DA AMOROSA PRESENÇA DE CRISTO NO SANTÍSSIMO SACRAMENTO DO ALTAR – PONTO I

Resultado de imagem para santíssimo sacramentoVenite ad me omnes qui laboratis et onerati estis, et ego reficiam vos. – “Vinde a mim todos os que vos achais sobrecarregados e atribulados, que eu vos aliviarei” (Mt 11, 28)

Ao partir deste mundo, depois de ter completado a obra da nossa redenção, o nosso amantíssimo Salvador não quis deixar-nos sós neste vale de lágrimas.

“Nenhuma língua pode exprimir — dizia São Pedro de Alcântara — a grandeza do amor que Jesus tem às almas; por isso, ao deixar esta vida, o divino Esposo, receando que sua ausência fosse ocasião de olvido, deu-lhes como recordação este Sacramento santíssimo, no qual ele mesmo permanece; e não quis que entre ele e nós houvesse outro penhor para manter viva a memória”

Esta preciosa dádiva de Nosso Senhor Jesus Cristo merece todo o amor de nosso coração e por esse motivo dispôs que nestes últimos tempos fosse instituída a festa do seu Sagrado Coração, segundo revelou à sua serva Irmã Margarida Alacoque, a fim de que lhe rendêssemos homenagem por sua presença amorosa sobre o altar, e reparássemos, ao mesmo tempo, os desprezos e as injúrias que neste Sacramento tem recebido e recebe ainda da parte dos hereges e dos maus cristãos.

Permanece Jesus no Santíssimo Sacramento: primeiro, para que todos lhe falemos sem dificuldade; segundo, para conceder-nos audiência; e terceiro, para dispensar-nos suas graças.

Fica presente em tantos altares diferentes para estar no alcance de todos os que o desejam encontrar. Na noite em que o Redentor se despediu de seus discípulos para morrer, estes, cheios de tristeza, choravam, porque deviam separar-se de seu querido Mestre. Jesus, porém, os consolou, dizendo-lhes e a todos nós: Continuar lendo

JESUS NO SANTÍSSIMO SACRAMENTO, NOSSO CONSOLADOR

santVenite ad me omnes, qui laboratis et onerati estis, et ego reficiam vos — “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Matth. 11, 28).

Sumário. Enquanto vivermos sobre a terra, nunca nos faltarão angústias, tribulações e trabalhos; aliás ela não seria para nós um vale de lágrimas. Se, porém, quisermos sentir menos o peso das cruzes, amemos muito a Jesus, e habituemo-nos a recorrer freqüentemente a Ele no seu Santíssimo Sacramento. Imaginemos vê-lo ali coroado de espinhos, coberto de chagas, aflito e chorando a ingratidão dos homens. Unamos as nossas lágrimas com as de Jesus. Oh, quanto é doce chorar com o nosso divino Consolador!

******************************

Quando o nosso Divino Redentor estava na terra, convidava todos a que a Ele recorressem para serem consolados, dizendo-lhes: Vinde todos a mim. E os factos correspondiam às palavras: pois, como diz São Lucas: Jesus andou de lugar em lugar, fazendo bem e sarando a todos os oprimidos do demônio(1) — Ora, no Santíssimo Sacramento do Altar o nosso amabilíssimo Jesus exerce continuamente o mesmo oficio de Consolador das almas. Ali está noite e dia, cheio todo de misericórdia, esperando, chamando e acolhendo todos os que o vêm visitar.

Vendo que são tão poucos os que querem gozar das suas consolações e movido pelo seu amor e pelo desejo de nos fazer bem, chega a queixar-se pela boca do Profeta: Num quid resina non est in Galaad, aut medicus non est ibi? (2) — Não há bálsamo em Galaad, e não se encontra aí medico algum? Galaad é uma montanha da Arábia, rica em ungüentos aromáticos; segundo o venerável Beda, ela é figura de Jesus Cristo, que nos preparou na Eucaristia todos os remédios para as nossas enfermidades. — Porque então, parece nos dizer o Divino Redentor, porque vos queixais das vossas misérias, ó filhos de Adão? Pois, quaisquer que sejam os vossos males, neste Sacramento achareis o médico e os remédios. Oh! Se recorresseis sempre a mim, certamente não serieis miseráveis como sois.

Falem aqui aqueles corações venturosos que fizeram a experiência. Convence-te, dizem eles, de que a alma que se detém, embora pouco recolhida, diante do Santíssimo Sacramento, recebe de Jesus mais consolações do que as que o mundo pode dar com todos os seus festins e divertimentos. Oh, que delícias sentimos, estando com fé perante um altar, e entretendo-nos familiarmente com Jesus, que está ali expressamente para ouvir e atender os que O invocam; pedindo-Lhe perdão das penas que Lhe temos causado; expondo-Lhe as nossas necessidades, como faz o amigo ao amigo; pedindo-Lhe as suas graças, o seu amor, o seu paraíso! E, acima de tudo, que alegria celeste se sente ao fazer atos de amor para com esse amável Senhor que está sobre o altar, inflamado em amor por nós! Mas a que vêm tantas palavras? Gustate et videte, quoniam suavis est Dominus (3) — “Experimentai e vêde como o Senhor é suave”. Continuar lendo

A SANTÍSSIMA EUCARISTIA, NOSSA FORÇA CONTRA NOSSOS INIMIGOS

eucaParasti in conspectu meo mensam adversus eos, qui tribulant me — “Preparaste uma mesa diante de mim, contra aqueles que me angustiavam” (Ps. 22, 5).

Sumário. Meu irmão, se te achas languido no bem, fraco no combate espiritual, põe a culpa sobre ti mesmo, porque não recebes a divina Eucaristia, ou a recebes sem as devidas disposições. Todos os Santos testemunham, e a experiência o confirma, que este divino Sacramento apaga o fogo das paixões, dá força e coragem para vencer o mundo com as suas vaidades, e debela todas as forças dos inimigos infernais. Numa palavra, os demônios, vendo uma alma incorporada no seu divino Chefe pela santa comunhão, ficam atemorizados e sem forças contra ela.

***********************

É com razão que a Santíssima Eucaristia foi simbolizada pelo pão milagroso que o Anjo preparou para Elias; pois, assim como o Profeta se sentiu de tal modo fortalecido, que pôde subtrair-se à fúria de Jesabel e chegar ao monte do Senhor, assim os cristãos fortalecidos por este pão divino terão força para vencer todos os formidáveis inimigos que lhes estorvam o caminho da perfeição.

Diz São Cirilo de Alexandria, e confirma-o Santo Tomás, que, “quando Jesus Cristo está dentro de nós, mitiga o ardor da nossa concupiscência, acalma as inclinações desregradas da carne, e robustece a piedade”. Este Sacramento, qual fonte de água, apaga o fogo das paixões que nos consomem; por isso, quem se sentir abrasado pelo fogo de alguma paixão, aproxime-se da Mesa sagrada e logo a paixão será morta ou amortecida. — Pelo que dizia São Bernardo: “Meus irmãos, se alguém não sente tão freqüente nem tão violentamente os movimentos da ira, da inveja, da incontinência, agradeça-o ao Santíssimo Sacramento, que operou nele tão salutar mudança.”

Mais admirável ainda é a força que este alimento divino nos comunica para vencermos o mundo com as suas vaidades. D´onde credes que tiraram os primeiros cristãos aquela força heróica pela qual arrostavam a perda de todos os bens e mesmo a vida, entre os tormentos mais cruéis? Da recepção freqüente da santíssima Eucaristia: Erant perseverantes in communicatione fractionis panis — “Eles perseveravam na comunhão do partir do pão”. Foi ali também que todos os santos acharam a força para se porem acima de todo o respeito humano. Continuar lendo

EXCELÊNCIA DA SANTÍSSIMA EUCARISTIA

eucaristia

Quid est bonum eius et quid pulchrum eius, nisi frumentum electorum et vinum germinans virgines — “Qual é o bem dele e qual é a sua formosura senão o pão dos escolhidos e o vinho que gera virgens?” (Zach. 9, 17.)

Sumário. O mais digno e excelente entre todos os sacramentos é o Santíssimo Sacramento do Altar, porque os demais sacramentos contém os dons de Deus, mas este contém o próprio Deus. Por isso não há outro meio mais eficaz para conduzir uma alma à perfeição do que a santa comunhão, que a une a Jesus Cristo e a faz uma só coisa com Ele. Dize-me, meu irmão, que é que o Senhor podia fazer mais a fim de se fazer amar de nós? Todavia não somente O temos amado pouco até hoje, mas ainda Lhe temos sido ingratos.

*************************

O mais nobre e excelente entre todos os sacramentos é o Santíssimo Sacramento do Altar. Os demais sacramentos contém os dons de Deus, mas o sacramento da Eucaristia contém o próprio Deus. Afirma o Doutor Angélico, que os outros sacramentos foram instituídos por Jesus Cristo a fim de preparar o homem para a recepção ou administração da Santíssima Eucaristia, a qual, na frase do Santo, é a consumação da vida espiritual, porquanto deste Sacramento deriva toda a perfeição de nossas almas.

Segundo o ensino dos mestres espirituais, toda a perfeição de uma alma consiste na união com Deus; pois bem, não há melhor meio para nos unir mais com Deus, do que a santa comunhão, pela qual a alma se forma uma só coisa com Jesus Cristo, como ele mesmo disse: Qui manducat meam carnem… in me manet, et ego in eo (1) – “O que come a minha carne, fica em mim e eu nele”. É belíssima a comparação que a este respeito faz São Cirilo de Alexandria. Diz ele que na santa comunhão o Senhor se une à nossa alma assim como se unem dois pedaços de cera derretida. — Foi exatamente para este fim que nosso Salvador instituiu o Santíssimo Sacramento em forma de alimento; para nos dar a entender que, assim como o alimento se transforma em nosso sangue, assim este pão celeste se torna uma coisa conosco.  Continuar lendo

O QUE TENHA DE FAZER A ALMA NA PRESENÇA DE JESUS NO SANTÍSSIMO SACRAMENTO

santiDelectare in Domino, et dabit tibi petitiones cordis tui — “Deleita-te no Senhor, e te outorgará as petições do teu coração” (Ps. 36, 4).

Sumário. Estas palavras ensinam-nos como temos de nos haver na presença de Jesus no Santíssimo Sacramento. Diante do tabernáculo, agradeçamos ao Senhor os muitos benefícios que nos fez, especialmente o querer Ele ficar conosco sobre o altar; amemo-Lo com todas as nossas forças e ofereçamo-nos a Ele sem reserva. Afinal supliquemos a Jesus Cristo as graças de que necessitamos, principalmente o aumento do amor e a união à sua vontade divina. Oh! Se nós soubéssemos aproveitar bem da companhia de nosso divino amante, em breve seríamos todos santos.

***************************

A condessa de Feria, feita religiosa de Santa Clara, escolheu uma cela donde se avistava o altar do Santíssimo Sacramento, e aí se demorava quase todo o tempo, de dia e de noite. Perguntada sobre o que fazia durante longas horas na igreja, respondeu: “Ah! Eu ficaria ali durante toda a eternidade. Que é o que se faz diante do Santíssimo Sacramento? Agradece-se, ama-se e pede-se.” — Eis ai, meu irmão, um belo método para aproveitares bem o tempo na presença de Jesus no Santíssimo Sacramento.

Em primeiro lugar, agradece-se. És tão agradecido a um parente que veio de longe para te visitar, e não tens uma palavra de gratidão para Jesus Cristo, que desceu do céu, não só para te visitar, mas para estar sempre contigo? Quando, pois, o visitares, antes de mais nada aviva a tua fé, adora o Esposo de tua alma e rende-Lhe graças pela bondade com que por teu amor fixou a sua morada sobre esse altar.

Em segundo lugar, ama-se. Quando São Filipe Neri na sua doença viu o santo Viático em seu quarto, exclamou todo abrasado em amor: Eis ai o meu amor! Eis ai o meu amor! Assim dize tu também, quando vires a sagrada Custódia; multiplica então os atos de amor que tanto agradam a Jesus, e renunciando a toda vontade própria consagra-te a Ele todo e sem reserva, dizendo: Senhor, fazei com que eu sempre Vos ame, e depois disponde de mim como Vos agradar. Continuar lendo

FELICIDADE DOS RELIGIOSOS EM MORAREM JUNTO COM JESUS NO SANTÍSSIMO SACRAMENTO

img_2740_editedBeati qui habitant in domo tua, Domine; in saecula saeculorum laudabunt te — “Bem-aventurados, Senhor, os que moram em tua casa; pelos séculos te louvarão” (Ps. 83, 5).

Sumário. Se os mundanos estimam tanto serem chamados pelos reis para habitarem nos seus palácios, quanto mais os religiosos devem estimar o habitarem continuamente com o Rei do céu em sua casa? Meu irmão, já estás morando muito tempo com Jesus Cristo debaixo do mesmo teto; mas que fruto tiraste até agora de sua presença?… Procura ao menos aproveitá-la para o futuro, demorando-te o mais possível a seus pés, expandindo ali os teus afetos, as tuas aflições, os teus desejos de amá-Lo de todo o coração e de O contemplar um dia no céu.

************************

I. A Venerável Madre Maria de Jesus, fundadora de um instituto em Tolosa, dizia que por dois grandes motivos estimava a sua felicidade de ser religiosa: o primeiro, porque os religiosos são todos de Deus pelo voto de obediência; segundo, porque os religiosos têm a ventura de habitar sempre com Jesus sacramentado. — E na verdade, se os mundanos estimam tanto serem chamados pelos reis para habitarem nos seus palácios, quanto mais os religiosos devem estimar o habitarem continuamente com o Rei do céu na sua casa?

Nas casas religiosas, Jesus se deixa ficar na igreja expressamente para eles, a fim de que O achem a toda hora. Os seculares podem ir visitá-Lo apenas de dia, e em muitas partes só de manhã; mas o religioso acha-O no sacrário sempre que O procure: de manhã, de dia e de noite. Aí pode entreter-se continuamente com seu Senhor, e aí Jesus se compraz em tratar familiarmente com seus amados servos, que Ele para este fim tirou do Egito, isto é, do mundo, para nesta vida lhes fazer companhia, escondido no Santíssimo Sacramento, e na outra, ser-lhes companheiro, mas então descoberto, no céu. A respeito de qualquer casa religiosa pode-se dizer: “Ó beata solidão, em que Deus fala e trata familiarmente com os seus!” (1)

As almas que amam deveras a Jesus Cristo não sabem desejar na terra outro paraíso mais perfeito do que acharem-se na presença de seu Senhor sacramentado, que aí está por amor de quem O procura e visita. Non habet amaritudinem conversatio illius, nec taedium convictus illius (2) — “A sua conversação não tem nada de desagradável, nem a sua companhia nada de fastidioso”. Acha fastio junto de Jesus quem não O ama; mas uma alma que nesta terra pôs o seu amor só em Jesus, acha no Santíssimo Sacramento todo o seu tesouro, o seu repouso, o seu paraíso. Por isso, só pensa em fazer corte a seu Jesus sacramentado e em visitá-Lo o mais que puder, expandindo ao pé do altar os seus afetos, as suas aflições, os seus desejos de amá-Lo e de vê-Lo um dia face a face no paraíso e entretanto cumprir em tudo a sua vontade. Continuar lendo

JESUS NO SANTÍSSIMO SACRAMENTO, NOSSO BOM PASTOR

santEgo sum pastor bonus — “Eu sou o bom pastor” (Io. 10, 14).

Sumário. O ofício de bom pastor é guiar as suas ovelhas, apascentá-las e defendê-las contra os lobos devoradores. Depois de ter cumprido este tríplice dever durante toda a sua vida terrestre, Jesus continua a cumpri-lo no Santíssimo Sacramento do Altar. Aí Ele nos guia pelos exemplos, defende-nos contra os inimigos espirituais, e alimenta-nos com o seu corpo imaculado. Se quisermos progredir na vida espiritual, nunca percamos de vista o nosso amante Pastor, visitemo-Lo freqüentemente, e lembremo-nos que, se ficarmos perto d’Ele, receberemos os seus mais especiais favores.

***************************

I. O ofício do bom pastor é guiar as suas ovelhas, apascentá-las e defendê-las contra os lobos devoradores. Depois de ter cumprido este tríplice dever durante toda a sua vida terrestre, Jesus Cristo continua a cumpri-lo ainda no Santíssimo Sacramento do Altar. — Em primeiro lugar, lá, de dentro do tabernáculo, Ele nos guia pelos seus exemplos de humildade profunda e de paciência perfeita no meio dos muitos ultrajes que recebe; de grande resignação e de obediência pronta a cada aceno dos sacerdotes; e sobretudo de ardente caridade e zelo extremo pela glória de Deus e salvação das almas.

Jesus não só nos guia, mas nos defende também contra os lobos, isto é, contra os três inimigos formidáveis de nossa salvação eterna, subministrando-nos armas poderosas, para sustentarmos o combate contra as tentações malignas do demônio, contra as máximas perversas do mundo e contra os apetites desregrados da carne corrompida. — Muitas vezes apaga até o ardor das paixões que nos consomem. Pelo que dizia São Bernardo: “Se alguém dentre vós não experimenta mais tão freqüentes nem tão violentos movimentos de ira, de inveja, de luxúria, agradeça-o ao Santíssimo Sacramento, que produziu efeito tão salutar.”

Finalmente, na santíssima Eucaristia Jesus Cristo nos apascenta com o seu corpo imaculado. “Qual o pastor”, pergunta São Crisóstomo, “que apascenta suas ovelhas com seu próprio sangue? As próprias mães dão muitas vezes seus filhos a amas que os nutram. Mas Jesus no Santíssimo Sacramento alimenta-nos com o seu próprio sangue e nos une a si”. — “Ó céus!” exclama o Santo, “nós nos unimos a Jesus e nos tornamos um só corpo e uma só carne com esse Senhor no qual os anjos não se atrevem a fitar os olhos: Huic nos unimur, et facti sumus unum corpus et una caro.” Oh, que Pastor verdadeiramente admirável é Jesus na Santíssima Eucaristia! Continuar lendo

JESUS NO SANTÍSSIMO SACRAMENTO, MODELO DE VIRTUDE

santQui appropinquant pedibus eius, accipient de doctrina illius — “Os que chegam a seus pés, receberão da sua doutrina” (Deut. 33, 3).

Sumário. Para a nossa salvação, é mister que no dia do juízo a nossa vida se ache conforme à de Jesus Cristo. Esforcemo-nos, pois, por imitar os exemplos luminosos de virtude que Ele nos dá continuamente no Santíssimo Sacramento da Eucaristia: a sua humildade profunda, a sua mansidão inalterável, aceitando de boa vontade o que Deus manda. Para suprirmos ao que nos falta, ofereçamos a Deus muitas vezes, e particularmente na missa, os merecimentos do divino Redentor.

************************

I. Consideremos os belos exemplos de virtude que nos dá Jesus Cristo na Santíssima Eucaristia. Inefável é a suapaciência. Ele vê que a maior parte dos homens não O adora neste sacramento, nem O quer reconhecer pelo que é. Já antes da instituição sabia que muitas vezes os homens chegariam a calcar aos pés as hóstias consagradas e a atirá-las sobre a terra, à água e ao fogo.

Mas o que mais Lhe amargura o coração tão sensível, é o ver que também a maior parte dos que n’Ele crêem, em vez de repararem tantos ultrajes pelos seus obséquios, ou vão à Igreja para o ofenderem pela sua irreverência, ou o deixam abandonado sobre os altares, desprovidos às vezes de lâmpada e dos ornamentos necessários. Tudo isso Jesus, escondido sob as espécies eucarísticas, o vê e sabe, e todavia sofre-o com paciência e fica calado. Oh, que exprobração de nossa loquacidade nos momentos de ira!

É igual à humildade de Jesus, pois que em nenhuma obra de seu divino amor se ocultou tanto como no mistério do Santíssimo Sacramento. Para nos inspirar confiança, e ao mesmo tempo, para nos dar um remédio de nosso orgulho, chegou a ocultar a sua Majestade, a esconder as suas grandezas, a consumir e aniquilar a sua vida divina. Pode, portanto, com razão dizer-nos de dentro do tabernáculo: Discite a me, quia mitis sum et humilis corde (1) — “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração”. Continuar lendo

JESUS NO SANTÍSSIMO SACRAMENTO DÁ AUDIÊNCIA A TODOS E A QUALQUER HORA

viewAd vocem clamoris tui, statim ut audierit, respondebit tibi — “Logo que ouvir a voz do teu clamor, te responderá” (Is 30, 19).

Sumário. Os reis da terra não dão sempre audiência e muitas vezes acontece que o que lhes deseja falar é despedido pelos guardas a pretexto de que não é tempo de audiência e deve vir mais tarde. Jesus, porém, no Santíssimo Sacramento, não faz assim; dá audiência a todos e a toda hora. É por isso que as igrejas estão sempre abertas. Porque então é que nós, que temos a sorte feliz de morar no palácio do Senhor, não aproveitamos melhor a sua condescendência para lhe expor as nossas necessidade e pedir graças?

****************************

Falando do nascimento do Redentor no presépio de Belém, São Pedro Crisólogo diz que os reis da terra não dão sempre audiência, e que, quando alguém lhes deseja falar, muitas vezes acontece que os guardas o despedem a pretexto de que não é tempo de audiência e deve vir mais tarde. O divino Redentor, pelo contrário, quis nascer numa gruta aberta, sem portas nem guardas, para dar audiência a todo o mundo e a toda a hora: Non est satelles qui dicat: Non est hora — “Não  há guarda para dizer que não é a hora”. Isto mesmo faz Jesus no Santíssimo Sacramento. As Igrejas estão continuamente abertas; cada um pode, quando lhe aprouver, ir entreter-se com o Rei do céu.

E lá, Jesus quer que lhe falemos com toda a confiança: por esta razão é que ele se conserva sob as espécies de pão. Se o Senhor aparecesse sobre os altares num trono de luz, como aparecerá no juízo final, quem se atreveria a se aproximar d’Ele? Mas, reflete Santa Teresa, como Ele deseja que lhe falemos e peçamos suas graças cheios de confiança e sem temor, velou sua majestade sob as espécies de pão. Ele deseja, diz também Tomás de Kempis, que falemos a Ele como um amigo fala a seu amigo. Por isso, acrescenta o cardeal Hugo, nos sagrados Cânticos Jesus se chama a si próprio flor dos campos e açucena dos vales: Ego flos campi et lilium convallium (1). As flores dos jardins são encerradas e reservadas; mas as flores dos campos estão à disposição de todos.

Qual não seria a tua alegria, meu irmão, se o rei te chamasse ao seu gabinete e te falasse: Dize-me, que desejas? De que precisas? Amo-te e desejo fazer-te bem. Pois é isto o que Jesus Cristo, o Rei do céu, diz a qualquer que O visita: Venite ad me omnes qui laboratis et onerati estis, et ego reficiam vos (2) — “Vinde a mim, vós todos que sois pobres, enfermos, aflitos: eu posso e quero enriquecer-vos, curar-vos e consolar-vos; é para isto que me conservo sobre os altares”. Continuar lendo

OS ADORADORES DE JESUS SACRAMENTADO

SacramentoGustate et videte, quoniam suavis est Dominus – “Provai e vede quão suave é o Senhor”(Ps. 33, 9).

Sumário. Entre todas as devoções, a devoção de Jesus sacramentado é, sem dúvida, depois da recepção dos sacramentos, a primeira, a mais agradável a Deus e a mais proveitosa para nós. Por isso é que todos os santos ardiam de amor a esta dulcíssima devoção. Não te pese, pois, meu irmão, abraçá-la também, e abreviando tuas conversações com os homens, vai freqüentemente entreter-te com Jesus e comunicar-lhe as tuas necessidades. Ganharás talvez mais, num quarto de hora de oração diante do Santíssimo Sacramento, que em todos os mais exercícios devotos do dia.

**************************

A fé ensina, e nós somos obrigados a crer, que na Hóstia consagrada está realmente Jesus Cristo, sob as espécies de pão. Mas devemos ao mesmo tempo estar persuadidos que Ele reside em nossos altares, como sobre um trono de amor e misericórdia, para dispensar as suas graças e mostrar-nos o amor que nos consagra. Quanto são, portanto, agradáveis ao Coração de Jesus os que o visitam freqüentemente e se comprazem em fazer-Lhe companhia nas igrejas! Jesus Cristo ordenou a Santa Maria Madalena de Pazzi que o visitasse trinta e três vezes por dia. E esta esposa tão amada obedecia-Lhe fielmente, aproximando-se do altar o mais que podia.

Deixemos falar as almas devotas, que vão freqüentes vezes entreter-se como o diviníssimo Sacramento e digam-nos os favores, as luzes, as chamas de amor que ali recebem e o paraíso de que gozam em presença do Deus eucarístico. O servo de Deus, Padre Luiz la Nuza, famoso missionário, desde jovem e secular, amava tão ardentemente Jesus Cristo, que parecia não poder afastar-se da presença de seu amado Senhor. Sentia ali tantos encantos que, tendo-lhe seu diretor proibido que ali passasse mais de uma hora, a violência que se devia fazer para obedecer e desprender-se de Jesus Cristo era tal, que parecia uma criança arrancada ao seio materno. Continuar lendo

A SANTÍSSIMA EUCARISTIA É UMA FORNALHA DE AMOR

comunIntroduxit me rex in cellam vinariam, ordinavit in me caritatem – “O rei me introduziu na sua adega, ordenou em mim a caridade” (Cant. 2, 4).

Sumário. É com razão que os santos sempre consideraram os santos altares como outros tantos tronos de amor, onde Jesus Cristo inflama e abrasa em santo amor as suas almas prediletas. Como será então possível que a alma, que se prepara com as devidas disposições para receber dentro de si esta fornalha de amor, não fique toda abrasada e ardente? Não tenhamos a insensatez de nos afastarmos do fogo, porque nos sentimos com frio; ao contrário, quanto mais frio sentirmos, com tanto mais frequência nos devemos chegar ao Santíssimo Sacramento, se ao menos desejamos amar a Deus.

***********************

Ainda que a santíssima Eucaristia seja a fonte de todas as virtudes, tem todavia eficácia particular para nos abrasar no amor de Deus, que é o ápice da santidade e da perfeição. São Vicente Ferrer diz que a alma tira mais fruto de uma só comunhão, que de uma semana de jejum a pão e água. E Santa Maria Magdalena de Pazzi acrescenta que uma só comunhão bem feita basta para fazer um santo.

O rei me introduziu em sua adega, ordenou em mim a caridade. Segundo São Gregório de Nyssa, é a comunhão aquela adega misteriosa onde a alma de tal modo se embriaga do amor divino, que esquece a terra e todas as coisas criadas; é esta propriamente a languidez produzida pelo santo amor. O Padre Francisco Olympio dizia que nenhuma coisa é capaz de nos inflamar no amor divino como a santa comunhão.

Nem pode ser de outra forma; pois que o Verbo Eterno, que é o próprio amor, assegura que, vindo à terra, não teve outro intuito senão o de acender o fogo do amor: Ignem veni mittere in terram (1). Como será, pois, possível que a alma que se prepara com as devidas disposições para receber dentro de si este fogo de amor, não fique toda abrasada e consumida? – Eis porque os santos sempre consideraram os altares sagrados como outros tantos tronos de amor, onde Jesus Cristo abrasa e inflama as suas almas diletas. Continuar lendo

DA ORAÇÃO FEITA DIANTE DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO

santIn conspectu angelorum psallam tibi, adorabo ad templum sanctum tuum – “À vista dos anjos te cantarei salmos; eu te adorarei no teu santo templo” (Ps. 137, 2).

Sumário. Depois da oração feita na comunhão, a que se faz na presença de Jesus sacramentado é a mais agradável a Deus e a mais proveitosa para nós. Sim, porque o Senhor está ali presente exatamente para consolar a todos que o vêm visitar e expor-lhe as suas necessidades, e, portanto, dispensa as suas graças com mais abundância. Procuremos, pois, visitar freqüentemente o Santíssimo Sacramento e fazer na sua presença as orações que temos por hábito fazer durante o dia.

***********************************

Depois da oração feita na santa comunhão, a que se faz na presença de Jesus Cristo no Sacramento do Altar é a mais agradável a Deus e a mais proveitosa para nós. Sim, pois que o Senhor, embora esteja em toda a parte, pronto a atender ao que reza, todavia no Santíssimo Sacramento dispensa as graças com mais abundância; porque se deixa ficar de dia e de noite em nossas igrejas exatamente para consolar a todos os que o vêm visitar e recomendar-Lhe suas necessidades.

É certo que, se em toda a terra houvesse só uma igreja como residência de Jesus Cristo sobre o altar, ela estaria continuamente repleta de fiéis, ocupados em venerar nosso Salvador que se digna ficar incessantemente conosco sob as espécies de pão. Mas porque Ele quis estar presente em tantas igrejas afim de se fazer achar pelos que O amam, eis que em muitas igrejas Ele fica só durante a maior parte do dia.

Mas, se os seculares não cuidam em visitar a Jesus sacramentado e o deixam só, ao menos os eclesiásticos e os religiosos, que formam a parte escolhida da corte de Jesus, deviam visitá-Lo constantemente. Nos palácios dos príncipes nunca falta quem os procure, especialmente os que moram no próprio palácio. Tais são os religiosos em seus mosteiros; eles têm a honra de morar no palácio que o Rei do céu se elegeu na terra, e, portanto na frase do Padre Balthazar Alvarez, podem visitá-Lo sempre quando quiserem, de dia e de noite. É isso também o que arrancava lágrimas ao grande servo de Deus: ver os palácios dos grandes cheios de gente, e as igrejas, onde reside Jesus Cristo, ermas e abandonadas. Continuar lendo

SANTO AFONSO, MODELO DE DEVOÇÃO A JESUS SACRAMENTADO

afoUbi thesaurus vester est, ibi et cor vestrum erit – “Onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Luc. 12, 34).

Sumário. Foi desde criança que o Santo Doutor começou a praticar a devoção a Jesus sacramentado, visitando-o todos os dias: com o crescer dos anos cresceu também a sua devoção, de forma que a sua vida foi como que uma estada contínua na presença da santíssima Eucaristia. Procuremos imitar Santo Afonso: em toda necessidade, em toda a tentação, em todo o negócio mais importante recorramos sempre ao Santíssimo Sacramento para auxílio e conselho. Estejamos convencidos de que esta devoção é a mais agradável a Deus e a mais proveitosa para nós.

**************************

“É incontestável que, entre todas as devoções, a que nos faz adorar Jesus no Santíssimo Sacramento, é, depois da frequência dos sacramentos, a primeira, a mais agradável a Deus e a mais proveitosa para nós.” (1) Esta bela verdade, enunciada pelo nosso Santo, foi por ele posta em prática desde a sua mais tenra idade, e nunca mais deixou de a praticar, nem mesmo entre os multíplices afazeres do foro.

Feito em seguida sacerdote, missionário e bispo, reconhecia que era a sua devoção a Jesus sacramentado que devia a graça de ter deixado o mundo, e tendo por outro lado mais comodidade para dar expansão à sua devoção, tomou esta tão grande incremento, que a sua vida se tornou como que uma estada contínua na presença da santíssima Eucaristia. Isso, não somente para desafogar com Jesus Cristo o seu amor; mas também para o consultar em suas dúvidas, buscar junto d’Ele força para seus trabalhos, e pedir-Lhe luzes na direção das almas. – Se o santo Doutor trabalhou com tanto fruto no tribunal da penitência, se as suas pregações foram tão eficazes, se os seus escritos abundam de uma unção celeste, a causa principal é esta: Antes de entrar no confessionário, ou subir ao púlpito ou pôr-se a escrever, Afonso ia sempre inspirar-se orando horas a fio diante do sagrado tabernáculo.

Aplicava-se a celebrar a santa Missa com o máximo fervor e procurava assisti-la as mais vezes possível. Escreveu tantas e tão belas meditações sobre o Santíssimo Sacramento; diversos métodos de preparação para o divino sacrifício ou a santa comunhão e de ações de graças. Escreveu em particular o livrinho das Visitas, no qual cada palavra é uma seta de amor que ele lança a Jesus sacramentado, seu Bem. Continuar lendo

JESUS NO SANTÍSSIMO SACRAMENTO FAZ AS DELÍCIAS DAS ALMAS DESPRENDIDAS

santUbicumque fuerit corpus, illuc congregabuntur et aquilae — “Por toda a parte onde se achar o corpo, aí se reunirão as águias” (Luc. 17, 37)

Sumário. As almas desapegadas são aquelas águias magnânimas que se elevam acima de todas as coisas criadas e têm pelo afeto sua morada continua no céu. Ainda na terra elas acham o seu paraíso na presença de Jesus sacramentado e nunca se fartam de visitá-Lo e fazer-Lhe companhia. Se nós também quisermos achar nossas delícias no divino Sacramento, desapeguemos nosso coração de nós mesmos e de todos os bens terrestres; e quando cometermos alguma falta, refugiemo-nos logo em nosso divino Salvador, afim de que nos purifique.

***********************

Por este corpo os Santos entendem comumente o de Jesus Cristo, e pelas águias entendem as almas desapegadas, que se elevam, como estas aves, acima das coisas da terra e voam para o céu, para onde tendem sem cessar por seus pensamentos e afetos e onde têm a sua morada continua. Estas águias ainda na terra acham seu paraíso, onde quer que achem a Jesus sacramentado e parece que nunca se podem fartar de o visitarem e de ficarem na sua presença. — Se as águias, diz São Jerônimo, percebendo o cheiro de alguma presa logo se lançam para a tomar, com quanto maior ardor devemos nós correr e voar para Jesus no Santíssimo Sacramento, como para o mais precioso alimento dos nossos corações?

Os Santos, neste vale de lágrimas, correram sempre com avidez, como cervos sequiosos, para esta fonte celeste. A grande serva de Deus, Maria Diaz, que viveu no tempo de Santa Teresa, obteve do bispo de Ávila licença para morar numa tribuna da igreja, onde ficava continuamente na presença de Jesus sacramentado, a quem chamava seu vizinho. O venerável frei Francisco do Menino Jesus, carmelita descalço, passando diante das igrejas onde estava o Santíssimo Sacramento, não podia deixar de entrar nelas para o visitar, dizendo que não convém a um amigo passar diante da casa de seu amigo sem entrar ao menos para saudá-lo e dizer-lhe uma palavra.

Finalmente, o Padre Alvarez, qualquer que fosse a sua ocupação, dirigia muitas vezes os olhos para o lado onde sabia que repousava o Santíssimo Sacramento; freqüentemente o visitava e passava algumas vezes noites inteiras na sua presença. Derramava lágrimas vendo os palácios dos grandes cheios de gente, para fazerem corte a um homem, de quem esperam algum mísero bem; e tão abandonadas as igrejas, onde reside no meio de nós, como num trono de amor, o soberano Senhor do céu, rico de bens infinitos e eternos. Dizia que são muito felizes os religiosos que na sua própria casa podem visitar, quantas vezes querem, de noite e de dia, este augusto Senhor no Santíssimo Sacramento; o que não é dado às pessoas do século. Continuar lendo

JESUS NO SANTÍSSIMO SACRAMENTO É PRISIONEIRO DE AMOR

santDescendit cum illo in foveam, et in vinculis non dereliquit eum – “Desceu (Deus) com ele ao fosso, e não o deixou nas cadeias” (Sap. 10, 13).

Sumário. Considera que Jesus está noite e dia sobre os altares como em outras tantas prisões de amor. Bastava que ali ficasse só de dia; porém Ele quis ficar também durante a noite, afim de que de manhã o possa achar quem o venha buscar. Só esta fineza devia excitar todos os homens a ficar sempre na presença de Jesus sacramentado; mas é o contrário que se dá. Nós ao menos procuremos dar-Lhe alguma compensação, multiplicando o mais possível nossas visitas, e ao sairmos da Igreja, deixemos nossos corações com todos os seus afetos ao pé do altar, ou encerrados dentro do santo Tabernáculo.

**********************

Nosso amantíssimo Pastor, que deu a vida por nós, suas ovelhas, não quis pela morte separar-se de nós. Eis-me aqui, diz Ele, eis-me aqui, sempre no meio de vós, minhas queridas ovelhas. Por vós me deixei ficar sobre a terra neste Sacramento; aqui me achareis sempre que quiserdes, para vos ajudar e consolar com a minha presença; não vos deixarei até o fim dos séculos, enquanto estiverdes sobre a terra.

Eis, pois, que Jesus Cristo está sobre os altares como em outras tantas prisões de amor. Os sacerdotes tiram-No do Tabernáculo para O exporem, ou para O darem na santa comunhão, e depois tornam a encerra-Lo. E Jesus de boa vontade aí fica dia e noite. – Mas, meu Redentor, para que ficar em tantas igrejas também durante a noite, quando se fecham as portas e os homens Vos deixam só? Bastava que ficásseis somente de dia. Não; Jesus quer ficar também de noite, embora sozinho, afim de que de manhã o possa achar logo quem O queira procurar.

A sagrada Esposa andava procurando a seu Amado e perguntava a todos que encontrava: Não vistes porventura àquele que meu coração ama? (1) E, não o achando, prorrompia em lamentos, dizendo: Meu esposo, fazei-me saber, onde estais. Então a Esposa não o achava, porque ainda não havia o Santíssimo Sacramento; mas agora se uma alma deseja achar Jesus Cristo, basta que vá a uma igreja ou a qualquer mosteiro, e ali achará seu amado, que está à espera dela. Continuar lendo

JESUS NO SANTÍSSIMO SACRAMENTO, MODELO DE OBEDIÊNCIA

SantHumiliavit semetipsum, factus oboediens usque ad mortem – “(Jesus) se humilhou, feito obediente até à morte” (Phil. 2, 8).

Sumário. São Paulo louva a obediência de Jesus Cristo, dizendo que obedeceu ao Pai Eterno até à morte. Mas no Santíssimo Sacramento vai mais longe, visto que quis fazer-se obediente até o fim do mundo e não somente ao Pai Eterno, senão a todos os sacerdotes da terra. Qualquer que seja o nosso estado, esforcemo-nos por imitar a obediência de Jesus, depositando em suas mãos a nossa vontade e pedindo-Lhe que disponha de nós conforme for do seu agrado. Animemo-nos à prática de tão bela virtude pela lembrança de que nunca uma pessoa obediente se condenou.

*************************

Para uma alma que se aplica à perfeição, não há coisa tão prejudicial como o reger-se pela própria vontade. Diz São Bernardo que o que se arvora em mestre de si mesmo, fazendo o que lhe dita o amor próprio, se faz discípulo de um doido. – Ao contrário, o Espírito Santo diz que o sacrifício da própria vontade em seguir a obediência, é o sacrifício mais agradável a Deus; pelo que é este o meio mais apropriado para nos elevar em breve tempo à mais alta perfeição: Melior est oboedientia quam victimae(1) – “Melhor é a obediência do que vítimas”.

Eis porque Jesus Cristo, que pelo Pai divino nos foi dado por mestre e modelo de todas as virtudes, tomou tanto a peito o ensinar-nos a virtude de obediência, protestando que veio de propósito para sacrificar a Deus a vontade própria: Descendi de coelo, non ut faciam voluntatem meam, sed voluntatem eius, qui misit me (2) – “Desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou”. Com efeito, como diz São Paulo, Jesus “se fez obediente até à morte, e até à morte de cruz”. – Não contente, porém, em nos ter dado em toda a sua vida tão belos exemplos, quer ainda continuar depois da morte a no-los dar no Santíssimo Sacramento, no qual quer obedecer não somente a seu Eterno Pai, mas também ao homem, e isto não mais até à morte, mas até o fim do mundo.

Ó prodígio! O Rei do céu desce do céu por obediência ao homem; e parece em seguida ficar sobre os altares só para obedecer aos homens. Ali fica sem movimento próprio: deixa-se ficar onde o colocam, seja que o exponham no ostensório, seja que o encerrem no cibório: deixa-se levar para onde querem leva-Lo, pelas ruas, pelas casas: deixa-se dar na comunhão a todos os que o querem, justos ou pecadores. Quando ele vivia na terra, como diz São Lucas (3), obedecia a Maria Santíssima e a São José; mas neste Sacramento obedece a tantas criaturas, quantos sacerdotes há no mundo: Ego autem non contradico (4) – “Quanto a mim, não resisto”. Continuar lendo

PREPARAÇÃO PARA A ORAÇÃO MENTAL – MEDITAÇÃO XII: DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO

Resultado de imagem para santíssimo sacramento fsspxVamos conversar com Deus sobre o importantíssimo negocio da salvação das nossas almas; porem, para que os nossos infernais inimigos não nos embaracem, armemo-nos primeiro com o sinal da Cruz, dizendo com vivíssima fé: Pelo sinal da Santa Cruz, etc…

Feito o sinal da Cruz, digamos:

Espíritos tentadores e demônios malditos apartem-vos de mim e deste lugar para as profundezas do inferno, e não me estorveis nesta oração, dirigida para a honra e glória de Deus, e salvação da minha alma.

Façamos atos da presença de Deus.

Eu creio meu Deus e Senhor, firmemente, que vós estais aqui presente, dentro de mim, penetrando no meu interior, presenciando ainda os mais ocultos pensamentos do meu coração, sem que eu me possa esconder aos vossos puríssimos olhos; porém (prostrem-se) prostrado por terra com o corpo e com a alma, unido ao mesmo pó, me humilho na vossa divina presença desejo adorar-vos como adora a Maria Santíssima, os anjos e os santos do céu e os justos da terra: – Porem, ai de mim, oh meu Deus! Eu pequei, Senhor, perdoe-me, que eu proponho de me emendar e de não tornar mais a pecar. (levantem-se da prostração)

Ato de petição

Pai Eterno pelo sangue de Jesus Cristo e pelas dores de Maria Santíssima conceda-me as luzes, auxílio e graças para fazer bem e com fruto essa meditação. (Rezar um Pai Nosso e Uma Ave Maria)

Leiam-se agora os pontos da meditação, um de cada vez; e quando se encontrarem esses pontinhos (…) deve-se parar por algum tempo, a fim de se ponderar bem o sentido do que se tiver lido; e depois de cada ponto se ficará em silencio, meditando, pelo menos, dez minutos, de maneira que a meditação dos três pontos perfaça, pelo menos, meia hora; e ultimamente se darão graças ao Senhor.

Breve método da oração

MEDITAÇÃO XII: DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO

Ponto 1 – Considera que, conhecendo o Redentor do mundo, que estava chegada a hora de voltar para seu Eterno Pai, não lhe sofrendo o seu animo deixar-nos sós neste vale de lagrimas, pôde descobri um modo de ficar para sempre no meio de nós.. Tão extremoso foi o seu amor para conosco, que nessa mesma noite em que havia de ser traído por um de seus discípulo, e entregue a cruéis verdugos para o arrastarem até ao Calvário, foi que Ele instituiu este Sacramento! Manda assentar os seus discípulos, e lhes diz:. Eu vou ser presa dos meus inimigos, que farão em mim o mais horroroso estrago; porém o que me dá maior cuidado é que tenho de deixar este mundo; mas nunca me apartarei de vós. Já que é necessário que eu padeça, eu vou morrer; porém não vos apaixoneis, pois que a minha morte há de ser a vossa vida. Tomai, comei e bebei daqui todos que neste sacramento vos deixo tudo quanto podia deixar : o meu Corpo, o meu Sangue, minha Alma, a minha Divindade e a mim todo: aquele que se ai manter deste divino manjar, viverá eternamente. Eis aqui o meio que o meu amor pôde descobrir para ficar sempre convosco. … Ó alma, agradece ao amantíssimo Jesus um tão grande amor, e suspira incessantemente pela sua misericórdia.

PONTO 2°.- Considera que Jesus Cristo está no Santíssimo Sacramento de noite e de dia á espera das almas, para lhes dar audiência para ouvir as suas petições, acudir ás suas necessidades e conceder-lhes todas as graças: está esperando pelos que vêm visita-lo no Sacramento para enriquecê-los de bênçãos. Ele quer ser tratado como Amigo, como Pai e como Esposo, com amor e confiança: e para isso é que está sempre junto de nós, para prontamente nos ouvir, santificar e consolar. Oh! Ditosa sorte a nossa! Podermos a toda hora falar com o nosso Deus, que, com corpo, alma e divindade, como está no céu, habita em nossos sacrários, pronto para nos escutar á toda hora do dia ou da noite que o quisermos procurar, escutando ali as nossas súplicas dando pronto remédio a nossos males, perdoando nossos pecados, acendendo em nossos corações aquele fogo celestial, que inflama no santo amor. Ah ! quantos pecadores se tem convertido por meio das visitas ao Santíssimo Sacramento! Quantos justos tem crescido em virtudes e feito progressos na perfeição! Foi esta a principal devoção do glorioso Afonso Maria de Ligorio, e que ele tanto promoveu com suas palavras, escritos, e exemplos, gastando todos os dias horas inteiras neste santo exercício. Segue tu, ó pecador, o exemplo deste e de todos os outros santos, que com tanta frequência chegavam aquela fornalha do divino amor; mostra a Jesus sacramentado as chagas da tua alma, chora, suspira e clama pela sua infinita misericórdia.

PONTO 3°.– Considera, que não se contentou o nosso Redentor só com ficar no meio de nós no Santíssimo Sacramento, quis também dar-nos a comer seu precioso corpo, sangue, alma e divindade na sagrada comunhão, onde nos deixou tudo quanto nós podíamos desejar para a salvação !.. Sim, a sagrada comunhão é a fonte de todas as graças: ali se aumentam as virtudes, ali se nutrem a alma e o corpo com o Pão da vida, que dos céus desceu ; ali se fortifica a alma, recebe as armas para resistir aos combates e ficar vencedor do mundo, do demônio e da carne; ali os fiéis são como leões que respiram chamas de fogo, fazendo-se terríveis a todo o inferno ; ali se reprimem as paixões, porquanto a comunhão é um remédio universal para todas ás misérias, por isso que purifica a alma de todos os vícios, e lhe infunde todas as virtudes !.. Aproxima-te com frequência aquela sagrada mesa, mas purifica primeiro bem a tua consciência, porquanto aquele que comunga em pecado, come e bebe juntamente, com o corpo e o sangue de Jesus Cristo, o seu próprio juízo, e torna-se réu do sangue do Senhor, e será ainda mais castigado do que Judas, que o vendeu, e do que os Judeus, que o mataram ! Procura, pois, viver de modo que possas receber dignamente e com frequência o teu Senhor, e vai já esconder-te na chaga do lado de Jesus, e dentro do Coração de Maria te agasalhe debaixo das asas da sua misericórdia.

 Goffiné – Manual do Cristão

A IGREJA ONDE ESTÁ JESUS SACRAMENTADO É O SANTUÁRIO MAIS AUGUSTO

santElegi et sanctificavi locum istum, ut… permaneant oculi mei et cor meum ibi cunctis diebus – “Escolhi e santifiquei este lugar… para nele estarem fixos os meus olhos, e o meu coração, em todo o tempo” (2 Par. 7, 16).

Sumário. Os peregrinos experimentam grande ternura em visitar a Casa Santa de Loreto, ou os lugares da Terra Santa onde Jesus nasceu, habitou, morreu e foi sepultado. Muito maior, porém, deve ser a nossa devoção quando estamos numa igreja em presença de Jesus Cristo mesmo, oculto no Santíssimo Sacramento. Com efeito, não há santuário mais devoto e consolador do que uma igreja a na qual está Jesus sacramentado. Todavia a maior parte dos homens o deixam quase sempre só e abandonado!

**********************

Oh! Que ternura experimentam os peregrinos ao visitar a Casa Santa de Loreto ou os lugares da Terra Santa, a Gruta de Belém, o Calvário, o santo Sepulcro, onde Jesus habitou, morreu, foi sepultado! Mas quanto mais terna não deve ser a nossa devoção quando nos achamos numa igreja, em presença do próprio Jesus, que está no Santíssimo Sacramento! Costumava o Bem-aventurado João de Ávila dizer que não conhecia santuário mais devoto e mais consolador do que uma igreja na qual se acha Jesus sacramentado. Por sua vez o Padre Balthazar Alvares chorava ao ver os palácios dos grandes cheios de gente, e as igrejas, onde está Jesus Cristo, vazias e abandonadas.

Meu Deus! Se o Senhor se tivesse deixado ficar em uma só igreja da terra, por exemplo, na de São Pedro em Roma, e ali quisesse dar audiência só num dia do ano, quantos peregrinos, quantos personagens grandes, quantos monarcas procurariam ter a ventura de se achar ali em tal dia, afim de prestarem homenagem ao Rei do céu, voltado à terra! Que tabernáculo precioso, de ouro e ornado de pedrarias não lhe seria preparado! Com que profusão de luzes não se havia de solenizar em tal dia a permanência de Jesus Cristo! Mas não, diz o Redentor, não quero morar em uma só igreja, nem por um dia do ano somente; não exijo tamanha riqueza nem tantas luzes; quero morar continuamente em todos os tempos e lugares, onde quer que vivam os meus fiéis, afim de que todos me achem com facilidade e sempre, na hora que quiserem.

Ah! Se Jesus Cristo não tivesse concebido tão grande fineza de amor, quem jamais pudera excogitá-la? – Se na Ascensão do Senhor ao céu alguém Lhe tivesse digo: Senhor, se quereis demonstrar-nos o vosso amor, ficai conosco sobre os altares debaixo das espécies de pão, afim de que possamos achar-Vos quando quisermos; não seria semelhante pergunta tida por excessivamente temerária? Mas o que nenhum homem podia imaginar, o nosso Salvador o excogitou e executou. Continuar lendo

JESUS NO SANTÍSSIMO SACRAMENTO, O MELHOR DOS AMIGOS

santAmicus fidelis medicamentum vitae et immortalitatis — “O amigo fiel é um medicamento de vida e de imortalidade”(Ecclus. 6, 16).

Sumário. Bem suave é estar a gente na companhia de um amigo querido: e será possível que nós, neste vale de lágrimas, não achemos consolação perto do melhor de nossos amigos que nos pode encher de todos os bens? Eis que no Santíssimo Sacramento nos podemos entreter com Jesus à nossa vontade, abrir-Lhe o nosso coração, expor-Lhe as nossas necessidades, pedir-Lhe graças. Aproximemo-nos, pois, de Jesus com grande confiança e amor, unamo-nos a Ele, e peçamos-Lhe sobretudo a graça de O podermos amar sempre com todas as nossas forças.

*****************************

Bem suave é estar a gente na companhia de seu amigo querido; e não nos será suave, neste vale de lágrimas, estarmos na companhia do melhor de nossos amigos, de um amigo que pode encher-nos de todos os bens, nos ama apaixonadamente e por isso se deixa ficar continuamente conosco? Eis que no Santíssimo Sacramento nos podemos entreter com Jesus à nossa vontade, abrir-Lhe o nosso coração, expor-Lhe as nossas necessidades, pedir-Lhe graças. Podemos, numa palavra, neste mistério tratar com o Rei do céu com toda confiança e singeleza.

Foi nimiamente feliz José, quando Deus, como atesta a Sagrada Escritura, se dignou descer por sua graça ao cárcere para consolá-Lo: Descendit cum illo in foveam, et in vinculis non dereliquit eum (1) — “A divina Sabedoria desceu com Ele ao fosso, e não o deixou nas cadeias”. Mas muito mais felizes somos nós por termos sempre conosco, nesta miserável terra, nosso Deus feito homem, que, com o coração cheio de amor e de misericórdia, nos honra com sua presença real a cada instante de nossa vida.

Que consolo é para um pobre encarcerado ter um amigo terno, que vai entreter-se com ele, o consola, lhe anima a esperança, procura para ele socorro e cuida em aliviá-lo no seu infortúnio? Eis aqui está o nosso bom amigo Jesus Cristo, que neste Sacramento nos anima com estas palavras: “Ecce ego vobiscum sum omnibus diebus (2) — Convosco estou todos os dias. Eis-me aqui todo para vós, vindo do céu à vossa prisão de propósito para vos consolar, ajudar e por em liberdade. Acolhei-me, fiquemos sempre juntos, uni-vos a mim; que então não sentireis mais o peso de vossas misérias, e depois vireis comigo para o meu reino, onde vos farei plenamente felizes. Continuar lendo

UNIÃO DA ALMA COM JESUS NA SANTA COMUNHÃO

comunQui manducat meam carnem et bibit meum sanguinem, in me manet et ego in illo — “Aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue fica em mim e Eu nele” (Jo. 6, 57).

Sumário. Jesus tinha-se dado aos homens como mestre, como modelo e como vítima; restava-Lhe somente que se desse como alimento, a fim de fazer-se uma coisa conosco. É o que fez instituindo a santa Eucaristia. Ó dignação de um Deus para com os homens! Mas como é que há tantos homens que não O amam e Lhe respondem com ingratidão!… Se no passado nós também temos sido do número desses ingratos, esforcemo-nos para amá-Lo tanto mais para o futuro.

******************************

Diz São Diniz, o Areopagita, que o efeito principal do amor é procurar a união com o objeto amado. Exatamente para se unir com as nossas almas foi que Jesus Cristo instituiu a santa Comunhão. Tendo-se dado a nós como mestre, como modelo e como vítima só Lhe restava dar-se a nós como nosso sustento, para fazer-se um só conosco, assim como o sustento se identifica com aquele que o toma. Foi o que fez instituindo este Sacramento de amor.

Jesus Cristo não pode contentar-se com unir-se à nossa natureza humana; com este sacramento quis ainda achar o modo de unir-se a cada um de nós e de ser todo de quem o recebe. A este respeito escreveu São Francisco de Sales: “Em nenhuma outra ação pode o Salvador ser considerado nem mais terno nem mais amoroso, do que nesta, na qual se aniquila, por assim dizer, e se reduz a manjar, a fim de entrar em nossas almas, e unir-se aos corações dos seus fiéis”.

Numa palavra, porque Jesus nos ama ardentemente, quer unir-se conosco pela Eucaristia, a fim de que nos tornemos  uma coisa com Ele, e o seu coração seja um só coração com o nosso. “Voluisti, ut tecum unum cor haberemus”, diz São Lourenço Justiniani: “Quisestes que tivéssemos um só coração convosco”. E primeiro já o dera a entender o próprio Jesus: Qui manducat meam carnem, in me manet et ego in illo — “Quem come a minha carne permanece em mim e Eu nele”. — Assim, na comunhão Jesus une-se com a alma e a alma com Jesus, e esta união não é de mero afeto, mas verdadeira e real. “Como dois pedaços de cera derretidos se misturam”, diz São Cirilo de Alexandria, “assim o que comunga se torna uma coisa com Jesus Cristo. Ó condescendência infinita de um Deus para com os homens! Mas como é então possível que estes não O amem e Lhe respondam com ingratidão? Continuar lendo

GRANDEZA DA DÁDIVA QUE JESUS CRISTO NOS FEZ NA SANTÍSSIMA EUCARISTIA

eucaristiaIn omnibus divites facti estis in illo — “Em todas as coisas fostes enriquecidos n’Ele” (I Cor. 1, 5).

Sumário. É tão grande a dádiva que Jesus Cristo nos fez na santíssima Eucaristia, que, apesar de ser poderosíssimo, sapientíssimo e riquíssimo, não pode, nem sabe, nem tem para dar-nos outra mais excelente. Como é, pois, possível que os homens, tão sensíveis a qualquer delicadeza, fiquem insensíveis a tão grande dom e paguem o seu benfeitor com ingratidão… se nós também fomos no passado tão ingratos, peçamos de todo o coração que Jesus nos perdoe.

******************************

Santo Agostinho, considerando a grandeza do dom que Jesus Cristo nos oferece na santíssima Eucaristia, ficou tão enlevado, que escreveu esta celebre sentença, que com tal dádiva Jesus esgotou, por assim dizer, os seus atributos infinitos. — Deus, assim diz o santo Doutor, é poderosíssimo, e se quisesse, poderia, a um só sinal seu, criar mil mundos cada qual mais bonito. Contudo, apesar de ser todo poderoso, não nos pode oferecer outro dom mais precioso do que este: Cum esset omnipotens, plus dare non potuit. — Deus é sapientíssimo, e a sua sabedoria, como diz o Real Profeta, não tem limites (1). Mas com toda a sua sabedoria, não sabe achar um dom mais excelente do que a santíssima Eucaristia: Cum esset sapientissimus, plus dare nescivit. — Deus afinal é riquíssimo e os seus tesouros são inesgotáveis. Todavia, com toda a sua riqueza não tem jóia mais preciosa ou mais estimável do que esta para nos presentear: Cum esset ditissimus, plus dare nescivit.— E a razão é óbvia: Na santíssima Eucaristia Jesus Cristo nos dá não somente a sua humanidade, senão também a sua divindade. Para nos oferecer, pois, outro dom mais excelente do que este, mister seria que nos desse um Deus maior do que Ele mesmo; o que é impossível.

Tinha razão Isaias em exclamar: Notas facite adinventiones eius (2) — “Publicai, ó homens, as invenções amorosas de nosso bom Deus”. Se o Redentor nos não tivesse feito espontaneamente este donativo quem é que Lho ousaria pedir? Quem é que se atrevera a dizer-Lhe: Senhor, se quereis fazer-nos conhecer o vosso amor, escondei-Vos sob as espécies de pão e vinho e consenti que Vos tomemos como nosso alimento? Mas o que nunca poderiam imaginar os homens, concebeu-o e cumpriu-o o grande amor de Jesus Cristo. Ó prodígio de amor!

Santa Maria Magdalena de Pazzi costumava dizer que depois da comunhão a alma pode repetir a palavra de Jesus: Consummatum est— “Está consumado”. Visto que o meu Deus se me deu a si mesmo nesta comunhão, ele fez um último esforço de seu amor para comigo, e não tem mais nada para me dar. — Mas como é, pois, possível que os homens, de ordinário tão sensíveis a qualquer cortesia que se lhes faz, ficam tão insensíveis ao dom inapreciável do Santíssimo Sacramento e pagam a Jesus Cristo com a mais negra ingratidão? — Ah! Meu irmão, se no passado tu também foste um daqueles ingratos, pede sinceramente perdão e resolve-te a sacrificar de hoje em diante tudo por Jesus Cristo, assim como ele se sacrificou todo por ti neste inefável mistério. Continuar lendo

JESUS PRESENTE NOS ALTARES PARA SER ACESSÍVEL A TODOS

taberVenite ad me omnes, qui laboratis et onerati estis; et ego reficiam Vos ― “Vinde a mim todos os que estais cansados e carregados e eu vos aliviarei” (Matth. 11, 28).

Sumário. Nesta terra não é permitido a todos os súditos falar ao príncipe. O mais que os pobres podem esperar é falar-lhe por meio de terceira pessoa. Não é assim com o Rei do céu, que está no Santíssimo Sacramento. Com este pode falar quem o deseje, e sem acanhamento. Procuremos, portanto, ir muitas vezes à sua audiência e expor-Lhe todas as nossas necessidades. Peçamos-Lhe particularmente que desligue o nosso coração de todas as coisas terrestres e o encha do seu santo amor.

****************************

Dizia Santa Teresa que nesta terra não é permitido a todos os súditos falar a seu príncipe. O mais que os pobres podem esperar é falhar-lhe por meio de terceira pessoa. Mas para conversar convosco, ó Rei do céu, não se precisa de terceira pessoa; quem quiser, pode achar-Vos no Santíssimo Sacramento, e falar-Vos à vontade e sem acanhamento. Por isso a mesma Santa dizia que Jesus Cristo velou a sua majestade sob as aparências do pão, para nos inspirar mais confiança e nos tirar todo o temor de nos aproximarmos d’Ele.

Ah! Parece que lá dos altares Jesus ainda cada dia exclama e diz: Venite ad me omnes, qui laboratis et onerati estis, et ego reficiam vos ― “Vinde a mim todos os que estais cansados e carregados, e eu vos aliviarei”. Vinde a mim, vós pobres, vinde enfermos, vinde atribulados, vinde justos e pecadores; em mim achareis o remédio para todos os vossos males e aflições. O que Jesus Cristo deseja é consolar a quem a Ele recorre. Permanece presente sobre os altares tanto de dia como de noite para ser acessível a todos e comunicar a todos as suas graças.

Por isso os santos achavam na terra tão grande satisfação em estar na presença de Jesus sacramentado, que os dias e noites se lhes afiguravam como instantes. A condessa de Feria, depois de entrada na ordem de Santa Clara, nunca se fartava de ficar no coro a visitar o Santíssimo Sacramento. Perguntada uma vez o que fazia tanto tempo diante do santo Tabernáculo, respondeu que eram tão grandes as delícias que nisso gozava, que queria ficar ali toda a eternidade. ― São João Francisco Regis, depois de passar o dia no confessionário ou no púlpito, passava as noites na igreja, e achando-a alguma vez fechada, deixava-se ficar à porta exposto ao frio e ao vento, para ao menos de longe fazer companhia a seu amado Senhor. São Felipe Neri exclamava à vista do Santíssimo Sacramento: “Eis aí o meu amor! Eis aí todo o meu amor!” Ah! Se Jesus Cristo fosse também todo o nosso amor, a nós também os dias e noites passadas na sua presença se nos afigurariam como instantes! Continuar lendo

AMOR DE JESUS NA INSTITUIÇÃO DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO, ANTES DE IR MORRER

SacramentoDominus Iesus, in qua nocte tradebatur, accepit panem … et dixit: Hoc est corpus meum — “O Senhor Jesus, na noite em que foi entregue, tomou o pão… e disse: Isto é o meu corpo” (I Cor. 11, 23).

Sumário. Porque os testemunhos de amor, dados pelos amigos no momento de morrer, se gravam mais fundo na memória e se conservam mais preciosamente, o Senhor quis instituir a santíssima Eucaristia na véspera de sua morte. Ó prodígio de amor! Os homens preparam para Jesus açoites, espinhos e uma cruz, e ele escolhe exatamente esse tempo para nos dar a prova mais preciosa de seu amor. Este amor de Jesus convida-nos a que lhe correspondamos pelo nosso afeto e façamos alguma coisa por seu amor.

*****************************

O Santíssimo Sacramento é um dom feito unicamente por amor. Segundo os decretos divinos, foi necessário para nossa salvação que o Redentor morresse e que, pelo sacrifício de sua vida, satisfizesse à divina justiça pelos nossos pecados. Mas que necessidade havia que Jesus Cristo se nos desse em sustento, depois de sua morte? Assim o quis o seu amor. Se Ele instituiu a Eucaristia, diz São Lourenço Justiniani, foi unicamente para nos fazer compreender o imenso amor que nos tem.

É o que escreve também São João: Sciens Iesus quia venit hora eius (1) — Sabendo Jesus que era chegado o tempo de deixar a terra, quis deixar-nos a maior prova de seu amor, isto é, o dom do Santíssimo Sacramento. Tal é o precisamente o sentido destas palavras: In finem dilexit eos – “Amou-os até o fim”, isto é, segundo a explicação de Teofilato e São João Crisóstomo, extremo amore, summe dilexit eos — “amou-os com amor extremo”. — E observemos o que nota o Apóstolo: o tempo em que Jesus nos quis fazer este donativo, foi o de sua morte: na noite em que foi entregue. Enquanto os homens preparavam açoites, espinhos e uma cruz para o supliciarem, é que o bom Salvador nos quis dar este último penhor de sua ternura.

Mas porque instituiu este sacramento no momento de sua morte, e não antes? Diz São Bernardino que Jesus assim fez, porque os testemunhos de afeto dados pelos amigos no momento da morte, se imprimem mais profundamente na memória e mais preciosamente se conservam. Jesus Cristo, continua o mesmo Santo, já se nos tinha dado por muitos modos: por amigo, por mestre, por pai, por guia, por modelo, por vítima. Restava um último grau de amor, que era dar-se por alimento, a fim de se unir todo a nós, assim como o sustento se une ao que o toma, e é o que fez dando-se-nos no Santíssimo Sacramento. Continuar lendo

UMA CURA EM LOURDES

Uma gruta de Lourdes no Marrocos | Diocese de Porto NacionalQuando Jesus andava pelo mundo, bastava a sua palavra e, às vezes, um olhar seu para curar os doentes e ressuscitar os mortos.

A hóstia consagrada, onde se acha oculto, tem o mesmo poder, quando ele o quer.

É muito notável um caso referido pelo célebre médico Dr. Boissarie em seu relatório dos milagres em Lourdes.

Margarida de Sabóia chegou à gruta em estado lastimável: entrevada, metida num caixão como se fora um cadáver, pálida, sem voz, sem carnes, tendo embora 25 anos, pesava apenas 16 quilos.

Quando partiu para Lourdes disseram-lhe os médicos que não teria mais de 15 dias de vida; e os da gruta não se atreveram a tocá-la, por que mal ainda respirava. Nem sequer pensaram em levá-la à piscina, mas contentaram-se de colocá-la diante da Virgem ali mesmo.

Ao passar o Santíssimo, uma sacudida forte e irresistível atirou-a para fora de sua maca. Quando Margarida se deu conta de que estava de joelhos ao pé da caminha, levantou-se por si mesma, sem auxílio de ninguém, e gritou com toda a força:

– Estou curada!

A mãe, atônita, corre ao encontro da filha que a abraça e diz com voz forte:

– Mãe, estou curada!

No mesmo dia – diz o Dr. Boissarie – entrou em nosso escritório, bem segura sobre seus próprios pés, embora meio morta pela debilidade. O seu contentamento era tão grande, a sua alegria tal que nem sentia fraqueza.

Dissemos que pesava 16 quilos; poucos dias após a cura pesava já 44. O crescimento tomou seu curso natural e a estatura aumentou de sete a oito centímetros. Isto na idade de 25 anos!

Aqui não se trata de cura, mas de ressurreição. A virtude do Deus da Eucaristia operou este milagre.

Tesouro de Exemplos – Pe. Francisco Alves

JESUS, NO SANTÍSSIMO SACRAMENTO, ESPERA-NOS COM EXTREMA MISERICÓRDIA

santIesus ergo fatigatus ex itinere, sedebat sic supra fontem — “Jesus, pois, fatigado do caminho, estava assim assentado sobre o poço” (Io. 4, 6).

Sumário. Assim como um dia o Senhor, todo bondade e amor, estava sentado à borda de um poço, esperando a Samaritana para a converter, assim agora, descido do céu sobre os nossos altares, que são outras tantas fontes de graças, permanece conosco, esperando as almas e convidando-as a lhe fazerem companhia. Animemo-nos, pois, a recorrer sempre a este divino Sacramento, abramos-lhe o coração, cheios de confiança, e peçamos-lhe tudo de que precisamos. Ao mesmo tempo entreguemo-nos com abandono filial à sua providência, certos de que disporá tudo para nosso bem.

*****************************

Oh, que belo espetáculo foi ver o nosso doce Redentor naquele dia em que, fatigado do caminho, se sentara, todo bondade e amor, à borda de um poço, esperando a Samaritana para a converter e salvar! Jesus estava assim sentado sobre o poço. Pois, com igual doçura o mesmo Jesus se conserva, dia a dia, no meio de nós, descido do céu sobre os nossos altares, como outras tantas fontes de graças, esperando as almas e convidando-as a Lhe fazerem companhia, ao menos por alguns instantes, a fim de as atrair ao seu perfeito amor.

Parece que de todos os altares, onde está Jesus sacramentado, fala assim a todos: “Filhos de Adão, porque fugis da minha presença? Porque não vindes a mim e não vos aproximais de mim, que tanto vos amo, e para vosso bem aqui estou no abatimento em que me vedes? Que temeis? Não é ainda como juiz que eu agora estou na terra; neste sacramento de amor me ocultei unicamente para encher de graças e salvar a quem quer que a mim recorra: Non veni, ut iudicem mundum, sed ut salvificem mundum (1) — Não vim a julgar o mundo, mas a salvá-lo.” Continuar lendo

NOVENA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS – SEGUNDO DIA

Solenidade do Corpo de Deus.

Exulta et lauda, habitatio Sion; quia magnus in medio tui Sanctus Israel — “Exulta e louva, morada de Sião, porque o Grande, o Santo de Israel, está no meio de ti” (Is. 12, 6).

Sumário. Para celebrarmos com fruto a Solenidade do Corpo de Deus, conformemo-nos ao espírito da Igreja, que com a instituição da festa de hoje quis tributar a seu divino Esposo um tríplice preito: primeiro, um preito de veneração, em compensação das humilhações a que se sujeitou por nós; segundo, um preito de gratidão, pelo dom tão grande da Santíssima Eucaristia; terceiro, um tributo de reparação, para desagravá-Lo das injúrias que continuamente recebe neste divino Sacramento.

*************************************

Consideremos os elevados fins que nossa Mãe a santa Igreja teve em mira pela instituição da festa do Santíssimo Sacramento com oitava solene. Com todo esse esplendor de missas, procissões e outros exercícios piedosos, ela quer tributar a seu divino Esposo um tríplice preito, de veneração, de gratidão e de reparação.

Um preito de veneração para compensar-Lhe de algum modo o estado de aniquilamento e humilhação a que se quis sujeitar e ainda se sujeita continuamente para ficar conosco sobre os altares; onde, na palavra de São Bernardo, esconde a sua divindade, esconde também sua humanidade, só deixando ver as aparências de pão para assim patentear a ternura do amor que nos tem: Latet divinitas, latet humanitas, sola patent viscera caritatis. Continuar lendo