Porro unum est necessarium — “Só uma coisa é necessária” (Luc. 10, 42.)
Sumário. O único fim pelo qual o Senhor nos pôs neste mundo é a salvação de nossa alma. Pouco importa sermos aqui pobres, perseguidos e desprezados, salvando-nos nada mais teremos a sofrer e seremos felizes por toda a eternidade. Se, porém, perdermos este negócio e nos condenarmos, de que nos servirá no inferno termos gozado de todos os prazeres do mundo, de havermos sido ricos e cortejados? Perdida a alma, está perdido tudo e para sempre! Meu irmão, dize-me, como cuidaste até hoje deste negócio único?… Estás ao menos resolvido a tratá-lo no futuro seriamente?
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São Bernardo lamenta a incoerência dos cristãos, que tratam de loucura os brinquedos infantis, e chamam negocio sério as suas ocupações terrestres, enquanto na realidade elas não são senão loucuras maiores. De que serve, diz o Senhor, ganhar o mundo inteiro e perder a alma? Quid prodest homini, si universum mundum lucretur, animae vero suae detrimentum pafiatur?(1) — Se te chegares a salvar, meu irmão, pouco importa que tenhas neste mundo sido pobre, perseguido e desprezado; salvando-te, nada mais terás a sofrer e serás feliz por toda a eternidade. Se, porém, perderes a alma e te condenares, de que te servirá no inferno o teres gozado de todos os prazeres do mundo, o haveres sido rico e cortejado? Perdida a alma, perdem-se os prazeres, as honras, as riquezas, perde-se tudo.
Que responderás a Jesus Cristo no dia das contas? Se um rei encarregasse o seu embaixador de ir a uma cidade para tratar um negócio importante, e se, chegado ali, em vez de cuidar do negócio que lhe fora confiado, só pensasse em festas, espetáculos e banquetes, e assim levasse o negócio a mau êxito, que contas daria ao rei quando voltasse? Ó Deus! Que contas mais rigorosas não terá de dar ao Senhor no dia do juízo aquele que, colocado no mundo, não para se divertir, enriquecer, adquirir honras, mas para salvar a alma, de tudo se tiver ocupado exceto dela? Os mundanos só pensam no presente e nunca no futuro.
São Filippe Neri, conversando um dia em Roma com um moço talentoso, chamado Francisco Zazzera, que só pensava nas coisas do mundo, falou-lhe desta maneira: Meu filho, alcançarás grande fortuna, será bom advogado, depois prelado, depois talvez cardeal, e quem sabe? Talvez Papa. E depois?… E depois?… Vai, disse-lhe, vai e pensa nestas duas palavras, Francisco voltou para casa, e tendo refletido seriamente nestas duas palavras: E depois?… E depois?… renunciou às ocupações mundanas e entrou na Congregação de São Filipe, entregando-se inteiramente aos trabalhos de Deus. Continuar lendo
Meus cibus est ut faciam voluntatem eius qui misit me, ut perficiam opus eius — “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou, para consumar a sua obra” (Io. 4, 34).
Simile est regnum coelorum grano sinapis, quod accipiens homo seminavit in agro suo — “O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo” (Matth. 13, 31).
Consideremos, em terceiro lugar, que Maria Santíssima é advogada tão caridosa, que não somente auxilia aos que recorrem a ela, mas que vai procurando por si mesma os desgraçados para os defender e salvar.
Qui audit me, non confundetur: et qui operantur in me, non peccabunt — “Aquele que me ouve, não será confundido, e os que obram por mim, não pecarão” (Ecclus. 24, 30).
Dabit percutienti se maxillam, saturabitur opprobriis — “Oferecerá a face ao que o ferir, fartar-se-á de opróbrios” (Thren. 3, 30).
Consideremos, em segundo lugar, que Maria é advogada tão clemente quanto poderosa, e que não sabe negar sua proteção a quem recorre a ela. Os olhos do Senhor estão voltados sobre os justos, disse David. Mas esta Mãe de misericórdia, segundo afirma Ricardo de São Lourenço, fita os olhos nos justos como nos pecadores, a fim de que não caiam; e, se tiverem caído, para ajudar-lhes a que se levantem.
Parasti in conspectu meo mensam adversus eos, qui tribulant me — “Preparaste uma mesa diante de mim, contra aqueles que me angustiavam” (Ps. 22, 5).
Mortuo homine impio, nulla erit ultra spes — “Morto o homem ímpio, não restará mais esperança alguma” (Prov. 11, 7).
Qui invenerit me, inveniet vitam, et hauriet salutem a Domino – “Quem me encontrar, encontrará a vida, e alcançará do Senhor a salvação” (Pr 8, 35)
Posuit me desolatam, toto die moerore confectam — “Pôs-me em desolação, afogada em tristeza todo o dia” (Thren. 1, 13).
De lectulo, super quem ascendisti, non descendes, sed morte morieris — “Não te levantarás da cama em que jazes, mas certamente morrerás” (4 Reg. 1, 4).
Simile factum est regnum coelorum homini, qui seminavit bonum semen in agro suo — “O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo” (Matth. 13, 24).
Venerunt mihi omnia bona pariter cum illa — “Todos os bens me vieram juntamente com ela” (Sap. 7, 11).
A alma: De novo, Senhor, vos falarei, e não me calarei; direi aos ouvidos de meu Deus, meu Senhor e meu Rei, que está nas alturas: Quão grande, Senhor, é a abundância da doçura que reservastes aos que vos temem! (Sl 30,20). Mas que será para os que vos amam e de todo o coração vos servem? É verdadeiramente inefável a doçura da contemplação que concedeis aos que vos amam. Nisto particularmente me manifestastes a doçura de vosso amor: quando não era, vós me criastes e quando andava longe de vós, perdido no erro, me reconduzistes a vos servir e me destes o preceito de vos amar.
Delectare in Domino, et dabit tibi petitiones cordis tui — “Deleita-te no Senhor, e Ele te outorgará as petições de teu coração” (Ps. 36, 4).
Non avertet faciem suam a vobis, si reversi fueritis ad eum — “Não apartará (Deus) de vós o seu rosto, se vós voltardes para Ele” (2 Paral. 30, 9).
Gloria filiorum patres eorum — “A glória dos filhos são seus pais” (Prov. 17, 6).
Sancta et salubris est cogitatio pro defunctis exorare, ut a pecatis solvantur — “É um santo e salutar pensamento orar pelos mortos para que lhes sejam perdoados os seus pecados” (2 Mach. 12, 46).
Clamans voce magna Jesus ait: Pater, in manus tuas commendo spiritum meum — “Jesus, dando um grande brado, disse: Pai, nas tuas mãos encomendo o meu espírito” (Luc. 23, 46).
“Vidi turbam magnam, quam dinumerare nemo poterat, ex omnibus gentibus, et tribubus et populis et linguis” — “Vi uma grande multidão, que ninguém poderia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas” (Apoc 7, 9).
Mortuo non prohibeas gratiam — “Não impeças que a liberalidade se estenda aos mortos” (Ecclus. 7, 37).
Oportet semper orare et non deficere — “É preciso orar sempre e não deixar de o fazer” (Luc. 18, 1).
Os Romanos, diz Fénelon, e antes deles os Gregos, ensinavam a seus filhos a não estimarem senão a glória, e a quererem, não possuir riquezas, mas vencer os reis que as possuíam, julgando que só pela virtude se podia ser feliz. Quando, serão os filhos do século mais sábios que os filhos da luz?
Omnis dolor irruet super eum — “Toda a sorte de dores virá sobre ele” (Iob 20, 22).