Discite a me, quia mitis sum et humilis corde; et invenietis requiem animabus vestris – “Aprendei de mim que sou manso e humildade de coração e achareis descanso para vossas almas” (Matth. 11, 29).
Sumário. As virtudes que o Senhor exige particularmente dos religosos que vivem em comunidade, são a humildade e a mansidão. Quem vive solitário nos desertos não precisa tanto delas; mas quem vive em comunidade, se não é manso e humilde, cairá cada dia em mil defeitos e passará uma vida inquieta, porque é impossível que não sofra ou repreensões do superior ou desgostos dos companheiros. Para que serve um religioso que não sabe suportar por Deus um desprezo, uma humilhação, uma contrariedade? Ele será sempre um soberbo ao qual a graça divina resistirá: Deus resiste aos soberbos.
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O nosso amabilíssimo Redentor Jesus quis ser chamado Cordeiro, exatamente para significar quanto Ele era manso e humilde. Estas foram as virtudes que principalmente quis que de si aprendessem os seus discípulos: Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração. E são estas também as que Jesus exige particularmente dos religiosos, que fazem profissão de imitar sua vida sacrossanta. – Quem vive solitário nos desertos não tem tanta necessidade destas virtudes; mas quem vive em comunidade, é impossível que não sofra ou repreensões dos superiores, ou desgostos dos companheiros. Pelo que um religioso que não ama a mansidão, cairá cada dia em mil defeitos, e passará uma vida inquieta.
O religioso é preciso que seja todo doçura para com todos, estranhos e companheiros, e ainda para com os súditos, se é superior; considerando, se é súdito, que lhe vale mais um ato de mansidão em suportar os desprezos e as repreensões, do que mil jejuns e disciplinas. – Dizia São Francisco, que muitos põem a sua perfeição nas mortificações externas e depois não sabem suportar uma palavra injuriosa; não compreendem que se adquire maior mérito pelo sofrimento das injúrias. Quantas pessoas – pondera ainda São Bernardo – , são todas doçura, quando não se diz ou não se faz nada contra o seu gênio; mas depois, nas ocasiões contrárias, fazem conhecer a sua pouca mansidão!
Quem é superior, note que aproveitará mais aos súditos uma repreensão feita com doçura do que cem outras feitas com aspereza. Mansuetus utilis sibi et aliis – “O manso é útil a si próprio e aos outros”, ensina São João Crisóstomo. – Em suma, como diz o mesmo Santo, o sinal mais certo de uma alma virtuosa é vê-la mansa nas ocasiões. Um coração manso faz as delícias do mesmo Deus que nele se compraz: Beneplacitum est illi fides et mansuetudo (1). Continuar lendo
Samaritanus quidam, iter faciens, venit secus eum; et videns eum, misericordia motus est – Um Samaritano, que ia seu caminho, chegou perto dele, e quando o viu, moveu-se à compaixão (Luc. 10, 33).
No inferno, o que mais se deseja é a morte.
Ego ex ore Altissimi prodivi, primogenita ante omnem creaturam — “Eu saí da boca do Altíssimo, a primogênita antes de toda a criatura” (Ecclus. 24, 5)
Despectum et novissimum virorum, virum dolorum et scientem infirmitatem – “O mais desprezado e o último dos homens; homem de dores e experimentado nos trabalhos” (Is. 53, 3).
Aquele que entrar uma vez no inferno jamais sairá de lá. A este pensamento o rei David exclamava trêmulo:
Introduxit me rex in cellam vinariam, ordinavit in me caritatem – “O rei me introduziu na sua adega, ordenou em mim a caridade” (Cant. 2, 4).
Et audivit arcana verba, quae non licet homini loqui – “Ouviu palavras misteriosas, que não é permitido ao homem referir” (2 Cor. 12, 4).
Et ibunt hi in supplicium aeternum – “E estes irão para o suplício eterno” (Mt 25, 46)
Dives cum dormierit, nihil secum aufert; aperiet óculos suos, et nihil inveniet – “O rico, quando dormir, nada levará consigo; abrirá os olhos e nada achará” (Iob 27, 19).
“Omnia in mensura et numero et pondere disposuisti” – “Dispuseste todas as coisas com medida e conto e peso” (Sap. II, 21).
Adducunt ei surdum et mutum, et deprecabantur eum, ut imponat illi manum – “Trazem-lhe um surdo-mudo, e lhe rogaram que pusesse a mão sobre ele” (Marc. 7, 32).
Respexit humilitatem ancillae suae; ecce enim ex hoc beatam me dicent omnes generationes – “(Deus) pôs os olhos na baixeza da sua escrava; eis que desde agora me chamarão bem-aventurada todas as gerações” (Luc. 1, 48).
Vidimus eum… despectum et novissimum virorum – “Vimo-lo… feito um objeto de desprezo e o último dos homens” (Is. 53, 3).
Derelinquam eum, et abscondam faciem meam ab eo… invenient eum omnia mala – “Eu o deixarei, e esconderei dele meu rosto… todos os males virão sobre ele” (Deut. 31, 17).
Omnes nos manifestari oportet ante tribunal Christi – “Todos nós devemos manifestar-nos diante do tribunal de Cristo” (2 Cor. 5, 10).
Tetendit enim adversus Deum manum suam, et contra omnipotentem roboratus est – “Estendeu a sua mão contra Deus e se fez forte contra o Todo Poderoso” (Iob 15, 25).
Duo homines ascenderunt in templum, ut orarent: unus pharisaeus et alter publicanus – “Subiram dois homens ao templo a· fazer oração; um fariseu e outro publicano” (Luc 18, 10).
Todas as penas referidas nada são em comparação com a pena do dano. As trevas, a infecção, o pranto, as chamas não constituem a essência do inferno. O verdadeiro inferno é a pena de ter perdido a Deus! Dizia São Bruno:
Convenite et ingrediamur civitatem munitam; et sileamus ibi — “Ajuntai-vos, e entremos na cidade fortificada, e guardemos aí silêncio” (Ier. 8, 14).
Sustinui qui simul contristaretur, et non fuit, et qui consolaretur, et non inveni – “Esperei se algum se entristecia comigo, e não houve ninguém; esperei se alguém me consolava, e não achei” (Ps. 68, 21).
A pena do sentido que mais atormenta aos réprobos é o fogo do inferno, tormento do tato (Ecl 7,19). O Senhor o mencionará especialmente no dia do juízo:
In conspectu angelorum psallam tibi, adorabo ad templum sanctum tuum – “À vista dos anjos te cantarei salmos; eu te adorarei no teu santo templo” (Ps. 137, 2).
Petitis et non accipitis, eo quod male petatis – “Pedis e não recebeis, porque pedis mal” (Iac. 4, 3).
Et ibunt in supplicium aeternum – “E irão estes ao suplício eterno” (Mt 25, 46)
Pretiosa in conspectu Domini mors sanctorum eius – “Preciosa é aos olhos do Senhor a morte de seus Santos” (Ps. 115, 5).
Quid prodest homini, si mundum universum lucretur, animae vero suae detrimentum patiatur? – “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma?” (Matth. 16, 26.)
Ut appropinquavit (Iesus) videns civitatem, flevit super illam – “Quando (Jesus) chegou perto, ao ver a cidade chorou sobre ela. (Luc. 19, 41).
Nunc ergo, filii, audite me: Beati qui custodiunt vias meas – “Agora pois, filhos, ouvi-me: bem-aventurados os que guardam os meus caminhos” (Prov. 8, 32).