CERTEZA DA MORTE – PONTO II

Resultado de imagem para cemitérioÉ certo, pois que todos fomos condenados à morte. Todos nascemos – disse São Cipriano – com a corda ao pescoço, e a cada passo que damos mais nos aproximamos da morte. Meu irmão, assim como foste inscrito no livro do batismo, assim, um dia, o serás no registro dos mortos. Assim como, às vezes, mencionas teus antepassados, dizendo: meu pai, meu tio, meu irmão, de saudosa memória, o mesmo dirão de ti teus descendentes. Como muitas vezes tens ouvido planger os sinos pela morte dos outros, assim outros ouvirão que os tocam por ti.

Que dirias de um condenado à morte que se encaminhasse ao patíbulo galhofando e rindo-se, olhando para todos os lados e pensando em teatros, festins e divertimentos? E tu, neste momento, não caminhas também para a morte? e em que pensas? contempla nessas sepulturas teus parentes e amigos, cuja sentença já foi executada. Que terror se apodera de um condenado, quando vê seus companheiros pendentes da forca e já mortos! Observa esses cadáveres; cada um deles diz:

“Ontem, a mim; hoje, a ti” (Eclo 38, 23)

O mesmo te repetem, todos os dias, os retratos de teus parentes já falecidos, os livros, as casas, os leitos, as roupas que deixaram.

Que loucura extrema, não pensar em ajustar as contas da alma e não aplicar os meios necessários para alcançar um boa morte, sabendo que temos de morrer, que depois da morte nos está reservada uma eternidade de gozo ou de tormento, e que desse ponto depende o sermos para sempre felizes ou desgraçados! Temos compaixão dos que morrem repentinamente e não se acham preparados para a morte e, contudo, não tratamos de nos preparar, a fim de não nos acontecer o mesmo. Cedo ou tarde, quer estejamos apercebidos, quer de improviso, pensemos ou não na morte, ela há de vir; e a toda hora, a cada instante nos vamos aproximando do nosso patíbulo, ou seja, da última enfermidade que vos deve tirar deste mundo. Continuar lendo

DA PRIVAÇÃO DE TODA CONSOLAÇÃO

Resultado de imagem para sofrimento joelhosNão é dificultoso desprezar as consolações humanas, quando gozamos das divinas. Grande coisa, porém, e mui meritória, é poder estar sem consolação, tanto divina como humana, sofrendo de boa mente o desamparo do coração, sem em nada buscar-se a si mesmo, nem atender ao seu próprio merecimento. Que maravilha será estares alegre e devoto, quando te assiste a graça! De todos é almejada esta hora. E mui suave andar, levado pela graça de Deus. E que maravilha não sentir a carga aquele que é sustentado pelo Onipotente e acompanhado do guia supremo!

Gostamos de ter qualquer consolação, e é penoso ao homem despojar-se de si mesmo. O glorioso mártir São Lourenço venceu o mundo em união com seu pai espiritual, porque desprezou todos os atrativos do século e sofreu com paciência, por amor de Cristo, que o separassem do Supremo Pontífice São Xisto a quem ele muito amava! Assim, com a amor de Deus, ele subjugou o amor da criatura, e ao alívio humano preferiu o beneplácito divino. Daí aprende tu a deixar, às vezes, por amor de Deus, um parente ou amigo querido. Nem tanto te aflijas se te abandonar algum amigo, sabendo que todos, finalmente, nos havemos de separar uns dos outros.

Só com renhido e longo combate interior aprende o homem a dominar-se plenamente e pôr em Deus todo o seu afeto. Quando o homem confia em si, facilmente desliza nas consolações humanas. Mas o verdadeiro amigo de Cristo e fervoroso imitador de suas virtudes não se inclina às consolações nem busca tais doçuras sensíveis; antes, procura exercícios austeros e sofre por Cristo trabalhos penosos. Continuar lendo

CERTEZA DA MORTE – PONTO I

Resultado de imagem para cemitérioStatutum est hominibus semel mori – “Foi estabelecido aos homens morrer uma só vez” (Hb 9, 27)

A sentença de morte foi escrita para todo o gênero humano: É homem, deves morrer. Dizia Santo Agostinho:

“Só a morte é certa; os demais bens e males nossos são incertos”

É incerto se o recém-nascido será rico ou pobre, se terá boa ou má saúde, se morrerá moço ou velho. Tudo isto é incerto, mas é indubitavelmente certo que deve morrer.

Magnatas e reis também serão ceifados pela morte, a cujo poder não há força que resista. Resiste-se ao fogo, à água, ao ferro, ao poder dos príncipes, mas não se pode resistir à morte! Conta Vicente de Beauvais que um rei da França, achando-se no termo da vida, exclamava:

“Com todo o meu poder, não posso conseguir que a morte espere mais uma hora!”

Quando chega esse momento, não podemos retardá-lo nem por um instante sequer.

Por muitos anos, querido leitor, que ainda tenhas de viver, há de chegar um dia, e nesse dia uma hora, que te será a última. Tanto para mim, que escrevo, como para ti, que lês este livro, está decretado o dia, o instante, em que nem eu poderei mais escrever nem tu ler. Continuar lendo

ESPECIAIS DO BLOG: TRATADO DOS ESCRÚPULOS

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Em mais uma “Operação Memória” de nosso blog, trazemos novamente os links para os capítulos de um livro chamado “Tratado dos Escrúpulos de Consciência“, do Abade Grimes, que trata de um assunto muito interessante e que, infelizmente, afeta muitos católicos.

BREVIDADE DA VIDA – PONTO III

Imagem relacionadaQue grande loucura expor-se ao perigo de uma morte infeliz e começar com ela uma eternidade desditosa, por causa dos breves e miseráveis deleites desta vida tão curta! Oh, quanta importância tem esse último suspiro, esta última cena! Vale uma eternidade de gozos ou de tormentos. Vale uma vida sempre feliz ou sempre desgraçada. Consideremos que Jesus Cristo quis morrer vítima de tanta amargura e ignomínia para nos obter morte venturosa. Com este fito nos dirige tantas vezes seu convite, dá-nos suas luzes, nos admoesta e ameaça, tudo para que procuremos concluir a hora derradeira na graça e na amizade de Deus.

Até um pagão, Antístenes, a quem perguntaram qual era a maior dita deste mundo, respondeu que era uma boa morte. Que dirá, pois, um cristão, a quem a luz da fé ensina que nesse momento começa a eternidade e se toma uma dos dois caminhos, o do eterno sofrimento ou o da eterna alegria? Se numa bolsa metessem dois bilhetes: um com a palavra inferno, outro com a palavra glória, e tivesses que tirar à sorte um deles para seguir imediatamente ao lugar indicado, que precaução não tomarias para tirar o que desse entrada para o céu? Os desgraçados, condenados a jogar a vida, como tremem ao estender a mão para lançar os dados, dos quais depende sua vida ou morte.

Com que espanto te verás próximo desse momento solene em que poderás dizer a ti mesmo: Deste momento depende minha vida ou minha morte eterna! Decide-se agora se hei de ser eternamente feliz ou desesperado para sempre. Refere São Bernardino de Sena que certo príncipe, ao expirar, dizia atemorizado: Eu, que tantas terras e palácios possuo neste mundo, não sei, se morrer esta noite, que mansão irei habitar! Se crês, meu irmão, que hás de morrer, que existe eternidade, que se morre só uma vez, e que, dado este passo em falso, o erro é irreparável para sempre e sem esperança de remédio: por que não te decides, desde o momento em que isto lês, a praticar quanto puderes para te assegurar uma boa morte? Era a tremer que Santo André Avelino dizia: Quem sabe a sorte que me estará reservada na outra vida: salvar-me-ei? Tremia um São Luís Beltrão de tal maneira que, em muitas noites, não lograva conciliar o sono, acabrunhado pelo pensamento que lhe dizia: Quem sabe se te condenarás? E tu, meu irmão, que de tantos pecados és culpado, não tremes? Apressa-te em tomar o remédio oportuno; decide entregar-te inteiramente a Deus, e começa, desde já, uma vida que não te aflija, mas proporcione consolo na hora da morte. Dedica-te à oração; frequenta os sacramentos, evita as ocasiões perigosas e, se tanto for preciso, abandona o mundo para assegurar tua salvação, persuadido de que, quando esta se trata, não há confiança que baste. Continuar lendo

O AMOR À VERDADE

Imagem relacionadaO célebre presidente dos estados Unidos, Jorge Washington, quando contava seis anos, recebeu de presente uma machadinha com a qual ia desbastando tudo quanto encontrava; maltratou a tal ponto uma cerejeira inglesa, tirando-lhe a casca, que a árvore devia fatalmente morrer. Na manhã seguinte, quando o pai viu a sua querida árvore em tão lamentável estado, tomou-se de furor e perguntou quem havia praticado aquela ação bárbara. Aparece, entretanto o pequeno Jorge com sua machadinha, e o pai intuiu imediatamente, que este era o culpado. Á vista disso, indagou sério:

– “Jorge, não sabes quem assim maltratou está árvore?” O menino deteve-se por alguns momentos, mas em seguida respondeu com franqueza:

– “Não posso mentir, papai, sabe que não posso mentir, golpeei-a com esta machadinha”.

A resposta abrandou a cólera do pai que, profundamente comovido, assim lhe falou: -“Vem a meus braços, filhinho! O dano que fizeste à árvore reparaste-o, agora, mil vezes com a tua sincera confissão; pois, tal amor à verdade é mais precioso do que milhares de árvores, ainda quando carregadas de frutos saborosos”.

Sim, o amor à verdade é uma bela virtude que te recomendo com toda a energia, e, por isto desejaria prevenir-te contra o feio vício da mentira.

1º – Não mintas – a mentira é abominável a Deus.

Com efeito, Deus é Verdade, a mais pura e a mais límpida, e absolutamente, não pode mentir. Eis porque detesta, em nós, a mentira; esta lhe contraria a essência e se opõe ao escopo que Ele teve em mira ao dar-nos ao dom da palavra. Esta faculdade preciosa, certamente, não nos foi concebida, para camuflar a realidade com a aparência e o engano. A mentira é, portanto, uma subversão da ordem divina, uma revolta contra Deus. Satanás, o primeiro que se insurgiu contra Deus, foi por isso mesmo o primeiro mentiroso, “o pai da mentira”, como denominou o Divino Salvador. Visto, opor-se a mentira à essência divina e à sua santa ordem, Deus a aborrece, e assim se exprime séria e severamente na Sagrada Escritura: “Os lábios mentirosos são abominação para o Senhor”. (Prov., 12,22)

2º – Não mintas – a mentira é também, desdouro na perspectiva humana.

Detestemos a mentira, que é contrária à natureza humana. O homem é, inclinado à verdade, repugnam-lhe a mentira e a falsidade. A criança, ainda não corrompida, diz só o que pensa, seus olhos brilhantes são o espelho fiel de sua alma pura e franca. A primeira que profere, revolta-se a natureza íntima da criança e manifesta-se pelo rubor da face que denuncia a confusão. Detestemos a mentira, porque solapa o fundamento da sociedade humana, que são a veracidade e a confiança, mútuas. Continuar lendo

BREVIDADE DA VIDA – PONTO II

Resultado de imagem para cemitérioExclama o rei Ezequias:

“Minha vida foi cortada como por tecelão. Quando ainda estava urdindo, ele me cortou” (Is 38, 12)

Quantas pessoas andam preocupadas a tecer a teia de sua vida, ordenando e combinando com arte seus mundanos desígnios, quando os surpreende a morte e rompe tudo! Ao pálido resplendor da última luz todas as coisas deste mundo se obscurecem: aplausos, prazeres, pompas e grandezas.

Grande segredo o da morte! Sabe mostrar-nos o que não veem os amantes do mundo. As mais cobiçadas fortunas, os postos mais elevados, os triunfos mais estupendos perdem todo o seu esplendor considerados à vista do leito mortuário. Convertem-se então em indignação contra nossa própria loucura as ideias que tínhamos formado de certa felicidade ilusória. A sombra negra da morte cobre e obscurece até as dignidades régias.

Durante a vida, nossas paixões nos apresentam os bens do mundo de modo mui diferente do que são. A morte, porém, lhes tira o véu e os mostra na sua realidade: fumo, logo, vaidade e miséria. Meu Deus, para que servem depois da morte riquezas, domínio e reinos, quando, ao morrer, temos apenas necessidade de um ataúde de madeira e de uma mortalha para cobrir o corpo? Para que servem honras, se apenas nos darão um cortejo fúnebre ou pomposas exéquias, que de nada nos aproveitarão se a alma está perdida? Para que serve formosura do corpo, se não restam mais que vermes, podridão espantosa e, pouco depois, pó infecto? Ele me reduziu a ser como a fábula do povo, e sou ludibrio diante deles (Jó 17, 6). Morre um ricaço, um governador, um capitão, e por toda parte sua morte será apregoada. Mas, viveu mal, virá a ser censurado pelo povo, exemplo da vaidade do mundo e da justiça divina, e escarmento para muitos. Na cova será confundido com os cadáveres dos pobres.

“Grandes e pequenos ali estão” (Jó 3, 19) Continuar lendo

BREVIDADE DA VIDA – PONTO I

Imagem relacionadaQuae est vita vestra? Vapor est ad modicum – “Que é vossa vida? É vapor que aparece por um instante” (Tg 4, 14)

Que é nossa vida? Assemelha-se a um tênue vapor que o ar dispersa e desaparece completamente. Todos sabemos que temos de morrer. Muitos, porém, se iludem, imaginando a morte tão afastada que jamais houvesse de chegar. Jó, entretanto, nos adverte que a vida humana é brevíssima:

“O homem, vivendo breve tempo, brota como flor e murcha” (Jó 14, 1-2)

Foi esta mesma verdade que Isaías anunciou por ordem do Senhor:

“Clama – disse-lhe – que toda a carne é erva… verdadeira erva é o povo; seca a erva e cai a flor” (Is 40, 6-8)

A vida humana é, pois, semelhante à de uma planta. Chega a morte, seca a erva; acaba a vida e murcha, cai a flor das grandezas e dos bens terrenos.

A morte corre ao nosso encontro mais rápido que um corredor. E nós, a cada instante, corremos para ela (Jo 9, 25). A cada passo, a cada respiração chegamos mais perto da morte.

“Este momento em que escrevo – disse São Jerônimo – faz-me caminhar para a morte.”

“Todos temos de morrer, e nós deslizamos como a água sobre a terra, a qual não volta para trás” (2 Sm 14, 14)

Vê como corre o regato para o mar; suas águas não retrocedem; assim, meu irmão, passam teus dias e cada vez mais te acercas da morte. Prazeres, divertimentos, faustos, lisonjas e honras, tudo passa. E o que fica? Continuar lendo

TUDO SE ACABA COM A MORTE – PONTO III

Resultado de imagem para cemitérioDavid compara a felicidade na vida presente ao sonho de um homem que desperta (Sl 72, 20), e, comentando estas palavras, escreve um autor: “Parecem grandes os bens deste mundo; mas, na realidade, nada são, e duram pouco, semelhante ao sonho, que se esvai“. O pensamento de que com a morte tudo se acaba, inspirou a São Francisco de Borja a resolução de dar-se inteiramente a Deus. Incumbiram-no de acompanhar o cadáver da imperatriz Isabel de Granada. Quando abriram o ataúde, foi tal o aspecto horrível que ofereceu e o cheiro que exalou, que afugentou toda a gente. Só São Francisco, guiado pela luz divina, ficou a contemplar nesse cadáver a vaidade do mundo, e olhando-o disse: “Sois, então, a minha imperatriz? Sois aquela, diante da qual tantos grandes reverentes se ajoelharam? Isabel, para onde foi vossa majestade, vossa beleza? É assim – concluiu ele de si para consigo – que acabam as grandezas e as coroas do mundo! Não sirvo mais a um senhor que me possa ser roubado pela morte!” E desde então se consagrou inteiramente ao amor do Crucificado, fazendo voto de abraçar o estado religioso quando sua esposa morresse, o que depois efetivamente cumpriu, entrando na Companhia de Jesus.

Tinha razão, portanto, esse homem desiludido, quando escreveu sobre um crânio humano: “Quem pensa na morte, tudo lhe parece vil“.

Quem medita na morte, não pode amar a terra. Por que, entretanto, há tantos desgraçados que amam este mundo? Porque não pensam na morte. Míseros filhos de Adão – diz-nos o Espírito Santo, – por que não arrancais do coração os afetos terrenos, que fazem amar a vaidade e a mentira? (Sl 4, 3). O que aconteceu a teus antepassados, sucederá também a ti; eles moraram nesta mesma casa, dormiram nesse mesmo leito, mas já não existiu: o mesmo acontecerá a ti.

Entrega-te, pois, a Deus, meu caro irmão, antes que chegue a morte. Continuar lendo

DIANTE DA IMAGEM DE MARIA

jovemEra Margarida uma jovem de dezesseis anos. Seu pai fora maçom; sua mãe, nada piedosa.

Educaram-na numa escola onde não se pronunciava o nome de Deus; mas Nosso Senhor amava aquela menina. De caminho para a escola, ao passar por uma igreja, sentia-se impelida a entrar a ali permanecia algum tempo a olhar para o altar.

Muitas vezes e de maneira maravilhosa falou Deus ao coração daquela menina, que, às escondidas, chegou a confessar-se e a comungar.

A falta de religião no lar bem depressa a fez esquecer essas inspirações divinas.

Não era má, nunca dera escândalo, mas nunca rezava nem ia à Missa. Só pensava em divertir-se com as amigas, entregando-se com elas a bailes e passeios. Deus, porém, não permitiu que seu coração se manchasse de impurezas.

Era o primeiro dia da novena de Nossa Senhora do Carmo. Algumas moças, levando jarros, velas e flores, entraram na igreja, onde ia começar a novena solene. Margarida, que passava por ali com suas alegres companheiras, sentiu um não sei o quê no coração e, dirigindo-se às outras, disse: Continuar lendo

AGRADECIMENTO PROPORCIONADO À DIVINA BENEFICÊNCIA

missaQuid retribuam Domino, pro omnibus quae retribuit mihi? Calicem salutares accipia, et nomem Domini invocabo – “Que darei ao Senhor por todos os benefícios que me tem feito? Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor” (Ps. 115, 12 et 13).

Sumário. A santa missa foi instituída particularmente para agradecer a Deus os benefícios que nos tem feito. Quando celebramos e, também de certo modo, quando assistimos ao sacrifício divino, podemos dizer com verdade: Senhor, as vossas misericórdias são imensas; mas eis que vo-las retribuo por meio de uma oferenda que vale tanto como vossos dons e infinitamente mais. Portanto, se és sacerdote, não deixes um dia de celebrar a missa com a devida preparação e ação de graças; se és simples leigo, procura ao menos assistir à missa, ainda à custa de alguma proveito temporal.

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É mais do que justo que agradeçamos ao Senhor os imensos benefícios que nos fez a sua bondade infinita. Nós ainda não existíamos, ainda não existia o mundo, e Deus já nos amava e resolvera criar-nos no tempo e cumular-nos de seus dons na ordem da natureza e na da graça. – Mais: vendo o Eterno Pai que todos nós estávamos mortos e privados de sua amizade por causa do pecado, pelo grande amor que nos tinha, como escreve o Apóstolo, mandou seu Filho amado para satisfazer por nós (1).

A estes e mais outros benefícios que o Senhor fez a todos em geral, acrescentai tantos outros, igualmente inúmeros e imensos, que fez a cada um em particular: tantas inspirações e impulsos ao bem; a remoção de tantos perigos de cair, tantos pecados perdoados; e depois dize-me: Quid retribuam Domino pro omnibus quae retribuit mihi? – Como poderemos nós, criaturas miseráveis, agradecer dignamente a Deus? – Calicem salutares accipiam. Eis que Jesus Cristo nos proporcionou o meio para não ficarmos aquém das nossas obrigações e de dar-Lhe dignas ações de graças. É a santa missa, que, na frase de Santo Ireneu, foi instituída principalmente por Jesus para este fim, e de que Ele mesmo foi o primeiro a servir-se: Et accepto cálice, gratias egit (2) – “Tendo tomado o cálice, deu graças”.

Com este sacrifício divino o Padre Eterno se dá por plenamente retribuído e satisfeito; porquanto a vítima que lhe é oferecida é seu próprio Filho, em que põe as suas complacências; é, numa palavra, o sacrifício de um Deus, que na consagração e na comunhão é sacrificado, morrendo misticamente. Portanto, quando celebramos e, de algum modo também, quando assistimos à santa missa, podemos com verdade dizer a Deus: Senhor, reconhecemos que as vossas misericórdias são imensas; mas eis que Vo-las retribuímos com uma oferenda que por si só tem um valor igual a vossos dons e infinitamente mais. Ó excelência da santa missa! Continuar lendo

TUDO SE ACABA COM A MORTE – PONTO II

Resultado de imagem para cemitérioAchando-se Filipe II, rei de Espanha, às portas da morte, mandou vir seu filho à sua presença e, abrindo o mando real com que se cobria, mostrou-lhe o peito já roído de vermes, dizendo: Príncipe, vede como se morre e como se acabam todas as grandezas deste mundo. Foi com razão que Teodoreto disse que a morte não teme riquezas, nem poder, nem púrpura; e que tanto os vassalos como os príncipes se tornam presa de corrupção. Assim, todo aquele que morre, ainda que seja príncipe, nada leva consigo ao túmulo. Toda a sua glória acaba no leito mortuário (Sl 48, 18).

Refere Santo Antônio que, na morte de Alexandre Magno, exclamara um filósofo:

“Aí está quem ontem calcava a terra aos pés; hoje é pela terra oprimido. Ontem cobiçava a terra inteira; hoje basta-lhe um espaço de sete palmos. Ontem dirigia exércitos inumeráveis através do mundo; hoje uns poucos coveiros o levam ao túmulo”.

Mas escutemos, antes de tudo, o que disse o próprio Deus: “Por que se ensoberbece o pó e a cinza?” (Eclo 10, 9). Homem, não vês que és pó e cinza, de que te orgulhas? Para que te serve consumir teus anos e teu espírito em adquirir grandezas deste mundo? Virá a morte e então se dissiparão todas essas grandezas e todos os teus projetos (Sl 145, 4).

Quão preferível foi a morte de São Paulo Eremita, que viveu sessenta anos em uma gruta, à de Nero, imperador de Roma! Quanto mais feliz a morte de São Félix, simples frade capuchinho, do que a de Henrique VIII, que passou sua vida entre as pompas reais, mas sendo inimigo de Deus! É preciso considerar, porém, que os Santos, para alcançar morte semelhante, abandonaram tudo: pátria, delícias e quantas esperanças o mundo lhes oferecia, para abraçarem vida pobre e menosprezada. Continuar lendo

DA OBRIGAÇÃO DE INCUTIR CEDO A VIRTUDE À CRIANÇA

Resultado de imagem para mãe e filha pinturaJá atrás observamos que contentarem-se os pais com ensinar à criança as verdades e os deveres do cristianismo, sem lhes fazerem compreender o espí­rito, sem lhes incutirem a prática da lei de Deus, seria uma obra muito incompleta. Também, depois de ter ordenado à mãe que instruísse os seus filhos, Deus acrescenta: Cultivai-os e vergai-os sob o jugo da virtude, desde a mais tenra mocidade. É preciso efetivamente começar cedo esta cultura do cora­cão, porque é tanto mais fácil ensinar para o bem as crianças, quanto elas são mais novas e mais tenras. Além disso, as primeiras impressões que recebe a criança são as mais vivas e as que ficam mais tempo gravadas no coração. É como um vaso novo, que conserva sempre o cheiro do primeiro lí­quido que conteve. Fénelon queria que se formasse a criança para a virtude, mesmo antes de falar.

«Talvez pensem que exagero, escrevia ele, mas basta considerar quanto, nesta idade, as crianças procuram as pessoas que as afagam, e evitam as que as contrariam, e como elas sabem gritar e calar-se, para lhes darem aquilo que desejam. Pode-se, pois, coligir que elas conhecem desde então mais, do que de ordinário se imagina. Pode-se, pois, logo nessa idade por gestos, inspirar-lhes o amor das pessoas virtuosas e o horror dos defeitos que mostram as outras crianças. Esses princípios não se devem des­prezar.»

Ocupando-se com inteligência das crianças, desde os mais tenros anos, reprimindo-lhes os primeiros movimentos das paixões, implantando na sua alma, como numa terra própria, os germens das virtudes, não hesitamos em afirmar com o imortal arcebispo de Cambrai: — «Por pouco que o seu natural seja bom, podem-se tornar meigas, pacientes, firmes, alegres e tranqüilas; se, porém, se despreza esta educação na primeira infância, tornam-se ardentes e inquietas durante toda a sua vida. Formam-se os costumes; o corpo ainda tenro, e a alma sem outros recursos, voltam-se para o mal. Forma-se neles uma espécie de segundo pecado original que é a origem de mil desordens quando elas crescem. É dessa forma que as silvas nascem e crescem num campo inculto, o quanto mais fértil é o terreno, mais más ervas produz, não sendo cultivado; enquanto que o mais ingrato terreno produz frutos, sendo bem cultivado, e a árvore estéril dá frutos, sendo enxertada. Continuar lendo

TUDO SE ACABA COM A MORTE – PONTO I

Resultado de imagem para cemitérioFinis venit; venit finis – “O fim chega; chega o fim” (Ez 7, 6)

Os mundanos só consideram feliz a quem goza dos bens deste mundo: honras, prazeres e riquezas. Mas a morte acaba com toda esta ventura terrestre. “Que é vossa vida? É um vapor que aparece por um momento” (Tg 4, 15). Os vapores que a terra exala, quando sobrem ao ar, sob o efeito dos raios solares oferecem, às vezes, aspecto vistoso; mas quanto tempo dura essa aparência brilhante? Ao sopro do menor vento, tudo desaparece. Aquele poderoso do mudo, hoje tão acatado, tão temido e quase adorado, amanhã, quando estiver morto, será desprezado, olvidado e amaldiçoado.

A morte obriga a deixar tudo. O irmão do grande servo de Deus Tomás de Kempis ufanava-se de ter construído casa magnífica. Um de seus amigos, porém, observou-lhe que notava um grave defeito.

– Qual? – perguntou ele.
– O defeito que encontro nela – respondeu-lhe o amigo – é que mandaste fazer uma porta.
– Como? – retorquiu o dono da casa – a porta é um defeito? – Sim – acrescentou o outro – porque virá o dia em que, por essa porta, deverás sair morto, deixando a casa e tudo o mais que te pertence.

A morte, enfim, desposa o homem de todos os bens deste mundo. Continuar lendo

ESPECIAIS DO BLOG: O PAI NOSSO

Resultado de imagem para jesus ensinando pai nossoEm mais uma “Operação Memória” de nosso blog, trazemos novamente os links para as explicações do Pai Nosso, segundo Santo Tomás de Aquino:

RETRATO DE UM HOMEM QUE ACABA DE EXPIRAR – PONTO III

Imagem relacionadaNeste quadro da morte, caro irmão, reconhece-te a ti mesmo, e considera o que virás a ser um dia:

Recorda-te que és pó, e em pó te converterás

Pensa que dentro de poucos anos, quiçá dentro de alguns meses ou dias, não serás mais que ver vermes e podridão. Este pensamento fez de Jó um grande santo:

À podridão eu disse: tu és meu pai; aos vermes: sois minha mãe e minha irmã

Tudo se há de acabar, e se perderes tua alma na morte, tudo estará perdido para ti. ‘Considera-te desde já como morto, – disse São Lourenço Justiniano – pois sabes que necessariamente hás de morrer”. Se já estivesses morto, que não desejarias ter feito por Deus? Portanto, agora que vives, pensa que algum dia cairás morto. Disse São Boaventura que o piloto, para governar o navio, se coloca na extremidade traseira do mesmo; assim o homem, para levar a vida boa e santa, deve imaginar sempre o que será dele na hora da morte. Por isso, exclama São Bernardo:

Considera os pecados de tua mocidade e cora; considera os pecados da idade viril e chora; considera as desordens da vida presente, e estremece

E apressa-te em remediá-la prontamente.

São Camilo de Lélis, ao aproximar-se de alguma sepultura, fazia estas reflexões:

Se estes mortos voltassem ao mundo, que não fariam pela vida eterna? E eu, que disponho de tempo, que faço eu por minha alma?

Este Santo pensava assim por humildade; mas tu, querido irmão, talvez com razão receies ser considerado aquela figueira sem fruto, da qual disse o Senhor: “Três anos já que venho a buscar frutas a esta figueira, e não os achei” (Lc 13, 7). Continuar lendo

UM RECADO PARA MARIA SANTÍSSIMA

Resultado de imagem para virgem santíssimaApós brilhantes estudos, um jovem já formado resolveu dar um passeio a Paris. Na véspera da partida uma tia chamou-o e pediu-lhe um favor.

O Moço prontificou-se a atendê-la em tudo. Ao que a boa senhora lhe disse que, antes de regressar de Paris, fosse ao santuário de Nossa Senhora das Vitórias e lá rezasse uma Ave-Maria bem rezada. Embora o pedido lhe parecesse estranho, prometeu cumprir-lhe a vontade.

Na capital francesa passeou e divertiu-se a valer. E já ia voltar. E o recado? Não tinha gosto para executá-lo. Pensando que seria feio não cumprir a palavra, entrou na igreja, e escondido num canto, caiu de joelhos como alguém que já perdera o belo costume de ajoelhar-se. E, na verdade, fazia muito tempo que não punha os pés na casa de Deus.

Procurou lembrar-se das palavras da Ave-Maria, e pôs-se a recitá-la. E, sem saber por que, começou a sentir remorsos. Uma força estranha o impeliu ao confessionário. Procurou resistir, mas não lhe foi possível. Confessou sinceramente toda série de pecados. Saiu dos pés do confessor de alma em festa. No dia seguinte recebeu o Jesus querido de sua meninice.

Como estava novamente feliz! A Mamãe do Céu o convertera para sempre, por causa da reza de uma só Ave-Maria.

De volta a sua terra natal, sua primeira visita foi à titia, que lhe dera o felizardo recado e, com lágrimas de alegria nos olhos, contou-lhe como tornara a recuperar o Céu na alma por bondade de Maria, a Rainha das Vitórias.

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As visitas aos santuários da Mãe de Deus têm muito valor. Quantas conversões exatamente devido a essas romarias! Quantas graças os romeiros alcançam de Nossa Senhora!

Se houver alguém em casa, seja dentre os pais ou parentes, que não praticam a religião, consigam que visite a Virgem Santa. E a conversão se efetuará…

Como Maria Santíssima é boa! – Frei Cancio Berri C. F. M

RETRATO DE UM HOMEM QUE ACABA DE EXPIRAR – PONTO II

Imagem relacionadaCristão, para compreenderes melhor o que és – disse São João Crisóstomo – “aproxima-te de um sepulcro, contempla o pó, a cinza e os vermes, e chora”. Observa como aquele cadáver, de amarelo que é, se vai tornando negro. Não tarda a aparecer por todo o corpo uma espécie de penugem branca e repugnante. Sai dela uma matéria pútrida, nasce uma multidão de vermes, que se nutrem das carnes. Às vezes, se associam a estes os ratos para devorar aquele corpo, saltando por cima dele, enquanto outros penetram na boca e nas entranhas. Caem a pedaços as faces, os lábios e o cabelo; descarna-se o peito, e em seguida os braços e as pernas. Quando as carnes estiverem todas consumidas, os vermes passam a se devorar uns aos outros, e de todo aquele corpo só resta afinal um esqueleto fétido que com o tempo se desfaz, desarticulando-se os ossos e separando-se a cabeça do tronco.

“Reduzindo como a miúda palha que o vento leva para fora da eira no tempo do estio” (Dn 2, 35). Isto é o homem: um pouco de pó que o vento dispersa.

Onde está agora aquele cavalheiro a quem chamavam alma e encanto da conversação? Entra em seu quarto; já não está ali. Visita o seu leito; foi dado a outro. Procura suas roupas, suas armas; outros já se apoderaram de tudo. Se quiseres vê-lo, acerca-te daquela cova onde jaz em podridão e com a ossada descarnada. Ó meu Deus! A que estado ficou reduzido esse corpo alimentado com tanto mimo, vestido com tanta gala, cercado de tantos amigos? Ó santos, como haveis sido prudentes: pelo amor de Deus – fim único que amastes neste mundo – soubestes mortificar a vossa carne. Agora, os vossos ossos, como preciosas relíquias, são venerados e conservados em urnas de ouro. E vossas belas almas gozam de Deus, esperando o dia final para se unir a vossos corpos gloriosos, que serão companheiros e partícipes da glória sem fim, como o foram da cruz durante a vida. Este é o verdadeiro amor ao corpo mortal: fazê-lo suportar trabalhos, a fim de que seja feliz eternamente, e negar-lhe todo prazer que o possa lançar para sempre na desdita. Continuar lendo

RETRATO DE UM HOMEM QUE ACABA DE EXPIRAR – PONTO I

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Pulvis es et in pulverem reverteris – És pó e em pó te hás de tornar (Gn 3, 19)

Considera que és pó e que em pó te hás de converter. Virá o dia em que será preciso morrer e apodrecer num fosso, onde ficarás coberto de vermes. A todos, nobres e plebeus, príncipes ou vassalos, estará reservada a mesma sorte. Logo que a alma, com o último suspiro, sair do corpo, passará à eternidade, e o corpo se reduzirá a pó.

Imagina que estás em presença de uma pessoa que acaba de expirar. Contempla aquele cadáver, estendido ainda em seu leito mortuário: a cabeça inclinada sobre o peito; o cabelo em desalinho e banhado ainda em suores da morte, os olhos encovados, as faces descarnadas, o rosto acinzentado, os lábios e a língua cor de chumbo; hirto e pesado o corpo. Treme e empalidece quem o vê. Quantas pessoas, à vista de um parente ou amigo morto, mudaram de vida e abandonaram o mundo.

É ainda mais horrível o aspecto do cadáver quando começa a corromper-se. Nem um dia se passou após o falecimento daquele jovem, e já se percebe o mau cheiro. É preciso abrir as janelas e queimar incenso; é mister que prontamente levem o defunto à igreja, ou ao cemitério, e o entreguem à terra para que não infeccione toda a casa. mesmo que aquele corpo tenha pertencido a um nobre ou potentado, não servirá senão para que exale ainda fetidez mais insuportável, – disse um autor.

Vês o estado a que chegou aquele soberbo, aquele dissoluto! Ainda há pouco, via-se acolhido e cortejado pela sociedade; agora tornou-se o horror e o espanto de quem o contempla. Os parentes apressam-se a afastá-lo de casa e pagam aos coveiros para que o encerrem em um esquife e lhe deem sepultura. Há bem poucos instantes ainda se apregoava a fama, o talento, a finura, a polidez e a graça desse homem; mas apenas está morto, nem sua lembrança se conserva. Continuar lendo

PREPARAÇÃO PARA A MORTE – SANTO AFONSO DE LIGÓRIO

Prezados amigos, leitores e benfeitores, louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

Daremos início, amanhã, à publicação de capítulos do livro Preparação para a Morte, de Santo Afonso de Ligório.

Um excelente livro para meditarmos sobre nossa vida, sobre nossos atos para com Deus, a Igreja e ao próximo, e como estaremos no momento de nossa morte, na qual virá nosso Juízo e consequente destino final.

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"Oh momentum a quo pendet aeternitas!" (O momento do qual depende a eternidade)

Oh momentum a quo pendet aeternitas!” – Ó momento do qual depende a eternidade!

Estampa desenhada por Santo Afonso

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Dedicatória desta obra por Santo Afonso

À Imaculada e sempre Virgem Maria,
À cheia de graça,
À bendita entre todos os filhos de Adão,
À Pomba, à Rola, a dileta de Deus,
Honra do gênero humano, delícia da Santíssima Trindade,
Habitáculo de amor,
Modelo de humildade,
Espelho de todas as virtudes.
Mãe do belo amor,
Mãe da santa esperança e Mãe de misericórdia,
Advogada dos desgraçados,
Amparo dos fracos, Luz dos cegos e saúde dos enfermos,
Âncora de confiança,
Cidade de refúgio, Porta do céu,
Arca da vida, Íris da paz, Porto de salvação,
Estrela do mar e Mar de doçura,
Intercessora dos pecadores,
Esperança dos desesperados, Socorro dos desamparados,
Consoladora dos aflitos,
Alívio dos moribundos e Alegria do universo.

Um afetuoso e amante servo,

ainda que indigno e vil,

humildemente dedica esta obra

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Advertência importante sobre o objetivo desta obra

Pediram-me algumas pessoas que lhes proporcionasse um livro de considerações sobre as verdades eternas e que se destinasse às almas zelosas de sua perfeição e do progresso no caminho da vida espiritual. Outras reclamavam um compêndio de matérias próprias para as predicas em missões e exercícios espirituais. Para não multiplicar livros, trabalhos e despesas, entendi ser conveniente escrever a obra presente na forma que se vai ler, a fim de que possa servir para ambos os fins. Encontrarão nela os leigos assunto para meditar, por meio de três pontos em que é dividida cada consideração, e, como qualquer desses pontos pode servir para uma meditação completa, adicionei-lhes afetos e súplicas. Rogo ao leitor que se não enfade ao ver que nestas orações se pede continuamente a graça da perseverança e a do amor de Deus, porque estas são as duas graças mais necessárias para alcançar a salvação eterna.

A graça do amor divino – disse São Francisco de Sales – é aquela que contém em si todas as demais, porque a virtude do amor para com Deus traz consigo todas as outras virtudes. Quem ama a Deus é humilde, casto, obediente, mortificado… possui, enfim, as virtudes todas. Continuar lendo

06 DE AGOSTO: TRANSFIGURAÇÃO DE NOSSO SENHOR

Transfiguração de Nosso Senhor Jesus Cristo - Arsenal Católico
Hoje comemoramos a Transfiguração de Nosso Senhor.

Tratando desse assunto, Santo Tomás discorre 4 artigos:

Uma Meditação de Santo Afonso de Ligório em relação ao tema pode ser lida clicando aqui.

ESPECIAIS DO BLOG: AS SETE VELAS DO MEU BARCO

caravelaEm mais uma “Operação Memória” de nosso blog, trazemos novamente os links do Livro: As Sete Velas do Meu Barcoque, com exemplos de alguns Santos, M.D. Poinsenet explica de forma bem simples e didática os 7 Dons do Espírito Santo.

Um livro para crianças (e por que não adultos?) que estão se preparando para receberem a Crisma.

PARECIA ATÉ IMPOSSÍVEL

Resultado de imagem para virgem santíssimaNo ano de 1880, uma piedosa mulher, por negócios de família, deixou-se dominar pelo ódio contra seu irmão. Afastou-se aos poucos dos sacramentos, e largou enfim a toda a oração.

Certo dia ficou doente, e o mal foi piorando de tal sorte que parecia que ia morrer. O Padre Vigário visitou-a e procurou leva-la a melhores sentimentos, para que não falecesse nesse estado de alma.

Foi, porém, tudo em vão.

Um missionário, por ali de passagem, a pedido do senhor pároco, foi ter com a enferma.

O ódio estava tão firme no coração que não quis reconciliar-se. Chegou ao ponto de afirmar:

– Sobre a pedra de meu túmulo quero que se gravem estas palavras: Aqui jaz uma mulher que se vingou.

– E o inferno? Tornou o missionário.

– O inferno? O pensamento de minha vingança consolar-me-á em todos os tormentos.

Quase desanimado, o sacerdote aconselhou-lhe que rezasse para obter força de perdoar.

– Sei que por meio da oração posso alcançar essa graça, mas não quero rezar. Continuar lendo

NÃO HÁ PORTA FECHADA

Imagem relacionadaAborrece-se muita dona de casa porque o pó lhe entra por toda parte e lhe dificulta manter o asseio na casa. Pior do que o pó é a dor. Não há porta que possa vedar a entrada. Dores físicas, dores morais provenientes das imperfeições pessoais, das justaposições de naturezas dissemelhantes.

É teu lar feliz e risonho? Cuidado! A felicidade em chegando a certa plenitude já começa a tornar-se uma ameaça. O que importa é ter a alma preparada para os momentos dolorosos. A fortuna rodou, a pobreza tornou-se inquilina da casa, as doenças, as desinteligências chegaram de uma só vez, com bagagem e tudo – eis a hora para a esposa cristã e forte amparar o marido.

O marido, diante de tanto infortúnio, sucumbiu, já não é o mesmo homem. E justamente nessa hora nasceu a mulher, pois o ditado afirma “que o sofrimento mata o homem e faz nascer a mulher“.

Cônscia dessa missão, a esposa abafa suas dores, põe nos lábios o sorriso que alegra, põe nas mãos as sedas que acariciam as chagas. Atira-se ao dever e não admite desânimos.

– Deus foi bom para comigo, disse-me um marido, rico outrora e falido agora. Minha senhora sujeitou-se sem queixas e sem desfalecimentos às exigências da derrocada. É a primeira a ajudar-me e por nada tolera que eu desanime. Continuar lendo

DA FAMILIAR AMIZADE COM JESUS

Resultado de imagem para amigo jesusQuando Jesus está presente, tudo é suave e nada parece dificultoso; mas, quando Jesus está ausente, tudo se torna penoso. Quando Jesus não fala ao coração, nenhuma consolação tem valor; mas se Jesus fala uma só palavra, sentimos grande alívio. Porventura não se levantou logo Maria Madalena do lugar onde chorava, quando Marta lhe disse: O Mestre está aí e te chama? (Jo 11,28). Hora bendita, quando Jesus te chama das lágrimas para o gozo do espírito! Que seco e árido és sem Jesus! Que néscio e vão, se desejas outra coisa, fora de Jesus! Não será isto maior dano do que se perdesse o mundo inteiro?

Que te pode dar o mundo sem Jesus? Estar sem Jesus é terrível inferno, estar com Jesus é doce paraíso. Se Jesus estiver contigo, nenhum inimigo te pode ofender. Quem acha a Jesus acha precioso tesouro, ou, antes, o bem superior a todo bem; quem perde a Jesus perde muito mais do que se perdesse a todo o mundo. Paupérrimo é quem vive sem Jesus, e riquíssimo quem está bem com Jesus.

Grande arte é saber conversar com Jesus, e grande prudência conservá-lo consigo. Sê humilde e pacífico, e contigo estará Jesus; sê devoto e sossegado, e Jesus permanecerá contigo. Depressa podes afugentar a Jesus e perder a sua graça, se te inclinares às coisas exteriores; e se o afastas e o perdes, aonde irás e a quem buscarás por amigo? Sem amigo não podes viver, e se não for Jesus teu amigo acima de todos, estarás mui triste e desconsolado. Logo, loucamente procedes, se em qualquer outro confias e te alegras. Antes ter o mundo todo por adversário, que ofender a Jesus. Acima de todos os teus amigos seja, pois, Jesus amado dum modo especial.

Sê livre e puro no teu interior, sem apego a criatura alguma. É mister desprenderes-te de tudo e ofereceres a Deus um coração puro, se queres sossegar e ver como é suave o Senhor. E, com efeito, tal não conseguirás, se não fores prevenido e atraído por sua graça, de modo que, deixando e despedindo tudo mais, com ele só estejas unido. Pois, quando lhe assiste a graça de Deus, de tudo é capaz o homem; e quando ela se retira, logo fica pobre e fraco, como que abandonado aos castigos. Ainda assim, não deves desanimar nem desesperar, antes resignar-te na vontade de Deus, e sofrer tudo que te acontecer, por honra de Jesus; pois ao inverno sucede o verão, depois da noite volta o dia, e após a tempestade reina a bonança.

Imitação de Cristo – Tomás de Kempis

ALEGRIA E BOM HUMOR

Imagem relacionadaEstranharás talvez que um religioso te estimule à alegria e jovialidade e pensarás que haveria coisas mais importantes para as quais poderia ele impelir-te. No entanto, quero mostrar-te que também a alegria é um dom de grande preço que um religioso com muita razão pode colocar em teu coração.

1º – Na alegria bem ordenada se esconde uma grande bênção

A jovialidade que te recomendo é uma pacífica e bem fundada alegria, uma irradiação da paz interna e da harmonia que residem no coração. Vem a ser, para ti, um grande bem. Desta alegria diz João Paulo: “A jovialidade é um céu sob o qual tudo prospera, menos o veneno”. Certo que é grande o encômio, mas verdadeiro. A alegria contribui para que os bons germes e disposições naturais do coração se desenvolvam do melhor modo possível.

A primavera é na natureza a quadra da alegria e dos prazeres. Quão afável e doce nos sorri o céu azul! Sobre montes e vales, derrama o sol seus raios dourados, os quais penetram até o íntimo do nosso coração! Os pássaros, com seus cantos alegres e variados, enchem a floresta! Solícita e contente, esvoaça a abelha, de flor em flor para sugar o mel. As flores ostentam sua beleza à nossa vista, amáveis crianças em trajes festivos!

Por toda a parte deparamos alegria e beleza!

Mercê desta alegria, como tudo se desenvolve e prospera na natureza! Então contemplamos o fermentar e germinar, o abotoar e florescer, como se tudo, montes e vales, estivesse cheio de uma vida nova e misteriosa. Como tudo se transforma e modifica, sob a ação do inverno duro e rigoroso, qual fantasma do terror domina por toda a parte, afugentando a fresca vida da natureza. Eis a imagem do que sucede, também, contigo, jovem cristã.

Quando permite que se apodere de ti uma disposição sombria e triste, que te domina por longo tempo, secam-se em teu coração as fontes da vida, como no inverno fenece a natureza. Torvas imagens e tenebrosas impressões descem sobre tua alma qual fria neve; teu espírito se escurece, entibia-se tua vontade e tua fantasia se povoa de melancólicos devaneios. Como poderão desenvolver-se, cheios de esperança, os bons germes, a inclinação para a virtude, que Deus te concedeu? Continuar lendo

A BOA CORREÇÃO – PARTE 2

Resultado de imagem para correção filhos7.º) Oportuna

Há tempo de calar, e tempo de falar“, lembra-nos a Bíblia (Ecle 3,7). Como a semente, que parte de nossa mão e se realiza no seio da terra, assim a correção é, o mais das vezes, de iniciativa nossa, mas se completa no educando, por obra sua. E como a semente não pode ser plantada em qualquer época, porque “há tempo de plantar, e tempo de colher” (ibd. v.2.), também a correção há de aguardar o momento oportuno. Só a propomos (ou impomos), na esperança de êxito. E este depende do acolhimento que só pode ser favorável, se as circunstâncias também o forem.

Na hora da zanga – a tendência é mais para repelir que para aceitar qualquer sugestão de emenda. Em presença de pessoas estranhas, de colegas e mesmo de irmãos, quando implica humilhação, também não será nem aceita. Espera-se que a tormenta passe, aborda-se o educando a sós, e, na calma de lado a lado, propõe-se a desejada medida.

As mães cristãs têm excelente oportunidade quando, depois da oração da noite, vão ver se os filhos estão bem acomodados no leito. Falando em voz mansa e amorosa, sentada à beira da cama, é muito difícil não ser a mãe bem acolhida.

Aguarde-se, pois, o momento oportuno.

Tratando-se de crianças pequenas, não convém protelar muito a correção. Elas esquecem facilmente que cometeram a falta, não estabelecem a necessária ligação entre o erro e a emenda, podem achar injustas as medidas impostas, e então o efeito será contrário.

Em fase desses perigos, podemos recorrer às práticas corretivas sem aludir aos fatos “esquecidos”, alcançando os mesmos resultados, sem as contra-indicações. Continuar lendo

A BOA CORREÇÃO – PARTE 1

Resultado de imagem para corrigir filhosAlém de conhecerem os filhos, devem os pais saber como agir, a fim de alcançarem os desejados efeitos. Não bastam boas intenções. A correção tem normas e técnicas. Sem isto, poderá ser contraproducente. Vejamos qual deve ser a boa correção.

1.º) Rara

O educador deve ver tudo, dissimular muito, corrigir quando necessário.

– Ver tudo, para conhecer bem a crianças, não se deixar surpreender, nem passar por tolo aos olhos das próprias crianças.

– Dissimular muito, porque muitas faltas não têm realmente importância, umas são próprias da idade e passam com ela, outras as próprias crianças notam e, quando estão sendo educadas, tratam de emendar por si.

– Corrigir quando necessário, porque a correção demasiada é prejudicial à educação. Quando muito freqüente, ela:

* perde o salutar efeito de inspirar desgosto à falta cometida, com o conseqüente desejo de emenda;

* enfraquece a autoridade do educador, ao invés de reforçá-la, como o faz, desde que seja rara;

* insensibiliza a criança, que já não acode às advertências, pela própria impossibilidade de fazê-lo;

* pode mesmo ser contraproducente, tornando-se irritante – e nas poucas recomendações que fez São Paulo sobre a educação dos filhos pediu que não os irritassem (Ef. 5,4).
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NO CÉU NOS RECONHECEREMOS – SÉTIMA CARTA – PARTE 3

Resultado de imagem para céu catolicoO reconhecimento no Céu é um estímulo para o zelo. – Zelo para o alívio de nossos queridos defuntos. – Zelo para conversão dos pecadores. – Zelo para a nossa própria santificação. – O Céu começa no tempo e continua na eternidade. A glória só fará desenvolver o gérmen da graça. – Nós saberemos tudo o que alguma pessoa fizer em nosso beneficio, e a nossa felicidade, como a sua, será por isso maior. – Cada florão da coroa duma mãe será uma alegria a mais para todos os seus filhos. 

Finalmente, que a esperança de torná-los a ver no Céu, de reconhecê-los e de serdes por eles reconhecida, reanime o vosso zelo e vos faça trabalhar com mais ardor no alívio destas pobres almas, na conversão dos pecadores e na vossa própria santificação.

As almas do Purgatório são tão reconhecidas, que as pessoas que as têm aliviado, têm recebido provas da sua gratidão, antes de se lhes reunirem na bem-aventurança. Foi mesmo concedido muitas vezes a Santa Gertrudes, mui zelosa em aliviar as almas do Purgatório, ver, durante a sua vida, e mesmo entreter-se com aquelas que havia socorrido[126].

Um dia, depois da comunhão, Gertrudes oferecia a adorável Hóstia pelo eterno descanso das almas de todos os parentes dos membros da sua comunidade. Apenas tinha acabado de fazer este precioso oferecimento, quando viu sair das trevas um grande número de almas, semelhantes a faíscas ou estrelas:

“Senhor, exclamou ela, esta multidão de almas é só de nossos parentes?”

– Sou eu mesmo, respondeu o Senhor, o mais próximo de vossos parentes: sou vosso pai, vosso irmão e vosso esposo. Todos aqueles que são especialmente meus, tornam-se, portanto, vossos parentes e aliados, e quero que eles tenham parte nos frutos das orações que fazeis pelos vossos parentes”[127].
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ECONOMIA, PARA AS DONZELAS CRISTÃS

Resultado de imagem para donzela cristãO ouro e os bens temporais, principalmente, têm sem dúvida a sua grande importância para cada indivíduo, para a família e para a vida social. Se o cristão, antes de mais nada, deve dirigir seus cuidados para a consecução dos bens celestes, não pode, todavia, mostrar-se indiferente aos bens terrenos e temporais.

Há de esforçar-se por adquiri-los pelo emprego de meios lícitos e de maneira justa, deve sobretudo usar deles conscienciosamente, e de acordo com a vontade de Deus. Não pode, portanto, dissipá-los; cumpre que os empregue com economia.

Sobre a economia desejo agora dar-te uma breve instrução.

1º – A religião cristã exige de ti a economia.

A economia pertence ao número das virtudes que são mais desprezadas e criticadas. Quem não sabe distinguir devidamente a sua renda e as suas despesas e por isso nunca “chega a um ramo verde” (como dizem os alemães), é precisamente o que murmura da economia daqueles que a aconselham e os difama como sovinas. Eis porque não raro acontece que a gente se envergonha da economia e procura escondê-la quanto possível aos olhos do mundo. No entanto, ela merece, como as outras virtudes, todo apreço e cumpriria que a praticassem fiel e retamente todos os cristãos. Sim, mesmo os ricos, até os milionários, devem ser econômicos, naturalmente de maneira diversa da dos burgueses comuns.

O Cristianismo exige de todos nós uma sensata economia. Diz-nos que Deus é o altíssimo Senhor e Proprietário dos nossos bens terrenos, dos quais só nos confiou o uso e administração. Nesta administração e neste uso devemos acomodar-nos à sua vontade infinitamente santa e sábia, que sem dúvida reprova uma dissipação leviana e insensata dos mesmos bens, e que será denunciada, perante o Seu divino tribunal. Eis porque prescreve a Sagrada Escritura: “Tudo quanto entregares conta e pesa: e tudo anota do que deres e receberes”. (Ecli. 12,7). E assim nos exorta outro passo: “No tempo da abundância, lembra-te da pobreza, e das necessidades da indigência no dia das riquezas”. (Ecli. 18,25). Continuar lendo