A AMIZADE

Resultado de imagem para sentados banco amigosUma das características mais notáveis da ciência moral que Santo Tomás de Aquino, seguindo aqui a Aristóteles, prescreve dever ser ensinada aos que se preparam para a contemplação, está no fato de que ela não se esgota com a aquisição das virtudes. Ao contrário, o Comentário ao VIII e IX da Ética afirma que mais ainda do que as virtudes, pertence à ciência moral mostrar o que seja a verdadeira amizade entre os homens.

Há várias razões, diz o Comentário à Ética, pelas quais a amizade pertence ao âmbito da ciência moral que deve formar o aluno para a contemplação.

Primeiro, porque pertence à ciência moral tratar das virtudes; ora, a amizade não é uma virtude, mas a verdadeira amizade tem a virtude como sua causa (149).

Em segundo lugar, pertence à ciência moral a consideração de todas as coisas que são necessárias à vida humana, entre as quais é maximamente necessária a amizade, pois ninguém corretamente disposto pelas virtudes escolheria viver possuindo todos os demais bens exteriores sem os amigos (150).

Em terceiro lugar, a amizade concorre para o bem civil, ao qual se ordena a ciência moral, pois as cidades parecem se conservar pela amizade, e por isso mesmo é que os bons legisladores preocupam-se em conservar a amizade entre as cidades mais até do que a justiça, acerca da qual, às vezes, deixam de aplicar as penas para não dar origem a discórdias (151). Continuar lendo

TRADIÇÃO CATÓLICA SEMPRE ENTENDEU QUE É JUSTO COMBATER A FALSA PAZ QUE O SENHOR “NÃO VEIO TRAZER À TERRA”

Os que fazem guerras justas procuram a paz. Consequentemente não se opõem à paz, a não ser à paz má que o Senhor “não veio trazer à terra”, segundo o Evangelho de Mateus (10, 34)

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Batalha de Lepanto. Convocada pelo Papa S. Pio V que, a duros esforços, coordenou os interesses das potências católicas e levou-as à vitória de Lepanto, em 7 de outubro de 1571. A importância desta vitória, para a defesa de uma Europa cristã, obtida em circunstâncias militares muito difíceis, levaram o Papa Pio V a instituir naquela data o dia de Nossa Senhora da Vitória, bem como a divulgar, em toda a cristandade a prática da oração do Rosário, cuja origem é tradicionalmente atribuida à aparição da Santa Virgem ao fundador da Ordem dos Pregadores, São Domingos de Gusmão

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Parece que guerrear é sempre um pecado, pois:

  1. Não se aplica uma pena a não ser para um pecado. Ora, no Evangelho de Mateus (26, 52) o Senhor notifica com uma pena os que fazem a guerra: “Todos os que tomam a espada, pela espada perecerão”. Logo, a guerra é sempre ilícita.
  2. Tudo o que é contrário a um preceito divino é pecado. Ora, guerrear é contrário a um preceito divino, pois no Evangelho de Mateus (5, 39) se diz: “Eu vos digo: não resistais ao homem mau”, e na Carta aos Romanos (12, 19): “Não vos defendais, meus amados; mas daí lugar à ira”. Logo, é sempre um pecado fazer a guerra.
  3. Somente o pecado se opõe a um ato de virtude. Ora, a guerra se opõe à paz. Logo, é sempre pecado.

No entanto, Agostinho escreve: “Se a moral cristã julgasse que a guerra é sempre culpável, quando no Evangelho soldados pedem um conselho para a sua salvação, dever-se-ia responder-lhes que jogassem fora as armas e abandonassem completamente o exército. Ora, se lhes diz: ‘Não molesteis a ninguém, contentai-vos com vosso soldo’. Prescrever-lhes que se contentem com seu soldo não os proíbe combater”. Continuar lendo

ADORO TE DEVOTE

Adóro te devóte, latens Déitas,
Quae sub his figúris vere látitas:
Tibi se cor meum totum súbiicit,
Quia te contémplans totum déficit.

Visus, tactus, gustus in te fállitur,
Sed audítu solo tuto créditur.
Credo, quidquid dixit Dei Fílius:
Nil hoc verbo Veritátis vérius. Continuar lendo

A FILIAÇÃO DIVINA

Deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus (Jo 1, 12) 

Os homens tornam-se filhos de Deus por assimilação a Deus, e assim, por uma tríplice assimilação, os homens são filhos de Deus: 

[1] Pela infusão da graça; donde, quem quer que tenha a graça santificante torna-se filho de Deus (Gl 4, 6): E porque vós sois filhos, Deus mandou aos vossos corações o Espírito de seu Filho.  

[2] Pela perfeição das obras, pois quem faz obra de justiça é filho (Mt 5, 44): Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem. Deste modo serei filhos do vosso Pai, que está nos céus. 

[3] Alcançando a glória, tanto quanto a alma, pela luz da glória (1 Jo 3, 2): Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; como quanto ao corpo (Fl 3, 21): transformará o nosso corpo de miséria. E de ambos modos fala o Apóstolo (Rm 8, 23): esperando a adoção de filhos de Deus.  Continuar lendo

O PARTO DA ALMA PENITENTE

nascEm sentido místico, podemos considerar que o parto da bem-aventurada Virgem Maria significa o parto da alma penitente, conforme a Escritura (Is 26, 17): Assim como a que concebeu, quando está próximo ao parto, confrangendo-se, dá gritos no meio das suas dores, assim somos nós, Senhor, diante da tua face.

A este parto convém místico convém o lugar do nascimento de Cristo, Belém. Diz São Bernardo: “Si também fores Belém pela contrição do coração, de modo que tuas lágrimas sejam teu pão de dia e de noite, e esta refeição te proporcione alegria contínua (Belém interpreta-se como a casa de pão), e se fores Judá pela confissão e cidade de David pelas obras de satisfação, nascera Cristo em ti, e encherá teu coração de alegria, hoje na graça, amanhã, na glória”. 

Deve-se advertir que, depois do parto da penitência, a alma penitente deve envolver-se com os panos da caridade contra a torpeza do pecado, que consiste na desordem interior da alma;   Continuar lendo

SÃO JOÃO EVANGELISTA

EvangelistaUm dos seus discípulos, ao qual Jesus amava, estava recostado sobre o seio de Jesus (Jo 13, 23) 

Este discípulo é são João Evangelista, que escreve sobre si mesmo como se falasse de outro, querendo com isso evitar a jactância, conforme o fizeram outros que escreveram as Escrituras. Moisés, nos livros que escreveu, fala de si como se de outro: Falou Deus a Moisés. Também o faz são Mateus: viu um homem que estava sentado no telônio, chamado Mateus. E são Paulo: Conheço um homem… 

São João diz três coisas de si mesmo: 

[1] O amor que lhe fazia repousar em Cristo: estava recostado, i. é, repousava. Diz a Escritura (Jó 22, 26): Então porás tuas delícias no Onipotente, e levantarás o teu rosto para Deus. E noutro lugar (Sl 22, 2), conduz-me junto das águas para descansar. 

[2] O conhecimento dos segredos que Cristo lhe revelava, especialmente na redação deste Evangelho. Por isso diz que recostava sobre o seio de Jesus; ora, por seio se significa o secreto: O Unigênito, que está no seio do Pai, ele mesmo é que o deu a conhecer (Jo 1, 18).  

[3] O amor especial com que Cristo o amava. Por isso diz: ao qual Jesus amava. Não que o amasse singularmente, mas como se Jesus lhe amasse de modo mais excelente, de algum modo.    Continuar lendo

CRISTO NASCEU PASSÍVEL E MORTAL

nascimentoEnviou Deus seu Filho em carne semelhante à do pecado (Rm 8, 3)

Não foi conveniente que Deus assumisse uma carne impassível e imortal, mas antes uma carne passível e mortal.

Primeiro porque foi necessário aos homens conhecerem o benefício da Encarnação para que, por esse motivo, se inflamassem do amor divino. E foi conveniente que assumisse uma carne semelhante à dos outros homens, passível e mortal, para manifestar a veracidade da Encarnação. Porém, se tivesse assumido uma carne impassível e imortal, aos homens, que desconheciam essa carne, pareceria que fosse um fantasma, e não verdadeira carne. 

Segundo, porque foi necessário que Deus assumisse a carne para satisfazer pelo pecado do gênero humano. Ora, um satisfaz pelo outro, quando um assume voluntariamente para si a pena devida ao pecado do outro, mas não devida a si. Ora, a pena devida ao pecado do gênero humano são a morte e os sofrimentos da presente vida. Por isso, foi conveniente que Deus assumisse a carne passível, mortal e sem pecado, para que, sofrendo e morrendo, satisfizesse por nós e afastasse o pecado.  Continuar lendo

A ENCARNAÇÃO, AUXÍLIO PARA O HOMEM QUE BUSCA A BEM-AVENTURANÇA

angeli119Se alguém atenta e piamente considera os mistérios da Encarnação, encontrará neles grande profundeza de sabedoria que excede o conhecimento humano. Por isso, a quem os considera com piedade, apresentam-se cada vez mais as suas razões admiráveis.

Ora, deve-se ver que a Encarnação de Deus foi um eficacíssimo auxílio para o homem que busca a bem-aventurança:

[1] A perfeita bem-aventurança humana consiste na imediata visão de Deus. No entanto, poderia parecer a alguém que o homem jamais atingirá esse estado, porque é imensa a distância das duas naturezas. Mas, como Deus quis unir pessoalmente a si a natureza humana, fica clarissimamente manifesto que o homem pode unir-se com Deus pelo intelecto, vendo-o imediatamente. Por isso, foi convenientíssimo que Deus assumisse a natureza humana para elevar a esperança do homem na bem-aventurança. Por conseguinte, depois da Encarnação de Cristo, os homens começaram a aspirar sempre mais a bem-aventurança celeste, segundo o que ele mesmo disse (Jo 10, 10): Vim, para que tenham a vida, e a tenham em abundância.

[2] Além disso, como a perfeita bem-aventurança do homem consiste em tal conhecimento de Deus, que excede a capacidade de todo intelecto criado, foi necessário que houvesse uma certa prelibação desse conhecimento, segundo a qual o homem fosse encaminhado para aquela plenitude do conhecimento bem-aventurado, o que se realiza pela fé. Ora, o conhecimento que leva o homem ao fim último deve ser certíssimo, porque é o princípio de todas as coisas que levam para este fim. Por conseguinte, foi conveniente ao homem ser instruído pelo próprio Deus feito homem, para que tivesse certeza das verdades da fé e para que recebesse de modo humano a doutrina divina. Por esse motivo, vemos que, após a Encarnação de Cristo, os homens são ensinados com maior clareza e certeza sobre o conhecimento de Deus, segundo o que está escrito (Is 11,9): A terra encheu-se do conhecimento de Deus.
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“…BENDITO É O FRUTO DE VOSSO VENTRE…”

5O pecador procura nas criaturas aquilo que não pode achar, mas o justo o obtém. A riqueza dos pecadores está reservada para os justos, dizem os Provérbios (13, 22). Assim Eva procurou o fruto, sem achar nele a satisfação de seus desejos. A Bem-aventurada Virgem, ao contrário, achou em seu fruto tudo o que Eva desejou.

Eva, com efeito, desejou de seu fruto três coisas:

Primeiro, a deificação de Adão e dela mesma e o conhecimento do bem e do mal, como lhe prometera falsamente o diabo: Sereis como deuses (Gn 3, 5), disse-lhes o mentiroso. O diabo mentiu, porque ele é mentiroso e o pai da mentira (cf. Jo 8, 44). E por ter comido do fruto, Eva, em vez de se tornar semelhante a Deus, tornou-se dessemelhante. Por seu pecado, afastou-se de Deus, sua salvação, e foi expulsa do paraíso.

A Bem-aventurada Virgem, ao contrário, achou sua deificação no fruto de suas entranhas. Por Cristo nos unimos a Deus e nos tornamos semelhantes a Ele. Diz-nos São João: (1 Jo 3, 2) Quando Deus se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos como Ele é.

Em segundo lugar, Eva desejava o deleite (cf. Gn 3, 6), mas não o encontrou no fruto e imediatamente conheceu que estava nua e a dor entrou em sua vida. Continuar lendo

“…BENDITA SOIS VÓS ENTRE AS MULHERES…”

4Três maldições foram proferidas por Deus contra os homens, por causa do pecado original.

A primeira foi contra a mulher, que traria seu filho no sofrimento e daria à luz com dores.

Mas a Bem-aventurada Virgem não está submetida a estas penas. Ela concebeu o Salvador sem corrupção, trouxe-o alegremente em seu seio e o teve na alegria. A Ela se aplica a palavra de Isaias: (35, 2) A terra germinará, exultará, cantará louvores.

A segunda maldição foi pronunciada contra o homem (Gn 3, 9): Comerás o teu pão com o suor de teu rosto.

A Bem-aventurada Virgem foi isenta desta pena. Como diz o Apóstolo (1 Cor 7, 32-34): Fiquem livres de cuidados as virgens e se ocupem só com o Senhor.

A terceira maldição foi comum ao homem e à mulher. Em razão dela devem ambos tornar ao pó. Continuar lendo

“…O SENHOR É CONVOSCO…”

3Em segundo lugar, a Virgem ultrapassa os Anjos em sua intimidade com o Senhor. O arcanjo Gabriel reconhece esta superioridade, quando lhe dirige estas palavras: O Senhor é convosco, isto é, venero-vos e confesso que estais mais próxima de Deus do que eu mesmo estou. O Senhor está, efetivamente, convosco.

O Senhor Pai está com Maria, pois Ele não se separa de maneira nenhuma de seu Filho e Maria possui este Filho, como nenhuma outra criatura, até mesmo angélica. Deus mandou dizer a Maria, pelo Arcanjo Gabriel (Lc 1, 35) Uma criança santa nascerá de ti e será chamada Filho de Deus.

O Senhor está com Maria, pois repousa em seu seio. Melhor do que a qualquer outra criatura se aplicam a Maria estas palavras de Isaias: (12, 6) Exulta e louva, casa de Sião, porque o Grande, o Santo de Israel está no meio de ti.

O Senhor não habita da mesma maneira com a Bem-aventurada Virgem e com os Anjos. Deus está com Maria, como seu Filho; com os Anjos, Deus habita como Senhor.

O Espírito Santo está em Maria, como em seu templo, onde opera. O arcanjo lhe anunciou: (Lc 1, 35) O Espírito Santo virá sobre ti. Assim, pois, Maria concebeu por efeito do Espírito Santo e nós a chamamos «Templo do Senhor», «Santuário do Espírito Santo». (cf. liturgia das festas de Nossa Senhora). Continuar lendo

“…CHEIA DE GRAÇA…”

2Primeiramente, a bem-aventurada Virgem ultrapassou todos os Anjos por sua plenitude de graça, e para manifestar esta preeminência o Arcanjo Gabriel inclinou-se diante dela, dizendo: cheia de graça; o que quer dizer: a vós venero, porque me ultrapassais por vossa plenitude de graça.

Diz-se também da Bem-aventurada Virgem que é cheia de graça, em três perspectivas:

Primeiro, sua alma possui toda a plenitude de graça. Deus dá a graça para fazer o bem e para evitar o mal. E sob esse duplo aspecto a Bem-aventurada Virgem possuía a graça perfeitissimamente, porque foi ela quem melhor evitou o pecado, depois de Cristo.

O pecado ou é original ou atual; mortal ou venial.

A Virgem foi preservada do pecado original, desde o primeiro instante de sua concepção e permaneceu sempre isenta de pecado mortal ou venial.

Também está escrito, no Cântico dos Cânticos: (4, 7) Tu és formosa, amiga minha, e em ti não há mácula. Continuar lendo

“AVE…”

1Na antiguidade, a aparição dos Anjos aos homens era um acontecimento de grande importância e os homens sentiam-se extremamente honrados em poder testemunhar sua veneração aos Anjos.

A Sagrada Escritura louva Abraão por ter dado hospitalidade aos Anjos e por tê-los reverenciado.

Mas um Anjo se inclinar diante de uma criatura humana, nunca se tinha ouvido dizer antes que o Anjo tivesse saudado à Santíssima Virgem, reverenciando-a e dizendo: Ave.

Sé na antiguidade o homem reverenciava o Anjo e o Anjo não reverenciava o homem, é porque o Anjo é maior que o homem e o é por três diferentes razões:

Primeiramente, o Anjo é superior ao homem por sua natureza espiritual.

Está escrito: Dos seres espirituais Deus fez seus Anjos. (Sl 103).

O homem tem uma natureza corrutível e por isso Abraão dizia a Deus: (Gn 18, 27) Falarei a meu Senhor, eu que sou cinza e pó.

Não convém que a criatura espiritual e incorruptível renda homenagem à criatura corruptível. Continuar lendo

02 DE OUTUBRO – DIA DOS SANTOS ANJOS DA GUARDA

guardian-angel-paintingPara um bom entendimento sobre questões referentes aos anjos colocamos abaixo alguns links sobre o assunto:

“…MAS LIVRAI-NOS DO MAL. AMÉM.”

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  1. — Nos pedidos precedentes, o Senhor nos ensina a implorar o perdão dos pecados e nos mostra como escapar das tentações. Aqui nos ensina a pedir que sejamos preservados do mal.

Este é um pedido geral. Segundo Santo Agostinho, visa as diferentes espécies de males: pecados, doenças, aflições. Já falamos do pecado e da tentação; resta-nos tratar das outras categorias de males: todas as adversidades e aflições deste mundo. Deus nos livra delas de quatro maneiras.

  1. — Em primeiro lugar, Deus livra o homem das aflições, afastando-as dele; o que faz raramente. Neste mundo, os santos são afligidos. Todos os que quiserem viver piamente em Cristo Jesus, padecerão perseguição, diz São Paulo. (2 Tm 3, 12).

No entanto, às vezes, Deus concede a alguns não serem afligidos. Quando Deus sabe que uma pessoa não suporta a prova, age como um médico que evita dar remédios violentos a um doente muito mal. Eis, diz o Senhor, (Ap 3,8) que pus diante de ti uma porta aberta que ninguém pode fechar.

Na pátria celeste é lei geral que ninguém seja afligido. Está no Apocalipse: (7, 16-17) Já não terão fome nem sede, nem cairá sobre eles o sol nem calor algum. Porque o Cordeiro, que está no meio do trono, os guardará e os levará às fontes das águas da vida, e Deus enxugará toda lágrima dos seus olhos.
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“…E NÃO NOS DEIXEIS CAIR EM TENTAÇÃO…”

pater876 — Há pecadores que desejam obter o perdão de seus pecados; confessam-se e fazem penitência, mas não se aplicam como devem, para não recaírem no pecado. São inconseqüentes consigo mesmos, pois choram e se arrependem de seus pecados, para em seguida caírem novamente nos mesmos pecados e assim acumularem motivo para lágrimas futuras. A propósito disto, diz o Senhor em Isaias: (1, 16) Lavai-vos, purificai-vos, tirai de diante de meus olhos a malignidade de vossos pensamentos: deixai de fazer o mal.

É por isso que Cristo, como dissemos, nos ensina, no pedido anterior, a implorar o perdão de nossos pecados e neste, a graça de evitar o pecado dizendo: e não nos deixeis cair em tentação, pois é verdadeiramente a tentação que nos induz ao pecado.

  1. — Neste pedido três questões atraem nossa atenção:
  1. a) Que é a tentação?
  2. b) Como e por quem o homem é tentado?
  3. c) Como se livra da tentação?
  1. — a) Que é a tentação?

Tentar não quer dizer mais do que: por à prova. Assim, tentar o homem, é por à prova sua virtude. A tentação pode ser de duas maneiras, segundo as exigências da virtude humana. Uma, quanto à perfeição da obra e outra, que o homem se guarde de todo o mal. É o que diz o Salmista: (Sl 33, 15) Evita o mal e faze o bem.

A virtude do homem será pois provação, tanto do ponto de vista da excelência de se agir, quanto do seu afastamento do mal.

  1. — Se sois provados para saber, se estais prontos para praticar o bem, como, por exemplo, jejuar, e estais efetivamente prontos para o bem, grande é a vossa virtude.

Deste modo Deus prova o homem, não porque Ele não conhece sua virtude, mas para que assim todos a fiquem conhecendo e o tenham como exemplo. Deste modo Deus tentou Abraão (Gn 22) e Jó. Por isso Deus envia tribulações aos justos; se suportam com paciência, sua virtude é manifesta e progridem na virtude. O Senhor vosso Deus vos tenta, para se fazer manifesto se o amais ou não, dizia Moisés aos Hebreus (Dt 13, 3). Portanto Deus tenta o homem, provocando-o a fazer o bem. Continuar lendo

“…PERDOAI AS NOSSAS DÍVIDAS ASSIM COMO NÓS PERDOAMOS AOS NOSSOS DEVEDORES…”

pater664 — Encontramos homens de grande sabedoria e força, mas quem confia em sua própria força não trabalha com sabedoria nem conduz até o final aquilo que se propusera fazer. Parecem ignorar que os conselhos dão força às reflexões. Como ensinam os Provérbios (20, 18).

Mas notemos que o Espírito Santo que dá a força, dá também o conselho; pois qualquer bom conselho relativo à salvação do homem só pode vir do Espírito Santo.

O conselho é necessário ao homem, quando este sofre tribulações, assim como o conselho do médico, quando se está doente. Quando um homem está espiritualmente doente pelo pecado, deve pedir conselho. E Daniel mostra que o conselho é necessário ao pecador, quando diz ao rei Nabucodonosor (Dn 4, 24): Segue, ó rei, o conselho que te dou, redime os teus pecados com esmolas.

O conselho de dar esmolas e ser misericordioso é excelente para apagar os pecados. Por isso o Espírito Santo ensina aos pecadores esta oração pedindo: Perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos os nossos devedores.

Além disso devemos verdadeiramente a Deus aquilo a que Ele tem direito e que nós lhe recusamos. Ora, o direito de Deus exige que façamos Sua vontade, preferindo-a à nossa vontade. Ofendemos, portanto, seu direito, quando preferimos nossa vontade à sua, e isto é o pecado. Assim os pecados são nossas dívidas para com Deus. E o Espírito Santo nos aconselha que peçamos a Deus o perdão de nossos pecados e por isso dizemos: Perdoai as nossas dívidas. Continuar lendo

“O PÃO NOSSO DE CADA DIA NOS DAI HOJE…”

pater553 — Muitas vezes, a grandeza da ciência e da sabedoria tornam o homem tímido, e então é preciso ter força no coração, para que o homem não desanime diante das necessidades.

O Senhor, diz Isaías (40, 29), dá força aos cansados e vigor aos que são fracos. E Ezequiel (2, 2) também diz: Entrou em,mim o Espírito, e me firmou sobre os meus pés.

O Espírito Santo, de um lado, dá força para impedir que o homem desfaleça com o medo de não ter o necessário, e por outro lado, para que o homem creia firmemente que Deus o proverá de tudo que precisar.

Assim o Espírito Santo, dispensador desta força, nos ensina a dizer: O pão nosso de cada dia nos dai hoje. E o chamamos Espírito de força.

54 — É preciso saber, que nos três pedidos precedentes do «Pai Nosso», pedimos bens espirituais, cuja possessão começa neste mundo, mas só será perfeita na vida eterna.

Com efeito, quando pedimos a santificação do nome de Deus, pedimos que reconheçamos Sua santidade; pedindo a vinda de Seu reino, pedimos alcançar a vida eterna; pedir para que a vontade de Deus seja feita é pedir que Deus cumpra Sua vontade em nós. Todos esses bens, parcialmente realizados neste mundo, só o serão perfeitamente, na vida eterna.

Também é necessário pedir a Deus alguns bens indispensáveis, cuja possessão perfeita é possível na vida presente. Por isso, o Espírito Santo nos ensina a pedir estes bens, necessários à vida presente e perfeitamente possuídos aqui em baixo.
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“…SEJA FEITA A VOSSA VONTADE ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU…”

pater443. — O Espírito Santo produz em vós um terceiro dom, chamado dom de Ciência.

 O Espírito Santo não produz nos bons somente o dom do Temor e o dom da Piedade que, como vimos atrás (n° 34), é um amor delicado por Deus. O Espírito Santo torna o homem sábio.

Davi pedia o dom da ciência no Salmo 118, 66, dizendo: Ensinai-me a bondade, a doutrina e a ciência. E é esta ciência do bem viver, que nos ensina o Espírito Santo.

Entre as disposições que contribuem para a ciência e a sabedoria do homem, a mais importante é aquela que faz com que o homem não se apóie em si mesmo. Não te estribes em tua prudência, recomenda o livro dos Provérbios (3, 5). Com efeito, os que confiam em seu próprio julgamento, a ponto de não se fiarem senão em si mesmos e não nos outros, são considerados como insensatos, e verdadeiramente o são. Declara o livro dos Provérbios (26, 12): Mais se deve esperar de um ignorante do que de um homem que é sábio a seus próprios olhos. 

Um homem não confia em seu próprio julgamento se é humilde, pois, ensinam os Provérbios (11, 2): onde há humildade, aí há igualmente sabedoria. Os orgulhosos ao contrário, põem em si toda confiança.

  1. — Assim sendo, o Espírito Santo nos ensina, pelo dom de Ciência, a não fazer a nossa vontade, mas a vontade de Deus. E também quando pedimos a Deus, que Sua vontade se faça no céu, como na terra, manifesta-se O dom de Ciência.

Quando dizemos a Deus: Seja feita a vossa vontade, é como se fôssemos doentes que aceitam o remédio amargo, prescrito pelo médico. O doente não quer tal remédio, mas aceita a vontade do médico, do contrário, seguindo só sua vontade, seria um insensato. Da mesma maneira, não devemos pedir a Deus nada além do Seu querer, isto é, a realização de Sua vontade em nós.  Continuar lendo

“…VENHA A NÓS O VOSSO REINO…”

pater334. — Como foi dito, o Espírito Santo nos faz amar, desejar e pedir retamente o que nos convém amar, desejar e pedir (no. 3). Este Espírito produz em nós, primeiro, o temor que nos leva a procurar a santificação do nome de Deus, para, em seguida, nos dar o dom da piedade. A piedade é, propriamente, uma afeição terna e devotada por um pai e também por um homem caído na miséria.

Como Deus é nosso Pai, devemos não somente venerá-lo e temê-lo, mas também alimentarmos uma terna e delicada afeição por Ele. É esta afeição que nos faz pedir a vinda do reino de Deus. São Paulo declara em Tito, 2, 11-13: A graça de Deus apareceu a todos os homens, ensinando-nos que vivamos neste mundo sóbria, justa e piamente, aguardando a esperança bem-aventurada e a vinda gloriosa de nosso grande Deus.

  1. — Mas podemos perguntar: Se o reino de Deus sempre existiu, porque pedimos a sua vinda?

Devemos responder a esta pergunta de três maneiras:

  1. a) Primeiro: o reino de Deus, em sua forma acabada, supõe a perfeita submissão de todas as coisas a Deus. Um rei não será rei, efetivamente, antes de que todos os seus súditos lhe obedeçam.

Sem dúvida, Deus pelo que é e por sua natureza, é o Senhor do universo; e o Cristo, sendo Deus e sendo homem, tem, como Deus, o senhorio sobre todas as coisas. Diz Daniel (7, 14): No mais antigo dos dias foi lhe dado o poder, a honra e a realeza. É preciso que tudo lhe seja submetido. Mas isto ainda não é assim e se realizará no fim do mundo. Está escrito (1 Cor 15, 25): É necessário que ele reine, até que ponha todos os inimigos debaixo de seus pés. Eis porque pedimos: venha a nós o vosso reino.
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“…SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME…”

santif27. — Este é o primeiro pedido, no qual pedimos que o nome de Deus seja manifestado em nós e por nós proclamado.

Ora, o nome de Deus é antes de tudo, admirável, porque em todas as criaturas opera obras maravilhosas. O Senhor declara no Evangelho (Mc 16,17): Em meu nome, expulsarão os demônios, falarão novas línguas, e se beberem algum veneno mortal, este não lhes fará mal algum.

  1. — Em segundo lugar, o nome de Deus é amável. «Não existe debaixo do céu, diz São Pedro (At 4, 12) nenhum outro nome, entre os que foram dados aos homens, que possa salvar-nos». E a salvação deve ser buscada por todos. Santo Inácio dá-nos o exemplo do quanto devemos amar o nome de Cristo. Quando o imperador Trajano exigiu que ele negasse o nome de Cristo, Santo Inácio respondeu: «Não podereis arrancá-lo de minha boca». O tirano ameaçou cortar-lhe a cabeça e assim tirar o nome de Cristo de seus lábios; replicou o bem-aventurado: «Não o arrancarás jamais de meu coração, pois é lá que está gravado, por isto não posso deixar de invocá-lo». Ouvindo estas palavras, Trajano, desejoso de verificar-lhes a exatidão, mandou cortar a cabeça do servidor de Deus e extrair-lhe o coração. E no coração encontrou gravado, com letras de ouro o nome de Cristo. O santo possuía este nome como um selo em seu coracão.
  1. — Em terceiro lugar, o nome de Deus é venerável. O Apóstolo afirma (Fp 2, 10): Que ao nome de Jesus se dobrem todo joelho no céu, na terra e nos infernos; no céu, no mundo dos anjos e bem-aventurados; na terra, tanto os homens, que querem a glória celeste, como os que, por temerem o castigo, buscam evitá-lo; nos infernos, no mundo dos danados, que estes se prostrem com temor diante de Jesus Cristo.
  1. — Em quarto lugar, o nome de Deus é inexprimível, no sentido de que nenhuma língua é capaz de exprimir toda a sua riqueza.

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“…QUE ESTAIS NO CÉU…”

01_not10117 — Entre as disposições necessárias àquele que reza, a confiança tem uma importância considerável. Quem pede alguma coisa a Deus, diz São Tiago, (1,6) faça-o com confiança e sem hesitação.

O Senhor, no princípio da Oração que nos ensinou, expõe os motivos que fazem nascer a confiança.

Primeiro, a complacência do Pai: Pai Nosso. Depois, diz o Senhor (Lc 11, 13): Vós que sais maus, sabeis dar coisas boas a vossos filhos; quanto mais dará vosso Pai celeste, do alto dos céus, àqueles que lhe pedem, seu bom Espírito. 

Um outro motivo de confiança é a grandeza e o poder do Pai, o que nos faz dizer ao Senhor não apenas Pai nosso, mas Pai nosso que estais no céu. O Salmista também diz: (Sl 122, 1) Elevei meus olhos para vós que habitais nos céus. 

  1. — O Senhor usou a expressão que estais no céu por três razões diferentes.

Em primeiro lugar, esta expressão tem por objeto preparar a oração, como nos recomenda o Eclesiástico (18, 23): Antes da oração, preparai vossas almas. Seguramente, o pensamento de que nosso Pai está nos céus, isto é, na glória celeste, nos prepara para lhe dirigirmos nossas súplicas. 

Na promessa do Senhor a seus Apóstolos (Mt 5, 12): vossa recompensa será grande nos céus, a expressão «nos céus» tem igualmente o sentido de «na glória celeste». 

A preparação da oração se realiza pela imitação das realidades celestes, pois o filho deve imitar seu pai. Assim, São Paulo escreve aos Coríntios (I, 15,49): Como revestimos a imagem do homem terrestre, é preciso também revestirmos a imagem do homem celeste.  Continuar lendo

“PAI NOSSO…”

pater111 — Perguntamos: como é que Deus é Pai? E quais são nossas obrigações para com Ele devido à sua paternidade?

Chamamo-lo Pai, por causa do modo especial com que nos criou. Criou-nos à sua imagem e semelhança, imagem e semelhanças estas, que não imprimiu em nenhuma outra criatura inferior ao homem. Não é ele teu Pai, teu Criador que te estabeleceu? (Dt 32, 6).

Deus merece também o nome de Pai, por causa da solicitude particular que tem para com os homens no governo do universo. Nada escapa ao seu governo, sendo este exercido de modo diferente em relação a nós e em relação às criaturas inferiores a nós. Os seres inferiores são governados como escravos e nós como senhores. Ó Pai, diz o livro da Sabedoria (14, 3), vossa providência rege e conduz todas as coisas; e (12, 18) a nós governa com indulgência. 

Deus, enfim, tem direito ao nome de Pai, porque nos adotou. Enquanto não deu, às outras criaturas, senão pequenas dádivas, a nós fez o dom de sua herança, e isso porque somos seus filhos. São Paulo diz (Rm 8, 17): Porque somos seus filhos, somos também seus herdeiros, e ainda (vers. 15): Vós não recebestes um espírito de servidão, para recairdes no temor, mas recebestes um espírito de adoção, que nos faz clamar: Abba, Pai. 

  1. — Em primeiro lugar, devemos honrá-lo. Se sou Pai, diz o Senhor, por Malaquias, (1,6) onde está a minha honra?

Esta honra consiste em três coisas: a primeira em relação aos nossos deveres para com Deus; a segunda, nossos deveres para conosco mesmos; a terceira, nossos deveres para com o próximo. 

A honra devida ao Senhor consiste, primeiramente, em oferecer a Deus o dom do louvor, seguindo o que está escrito (Sl 49, 23): O sacrifício de louvor me honrará. Este louvor deve estar não só nos lábios, como no coração. Está escrito em Isaías (29,13): Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim.  Continuar lendo

OS BONS EFEITOS DA ORAÇÃO

maeNotemos que a oração produz três espécies de bens. 

Primeiramente, constitui um remédio eficaz contra todos os males. Livra-nos dos pecados cometidos: «Remistes, Senhor, a iniqüidade de meu pecado, diz o Salmista (Sl 31,5-6) por isso todo homem santo dirigirá a Vós sua prece». Assim pediu o ladrão sobre a cruz e obteve seu perdão, pois Jesus lhe respondeu: «Em verdade vos digo, hoje mesmo estareis comigo no paraíso». (Lc 23,43), Do mesmo modo rezou o publicano e voltou para casa justificado (cf. Lc 18,14). 

A oração nos liberta do medo dos pecados que virão, das tribulações e da tristeza. Alguém está triste entre vós? Reze com a alma tranqüila (Tg 5,3). 

A oração nos livra das perseguições dos inimigos. Está escrito no Salmo 108, 4: Em resposta ao meu afeto me fizeram mal; eu, porém, orava.

Em segundo lugar, a oração é um meio útil e eficaz para a realização de todos os nossos desejos. Tudo o que pedirdes na oração, diz Jesus, crede, recebereis. (Mc 11,24). Continuar lendo

AS CINCO QUALIDADES REQUERIDAS PARA TODAS AS ORAÇÕES

rezando menina veuA Oração Dominical (o Pai Nosso), entre todas, é a oração por excelência, pois possui as cinco qualidades requeridas para qualquer oração. A oração deve ser: confiante, reta, ordenada, devota e humilde.

A oração deve ser confiante, como São Paulo escreve aos Hebreus (4, 16): Aproximemo-nos com confiança do trono da graça, a fim de alcançar a misericórdia e achar graça para sermos socorridos no tempo oportuno. 

A oração deve ser feita com fé e sem hesitação, segundo São Tiago. (Tg 1,6): Se algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus… Mas peça-a com fé e sem hesitação. 

Por diversas razões, o Pai Nosso é a mais segura e confiante das orações. A Oração Dominical é obra de nosso advogado, do mais sábio dos pedintes, do possuidor de todos os tesouros de sabedoria (cf. Cl 2, 3), daquele de quem diz São João (I, 2, 1): Temos um advogado junto ao pai: Jesus Cristo, o Justo. São Cipriano escreveu em seu Tratado da oração dominical: «Já que temos o Cristo como advogado junto ao Pai, por nossos pecados, em nossos pedidos de perdão, por nossas faltas, apresentemos em nosso favor, as palavras de nosso advogado». 

A Oração Dominical parece-nos também que deve ser a mais ouvida porque aquele que, com o Pai, a escuta é o mesmo que no-la ensinou; como afirma o Salmo 90 (15): Ele clamará por mim e eu o escutarei. «É rezar uma prece amiga, familiar e piedosa dirigir-se ao Senhor com suas próprias palavras» diz São Cipriano. Nunca se deixa de tirar algum fruto desta oração que, segundo santo Agostinho, apaga os pecados veniais. 

Nossa oração deve, em segundo lugar, ser reta, quer dizer, devemos pedir a Deus os bens que nos sejam convenientes. «A oração, diz São João Damasceno, é o pedido a Deus dos dons que convém pedir».  Continuar lendo