ESPECIAIS DO BLOG: TRATADO DOS ESCRÚPULOS

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Em mais uma “Operação Memória” de nosso blog, trazemos novamente os links para os capítulos de um livro chamado “Tratado dos Escrúpulos de Consciência“, do Abade Grimes, que trata de um assunto muito interessante e que, infelizmente, afeta muitos católicos.

TRATADO DOS ESCRÚPULOS DE CONSCIÊNCIA – CAPÍTULO 11 (FINAL)

esc6DIÁLOGO ENTRE O DIRETOR E O ESCRUPULOSO

diretor. Conheço os males de que a vossa pobre alma sofre; compadeço-me deles do fundo de minhas entranhas; qui­sera curá-los; mas sabeis qual seria o meio disso, depois de tudo o que acabais de ler?

escrupuloso. Não; ignoro-o, e desejo vivamente que mo ensineis.

diretor. Tende uma confiança sem li­mites na misericórdia divina pela me­diação de Nosso Senhor Jesus Cristo, que derramou o Seu sangue por vós, que vos procurou como uma ovelha desgarrada através das sarças e dos espinhos, e que quis expiar pessoalmente os vossos peca­dos para vos dar a paz e a salvação. Poderíeis desesperar e perder confiança à vista do que Deus fez por vós dando-vos Seu Filho, que se fez a Si mesmo vítima por vós? Que há que não obtenhais pela mediação de Jesus Cristo? Que há que não acheis n’Ele? Força, luz, justiça, santidade, con­solação, perseverança; porquanto Jesus Cristo é um dom universal em quem estão encerrados todos os outros dons e todos os tesouros da graça. “Dando-nos seu Filho, diz S. Paulo, Deus não nos deu todas as coisas com Ele?” (Rom 8, 33). Deu-no-lo para ser o suplemento universal de todas as nossas misérias, de toda a nossa in­dignidade. E que quereríamos que Deus fizesse a mais para nos inspirar sentimentos de confiança e de amor? Que pode Ele acres­centar a admirável economia da redenção, da religião, dos sacramentos, da mediação da SS. Virgem, de tantos caminhos abertas à vossa confiança?

escrupuloso. Mas eu não mereço se­não os repúdios e a indignação de Deus; todas as minhas orações são más, e Deus não pode escutar-me.

diretor. Mas Jesus Cristo, o Filho úni­co do Pai, que intercede por nós, que por nós oferece o preço dos Seus méritos, do Seu sangue e dos Seus trabalhos, não me­rece bem ser escutado em nosso favor? Poderíamos crer que tal Pai pudesse re­cusar alguma coisa a tal Filho que Lhe oferece tal preço? Este pensamento não seria injurioso tanto ao Pai como ao Filho? Continuar lendo

TRATADO DOS ESCRÚPULOS DE CONSCIÊNCIA – CAPÍTULO 10

esc5CONDUTA DO CONFESSOR DOS ESCRUPULOSOS CONSOANTE O ABADE BOUDON

Primeiramente, não se pode dizer bas­tante o quanto é grande a necessidade de um diretor experimentado nesses ca­minhos; os que têm apenas ciência po­dem ser prejudiciais em várias ocasiões, porquanto, além do conhecimento que a ciência dá da diferença entre o pensa­mento e o consentimento da vontade, é necessário penetrar bem o que se passa no interior da pessoa que pede conselho.

É preciso ter bastante luz para preve­nir essas almas aflitas, para entender o que elas não podem explicar, para lhes dizer o que elas não dizem, para lhes dis­cernir as operações interiores onde elas não vêem gota, para ter clarezas no meio das trevas, para tranquilizá-las onde elas não fazem senão temer, para as manter firmes onde elas só fazem duvidar e tre­mer. Enfim, é preciso um diretor cheio de uma caridade extraordinária para supor­tar brandamente os escrúpulos dessas pes­soas, que às vezes são ridículas sem razão, sem fundamento, ou que são cheias de vergonha pelos pensamentos extravagan­tes que sugerem, ou repulsivas pela sua obstinação, que é o seu defeito comum. 

Tudo isso reclama uma caridade extraor­dinária. “Há almas, diz Santa Teresa, que são bastante afligidas, para que as pessoas as aflijam ainda mais; do contrário, o coração se lhes fecha, elas são lançadas num abatimento extremo, são desanima­das, e às vezes esses repúdios e essas severidades as tentam de despero”. Santo Inácio, que foi rudemente provado pelos escrúpulos, um dia foi tentado de se preci­pitar do alto de uma casa a baixo, tama­nha era a aflição que o premia. Quantas vezes ele foi tentado a abandonar as vias da perfeição! O demônio sugeria-lhe vol­tar a uma vida comum, que lhe fazia pa­recer não estar sujeita a todas essas pro­vações. Viram-se espíritos mais fortes, grandes teólogos, que davam soluções de todas as coisas, cair em escrúpulos; conhe­ci alguns que eram dotados de grande juí­zo, que não tinham falta de luzes nem de doutrina, mas eram trabalhados por escrúpulos de uma maneira que se custa­ria a crer, sendo os seus escrúpulos coisa de nada e puras bagatelas. Mas aquele que não é tentado, que é que sabe? Sai­bam os espíritos mais seguros que, se Deus os abandonasse o menos que fosse a es­sas tentações, muitas vezes eles seriam mais ridículos do que aqueles que eles cus­tam a suportar. Entretanto, a caridade de­ve ser acompanhada de uma certa firmeza para os impedir de dar novas oca­siões aos seus escrúpulos, não se sofrendo que eles reiterem as suas confissões, e coisas semelhantes de que vamos falar. Continuar lendo

TRATADO DOS ESCRÚPULOS DE CONSCIÊNCIA – CAPÍTULO 9

esc3QUALIDADES QUE DEVE TER O CONFESSOR DOS ESCRUPULOSOS

1.º Caridade. — A mais necessária das virtudes que deve ter o confessor dos escrupulosos é a caridade, porém uma cari­dade doce, paciente, a toda prova; uma caridade que lhe sustente, que lhe ative, que lhe duplique o zelo à proporção que as dificuldades aumentem. Há quem diga que, para ter essa caridade necessária, tão heróica deve ela ser, seria mister que o confessor tivesse sido acometido dessa doença; porquanto só a experiência pode revelar quantos males se sofre, quanto se é digno de compaixão e de caridade quan­do se é atacado de escrúpulo.

2.º Firmeza. — Deve, pois, o confessor ter muita bondade para com essas espé­cies de penitentes; deve consolá-los, su­portá-los, esclarecê-los; mas a essa bon­dade deve aliar também uma grande fir­meza: isto é indispensável para com es­sas pobres almas, que de outro modo nun­ca se renderiam à verdade. Ser bom sem ser firme, ou ser firme sem ser bom, não seria ter as qualidades requeridas; é preciso reunir as duas coisas ao mesmo tem­po, bondade e firmeza: todos compreen­dem a razão disto. E é que, se se for ape­nas bom, o escrupuloso abusará disso, se prevalecerá disso, e se enterrará cada vez mais no mal. Se se for apenas firme, desanimar-se-á, desolar-se-á com isso o es­crupuloso, ele sentirá falta de confiança, e o escopo do confessor não será atingido. Continuar lendo

TRATADO DOS ESCRÚPULOS DE CONSCIÊNCIA – CAPÍTULO 8

esc1CONFISSÕES E COMUNHÕES DOS ESCRUPULOSOS

Sob este título, não queremos falar das dificuldades, das penas, dos temores que eles experimentam nas suas confissões e comunhões; já falamos disto mais acima, e ainda falaremos noutro lugar. Aqui se trata das confissões e das comunhões mais ou menos frequentes a permitir ou a pres­crever aos escrupulosos. Deve-se fazê-los comungar amiúde? deve-se fazê-los confessar-se frequentemente?

Não se pode repetir demasiado, primei­ramente que as práticas de piedade de­vem sempre harmonizar-se com as obri­gações de cada um, com a posição, a ida­de, o engenho, a cultura de espírito que lhe é própria; de tal sorte que a frequên­cia dos sacramentos ou os exercícios es­pirituais não impeçam o penitente de cumprir os deveres do seu estado, de fa­zer as suas práticas de piedade de maneira conveniente, e sirvam ao seu progresso e à sua consolação segundo as diversas ne­cessidades de sua alma. Cumpre, também, em regulando o presente, pensar no fu­turo, e não fazer abraçar coisas de mais, a fim de poder o penitente perseverar.

A frequência da confissão depende ne­cessariamente das circunstâncias indivi­duais. Em geral, as pessoas que comun­gam de oito em oito dias, ou mesmo vá­rias vezes na semana, habitualmente se confessam de oito em oito dias; há outras, entretanto, que, ou por vivacidade natu­ral, ou por violência das paixões, ou por obstáculos mais numerosos, ou por dificul­dades de conservarem a pureza de cora­ção, precisam confessar-se mais vezes. Não obstante, é para desejar que elas se acos­tumem, pouco a pouco, a caminhar sozinhas, e a ser bastante firmes para só se confessarem uma vez na semana. Os verdadeiros escrupulosos, os que são inces­santemente roídos pela apreensão, ora de­vem ser admitidos a uma confissão mais frequente, ora não devem sê-lo. Ao con­fessor é que compete julgá-lo. Deve este considerar as faltas que eles acusam ordinariamente. Se são verdadeiros pecados veniais caracterizados, ele deve ouvi-los; se são faltas que não são formalmente pecados veniais, se são censuras vagas, inquietações, não deve ele ouvi-las senão uma vez por semana, no máximo, ainda mesmo quando eles comungassem várias vezes na semana. Geralmente, há muitos inconvenientes em que um escrupuloso in­sista muitas vezes sobre essas espécies de faltas ou de pretensas faltas. Continuar lendo

TRATADO DOS ESCRÚPULOS DE CONSCIÊNCIA – CAPÍTULO 7

esc7QUAIS SÃO OS MAUS ESCRUPULOSOS

Digamos uma palavra deste gênero de escrupulosos, a fim de completar a maté­ria e estabelecer as distinções necessárias.

Embora a maioria dos escrúpulos prove­nham do demônio, pode-se dizer que os maus escrupulosos são mais particular­mente obra dele. São todos aqueles que fazem da piedade uma idéia falsa, ou que dela se servem para ocultar aos outros e a si mesmos vícios grosseiros de que não se querem corrigir. Consoante os autores da Ciência do confessor, podem-se redu­zir a duas espécies de escrupulosos todos esses de que queremos falar: uns, que não passam lá muito da linha do pecado ve­nial; outros, que engolem a iniquidade como água, e que merecem antes o nome de hipócritas do que o de escrupulosos.

Os primeiros não passam, ordinariamente, de gente que, seja por ignorância dos seus deveres, seja por cegueira voluntá­ria ou por amor-próprio, formam uma fal­sa consciência, e são escrupulosos em ex­cesso sobre certos pontos, ao passo que so­bre outras importantíssimos, como paixões, inveja, vingança, ódio, maledicência, etc., não se fazem censura alguma e não sen­tem nenhum remorso.

Os segundos são os que, como os Fari­seus de que fala o Evangelho, fazem es­crúpulo de cometer pequenas faltas ou de faltar a certas práticas de pura devoção, ao passo que não fazem nenhum escrú­pulo de viver em pecado mortal, e aban­donam-se mesmo aos desregramentos mais vergonhosos. Continuar lendo

TRATADO DOS ESCRÚPULOS DE CONSCIÊNCIA – CAPÍTULO 6

esc6REMÉDIOS PARTICULARES. DIREÇÃO DOS ESCRUPULOSOS

Para usar com vantagem dos remédios particulares, cumpre opô-los às diferentes fontes dos escrúpulos; cumpre também estudar os defeitos, os subterfúgios, as aparências, os artifícios, as aflições dessas pobres almas, entrar em argumentação com elas, escutar-lhes as penas, esclarecê-las, dirigi-las, sustentá-las por sábios con­selhos. É o que vamos fazer nos diversos parágrafos deste capítulo.

Os principais objetos de escrúpulos, co­mo dissemos, são as orações, as confis­sões, as correções fraternas, os motivos das próprias ações, a predestinação, as tentações, as comunhões. Ora, vejamos os remédios que é preciso aplicar a cada um destes males.

1.º As orações. — Quando é a respeito das suas orações que o escrupuloso é atormentado, cumpre primeiramente explicar-lhe em poucas palavras o que é a oração, em que consiste, e o que Deus exige de quem ora; depois disto, deve-se representar-lhe que, querendo aplicar-se de mais e dilatar a cabeça, em vez de evitar as distrações a pessoa as multiplica, torna-as mais incômodas, e coloca-se na impossibi­lidade de orar. Este temor perpétuo de que a pessoa é empolgada, tiraniza, desa­nima, inquieta, e faz perder de vista o objeto e o fim da oração. Deve-se, pois, mudar de rumo, visto agir-se em pura perda e não se fazer senão gerar distra­ções ao invés de as dissipar. Continuar lendo

TRATADO DOS ESCRÚPULOS DE CONSCIÊNCIA – CAPÍTULO 5

esc5CONSELHOS GERAIS AOS ESCRUPULOSOS

Conhecer-se a si mesmo

O primeiro conselho que eu dou aos es­crupulosos, um dos mais importantes, e que é o fundamento de todos os outros, é que ele reconheça de boa fé que está doente e que é escrupuloso, porquanto um mal conhecido é um mal meio curado. Este axioma, verdadeiro em toda sorte de doenças, é-o principalmente na do escrú­pulo; pois esta não passa de uma ilusão que cega o escrupuloso e lhe faz tomar os fantasmas e os devaneios de uma imagi­nação doente, pelos sensatos raciocínios de uma consciência esclarecida. Persuada-se ele, pois, de que essas razões são fal­sas, de que são imaginações e escrúpulos, e não razões, e ei-lo curado. Ele não terá dificuldade em se persuadir de que assim é, se observar as regras que já estabelecemos ao explicarmos a natureza dos escrúpulos. Faça, pois, um exame sobre si mesmo e sobre o seu passado; se reconhecer que muitas vezes sentiu temores acompanhados de angústias, de perturbações e de perplexidades; que muitas vezes formou dúvidas sobre uma ou várias matérias, e, tendo exposto seus temores e suas dúvi­das a uma pessoa esclarecida, esta julgou que elas eram fundadas em razões fracas e frívolas, tenha por certo que é escrupu­loso; e, se estiver de tal forma obsesso que não possa crer na sua experiência, consulte um diretor sábio e piedoso, e acre­dite no juízo dele.

Mas não basta, para o escrupuloso, co­nhecer a sua doença; deve ele ainda des­cobrir a qualidade e os princípios dos seus escrúpulos, para lhes aplicar os remédios convenientes. Continuar lendo

TRATADO DOS ESCRÚPULOS DE CONSCIÊNCIA – CAPÍTULO 4

esc4DOS MAUS EFEITOS DOS ESCRÚPULOS

Não se podem deplorar bastante os da­nos que os escrúpulos causam àqueles que os escutam e que lhes dão consentimento; muitíssimas vezes, arruínam a saúde do corpo, alterando o cérebro, bestificando o espírito, e, ademais, desolam a consciên­cia. É uma espécie de martírio inferior, diz Fénelon; vai até a uma espécie de dislate e de desespero, embora o fundo esteja cheio de razão e de verdade. Quantos infelizes começaram pelo escrú­pulo e acabaram pela impiedade e pela libertinagem!

Em primeiro lugar um escrupuloso tor­na-se incapaz de devoção, porque o Espí­rito Santo só ateia nas almas esse fogo celeste no exercício da oração e na medi­tação das coisas santas, in meditatione mea exardescet ignis. E é disto que o es­crupuloso não é capaz, porque, tendo a mente perturbada pelos escrúpulos, exa­minando incessantemente e rolando na ca­beça se pecou ou se não pecou, é incapaz de meditação e, por conseguinte, de de­voção. Um escrupuloso não pode desobrigar-se como convém dos exercícios de piedade, nem progredir nas virtudes, não somente porque para isto é preciso uma grande aplicação de mente, de que o escrupuloso não é capaz, como também porque, sen­do essas práticas acompanhadas de amar­guras, não se poderia continuá-las por muito tempo se elas não fossem abran­dadas pelas consolações do Espírito San­to; e é esta, ainda, uma coisa de que o escrupuloso não é capaz, porquanto, es­tando continuamente imerso na angústia e na desolação, não pode ao mesmo tem­po degustar alguma consolação; e é isso talvez o que o profeta queria exprimir dizendo que a turbação do espírito en­fraquecia a virtude da sua alma: conturbatum est cor meumdereliquit me vir­tus mea (Sl 37). Meu coração está cheio de perturbação, toda a minha força aban­donou-me, e até mesmo a luz dos meus olhos não a tenho mais.

Porém um efeito bem funesto, ainda, é que o escrupuloso está sujeito a procurar na carne e nos sentidos os prazeres e as consolações de que precisa, seja para ali­viar as penas que o acabrunham, seja porque não se pode viver muito tempo sem experimentar algum prazer no espírito ou no corpo; estando privado dos do espírito, ele é tentado a procurar os do corpo. Continuar lendo

TRATADO DOS ESCRÚPULOS DE CONSCIÊNCIA – CAPÍTULO 3

esc3PRINCÍPIOS DOS ESCRÚPULOS

Se tomarmos a tentação do escrúpulo separada do consentimento, achamos que ela deve a sua origem a vários princí­pios; às vezes vem de nós mesmos, do nos­so próprio fundo, de um princípio inte­rior e natural, e às vezes vem de fora, de um princípio exterior e violento, do de­mônio; outras vezes, enfim, vem do alto, pela permissão do próprio Deus.

1.º- O nosso próprio fundo é, muitas ve­zes, a única fonte do escrúpulo, que nas­ce ora de um temperamento frio, me­lancólico e naturalmente disposto à dú­vida e ao temor; ora de um temperamen­to fleumático ou de uma imaginação de­masiado viva, ou de fragilidade ou de pe­quenez de espírito; de uma falsa idéia que se forma de Deus, de Sua justiça, da Sua conduta para com as Suas criaturas; às vezes, de austeridades demasiadamen­te grandes, da frequentação de pessoas escrupulosas; não raro, do orgulho, que produz a obstinação; outras vezes, da ig­norância, que resiste àquilo que ela não sabe; da leitura de livros teológicos ou demasiadamente eruditos, que só deixam no espírito aquilo que pode embaraçar, embora lisonjeando o amor-próprio que pretende compreender tudo e tudo sa­ber. O escrúpulo vem também da falta de discernimento entre o pecado mortal e o pecado venial, entre o pensamento e a re­flexão, entre a inclinação e a vontade, entre a negligência e o consentimento; vem, muitas vezes, de um grande esquentamento de cabeça que dá uma tensão forte às fibras do cérebro, e que com isso torna a pessoa susceptível de diversos mo­vimentos, de diversos pensamentos confu­sos; ou vem da timidez natural, que facilmente se alarma, ou da vivacidade da imaginação, que pinta vivamente tudo o que se receia, ou, enfim, de um desejo excessivo de certeza naquilo que concerne à salvação. Continuar lendo

TRATADO DOS ESCRÚPULOS DE CONSCIÊNCIA – CAPÍTULO 2

esc2DIFERENTES ESPÉCIES DE ESCRÚPULOS. SEUS OBJETOS

Podem-se distinguir diversas espécies de escrúpulos: uns são em matéria de fato, e outros em matéria de direito. Há escrúpulo em matéria de fato quando, por exemplo, a pessoa receia ter consentido num mau pensamento, não haver confes­sado bem um pecado, ou ter esquecido al­guma circunstância, etc. Há escrúpulo em matéria de direito quando, por exemplo, se acredita que há pecado quando não o há; que uma coisa é proibida, quando não o é; que uma ação é culposa, posto que o não seja.

Há escrúpulos em matéria grave quan­do, por exemplo, se receia que uma ação que se fez ou que se deve fazer seja pe­cado mortal; donde vem que, depois de a haver feito, a pessoa se considera como um inimigo de Deus e como objeto de sua aversão. Há-os em matéria leve quando se receia que uma ação que se fez ou que se quer fazer, mesmo a mais inocente, é desa­gradável a Deus, e se considera a Deus como um amo severo, sempre irritado e descontente, que só tem para o escrupu­loso censuras e ameaças, e que breve deve abandoná-lo para puni-lo das suas infide­lidades.

Há, finalmente, a tentação do escrúpulo e o consentimento na tentação. A tenta­ção consiste no temor e na angústia que empolgam o coração do escrupuloso e lhe fazem ver pecado onde absolutamente não o há. O consentimento na tentação consis­te em que o escrupuloso, em vez de resis­tir aos seus escrúpulos, a eles se deixa arrastar, escuta-os, examina-os e rola-os cem e cem vezes na mente, embora fique sempre igualmente embaraçado. Final­mente, deixa-se ele persuadir de haver pecado, e não tem repouso enquanto não depositar o seu escrúpulo aos pés de um confessor. — Eis agora os principais ob­jetos dos escrúpulos: Continuar lendo

TRATADO DOS ESCRÚPULOS DE CONSCIÊNCIA – CAPÍTULO 1

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I- DEFINIÇÃO E NATUREZA DOS ESCRÚPULOS, SEUS SINTOMAS.

O escrúpulo, diz Santo Afonso de Ligório, não passa de um vão temor de pe­car causado por apreensões que não têm motivo algum.

Por sua vez, Bergier diz que o escrú­pulo é uma pena de espírito, uma an­siedade de alma que faz que a pessoa creia ofender a Deus em todas as suas ações e nunca se quitar dos seus deveres assaz perfeitamente.

Enfim, o escrúpulo, dizem os autores da Ciência do confessor, é uma dúvida que não é fundada, ou que só o é mui ligei­ramente, e que perturba a consciência e a enche de inquietações. É um vão ter­ror, um receio extremado de achar pecado onde realmente não o há, nascendo daí na alma uma angústia que a torna irresoluta e inquieta.

O escrupuloso, pois, como diz o P. Quadrupani nas suas instruções, só vê uma série de pecados em todas as suas ações, e em Deus vingança e cólera. Continuar lendo