declarado contra a lei e a favor do aborto, mas Netflix e Disney foram as primeiras empresas a se manifestar publicamente. Por ora, tudo segue no terreno da ameaça e é de supor que os respectivos departamentos financeiros estejam estudando o que será melhor para os negócios: abrir mão dos incentivos ou aderir ao boicote.

O fato é que Disney e Netflix decidiram apoiar os abortistas. Na Georgia? Não, obviamente, não. Nos EUA e no mundo.

O que podem os católicos esperar das próximas levas de filmes produzidos pela gigante do streaming e dos filmes para crianças (para as crianças que sobreviverem, bem entendido) da Disney?

OBS: Remetemos o leitor a outro post deste ano em que tratamos da pauta politicamente correta desta companhia.

OU UMA COISA, OU OUTRA

A coisa é simples: não é possível ser católico e acreditar na tal Unidade Transcendente de todas as religiões. Ponto final.

A Torre de Babel, Pieter Bruegel

Fonte: Boletim Permanencia

Essa ideia, da qual a Torre de Babel é uma alegoria exemplar, é o fundamento do perenialismo, cuja versão cabocla ronda nossas igrejas e capelas. Supõe que todas as religiões – o catolicismo inclusive – têm uma origem comum: seriam como que traduções mais ou menos imperfeitas de uma mesma realidade.

Colocam-se assim no mesmo saco o erro e a verdade, como se fosse indiferente abraçar a Religião revelada por Deus ou algum delírio excogitado pelos homens. Será preciso recordar aqui os rudimentos mesmos do Catecismo?

P: Que nos proíbe o primeiro Mandamento?
R: O primeiro Mandamento proíbe-nos a idolatria, a superstição, o sacrilégio, a heresia, e todo e qualquer outro pecado contra a religião. (Catecismo de S. Pio X)

Não é preciso pensar muito para ver que o perenialismo faz pouco do sangue dos mártires e da constância dos religiosos, tem como inúteis as missões e o apostolado, desdenha do Sacrifício da Cruz.

Não é tudo. Dentro da louca perspectiva deles, o Catolicismo, longe de ser a Verdade Revelada pelo Deus Vivo, seria necessariamente a mais equivocada e estúpida de todas as religiões por sua pretensão à exclusividade, por declarar Extra Ecclesiam nulla salus est (fora da Igreja não há salvação). Jesus, ao dizer “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, só poderia ter se enganado.

P: Somos obrigados a acreditar em todas as verdades que a Igreja ensina?
R: Sim, somos obrigados a acreditar em todas as verdades que a Igreja nos ensina, e Jesus Cristo declarou que quem não crê, já está condenado.

Se a tese da unidade transcende de todas as religiões é vitoriosa, só pode ser no sentido de ter granjeado para si o respeito e a admiração de uma quantidade de mentes débeis, de todo ignorantes da doutrina católica.

O que é pior, no Brasil, essa baboseira exotérica (sim, com “x” mesmo), após as inevitáveis adaptações, produziu um falso catolicismo meio-conservador meio-ecumênico que, como se disse acima, hoje toma de assalto muitas igrejas e capelas, com o beneplácito, diga-se, de alguns sacerdotes.

Como um pouco de catecismo lhes faria bem!

P: Que é a heresia? 
R: A heresia é um erro culpável de inteligência, pelo qual se nega com pertinácia alguma verdade de fé. 

Formam, enfim, no máximo, mais uma seita, cuja característica mais original é ser daquelas a que se pode acrescentar o apodo “dos Últimos Dias”, mas não porque aguardem o apocalipse para breve, mas porque — por não se estribarem na doutrina revelada — suas opiniões e análises mudam ao sabor dos ventos da conveniência, de tal modo que o que foi dito nos “últimos dias” sempre difere do que fora dito nos “últimos dias” anteriores. Aqui, no entanto, não se encontrará unidade transcendente ou imanente para as suas opiniões.

O SEGREDO DO CONFESSIONÁRIO

São João Nepomuceno lançado da ponte Carlos, em Praga.

Fonte: Boletim Permanencia

Entre as muitas perversidades do mundo contemporâneo, vemos renascer o ânimo contra o sigilo do sacramento da confissão. Na Austrália, alguns estados já aprovaram lei obrigando o padre a revelar às autoridades certos crimes que lhe forem confessados. Nos Estados Unidos, um projeto de lei do mesmo teor será avaliado em breve pelo senado na ultra-liberal California, e os padres infratores poderão até mesmo ser presos.

Tudo isso é inaceitável para toda alma verdadeiramente católica. O sigilo da confissão é inviolável por instituição divina. “O sacramento necessariamente exige que o confessor oculte os pecados”, ensinava Santo Tomás, e o direito canônico de 1917 determina: “O sigilo da confissão é inviolável” (Cânone 889).

É esse o ensinamento constante da Igreja, e não são poucos os mártires do sigilo do confessionário. São João Nepomuceno, por exemplo, foi torturado e afogado por ordem de Venceslau IV, rei da Boêmia, por recusar-se a contar-lhe os pecados que a rainha lhe revelara em confissão. Mais próximo de nós, no México, em plena guerra Cristera, houve um sacerdote assassinado por se recusar a dizer aos agentes do governo o que ouvira no confessionário.

Mas o mundo moderno liberal, com seu dogma da soberania popular, “não reconhece nenhum limite que lhe seja exterior, nenhum valor que lhe seja superior, nenhum outro direito que possa resistir-lhe”, estando preparadas as bases para o Estado totalitário. Se os governantes se julgam em condições de desprezar o direito natural — como fazem na questão do aborto — como imaginar que respeitarão as leis da Igreja?

O Liberalismo é nosso inimigo e, sim, a guerra é espiritual.

 

ENTRE MANIFESTAÇÕES E CONSAGRAÇÕES

Fonte: Boletim Permanencia

A semana foi agitada pelo chamado às ruas dos apoiadores de Jair Bolsonaro e pelo anúncio de que o bispo Dom Fernando Rifan levou ao Presidente um texto de Consagração do Brasil ao Imaculado Coração de Maria, o que será feito hoje. Como não é de espantar, muitos católicos se perguntam como deveriam se posicionar em relação a esses dois eventos.

Em relação às ruas, às manifestações, já deixei claro como nos posicionamos, mas é sempre bom lembrar. Os católicos não devem se juntar em manifestações com outros grupos, com outras religiões, com instituições contrárias à fé católica, ou que reduzem as questões aos chamados denominadores comuns, de modo a deixar de lado os princípios católicos que deveriam sempre nortear o pensamento nesses pontos. Isso é um ensinamento constante dos papas anteriores ao Concílio Vaticano II, e aparece de modo muito forte na encíclica Mortalium Animos, de Pio XI, de 1938.

Por outro lado, isso não significa que um pai, vendo que uma manifestação movida por intenções retas acontece perto de sua casa, não possa descer à rua com sua família, de modo privado e discreto. Saibamos agir prudencialmente, e respeitar essa proibição da Igreja com inteligência e bom senso. A vida privada é algo prático, que depende do juízo prudencial de cada um.

Mas que fique claro que isso só pode ser feito de modo privado, o que exclui agrupamentos católicos, combinações de grupos de whatsapp e coisas do gênero.

Em relação à consagração do país a Nossa Senhora, vamos tentar analisar essa questão pensando nas pessoas envolvidas no caso.

Em primeiro lugar, o aparecimento de Dom Fernando Rifan no contexto da política nacional. A figura não nos traz confiança, tendo sido um traidor de sua formação junto a Dom Antônio de Castro Mayer, a quem renegou por um anel de ametista e uma mitra. Os interesses desse bispo passam sempre na frente de suas convicções, e estas vão mudando de acordo com as exigências dos inimigos da Igreja, a quem hoje ele serve. Isso a ponto de exigir de seus padres e seminaristas que aprendam e celebrem a missa nova, tão claramente condenada pelo grande confessor da fé que foi Dom Antônio.

O segundo personagem a entrar em cena é o presidente da República, que não esconde seu envolvimento com a seita protestante. Agora mesmo ele acaba de criar novos vínculos com os hereges. A própria manifestação do dia 26 está virando um evento “evangélico”. Podemos muito bem assistir ao presidente fazendo a consagração, e no dia seguinte, estar num culto protestante, para agradar a sua esposa, ou para conseguir algum proveito político. Eu gostaria muito que o católico Jair Bolsonaro compreendesse o seu papel de chefe de uma nação católica, mas não é o que percebemos em suas ações.

A terceira personagem a entrar em cena é a Virgem Maria. E devemos nos perguntar se Nossa Senhora gostaria de estar metida num movimento ecumênico, ou na duplicidade de seu papel de intercessora junto a seu Filho, para salvar o Brasil do caos. Sim, claro, vamos pedir a ela hoje, e amanhã vamos ser cúmplices dos que renegam a santidade da Mãe de Deus ou a desprezam publicamente.

Em quarto lugar, há a Pátria brasileira, que sofre pela incapacidade do governo Bolsonaro de canalizar as forças ainda sadias do país, permitindo que as brigas intestinas entre aqueles que deveriam se apoiar mutuamente, levem o país ao desastre. É claro que, para o Brasil, uma consagração a Nossa Senhora, ao seu Imaculado Coração, seria de grande importância. Porém, o que aparece nessa análise é que estamos diante de uma consagração mais política do que religiosa. Nesse caso, preferimos que não aconteça, e que esses senhores deixem em paz a Virgem Maria.

Nossas orações, nossas missas, nossos sacrifícios, valem muito mais do que essa farsa que estão montando no Brasil.

DEVERES DOS PAIS PARA COM OS FILHOS

Estimada senhora, na carta anterior eu lhe dizia que há aproximadamente dois séculos o homem mudou a ordem desejada por Deus e, com isso, por sua desobediência, propagou erros e maus costumes em toda a sociedade, nas famílias e na educação dos filhos. Tentarei mostrar essa desordem para ajudá-la em sua vocação de educadora de seu filho – vocação que, sem dúvida, se tornou muito difícil em nossos dias. A senhora percebe que em todas as partes só se fala dos direitos da criança, a tal ponto que se poderia pensar que os pais não têm mais nada a dizer. A criança sabe disso e aproveita a situação para satisfazer seus caprichos e não obedecer mais, sob pena de se rebelar na época da adolescência. Mas será que o ensinaram verdadeiramente a obedecer? Desde pequeno? Em verdade, nesse momento da adolescência, alguns pais se encontram desprovidos de meios e não sabem mais o que fazer.

O QUE NOS ENSINA O CATECISMO SOBRE ISSO?

Em primeiro lugar, os três primeiros mandamentos nos ensinam nossos deveres para com Deus, que é nosso Criador e Senhor de todas as coisas; esses deveres são:

– A adoração que se deve só a Deus, Uno e Trino (honrar o próprio Deus);

– O respeito para com o santo Nome de Deus (honrar o seu santo Nome);

– A santificação do Dia do Senhor (honrar o seu santo Dia).

O nome de Deus está inscrito nesses três mandamentos.

Depois vêm os outros sete mandamentos, que nos ensinam nossos deveres para com o próximo e, portanto, nossas relações com ele. O objeto do quarto mandamento concerne a todos nós e nos dita nossos deveres para com o próximo: nossos pais, nossos superiores, nossos educadores; mas, antes de tudo, nossos pais.

“HONRARÁS TEU PAI E TUA MÃE”

O Livro do Êxodo (cap. 20, v. 12) diz: “Honra teu pai e tua mãe, para que vivas longo tempo na terra que o Senhor, teu Deus, te dá”. Esse mandamento está formulado em alguns catecismos deste modo: “honrarás pai e mãe, para que vivas longo tempo”. Dito de outro modo, quem observa esse mandamento recebe as bênçãos de Deus, inclusive sobre a terra.

Esse mandamento tem como objeto principal os deveres da criança para com seus pais; mas compreende também os deveres dos pais para com seu filho, assim como os deveres recíprocos dos patrões e dos empregados, dos maridos e das esposas.

Gostaria, em primeiro lugar, de falar dos deveres dos pais de família. Isso ajudará a senhora a ter o trato adequado com seu filho, para ajuda-lo, por sua vez, a cumprir bem o quarto mandamento. É bom que a criança saiba que também a senhora tem deveres para com ela. De fato, se a criança está inteirada da obrigação que seus pais têm perante Deus de trata-la da forma que a seguir estudaremos, ela mesma dará mais importância aos conselhos e reprovações dos pais.

Quais são os deveres dos pais para com seus filhos? Voltemos o olhar para a Sagrada Família, mais especialmente no mistério de Jesus encontrado no Templo pela Santíssima Virgem e por São José.

O primeiro dever é alimentá-lo. Por alimento, devemos entender todo o necessário para viver: alimentos, roupas, moradia. Desse modo, o pai de família deve trabalhar para atender às necessidades de sua família. Neste aspecto, cumpre ensinar à criança o dever da gratidão.

O segundo dever é instruí-lo. Há duas instruções: a comum, recebida na escola, e a religiosa, proporcionada com o catecismo. Jesus alude à segunda quando responde à Sua Mãe quando ela o encontra no Templo: “não devo me ocupar das coisas de meu Pai?”.

A primeira instrução oferece à criança algumas “receitas” para a vida presente. Tem verdadeira importância e não se deve descuidar dela, porque ao filho instruído será mais fácil ganhar a vida. Mas a segunda instrução proporciona ao filho os meios para alcançar mais tarde a felicidade eterna. Essa última instrução, portanto, oferece ao filho o máximo bem, e é a mais necessária, já que dela depende sua eternidade, ditosa ou infeliz. Os pais que se descuidam dela são gravemente culpáveis (daí a importância da escolha de uma escola verdadeiramente católica).

O terceiro dever é educá-lo. Quer dizer, corrigi-lo e incentivá-lo, uma vez que a criança tem defeitos – inimigos de sua alma – assim como qualidades e talentos que devemos fazer frutificar. Esse não foi o caso da Santíssima Virgem e de São José, pois eles não tiveram jamais de corrigir o Menino Jesus. Ele só tinha virtudes. Mas Ele e Nossa Senhora foram as únicas crianças desse gênero; assim, o dever de todo pai é ter em conta aqueles dois elementos com vistas à educação da criança. O que diz a Santa Escritura a respeito? “Não poupes nada na correção do filho”. E em outra parte: “Um cavalo sem domar se torna insuportável, e a criança abandonada à sua vontade se torna insolente”.

Essas palavras se aplicam muito bem à criança malcriada. E creio que muitos pais criam mal seu filho descuidando-se desse terceiro dever. Não basta corrigi-lo; é preciso corrigi-lo bem, quer dizer, adequar o castigo à falta. Muito frequentemente tenho visto pais castigarem de maneira inconsiderada; a senhora pode ter certeza de que nesse caso o castigo não produzirá bons frutos, mas más consequências. Normalmente o castigo tem como primeira finalidade a correção e, portanto, deve ser proporcional à falta. Se Deus quiser, falarei mais longamente sobre este ponto em outra carta.

São Pedro Damião dizia: “Aquele que não repreende seus filhos quando roubam ovos, há de vê-los logo roubando cavalos. Quem no começo era só um ladrãozinho se tornará com o tempo um grande ladrão”.

Um provérbio diz: “Quem ama castiga”. Em geral, quando se leva a criança a reconhecer sua falta e a arrepender-se (a meu ver, isso é o mais importante), ela aceitará o castigo, pois as crianças têm um grande senso de justiça (a menos que já tenham sido deformadas nesse aspecto).

O quarto dever é dar bom exemplo. Tal pai, tal filho. Tal mãe, tal filha. A atitude dos pais é o livro com o qual os filhos se instruem. Um provérbio diz, com razão, que se aprende mais com os olhos do que com os ouvidos. O bom exemplo dos pais é o melhor catecismo do filho. Não basta que os pais evitem o mal; é necessário que façam o bem, que rezem a Deus de manhã e de noite, que assistam à Missa no domingo, que recebam regularmente os Sacramentos e que cumpram todos os deveres cristãos.

Uma última observação: pelo amor de Deus que reina na alma de seu filho batizado, agora que se aproximam as férias de verão, não se esqueça, querida senhora, de aproveitar a oportunidade para lhe ensinar o pudor, o respeito ao seu próprio corpo, portador da presença divina em sua alma. Ensine-lhe a vestir-se corretamente, como Jesus se vestiria. E para isso faça com que a própria roupa da senhora não contradiga as suas palavras. A criança tem um espírito lógico. Vê muito bem o exemplo que a senhora lhe oferece. Se a senhora tiver a coragem de dar-lhe o bom exemplo, ela mesma respeitará e porá em prática suas palavras.

Que Nossa Senhora seja sempre sua guia e modelo, especialmente durante as férias em família.

Irmãs da Fraternidade São Pio X

Fonte: Permanencia

O RESPEITO DEVIDO ÀS AUTORIDADES

“A autoridade é a grande aliada da liberdade”

Fonte: Boletim Permanencia

O propósito deste texto é tratar da pergunta seguinte: Qual o dever do católico diante das autoridades civis?

Santo Tomás de Aquino ensinava que “governar é dirigir para o fim devido”, e que os que governam têm de certo modo excelência superior a dos governados (S.T. IIa IIae, q. 102, a. 2). Leão XIII, em Immortale Dei, vai além, e afirma que “A autoridade dos príncipes reveste uma espécie de caráter mais sagrado do que humano”.

Tudo isso parecerá chocante à mentalidade moderna, segundo a qual a liberdade é o bem supremo e a autoridade não passa de um mal necessário — hay gobierno? Soy contra. Essa idéia que nos torna por princípio avessos a todo governo, e faz parecer que a única atitude sensata é a do antagonismo, é diametralmente oposta ao ensinamento da Igreja.

Pe. Jean-Dominique ensina que foi no iluminismo que surgiu a idéia de contrapor liberdade e autoridade, governado e governante. Montesquieu seria o principal responsável por essa reviravolta. Nas suas “Cartas Persas”, narra a história de um povo que um dia resolveu escolher um rei para governar e, para tanto, elegeu o mais virtuoso dos homens. O novo rei, no entanto, protesta que morrerá de desgosto, pois antes o povo era livre, e agora submisso.

Pura bobagem, a autoridade é tudo menos inimiga da liberdade. Ensina Mons. de Ségur que a autoridade é o poder “delegado por Deus a alguns homens para proteger, ajudar e estimular a liberdade dos outros”. Por isso mesmo, conclui, não é menos digna de estima do que a liberdade. Continuar lendo

O CATOLICISMO NÃO É “JUDAICO-CRISTÃO”

Fonte: Boletim Permanencia

Este texto é o resumo de um longo artigo do historiador argentino Rúben Calderón Bouchet (1918-2012).

Tornou-se moda entre os cristãos referir-se à nossa religião com a denominação de judaico-cristã. A Igreja, na medida em que rompeu sua conexão original com a Sinagoga, adaptou seu magistério às exigências da civilização greco-latina e se separou de tudo aquilo que, na tradição israelita, pudesse ter de hebraico. A atitude de Pedro e de Paulo ao tomar Roma como centro do seu apostolado foi, desde o começo, favorável a um entendimento profundo com as expressões mais notáveis da civilização helênico-romana.

Política, arte, ciência, economia e língua vinham agora do mundo gentio greco-latino. De Israel se conservava a Escritura e, com ela, o conteúdo da tradição revelada, mas examinado à luz dos princípios impostos pelo mistério do Verbo Encarnado. O encontro de gregos e cristãos foi decisivo para o futuro de uma assembleia religiosa cuja catolicidade dependia dessa união.

Ninguém pode negar que o povo de Israel, como qualquer outro, teve usos e costumes que dependiam naturalmente de seu temperamento, de suas virtudes, de seus vícios, das vicissitudes da sua história, de sua ignorância e de seus conhecimentos. Separar isso dos conteúdos revelados tem sido a tarefa do Magistério da Igreja.

O Símbolo de Niceia é uma condensação particularmente feliz desse discernimento e prepara, no início do século IV, a formulação de uma Teologia Dogmática que pouco terá que adicionar a seu conteúdo essencial, no transcurso dos séculos. Continuar lendo

A TENTAÇÃO DOS SANTOS

Fonte: Boletim Permanencia

O texto a seguir foi extraído do artigo Padre Pio, Vaticano e Novus Ordo Missae, publicado no último número da Revista Permanência. É consolador (ainda que não seja novidade) ouvir dos santos que também eles padecem de tentações. De tentações proporcionais à sua santidade, seja em duração, seja em intensidade. Nossa comunhão com eles também se manifesta aqui – e sobretudo aqui – nesse terreno tão terrível e movediço.

Parece que Deus espera que os justos expiem de modo especial, por meio da tentação, os pecados públicos dos seus contemporâneos. Num tempo em que a psicanálise, com sua aptidão para oferecer desculpas para o pecado, ganhava terreno, Padre Pio – como Teresinha – teve de passar por uma crise quase intolerável de escrúpulos, que o atormentou por três longos anos. Então, depois da tempestade veio a noite, a noite da alma que perdurou dezenas de anos, com lampejos ocasionais de luz:

Vivo numa noite perpétua… Vejo dificuldades em tudo e não sei se ajo bem ou mal. Vejo que não se trata de escrúpulos: a dúvida que sinto quanto a estar ou não agradando ao Senhor me esmaga. Essa ansiedade me persegue em todos os lugares: no altar, no confessionário, em todo canto!

É com o pensamento nas suas experiências místicas que devemos interpretar suas máximas: “O amor é mais belo na companhia do medo, porque assim se torna mais forte. Quanto mais se ama a Deus, menos medo se sente!”

Santa Teresinha do Menino Jesus opôs o caminho da infância espiritual ao racionalismo orgulhoso de seu tempo, mas também sofreu tentações terríveis contra a fé. Seu brado, “Eu acreditarei!”, é bem conhecido. Padre Pio também padeceu violentas e prolongadas tentações contra a fé, como testemunham suas cartas ao Fr. Agostino:

“Blasfêmias cruzam a minha mente incessantemente, e mais ainda idéias falsas, idéias de infidelidade e descrença. Sinto minha alma transfixada a cada segundo da minha vida, isto me mata… Minha fé só se mantém pelo esforço constante da minha vontade contra todo tipo de sedução humana. Minha fé é fruto dos esforços contínuos que me imponho. E tudo isto, Padre, não é coisa que aconteça uma ou duas vezes ao dia, mas é contínuo… Padre, como é difícil crer!”

Que lição preciosa para nós, caso nos vejamos, por exemplo, surpreendidos em tentações de tão alto grau.

A ATUAL PERSEGUIÇÃO RELIGIOSA NO MUNDO ISLÂMICO

Nota da Permanência:

Siri Lanka, 21 de abril de 2019. Um grupo de muçulmanos se lançou contra três igrejas deixando um saldo de mais de 200 mortos.

Não se tratou de um caso isolado, no entanto, e sim de apenas um capítulo a mais na longuíssima lista dos crimes do islamismo.

Todos se lembram do massacre do Bataclan ou do assassinato do Padre Hamel, na França; ou ainda, dos atentados do Domingo de Ramos de 2017, no Egito, que deixaram 47 mortos, ou dos ataques em Barcelona no mesmo ano, deixando muitos mortos e mais de cem feridos. Os atentados de 11 de setembro permanecem nas memórias de todos.

No entanto, é pouco conhecida a real extensão da perseguição religiosa atual no mundo islâmico. Afeganistão, Iraque, Egito, Nigéria e Paquistão são alguns dos países em que ela se mostra sistemática, geral e sangrenta. É criminosa a omissão da imprensa em noticiar esses fatos.

O mérito do texto que apresentamos em seguida, tirado do artigo Muslim Persecution of Christians, é precisamente o de revelar a extensão dos horrores que ocorrem nas terras de Alah.

Advertimos o leitor, contudo, contra o uso do termo “cristãos” – adotado pelo autor para designar comumente católicos, protestantes e ortodoxos. Se aos olhos dos algozes islâmicos não há diferença entre eles, tal como a água e o azeite, não se misturam a Verdade e o erro.  

Atual perseguição religiosa no mundo islâmico  

Robert Spencer

A imagem popular das Cruzadas apresenta os guerreiros ocidentais aterrorizando os infiéis, convertendo-os à força, expulsando-os de suas terras e impondo-lhes governos cristãos. Muitos acreditam que elas ainda existem e não são meras ruínas da História. Para evitar as acusações de estar seguindo seus “passos negros”, o presidente George W. Bush retirou tal palavra do seu vocabulário, logo que os europeus o repreenderam por referir-se a uma “cruzada americana contra o terrorismo”. De fato, as Cruzadas foram uma tentativa de resgatar as terras cristãs que o Islã conquistou, mas hoje o que se vê é a ocultação do poderio islâmico ressurgente – uma realidade temível – pela doutrina do “politicamente correto”. Não existem cruzadas cristãs em curso, mas apenas uma irresoluta e inconsistente campanha contra o terrorismo; a única ofensiva religiosa atual é a perseguição implacável e brutal de cristãos em territórios islâmicos, como não se via desde os tempos do Império Otomano. 

A partir da fatwa infame de Osama Bin Laden contra “judeus e cruzados” decretada em 1998, os jihadistas declararam guerra ao Ocidente, justificando seus ataques como campanhas de defesa a uma suposta guerra santa cristã. Em janeiro de 2011, o jornalista de esquerda Seymour Hersh repetiu essa teoria no Qatar, e afirmou que o general aposentado Stanley McChrystal, junto com militares que estavam de serviço nas unidades de operações especiais, integrava uma conspiração cujo objetivo era promover uma cruzada contra os muçulmanos: “Eles sabem muito bem o que estão fazendo, essa não é uma atitude incomum entre os militares; sem dúvida, trata-se de uma cruzada. Eles se consideram os defensores dos cristãos e, como no século XIII, protegem-nos dos muçulmanos. É a tarefa deles” 1 Continuar lendo

A VINGANÇA DOS COVARDES

Valle de los caídos, Espanha

Fonte: Boletim Permanencia

No pequeno cemitério do Vimieiro, aldeia do centro de Portugal, uma simples lápide de pedra com uma cruz encima e “AOS 1970” gravado em um dos lados, indica a última morada do homem providencial que governou o país entre 1932 e 1968: António de Oliveira Salazar. A poucos metros dali encontra-se a pequena igreja do seu baptismo e, mais acima, a modesta casa que o viu nascer.

O despojamento da sepultura, a simplicidade do povoado, a humildade do lar natal, contrastam com a dimensão extraordinária alcançada pelo homem e pela obra de restauração nacional que realizou em sua pátria.

Três atributos são – ou deveriam ser – fundamentais em um governante: inteligência, integridade e dedicação. Se não é tarefa fácil identificar uma dessas qualidades em um homem público, mais difícil é encontrar duas, e improvável encontrar as três simultaneamente. Para o bem de Portugal e dos portugueses, a Salazar foi concedida – e amplamente – a graça de possuir aquela tríade de ouro do verdadeiro condutor da Polis. Não apenas inteligência, mas uma inteligência superior; não só integridade, mas uma integridade – pese a redundância – absoluta; não apenas dedicação, mas uma dedicação total da sua pessoa a Portugal.

E nele, essas três características essenciais não estavam “soltas” a flutuar no espaço, mas solidamente ancoradas em um profundo amor a Deus e à pátria. Só então pode entender-se o núcleo do seu pensamento político, no qual a nação é o valor supremo na ordem temporal e o Estado “o ministro de Deus para o bem comum” – conceitos naturalmente incompreensíveis para a mentalidade materialista, hedonista e mundialista dos nossos dias. Continuar lendo